terça-feira, 25 de dezembro de 2018

NO CALVÁRIO
Quando Jesus, o santo proletário,
Morria sob o cimo do Calvário,
Sendo o meigo Rabbi da Galileia,
Ele viu fulgir a sua ideia
Na derradeira gota derramada
Nos olhos da sentida maculada
De Madalena - a pecadora santa.
Ah! Consolo ideal de graça tanta!
O puro de alegria e de miséria
Via fulgindo n'a alma da matéria
A semente profunda e vencedora
Da deslumbrante vida redentora!
Então, lhe disse alguém, olhos cravados
Nos olhos de Jesus, quase apagados:
"Porque não fazes tu, Cordeiro Manso,
Com que, carne da dor e sem descanso,
Resplandeça o teu corpo sem feridas
Para, vendo o milagre, as outras vidas
Crerem melhor em ti, bom que procuras
Fazer de todas almas almas puras?"
- Mortal, Jesus lhe disse, hoje é preciso
Que, Matando no lábio a flor do riso,
O Deus tornado homem, o soberano
Caia na morte que padece o humano...
A culpa é grande, o sacrifício é forte...
A morte lava o temporal da Morte
E eu quero ver a humanidade salva!... -"
E erguendo a face, como um céu, bem alva,
Estirou-se na cruz, sem mais conforto,
Morto pelos maus, para ver morto
O pecado ferino que luzia
No coração do povo que o feria.
Branco Jesus da humanidade salva!
(João Lins Caldas)
Natal, 15´/4/1909

Nenhum comentário:

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...