Produtores
finalizaram a primeira colheita de uvas em escala comercial já realizada no Rio
Grande do Norte
24/10/2016
às 18:43
Moraes Neto
Produtor
André Aleixo trocou a cultura de hortaliças pelo cultivo de uvas Itália
Por: Redação
O Rio Grande do Norte colheu em torno de 40 toneladas de uvas
do tipo Itália nesta primeira safra, que finalizou neste mês. Trata-se de uma
colheita inédita da fruta, que, até então, não havia sido cultivada em escala
comercial no estado. Numa área de dois hectares da fazenda Quixaba, zona rural
do município de Parazinho (a 116 quilômetros da capital Natal), foram colhidos
os primeiros frutos de um projeto do Sebrae para incentivar a vitivinicultura
em pleno semiárido potiguar. Em meio à paisagem seca da região, um verde
exuberante surge, comprovando a viabilidade da produção de uvas no sistema
irrigado numa área de baixa umidade e baixo índice pluviométrico.
Os responsáveis pelo feito são os produtores André Aleixo e o
irmão, José Hipólito, que decidiram deixar de lado a plantação de pimentões e
tomates, e, de forma pioneira, apostaram na cultura irrigada dessa variedade de
uva, no começo do ano passado. Após 20 meses, toda a produção já foi
comercializada internamente no Rio Grande do Norte, que apresenta uma alta
demanda de consumo, já que a maior parte das uvas que abastecem o mercado
potiguar vem de outros estados. As frutas foram todas vendidas em uma operação,
que rendeu em torno de R$ 100 mil para os empreendedores, com um único
distribuidor da Central de Abastecimento do Rio Grande do Norte (Ceasa).
A aceitação das primeiras uvas do RN foi imediata. A
explicação está na qualidade dos frutos, que têm tamanhos praticamente
uniformizados com cada cacho pesando em média 700 gramas. Mais que isso, as
uvas potiguares chegam a atingir um brix, que é o grau de doçura medido na
fruta, acima de 19°. Para se ter uma ideia de como a uva é doce, basta saber
que o padrão de exportação para a uva Itália é de 15°, que é um alto teor de
açúcar exigido pelo mercado internacional.
A plantação começou quando André Aleixo assistiu a um vídeo
do projeto com as experiências bem sucedidas da fazenda modelo de Lagoinha, na
Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) e procurou o Sebrae para
implantação do parreiral, que durou seis meses. Através do programa Sebraetec,
ele contou com consultorias e visitas técnicas a vinhedos na região do Vale do
São Francisco, em Pernambuco, para consolidar o cultivo. Um investimento de
aproximadamente R$ 250 mil.
“A ideia veio porque, primeiro não existia experiências
de plantação de variedades de uvas aqui no Rio Grande do Norte e segundo, o
projeto da Ufersa dava garantia de que poderíamos plantar e, com assessoria,
não ter problemas de comercialização”, explica André Aleixo, justificando
também a cultura do pimentão e tomate, que acabavam não proporcionando muita
lucratividade devido à fixação do preço e deflação no valor da caixa das
hortaliças.
Por isso, o produtor foi em busca de uma iniciativa
inovadora, sem concorrentes na região, cultivando produtos de excelência e
proximidade do mercado consumidor. Essa foi a receita para garantir um preço
bom para comercialização – cada quilo de uva foi vendido por R$ 2,50. A
plantação da uva ocorreu em blocos, de forma que a colheita é feita em etapas,
chamadas de válvulas, e semanalmente. Do início de setembro à primeira quinzena
de outubro, os trabalhadores da fazenda colheram de 4 mil a 6 mil quilos de uvas
por semana.
“A região é propícia devido às baixas precipitações e umidade
relativa do ar. Com o sistema irrigado, foi possível programar a colheita fora
do período chuvoso, que é danoso para plantação vitícola”, explica o consultor
Django Dantas. A estimativa é que a área plantada gere duas safras por ano,
podendo ter um acréscimo de produtividade de 20% após três anos de
desenvolvimento das videiras – o que daria com a área plantada atual de cerca
de 100 toneladas por ano.
