O poeta cantador de viola/cordelista Francisco Agripino de Alcaniz, ou simplesmente “Chico Traíra” era natural de Sacramento, atual Ipanguaçu, importante município do Rio Grande do Norte (lugar fundado por meu terceiro avô Luiz Lucas Lins Caldas que era Major da Guarda Nacional) e assuense por opção e escolha, onde viveu grande parte de sua vida de boêmio e repentista. Pois bem. Certo dia, Traira (nome de peixe de água doce muito comum nos rios, lagoas e açudes da terra nordestina) viajando em cima da carroceria de caminhão com destino a cidade de Macau, em companhia do amigo e igualmente cantador de viola "Patativa" (nome de de pássaro de canto melódico e suave), ouviu Patativa reclamar dos baculejos em razão da trepidante estrada esburacada, a seguinte frase: “Chico, sinto que a nossa viagem não vai ser muito sublime!” – Chico Traíra pegou na deixa, dizendo os versos no melhor de sua criatividade poética:
Se o amigo não está
Achando a viagem boa
Você é pássaro, eu sou peixe
Eu mergulho e você voa
Você volta para o ninho
E eu volto à minha lagoa.
Achando a viagem boa
Você é pássaro, eu sou peixe
Eu mergulho e você voa
Você volta para o ninho
E eu volto à minha lagoa.
De outra feita, na cidade de Areia Branca, viola afinada, cantando com outro afamado violeiro chamado Manoel Calixto, cantoria realizada na casa de um amigo, Chico fora desafiado por Calixto com a seguinte estrofe:
Aviso ao dono da casa
Que não vá fazer asneira
Tenha cuidado em Traira
Que ele tem uma coceira
Se não quiser que ela pegue
De manhã queime a cadeira.
Que não vá fazer asneira
Tenha cuidado em Traira
Que ele tem uma coceira
Se não quiser que ela pegue
De manhã queime a cadeira.
Chico retrucou:
Você é que tem coceira
Dessas que rebenta a calça
Está tomando por dia
Dezoito banhos de salsa
Quando a coceira se dana
Num dia acaba uma calça.
Dessas que rebenta a calça
Está tomando por dia
Dezoito banhos de salsa
Quando a coceira se dana
Num dia acaba uma calça.
Certa vez, o mestre Câmara Cascudo, "o escritor potiguar mais conhecido no mundo", recebia homenagem da UFRN. Chico fazia presente naquela ocasião, a convite daquela universidade. Dentro da programação Chico com sua viola em punho, versejou parara aplausos dos circunstantes:
Eis o doutor Cascudinho.
Que valoroso tesouro!
Lá no sertão também tem,
Cascudo, aranha e besouro.
Os de lá não valem nada.
Mas este aqui vale ouro.
Que valoroso tesouro!
Lá no sertão também tem,
Cascudo, aranha e besouro.
Os de lá não valem nada.
Mas este aqui vale ouro.
(Postado por Fernando Caldas)
2 comentários:
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