-Poeta, você malha em qual academia? -Na de cordel e na de trovas. -Mas poeta, você não tem medo de ficar com o bucho grande não? -Não, eu tenho medo é de fome e de quem se preocupa só com o bucho dos outros... -Assim, você não quer ficar sarado? -Menino, eu já sou sarado... -Oxe, como? - De Sarampo, Catapora, Chikungunya... -Aff! Você também...
Qual o remédio jocundo Que ao mal nos serve de escudo? - Fechar os olhos a tudo E rir de tudo no mundo
Foi esta a resposta clara, Que me deu, interrogado, Um homem que tinha achado, Coisa rara! A ventura neste mundo.
Caldas, poeta potiguar
O
artista de vera mesmo faz com que a criança apalpe as palavras nuas,
toque nas partes de um livro, na pele de um quadro, no corpo de um
poema, nas dimensões do infinito... O resto é falta de recurso poético. Manoel Cavalcante
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
28/09/1968 - Criação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.Criada pela Lei Municipal nº 20/68, assinada pelo prefeito de Mossoró,
Raimundo Soares de Souza, a UERN nasceu com o nome de Universidade
Regional do Rio Grande do Norte(URRN), vinculada à Fundação Universidade
Regional do Rio Grande do Norte – FURRN. Somente no ano de 1987, no
governo de Radir Pereira, a instituição foi estadualizada através da
lei estadual nº 5.546, de 8 de janeiro de 1987. Em 1999 passou
a ser denominada de Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, com a
sigla UERN. Sediada na cidade de Mossoró/RN, a universidade mantém os
campi de Mossoró, Assu, Pau dos Ferros, Patu, Natal e Caicó. Também
funcionam os Núcleos Avançados de Ensino Superior de Caraúbas, Areia
Branca, Apodi, Macau, João Câmara, São Miguel, Alexandria, Umarizal,
Touros, Santa Cruz e Nova Cruz.
Sílvio Caldas um dos maiores artífices da Canção Popular Brasileira, responsável pela introdução da seresta na MPB esteve em 1972 de passagem para Fortaleza na cidade do Assu, importante interior da terra potiguar, para rever e abraçar o bardo assuense que o Brasil consagrou chamado Renato Caldas, seu velho primo, amigo e companheiro de farras intermináveis nos tempos que ele, Renato, viveu o Rio de Janeiro (década de trinta e começo dos anos quarenta). Silvio, ao chegar na modesta casa de Renato, da praça Pedro Velho, número 74, na cidade assuense, de violão em punho, começou a cantar "numa típica serenata interiorana", para surpresa do velho poeta boêmio que após ouvir Silvio cantando ao pé da janela de sua casa, uma de suas modinhas, foi recebê-lo chorando de alegria e saudade. Fato este, (era uma tarde de 1972) presenciado por mim (tinha eu, 14 anos de idade) e de tantos outros assuenses admiradores do poeta Renato e do próprio Silvio.
Para registrar mais ainda, o músico e compositor Silvio no seu disco intitulado História da Música Popular Brasileira, 1974, LP gravado ao vivo no Teatro Santa Isabel, no Rio de Janeiro, externou: "...os Caldas do Assu, todos meus parentes. Sabe lá o que é isso, Renato Caldas, o grande poeta." E vai mais adiante Silvio ao lembrar de outros velhos amigos Norte-riograndenses como Grácio Barbalho e Nei Marinho.
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Por sinal, fora Silvio que apresentou Renato Caldas (poeta consagrado, que segundo Celso da Silveira, foi ele, Renato, que deu nome as letras potiguares publicando em 1940, o livro intitulado "Fulô do Mato") a Noel Rosa, Chico Alves (o rei da voz), além de Almirante. Ambos se tornaram amigos íntimos, companheiros de mesa de bar, claro.
Afinal, foi Silvio Caldas, o responsável da introdução da seresta na MPB, e Renato Caldas, ao lado de Catulo da Paixão Cearense (autor da canção Luar do Sertão), o responsável pela introdução da poesia matuta nas letras populares do Brasil. Registro e dou fé.
