quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

LEMBRANDO EPIFÂNIO BARBOSA


Era eu, menino ainda quando tive o privilégio de ter conhecido Epifânio Barbosa. Tipo baixo, de cor morena, garboso, jeitão sertanejo, sabido no bom sentido. Fazendeiro, negociante de gado, proprietário da fazenda Cruzeiro, localizado no caminho do Riacho, distrito de Assu. Amigo leal de meu avô materno Fernando Tavares (Vemvem) que foi também fazendeiro naquela região e amigo de Epifânio. Lembro-me dele, Epifâneo, frequentando assiduamente as reuniões sociais na calçada do rico e antigo casarão do casal Maria Eugênia e Nelson Montenegro. Ele era proprietário da famosa Fazenda Cruzeiro, localizada no caminho do Riacho (distrito do Assu).

Epifânio tinha um mundo de amigos e era admirado por todos daquela região.. Homem de poucas letras, porém sabido nos negócios de gado, sábio na maneira de viver e ver a vida, espirituoso como ninguém. O governador Dix-sept Rosado de quem ele era amigo íntimo, que o conheceu por intermédio de Vemvem, deliciava-se com suas tiradas de espírito, as suas estórias pitorescas, os seus repentes. Nas festas políticas, não perdia a oportunidade para discursar. A sua oração com aquele seu linguajar matuto, estapafúrdio, que tinha um sentido filosófico e lhe fazia gracioso, encantava e agradava a leigos e eruditos.

Epifânio não tinha inibição, era despachado, desenrolado, grosseirão nas palavras que dizia e nos seus gestos. Certa vez, a deputada federal Ivete Vargas, visitava a cidade de Mossoró. Epifânio, Getulista que era, resolveu ir até aquela cidade conhecer aquela parlamentar petebista, neta de Getúlio Vargas. Ao chegar ao aeroporto daquela terra do oeste potiguar, uma multidão incalculável se encontrava presente naquele local, prestigiando a filha do presidente Vargas. Epifânio usando da habilidade que lhe era peculiar, "como um relâmpago inesperado", meteu-se no meio daquela multidão e, ao se aproximar de Ivete, bateu com a mão no 'bunbum' daquela deputada, Ivete assustou-se, virou-se e ficou de frente, olho no olho com Epifânio que se apresentou, dizendo naquela sua forma graciosa de dizer as coisas: "Muito prazer, deputada. Sou Epifânio Barbosa do Assu. Nunca bati na bunda de uma mulher, pra ela não olhar para trás!"

Epifânio imortalizou-se na "pena fulgurante e adestrada", da escritora assuense de Lavras, Maria Eugênia, no romance intitulado "O Sertanejo", do qual é o seu protagonista, encarnado no personagem Lourenço. Aquela mulher de letras começa a narrativa do seu belo e original romance dizendo que "na aridez das caatingas, Lourenço viu-se jogado no mundo. De estatura mediana, saudável, inteligente, rosto largo e moreno, era figura popular no Vale do Açu, a rica região onde as carnaubeiras, com seus leques entreabertos, emolduravam de verde os longínquos horizontes, ao abano constante dos ventos.

Herdara dos ancestrais a tenacidade na luta pela vida. Corpo rajado, espírito forte, aceitava com a alegria ou sem amargor, tudo o que a vida lhe oferecia em suas variadas contingências.

Ali nascera e se fizera homem. Integrado à terra, como os verdes juazeiros, que heroicamente resistem a todos os ventos. Lourenço, ali possuía raízes como as agigantadas árvores que não poderiam ser transplantadas. Não se aclimataria jamais em qualquer lugar."

Afinal, fica este artigo que tem sobretudo o sentido de resgatar, relembrar, apresentar aos mais jovens, Epifânio Barbosa, o que ele representou para o folclore regional, a pecuária das várzeas e dos sertões do Assu e, finalmente, nas palavras do poeta popular, homenageio e reverencio a  memória de Epifânio Barbosa.

"Muito gado na fazenda,
Vacas, bezerros, garrotes.
Diversos reprodutores,
Novilhas e novilhotes,
Muitas cabras e cabritos,
Pulando pelos serrotes"

Fernando Caldas


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