Foto: carro alegórico que reuniu vários blocos para o tradicional
desfile nas ruas, tendo o Rei Momo destacado em ponto máximo - Geraldo
Dantas, além dos organizadores da festa, Costa Leitão e Maria Olimpía.
A cidade, especialmente as moças, envolviam-se no embalo momesco,
providenciavam as fantasias, decoravam os carros alegóricos. Com
ousadia, buscavam um traje que tivesse decotes e chamasse à atenção dos
espectadores, inspiravam-se em um tema polêmico e em evidência. Os pais
providenciavam a compra das caixas de lança perfume Rodoro para
completar a folia.
O executivo da cidade, com muito entusiasmo,
buscava recursos para dar vida aos blocos carnavalescos que a cada dia
tinha uma fantasia estarrecedora para apresentar. Tudo finalizado e
preparado conforme programado, chegava o grande dia. O Clube Municipal
era a casa que acolhia os foliões animados pelas orquestras, a Furiosa
de João Chau, a de Francisquinho Músico ou a de Sr. Cristóvão Dantas,
além da ARCA e AABB.
À tarde era o desfile dos carros alegóricos,
imponentes e muito bem decorados. Eram motivo de uma fotografia ou até
de manchete no jornal do colunista social mais bem afamado, Demócrito
Amorim. As pessoas reuniam-se nas calçadas para prestigiarem os desfiles
que ficariam como um fato para a posteridade. O percurso circulava a
Praça Getúlio Vargas, seguia pela Praça do Rosário e ia até o Colégio
das Freiras. Assim, acabava e começavam os preparativos para a noite.
Às 22 horas as portas das residências das famílias tradicionais
abriam-se para liberar suas filhas que iam para o Baile, acompanhadas
pelo olho clínico de seus pais que, assim como elas, tomavam assentos às
mesinhas reservadas do Clube.
Todos preparados, a autoridade
máxima estendia as suas saudações às famílias por tê-las presentes ali e
era dada a primeira dobrada pela orquestra. A felicidade em esperar
pelo carnaval de cada ano era prazerosa! Entrava no salão o primeiro
bloco a rodopiar e marcar o passo ao som de envolventes marchinhas
carnavalescas. Os foliões portando lança perfume borrifavam sobre os
outros, espalhando-se pelo ar o cheiro gostoso. Os adultos cheiravam o
lenço que tinha mão, tomavam porres de lança. Caso contrário, tinham às
mesas whisky com guaraná, cerveja ou coca- cola com rum montila. Um
funcionário do Banco do Brasil ocupava o cargo vitalício de Rei Momo e
era um dos mais animados que a cidade via, Geraldo Dantas. O reinado,
posteriormente, foi ocupado por João (Samuel) Batista Fonseca e Edmilson
da Silva.
As antigas marchinhas de carnaval eram tocadas
repetidamente com as pessoas dando voltas e mais voltas no salão,
enquanto outras só ficavam paradas nas bordas a jogarem lança perfume e
dançando em cima das mesas. Noite alta, começavam as paqueras e o envio
de recados de um para o outro com o intermédio daquela amiga
alcoviteira, namoros proibidos e ousados, mas com muito respeito. A
cidade era pequena e no outro dia poderia estar tudo nos ouvidos dos
pais e nas conversas da rua.
Os Papangus, composto somente por
mulheres como Alba de Sá Leitão, Alba Soares, Ozelita Dias, Evangelina
Tavares e Zélia Tavares, aglomeravam-se, alternadamente, na casa de cada
integrante para darem início aos assaltos às casas de pessoas amigas. O
assalto às residências consistia em uma recepção regada à músicas,
brincadeiras, bebidas, petiscos e tira-gostos. Era um bloco que
provocava muita curiosidade e animação devido a ocultação das faces das
mulheres.
Havia também o bloco composto somente por homens
chamado Karkarás, com uma única mulher como porta-estandarte, Zélia
Tavares. No carnaval de 1965, ainda no ápice da Revolução de 1964,
jovens estudantes uniram-se e fizeram surgir As Rebeldes, um nome que
denotava muita ousadia, com mulheres à frente do seu tempo, e que as
fantasias fugiam dos padrões convencionais. A Personal Stylist era Ivete
Medeiros e esta buscava indistintamente temas que causassem espanto nas
pessoas, tendo as fantasias guardadas em segredo. As Rebeldes estrearam
com o figurino que reivindicava o uso do LSD. É necessário relembrar o
homem que acompanhado pelas suas três filhas inexplicavelmente marcavam o
passo pelas ruas da Assu então pacata. Exercia a profissão de sapateiro
e era Pernambucano, com ritmo do frevo pulsando forte dentro de si, seu
sobrenome já predestinava seus feitos: Djalma dos Passos Barros.
Merecidamente, ele foi o maior expoente do frevo em Assu.
Alguns
dos blocos eram: As Independentes, As Viajantes, Soldados do Tio Sam, Os
Palhaços, Os Papangus, As Rebeldes, Os Bengalinhas, Vassourinhas, Os
Índios, Os Karkarás, As Selenitas, As Incríveis, Futuristas, Os
Irresponsáveis, Baghassus, Xafurdo, As Marinheiras. Eram inúmeros blocos
que surgiam a cada ano, trazendo novas perspectivas e características. O
Carnaval era uma festa familiar, com a perspectiva de unir e agregar
valores. Em tempos de carnavais, políticos rivais esqueciam as
diferenças e juntos participavam da festa momesca. Seletivamente
organizada as festas aconteciam na maior amizade e convivência saudável.
Com muito riso e alegria, haviam no salão mais de mil palhaços, além de
Arlequim chorar pelo amor da Colombina no meio da multidão.
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