A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que seja suspensa em todo o território nacional a tramitação de processos individuais ou coletivos que discutam se o adicional de 25%, previsto para o segurado aposentado por invalidez que precisa da assistência permanente de outra pessoa – na forma do artigo 45 da Lei 8.213/91 –, pode ser estendido, ou não, a outros aposentados que, apesar de também necessitarem da assistência permanente de terceiros, sejam beneficiários de outras espécies de aposentadoria, diversas da aposentadoria por invalidez.
A decisão foi tomada pelo colegiado ao determinar a afetação do Recurso Especial 1.648.305 para julgamento pelo rito dos recursos repetitivos (artigo 1.036 do novo Código de Processo Civil). A relatora do processo é a ministra Assusete Magalhães.
O tema está cadastrado sob o número 982 no sistema de recursos repetitivos, com a seguinte redação: "Aferir a possibilidade da concessão do acréscimo de 25%, previsto no artigo 45 da Lei 8.213/91, sobre o valor do benefício, em caso de o segurado necessitar de assistência permanente de outra pessoa, independentemente da espécie de aposentadoria."
A suspensão do trâmite dos processos não impede a propositura de novas ações ou a celebração de acordos.
Recursos repetitivos
O novo Código de Processo Civil (CPC/2015) regula nos artigos 1.036 a 1.041 o julgamento por amostragem, mediante a seleção de recursos especiais que tenham controvérsias idênticas. Conforme previsto nos artigos 121-A do RISTJ e 927 do CPC, a definição da tese pelo STJ vai servir de orientação às instâncias ordinárias da Justiça, inclusive aos juizados especiais, para a solução de casos fundados na mesma controvérsia.
A tese estabelecida em repetitivo também terá importante reflexo na admissibilidade de recursos para o STJ e em outras situações processuais, como a tutela da evidência (artigo 311, II, do CPC) e a improcedência liminar do pedido (artigo 332 do CPC).
Na página de repetitivos do STJ, é possível acessar todos os temas afetados, bem como saber a abrangência das decisões de sobrestamento e as teses jurídicas firmadas nos julgamentos, entre outras informações.
Você já deve ter visto muitas fotos antigas de Natal por aí, mas será que já viu uma coletânea das melhores de todos os tempos?
Vale muito a pena vislumbrar todas elas, uma por uma, calmamente, afinal são registros épicos surpreendentes.
Embarque neste túnel do tempo e boa viagem! (ah, essas fotos merecem ser vistas em tamanho maior né? É só clicar encima delas!)
Ponta Negra nos anos 80.
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Ponta Negra em 1955.
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Colégio Winston Churchill em 1973. Av. Rio Branco.
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Rua João Pessoa e o Grande Ponto em 1941. Dá uma olhada nesse semáforo com “guarda-sol” sensacional!
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Foto da Via Costeira ainda em construção em Novembro de 1979. Detalhe: nenhum hotel na praia. Enviada por Maxwell Oliveira.
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Foto da Praia de Ponta Negra e o Morro do Careca em 1959. Enviada por Eldanira Souto, filha do autor da foto o Sr. José Souto.
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Morro do careca em ângulo inverso de quem
está no morro. Detalhe para a praia de Ponta Negra sem prédios. Foto de
Netto Fotografias. Enviada por Carmem Daniella Spínola.
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Antiga fábrica da SORIEDEM, atual Via
Direta, bairro do Mirassol. O ano é 1977. O terreno abaixo, na frente da
fábrica virou um condomínio chamado Chacon e ao lado o terreno que iria
ser o Natal Shopping. Contribuição de Thiago Azevedo.
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Bosque dos Namorados [atual Parque das Dunas] em 1980.
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Fábrica da SAM’S no cruzamento da Av. Salgado Filho com a Amintas
Barros. Foto de meados dos anos 70. O cheiro dos doces ao redor da
fábrica ainda estão na sua memória?
