quinta-feira, 9 de maio de 2019

UM DIA NO CASARÃO DA RUA DAS HORTAS SÉRGIO SIMONETTI CAPÍTULO LXXXVI

Mocinha continua a cantar, encostada na janela.
“Eu me afasto e me defendo de você
Mas depois me entrego
Faço tipo, falo coisas que eu não sou
Mas depois eu nego
Mas a verdade é que eu sou louca por você
E tenho medo de pensar em te perder
Eu preciso aceitar que não dá mais
Pra separar as nossas vidas.”
Todos aplaudem calorosamente a bela interpretação de Mocinha. Ela suspira e esboça um sorriso triste. Augusto Preto tenta consolá-la.
– Mocinha, nós precisamos coragem para as grandes tristezas da vida e paciência para as pequenas. Enquanto isso, o que você deve fazer é cumprir laboriosamente seus deveres diários e então dormir em paz. Deus estará acordado.
– E se Deus cochilar e der errado, Augusto Preto? – Questiona Adolfo, sarcasticamente.
– Se alguma coisa der errado, meu amigo Adolfinho, não é motivo para culpar Deus.
– E Deus existe mesmo? Eu nunca vi Deus.
– É infame a acusação de que Deus nunca tenha sido visto.
– Como assim, Augusto Preto?
– Adolfinho, lembre-se da verdade que uma vez foi dita.
– Que verdade?
– Amar outra pessoa é ver a face de Deus.

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