Mão de obra qualificada, um desafio
O principal gargalo para começar foi a dificuldade de acesso
aos produtos para o cultivo, desde insumos até as mudas. “Esse problema já
superamos. Agora, temos contatos diretos com os fornecedores. Já sabemos a
logística necessária para que esses produtos cheguem aqui rapidamente”, afirma
André Aleixo. Mas outro problema está relacionado à mão de obra qualificada
para o manejo. “Estamos desenvolvendo essa mão de obra aqui. Regularmente,
convidamos técnicos para repassar conhecimento ao pessoal. Tinha gente aqui que
sequer tinha visto um pé de uva. Imagine trabalhar num cultura tão complexa,
que é uva, de uma hora para outra sem conhecimento”.
Um dos beneficiados com essa capacitação prática é Raimundo
Alves, estava acostumado com a plantação de hortaliças e de uma hora para outra
se viu trabalhando no meio de um parreiral. “Quando começou, eu ficava
imaginando que eles estavam dando um tiro no pé. Plantar uvas nesse sertão não
pode dar certo. Mas agora vejo que estava totalmente errado”. Raimundo Alves
está entre os dez trabalhadores encarregados da colheita na fazenda e que sabem
técnicas de manejo, como contar a gemas para realizar a poda sistemática, fazer
o amarrio dos galhos e rateio dos cachos, que é a retirada do excesso de bagas
do cacho.
A aposta foi tão certeira que os planos dos empresários são
expandir para cultura de uvas sem sementes. Uma outra área de dois hectares da
fazenda, que tem cerca de 500 hectares, já está sendo preparada para essa
finalidade. “O consumo de uvas sem sementes vem numa curva ascendente no
Brasil. As técnicas de desenvolvimento de produtos têm elevado a produção. Como
elas têm um preço diferenciado, não podemos afastar um investimento num futuro
muito próximo”.
Projeto de Vitivinicultura
Os dirigentes do Sebrae no Rio Grande do Norte acompanharam a
primeira colheita da uva e em Parazinho para constatar o andamento do projeto
de Vitivinicultura, que vem sem implementado pela instituição com a colaboração
de outros órgãos ligados à pesquisa científica e à cadeia produtiva da fruticultura.
“A qualidade da uva aqui plantada é uma prova da viabilidade
desse projeto como alternativa a regiões que tem problemas com a falta de
chuvas. Nossa intenção é fazer que o produtor enxergue novas oportunidades de
negócios e que tenham valor agregado, como é o caso da uva”, explica a
presidente do conselho deliberativo do Sebrae-RN, José Vieira, que foi
participou da visita à fazenda Quixaba juntamente com os diretores
superintendente, José Ferreira de Melo Neto, e técnico, João Hélio Cavalcanti.
O Projeto de Vitivinicultura também está incentivando o
cultivo de uvas em outras regiões amparado em estudos da Ufersa, que demonstram
a viabilidade da vitivinicultura no estado. A instituição tem cultivos
experimentais de uvas em algumas localidades da região de Mossoró, como é o
caso do experimento de Alagoinha e da Fazenda Experimental Rafael Fernandes.
São vinhedos voltados para sucos. Em parceria com a Embrapa, estão sendo feitos
estudos para avaliar a produção de vinhos no local, assim como em outras
microrregiões da Bahia e Pernambuco.
Através de uma parceria entre o Sebrae, o Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e Ufersa, serão
desenvolvidas culturas de uvas sem sementes na Chapada do Apodi com foco na exportação.
Atualmente, os maiores compradores mundiais dessa fruta são Alemanha, Estados
Unidos e Reino Unido. Denominado Introdução de Cultivares de Videiras
Apirênicas, o projeto vai estimular variedades, como as uvas Vitória e a Isis,
sem sementes.
A proposta do projeto é incentivar mais produtores potiguares
a entrar na viticultura, além de criar unidades de beneficiamento na cidade
para processar a uva e gerar valor agregado, e aumentar o percentual de plantio
na região. Atualmente, o Nordeste é responsável por 18,7% da produção nacional
de uvas, ficando atrás apenas do Sul, que responde por 65% da produção do país.
http://agorarn.com.br
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