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Av. Salgado Filho em frente onde fica hoje o Nordestão.
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Av. Prudente de Morais por volta de 1975. O
local que você está vendo na foto é onde atualmente é o complexo viário
próximo ao Arena das Dunas (Dom Eugênio Sales). Do lado esquerdo era o
antigo Castelão, e a subida para Candelária ao fundo. Foto: acervo do “A
República”.
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O Baldo e a subida da Av. Deodoro da Fonseca em 1972.
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Alto do Morro do Careca entre a década de 40/50. Foto do acervo pessoal do Leandro Menezes.
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Chegada de Hidroavião no Rio Potengi em 1941 na Rampa.
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Antigo Hotel Reis Magos, Praia do Meio, Natal/RN
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Do tempo em que era permitido subir no Morro do Careca em Ponta Negra. Foto enviada por Íris Ciríaco.
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Supermercado Nordestão do Alecrim em 1975 em época Natalina. Foto enviada por Nelma Leonardi.
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Imagem registrada em 1959 da Praia de Ponta Negra. Na foto pescadores
e veranistas fazem um arrastão. Ao fundo o Moro do Careca e a casa dos
padres pertencente a arquidiocese de Natal. Registrada pelo Sr. José
Correia Souto. Enviada por Eldanira C. Souto.
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Foto de 1961 da Praia de Ponta Negra e a
vista do Morro do Careca. Enviada por Igor Freire sendo o autor da foto o
seu avô Nadelson Freire. Detalhe para as placas dos carros que ainda
não tinham letras.
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Agradecemos à página Natal Como Te Amo de onde extraímos as fotografias deste post.
domingo, 24 de setembro de 2017
DEUSDETHE, O ÚLTIMO VAQUEIRO
Tipo manso, atencioso, andar curto e ligeiro, bom amigo, tinha o senso
familiar muito forte e gostava de sentir útil, agradável e necessário. O
seu sorriso contagiava a todos que dele se aproximava. Era assim
Deusdethe Julião Neto, um amigo que tombou ferido de morte, na última
terça-feira (20/9), aos 80 anos de idade.
Amante da vaquejada,
seu esporte preferido, derrubador de gado dos melhores, ganhador de muitos prêmios, conhecido em todo o Nordeste
brasileiro. O seu nome (Deusdhete) vem do Latim e significa DADO POR DEUS.
Por volta de 1967 chega ao Assu, procedente de Currais Novos, interior
do Rio Grande do Norte, salvo engano, sua terra natal, para trabalhar no
escritório da COSERN, uma empresa então estatal, distribuidora de
energia elétrica, da terra potiguar. Deusdethe Julião como eu
habitualmente lhe chamava, bebeu água do Assu e por lá se casou com
Salete Tavares (uma prima carnal de minha mãe), enraizou-se, deixou
descendência: Sâmara, Sumara (filhas) e netos a quem deixo registrado, nesta página, o meu pesar, o abraço solidário, pela partida inesperada dele, Deusdethe, por quem
eu nutria admiração e simpatia.
Afinal, Deusdethe, "na verdade, na
verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer,
fica ele só; mas, se morrer; dá muito fruto". É da Bíblia.
Descanse Desdethe, durma o sono dos justos e que, a sua alma, certamente, há de brilhar no céu.
Pena, que eu não pude comparecer a sua última despedida.
Fernando Caldas
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
( O Rosário )
Arma de artilharia de todo cristão . Mistérios : Da alegria, da luz , da dor e da glória da ressurreição . Cada momento vivendos Unidos a Virgem Maria. Na obediência, na fé , na paz e no amor da paixão . Rosário no peito. Ostentação ! Rosário proclamado. É a anunciação . Rosário meditado. É calma em toda aflição. Cada conta uma rosa Ofertada por nós . Em desagravo ao Vosso Imaculado Coração
O
time dos Guerreiros Unidos foi fundado no Bairro de Lagoa do Ferreiro.
