terça-feira, 8 de dezembro de 2020

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL

O ano era 1964. Ano bom de inverno, com a precipitação pluviométrica acima da média. A todo instante chegavam na Pensão informações de boas chuvas em Pedro Avelino (PA). Aproximava-se a Semana Santa e aumentava o desejo de viajar, para visitar a fazenda, rever parentes e amigos e, é claro, tomar um banho de chuva (na capital não se toma banho de chuva).

Chegado o dia da viagem, logo cedo, às 4:30 horas da manhã, juntamente com colegas, já estava na Estação Ferroviária para embarcar no trem, único meio de transporte disponível.

Na hora do embarque chegou a notícia: O trem não ia mais partir, o Rio Ceará Mirim botou  uma cheia, destruindo as pontes Rodoviária e Ferroviária na altura da cidade de Taipu.

Essa cheia preocupou muita gente, inclusive familiares e amigos de Engenheiros que trabalhavam na Barragem de Poço Branco, na época em construção, que ficaram em cima dos destroços da ponte Rodoviária a noite toda, sendo resgatados pela manhã. 

Junto aos passageiros que embarcariam no trem encontrava-se Arnô de Tica Flôr, que era irmão de Orlando, proprietário de um ônibus que fazia a linha urbana na cidade. Era um Chevrolet ano 1956 que poderíamos chamá-lo hoje de alternativo, pelo seu tamanho, e que na época chamávamos de Jardineira. Arnô, mais do que depressa, acertou com a turma, fazendo contato com o irmão para efetuar a viagem. Tudo acertado, ônibus lotado e partimos sem ter noção do que nos aguardava pela frente.

Tomamos a estrada, passamos por Macaiba, chegamos à reta Tabajara e entramos na BR 304. Aí acabou o luxo. Sim, porque vínhamos no asfalto e a partir daí iríamos rodar em estrada de piçarra com direito a trepidação. A BR encontrava-se em construção pelo Batalhão de Engenharia e Construção, sediado na Base Física do Ministério da Agricultura na cidade de Lajes. Seguimos viagem até chegar no Rio Potengi, encontrando-o com água. Por sorte o Batalhão que construía a ponte disponibilizava uma máquina tipo patrol para socorrer os veículos que precisassem atravessar. Chegada a nossa vez, o carnaval foi grande dentro do ônibus.

Continuamos rodando, com uma chuva fina caindo até chegarmos a Riachuelo. Passamos por Caiçara do Rio dos Ventos e depois o Rio Ponta de Serra, um dos mais temidos. Saímos da BR, entramos pela cidade de Lajes do Cabugi, tomando uma estrada vicinal, cheia de curvas, em direção a PA. Esse trecho era repleto de pequenos rios e córregos. Como não dispúnhamos mais da patrol para nos socorrer, era onde entrava o refrão “DESCE PARA EMPURRAR“. O ônibus passava naqueles riachos com água arrastando a saia traseira nas barreiras. Orlando só faltava chorar, vendo seu veículo tão bem cuidado naquela situação. Nessa altura, Arnô, que era motorista afeito a esse tipo de estrada, já ia no comando do volante.

O certo é que, quando o relógio marcava 5:00 horas da tarde,  fomos entrando na cidade.

Pedimos e fomos atendidos, para que desse uma volta pelas ruas da cidade, fazendo a maior zueira. As pessoas nas calçadas admiradas sem nada entenderem.

Retornei de carona no Jeep de Dr. Etiene Reis, Promotor de Justiça da comarca, a pedido do meu Pai.

Autor: Geraldo José Antas 

Engenheiro Civil e Agropecuarista

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