POUCAS E BOAS
Valério Mesquita
Mesquita.valerio@gmail.com
01) Zé Traíra, agricultor na várzea do Assu, nas horas vagas era o médico e o enfermeiro da região. Suas garrafadas, “meizinhas” e “cachetes” resolviam quase tudo. Certa vez, um moço de mais ou menos 40, anos foi procurá-lo. “Compadre Zé, eu tô até com vergonha de contar. Quero que o senhor me dê um remédio. Não quero nem saber quanto custa. Olhe, compadre, eu tô me sentindo fraco pro lado de mulher. Não tenho mais tesão. Me ajude, compadre Zé, por caridade”, finalizou. O “doutor” Zé Traíra cofiou a barba e doutrinou: “Eu tenho uma garrafada pronta. É tiro e queda nesses casos de “amolecências do corpo”. “Resolve mesmo seu Zé?”, resumiu com ansiedade o paciente. “Olhe”, encurtou a conversa Zé Traíra: “Se esse não levantar, pode virar as costas e sair de ré por aí...”.
03) O prefeito Djalma Maranhão tornou-se popular e querido pelos natalenses até de forma estranha. Djalma não andava a pé pelas ruas, até porque era um tanto obeso. Mesmo assim, quando aclamado, aparecia em publico. Certa vez, acompanhava as obras de asfaltamento na Rua João Pessoa quando um mendigo aproximou-se e disse: “Seu Djalma, me dê uma ajuda, uma esmola.” Maranhão, que não gostava desse expediente, comentou que poderiam pensar que ele estava “comprando” o povo. “Eu não dou esmolas na rua!”. O velho deu o troco. “Então me diga, e eu vou alugar um escritório para pedir esmola?”. Djalma, ato contínuo, conduziu o mendigo à prefeitura e lá foi providenciada uma feira para o mesmo. Nota: ainda não existia “sacolão”.
03) Natal lutou e aguardou com ansiedade a instalação do Terceiro Distrito Naval. Enfim, implantou-se e o seu primeiro comandante foi o vice-almirante Ricart. Conheci-o pessoalmente. Quando completou o seu período, aconteceram as despedidas de praxe e como sempre, socialmente, com a presença de pessoas gradas da cidade. Nesse evento, comandante salientou, entre outras coisas, que se fosse instado a fazer três opções, novamente escolheria ingressar na Marinha, servir em Natal e casar com a mesma esposa. Aplausos gerais. Dali a instantes, o nome votado para saudar o almirante foi o irreverente ex-deputado e procurador Valmir Targino. A apreensão tomou conta do ambiente. E não era pra menos. Valmir, entre outras considerações, afirmou no discurso: “Com duas, senhor almirante, das suas reopções eu concordo, reingressar na Marinha e servir em Natal. Mas, escolher a mesma esposa, eu não faria de jeito nenhum”. Risos generalizados. Falara ali o machista e vituperino Valmir para fazer humor no difícil momento do regime militar. Ricart, educado e fino digeriu a piada, bem assim, a sua consorte.
04) O grande Sandoval Wanderley segurou por muito tempo a bandeira do velho Teatro Carlos Gomes, depois Alberto Maranhão. Sandoval abria as portas para todos que buscavam as artes. Certa vez, um teatrólogo provinciano convidou o mestre para assistir à estréia do seu grupo, que encenava uma peça própria. Sandoval, postado na primeira fila, dormiu logo no primeiro ato. No dia seguinte, o rapaz encontrou o admirável Sandó: “Mestre, que pena que o senhor adormeceu. Eu queria tanto a sua opinião”. Sandoval foi curto e certeiro: “Meu filho, dormir é já uma opinião”.
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