Hoje o time é considerado do Bairro Vertentes. Nesta formação das
antigas podemos ver a presença do avô do craque @g.guerron_11 o saudoso
Zeca.
Rostand Medeiros – Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN Seu nome de batismo era Joaquim
Eduvirges de Melo Açucena, nascido em Natal no dia 17 de outubro de
1827, quando a Independência do Brasil havia sido proclamada apenas
cinco anos antes. Quando aquele jovem veio ao mundo a sua cidade era
então muito acanhada, de população reduzidíssima, provinciana, longe de
tudo e de todos e sem nenhuma importância. Tão sem importância que só
recebia uma vez por mês um navio de cargas e passageiros. Ele era filho de Manoel Joaquim Açucena,
homem robusto, um nacionalista exaltado e grande tocador de violão.
Aventuroso, consta que para se encontrar com sua futuras esposa, Maria
Pacífica de Melo, o pai de Lourival Açucena atravessava o rio Potengi a
nado e com a roupa na cabeça, depois andava léguas até a região de São
Gonçalo do Amarante para se encontrar com a jovem Maria[1].
De sua mãe Lourival Açucena herdou o
gosto pela leitura dos clássicos do nosso idioma, o instintivo rigor
gramatical e as frases apuradas. Do pai ficou a voz forte, o gosto pelo
violão e uma fidelidade romântica pelas noites enluaradas. Consta que Lourival Açucena estudou
francês, latim, retórica, filosofia, mas não foi um estudante exemplar
destas matérias. Exemplar mesmo o jovem foi com o violão nas mãos, que
aprendeu com seu pai.
Em 1839, no final do Período Regencial, a
Província do Rio Grande do Norte era governada pelo goiano Manuel de
Assis Mascarenhas (veja imagem acima), que tinha inclusive o título de
“Dom”[2]. Por
esta época o jovem Lourival Açucena já era um exímio cantador e foi
levado até o fidalgo Presidente por seu pai. Ao invés de declamar versos
clássicos, como seria a praxe na época, o garoto atacou com um animado
lundu e o então mandatário potiguar gostou bastante.[3] Um Funcionário Público de Voz e Violão Os que conhecem do tema, que não é o meu
caso, afirmam que a sua poesia era ligada ao Romantismo, mas tinha
forte relação tardia com o Arcadismo. Jovem de espirito alegre, que fazia
amizades de maneira muito fácil, amante das serestas, das noitadas, teve
uma vida agitada e participava ativamente dos serões boêmios de Natal.
Apesar disso, segundo Luís da Câmara Cascudo, não era chegado a bebidas.
Isso talvez explique como alguém que gostava de cantorias e da noite
chegou aos 80 anos, em um tempo onde a medicina era bastante limitada.
Já como cantor alcançou fama nos
festejos religiosos, sendo considerado um cantante de grande qualidade e
que se acompanhava ao violão. Na semana santa de 1848 realizou a sua
única viagem para fora do seu estado natal, onde apresentou “As
lamentações de Jeremias” em Recife. O fato se deu na imponente igreja do
Corpo Santo, que atualmente não existe mais[4]. O padre local, conhecido tenor sacro, ficou impressionado com a apresentação do natalense[5]. Artista praticamente completo, Joaquim
Eduvirges de Melo Açucena também participou de peças teatrais. Em 1853
representou o personagem capitão Lourival na peça O Desertor Francês, aparentemente uma adaptação da peça Le Desérteur, um drama de cinco atos do francês Louis Sèbastien Mercier[6]. Sabemos
que a sua apresentação foi tão marcante, que até a sua morte todos em
Natal passaram a lhe chamar pelo nome do personagem que interpretou.
