É
uma história muito velha que meus avós me contaram. E Anita, muito
tenra e sabida, começou a narrativa das mais belas das lendas que sabia:
- Eram seus olhos irmãos, lumes de uma só cara. Azuis, eram a graça da
sua dona, uma princesa muito moça, que os nobres desejavam. Virgem,
morreu por uma tarde triste. Os reis choraram, toda corte chorou. Na
manhã do dia seguinte, foram tira-la do quarto. A morta estava sem
olhos. Então foi que se soube. Pela madrugada, sem que ninguém notasse,
muito tenro e bonito, um anjo levou-lhe os olhos. Do direito, que
estava mais puro, fez o mar muito azul. Amigo do azul, jogou o restante
sobre a face da terra: e o mar desenrolou-se azul e muito belo. Do alto,
uma lágrima muito branca, a última do segundo olho, brilhava sob os
dedos do anjo. Estimada do anjo, ela rolou de seus dedos. Atraída pelo
azul, rolou sob o mar. E o mar, que devia ser azul, modificado pela
lágrima, tornou-se verde.
João Lins Caldas, Poeta assuense
Assu, 25.2.1909
Assu, 25.2.1909
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