Joaquim Açucena logo estará no
funcionalismo público estadual como “Praticante dos Correios”, ganhando
dezesseis mil réis. Depois passou para a Tesouraria e em 1859 chegou a
Oficial-Maior. Câmara Cascudo comenta que esta última promoção se deu
neste ano pela sua voz. Mas não foi na base do grito. Mas cantando! Nesse tempo as festas na igreja de São
Miguel, em Extremoz, que então estava em construção, eram muito
populares e Joaquim Açucena arranjou um jeito de fugir do trabalho para
cantar nas missas. Ocorre que naquele ano o baiano João José de Oliveira
Junqueira[7],
então recém-empossado Presidente da Província do Rio Grande do Norte,
assistiu a festa religiosa em Extremoz, onde o bardo Açucena tocou e
cantou.
A autoridade gostou do que ouviu e
perguntou quem era o ilustre trovador. Ao responder o questionamento de
Oliveira Junqueira, um dos acompanhantes aproveitou e contou a história
da tal fugida de Lourival Açucena da sua repartição. Este foi então
chamado diante do Presidente e se apresentou bastante trêmulo,
certamente imaginando algum tipo de castigo. Mas para sua surpresa e do
bajulador safado e extremamente invejoso que o denunciou, o Presidente
Oliveira Junqueira pediu ao cantador para tocar alguns lunduns, modinhas[8], xácaras[9]
e realizar alguns solos de violão. A autoridade ouviu tudo extasiado e
ao final declarou “Gostei muito! Você é um artista Seu Açucena. Está
nomeado Oficial Maior da Tesouraria”. É provável que com este gesto o
Presidente Oliveira Junqueira quisesse mostrar sua indignação com a
denúncia destinada a prejudicar o cantador. Ou talvez desejasse ter por
perto alguém com a capacidade que Lourival Açucena tinha com a viola nas
mãos, para lhe distrair nas horas de folga[10].
Se para entrar no serviço público nos
dias atuais as pessoas tem de “queimar as pestanas” estudando muito,
Lourival Açucena, sem demérito algum já que era a realidade do seu
tempo, subiu no funcionalismo publico de viola na mão e declamando
versos. O Bardo No Xilindró Da Fortaleza Dos Reis Magos Se em Recife foi onde Lourival Açucena
se apresentou com galhardia e sucesso na igreja do Corpo Santo, foi
igualmente na capital pernambucana que em 1861 ele teve seus textos
publicados pela primeira vez em um pequeno jornal chamado “O Recreio”. Mas no ano de 1888 houve muita dor de cabeça para Lourival Açucena, inclusive ele passou um período atrás das grades.
Consegui uma cópia do periódico “Gazeta
de Natal”, edição de sábado, 21 de janeiro de 1888, onde na primeira
página dá conta que o então Presidente da Província potiguar, o
pernambucano João Capistrano Bandeira de Melo Filho, do Partido
Conservador, abriu um inquérito para apurar desvios de recursos na
coletoria de impostos da cidade potiguar de Macau, onde o titular era
Lourival Açucena. O periódico natalense não explica
detalhes do caso, afirmando que Bandeira de Melo usava de muita rigidez
das leis existentes para punir Lourival, entretanto era extremamente
brando com um caso semelhante ocorrido em Nova Cruz, com o funcionário
publico A. Lopes Pessoa da Costa, seu correligionário. Aquela velha
história, ainda bem atual, de se utilizar a lei para os inimigos e
abrandar tudo para os amigos!
Mas como na história potiguar tudo que
envolveu Lourival Açucena terminava em festa, consta que a sua passagem
pelos cárceres da Fortaleza dos Reis Magos foi marcado pela pouca
rigidez do seu aprisionamento. Sabemos que através da anuência do
comandante da fortaleza, amigo do cantador de longa data, a farra foi
tanta e tão boa que Lourival Açucena passou mais alguns dias na
fortaleza por vontade própria. Percebi que os biógrafos de Lourival
Açucena focaram muito mais no burlesco do caso, do que na ideia de
entender o que realmente aconteceu. Mas não sei o quanto Lourival
Açucena estava envolvido em desvios na coletoria de Macau, pois os dados
são limitados e o meu conhecimento das leis da época é restrito. Mas
lendo a edição de “Gazeta de Natal” fica nítido que seus amigos
desejavam protegê-lo do rígido Bandeira de Melo, tanto assim que passou
pouco tempo preso. Muitos Filhos E Um Deles Morreu Pelo Uso de Morfina Lourival ascendeu muito no funcionalismo
público da sua época. Certamente por ser um homem competente no seu
trabalho, mas sem dúvida ajudou bastante o fato dele ser bom de viola,
de conversa e de amizades.
Joaquim Açucena foi comandante de um dos
destacamentos da Guarda Nacional do Rio Grande do Norte, onde recebeu a
patente de capitão. Foi também delegado de polícia, 2° juiz de paz da
paróquia de Natal, chefe de seção da Secretaria de Governo e exerceu a
função de oficial de gabinete do Presidente Gustavo Adolfo de Sá. Ele se
aposentou com um salário nada irrelevante de 1:300$000 (Um mil e
trezentos réis)[11]. Mas se seu salário não era tão módico
assim, ficou registrado que levava uma vida frugal, espartana e que
quase passava necessidades, embora não lhe faltasse nada devido às
inúmeras amizades que fez ao longo dos seus 80 anos de vida. É provável que a sua remediada situação
financeira fosse uma consequência de outra “atividade” na qual o bardo
natalense foi extremamente atuante – Fazer filhos. Lourival Açucena foi
pai de dezenove filhos legítimos e treze rebentos bastardos. Trinta e
dois no total.
Sabemos que ele teve três esposas que
podemos enquadrar como “oficiais”. Estas foram Antônia Cândida de
Albuquerque, cuja união aconteceu em 1852, com Flora Carlinda de
Vasconcelos, em 1865, e a última, já no limiar da vida, com Silvânia, a
quem carinhosamente denominou de “gentil porangaba”. Não é a toa que foi
chamado por um jornal local de “O rouxinol das saias”[12]. Entre seus filhos, ao menos três deles
seguiram a carreira militar no Exército. Foi o caso do tenente-coronel
Reynaldo Lourival, que passou a residir no Rio de Janeiro, e do major
Pedro Lourival, que passou a residir em Pelotas, Rio Grande do Sul[13]. Já o cadete Carlos Lourival, outro
filho de Lourival Açucena que seguiu a carreira das armas, morreu com 21
anos em decorrência do “uso imoderado de morfina”. Este jovem nascido
em Natal era fruto do seu segundo casamento, morava em São Paulo e
estava lotado no 10° Regimento de Cavalaria, onde e faleceu na madrugada
de 4 para 5 de julho de 1889[14].
Segundo um jornal do Rio Grande do Sul,
devido a sua ausência no quartel os seus companheiros de farda
arrombaram as dependências do seu alojamento e encontraram seu corpo
prostrado em sua cama ás onze da manhã de 5 de julho. O jornal informou
ainda que o cadete Carlos Lourival sofria de insônia e utilizava morfina
para conciliar o sono, mas na noite de 4 de julho tomou uma dose mais
elevada que o normal e isso ocasionou a sua morte[15]. Cantor de Modinhas
Lourival Açucena escreveu em muitos
jornais da cidade, mas não chegou a publicar nenhum livro durante a sua
vida, preferindo a viola e a cantoria. Foram seus muitos amigos que
publicaram um pequeno texto com alguns de seus poemas trinta dias após a
sua morte. Foi Luís da Câmara Cascudo, com a ajuda
de Joaquim Lourival, filho do poeta, que recolheu o que foi possível de
seus poemas, publicando um volume em 1927. Este filho do bardo foi
igualmente uma figura muito conhecido em Natal, sendo proprietário de
uma escola particular e chamado por todos de “professor Panqueca”.
Câmara Cascudo, nascido em 1886, ainda
teve oportunidade de assistir uma cantoria do então septuagenário
Lourival Açucena na festa de Nossa Senhora da Apresentação. O bardo
glosava os motes dados pela multidão de forma atenta e chamava atenção
pela prontidão da rima e do vocabulário. Cascudo comentou em 1939 que o
nosso artista era muito orgulhoso e vaidoso. Pois se em uma apresentação
ele não fosse o primeiro a subir no palco, batia o pé e não cantava
mais. E que ninguém falasse alto durante sua apresentação, pois ele
parava e não recomeçava mais. Ainda bem que no tempo de Lourival Açucena
não existiam os celulares![16] Conhecido como o “cantor de modinhas”,
Lourival Açucena teve durante 60 anos a primazia da voz nas festas e
solenidades natalenses. Segundo Câmara Cascudo ele foi a alma alegre da
cidade. Improvisador de festanças, marcador de quadrilha, artista
dramático, fazedor de brindes, compadre de meio mundo de gente,
respeitado e cortejador, era ainda aquele que conhecia “Os tristes
desvios das altivosas criaturas”[17]. NOTAS [1]
Algumas fontes apontam que esta peripécia no rio Potengi teria sido
realizada pelo próprio Lourival Açucena, mas em um interessante texto de
Luís da Câmara Cascudo publicado em 1939 ele aponta o fato ligado ao
pai do poeta. Ver o periódico A República, Natal-RN, edição de
quinta-feira, 12 de janeiro de 1939, pág. 3. [2]
Manuel de Assis Mascarenhas nasceu em Goiás Velho no dia 28 de agosto
de 1806, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 30 de janeiro de 1867.
Filho de Francisco de Assis Mascarenhas, conde e marquês de São João da
Palma, no Brasil, e 6º conde da Palma, em Portugal.
Proprietário rural em Campos (RJ) formou-se em leis pela Universidade
de Coimbra e tornou-se condestável e diplomata do Império. Foi nomeado
pelo Governo Imperial adido de 1ª classe na legação brasileira em Berlim
e, em seguida, secretário da legação em Viena. Em 1830, deixou
definitivamente a diplomacia e voltou ao Brasil, atendendo urgente
chamado de seu pai, para ajudá-lo a gerir a propriedade da família em
Campos. Nesta atividade, demorou-se, no interior fluminense, por três
anos, para depois ingressar na magistratura. Foi juiz em Vassouras e
desembargador da Relação da Corte. Filiado ao Partido Conservador,
presidiu as províncias do Rio Grande do Norte (1838-43) e Espírito
Santo, (1843). Eleito deputado-geral pelo Rio Grande do Norte à 4ª
legislatura e, na seguinte, por Goiás. Em 1850, foi escolhido, em lista
tríplice, senador pelo Rio Grande do Norte. Embora conservador, em
várias oportunidades aprovou os liberais, tornando-se, por fim,
conselheiro-chefe do Partido Liberal. Em 1º de junho de 1839, ingressou
no Instituto Histórico e Geográfico do Brasileiro (IHGB) como sócio
correspondente. Ver – https://ihgb.org.br/perfil/userprofile/MAMascarenhas.html [3]
O lundu, ou lundum, chegou ao Brasil através de escravos Bantu de
Angola e áreas circundantes, sendo uma dança de casal muito sensual,
voluptuosa e considerada bastante lasciva. Foi altamente popular em todo
o Brasil no século XVII e início do século XVIII. Posteriormente
substituído pelo maxixe (que também foi considerado escandaloso …) e,
segundo alguns autores, em seguida pelo samba. Ver TINHORÃO, José Ramos.
Pequena história da música popular: da modinha à lambada. São Paulo-SP:
Art, 1991, p. 41. Sobre o encontro de Açucena com esta autoridade ver A
República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 1939,
pág. 3. [4] O conjunto arquitetônico da igreja do Corpo Santo foi demolido para a construção da Avenida Marquês de Olinda em 1913. [5] Ver http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000113068.PDF [6]
Louis Sèbastien Mercier (1740-1814) foi um escritor francês, autor
dramático da época revolucionária, membro da Convenção. Autor do romance
de costumes Tableau de Paris, conhecido documento de caráter histórico e sociológico sobre a situação da sociedade francesa na véspera da Grande Revolução. [7]
João José de Oliveira Junqueira (Salvador, 10 de março de 1832 – 9 de
novembro de 1887) foi um magistrado e político. Era filho do senador
João José de Oliveira Junqueira, ministro do Supremo Tribunal de
Justiça. Foi deputado provincial, deputado geral, ministro da Guerra
e senador do Império do Brasil de 1873 a 1887. Antes disso foi
presidente das províncias do Piauí (1857 a 1858), Rio Grande do Norte
(1859 a 1860) e de Pernambuco (1871 a 1872). Ver http://www.wikiwand.com/pt/Jo%C3%A3o_Jos%C3%A9_de_Oliveira_Junqueira_J%C3%BAnior [8] A modinha era uma canção de origem portuguesa
leve, sentimental e muito popular nos séculos XVIII e XIX. Alguns dos
primeiros exemplos de modinhas estão nas Óperas Portuguesas
(1733-41). Originalmente melodias simples, as modinhas
costumavam serem abrilhantados com intrincados e elaborados efeitos
musicais quando executados para a nobreza. Elas foram introduzidas no
Brasil no final do século XIX onde permaneceram como expressões simples
da vida urbana. Ver TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música
popular: da modinha à lambada. São Paulo-SP: Art, 1991, p. 47. [9]
A xácara é uma narrativa popular cantada em versos também denominada
romance, em que acontece algum episódio trágico, oriundas de Portugal e
Espanha ainda encontradas no Brasil do século XIX. Ver FARIA, Edméia.
Folclore Poético em Pompéu. Belo Horizonte-MG: Maza Edições, 2000, p.
59. [10] Ver o periódico A República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 1939, pág. 3. [11]
Para se ter uma ideia podemos comparar os vencimentos da aposentadoria
que Lourival Açucena ganhava com os vencimentos da aposentadoria de um
juiz de direito na mesma época, que era de 4:800$000 (Quatro mil e
oitocentos réis). Ver Mensagem lida pelo Governador Augusto Tavares de
Lyra em 14 de julho de 1904, na abertura do Congresso Legislativo do
Estado do Rio Grande do Norte, na página 114. Em 1904 Lourival Açucena
tinha 77 anos. [12]
Sobre este apelido jocoso ver o periódico O Caixeiro, Natal-RN, edição
de quinta-feira, 10 de agosto de 1893, pág. 4. Aparentemente as suas
duas primeiras esposas faleceram em decorrência de partos mal
assistidos. [13]
Ver o periódico A República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 19 de
outubro de 1927, pág. 1, na reportagem comemorativa dos 100 anos de
nascimento de Lourival Açucena. [14]
Atualmente o local onde se situava o 10° Regimento de Cavalaria do
Exército Brasileiro é a sede da Academia de Polícia Militar do Barro
Branco (APMBB), da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ver
CERQUEIRA, Homero De Giorgi. A disciplina militar em sala de aula. São
Paulo-SP: Ed. Biblioteca 24 horas, 2009, p. 51. [15]
Sobre a morte de Carlos Lourival ver os periódicos A Gazeta de Natal,
edição de sábado, 27 de julho de 1889, pág. 2 e A Federação, Porto
Alegre-RS, edição de segunda-feira, 29 de julho de 1889, pág. 1. A razão
do falecimento do cadete Carlos Lourival ter sido estampada na primeira
página deste jornal gaúcho deve-se ao fato dele ter vivido alguns anos
naquele estado, onde fez muitos amigos, serviu em alguns quartéis e
chegou a cursar a Escola Militar. [16] Ver A República, Natal-RN, edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 1939, pág. 3. [17]
Ver CASCUDO, Luís da Câmara. Introdução. In: AÇUCENA, Lourival.
(Joaquim Eduvirges de Melo Açucena). Versos reunidos por Luís da Câmara
Cascudo. 2. ed. Natal: Editora Universitária, 1986, p. 25-26