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O Rio Grande do Norte tem uma dívida de gratidão para com uma de suas mais ilustres filhas, a cantora Ademilde Fonseca. Decorridos cerca de sete anos do seu falecimento, não se registrou nenhuma homenagem significativa à sua memória, nem sequer um nome de rua lhe foi dado. Lamentável omissão.
Ainda bem que o seu nome não ficou totalmente esquecido. Em 2015, a pesquisadora Leide Câmara publicou, pela 8 editora, em parceria com o Selo Cultural Caravela, “Ademilde Fonseca – A potiguar no choro brasileiro”, livro bem documentado, em que aborda aspectos da vida e da obra dessa que é considerada, por muitos, a maior das cantoras que o Rio Grande do Norte já doou ao Brasil.
Ademilde Ferreira Fonseca nasceu na localidade Pirituba, município de Macaíba, a 4 de março de 1921. Ainda criança veio para Natal, onde sua família fixou residência; aqui se casou e daqui se lançou no mundo musical. Uma de suas primeiras apresentações ao público deu-se através da famosa rede de amplificadoras de Luiz Romão, com sede no bairro da Ribeira.
Mudando-se, com a família, para o Rio de Janeiro, então capital da República, Ademilde tornou-se, ao longo das décadas de 40 e 50, uma das mais prestigiosas cantoras brasileiras. É verdade que não chegou a ter a fama de uma Emilinha Borba ou de uma Dalva de Oliveira, tampouco mereceu o prestigio junto à crítica, que desfrutava Elizeth Cardoso, por exemplo.
Intérprete do choro
No entanto, nada ficava a dever a estas, como cantora dotada de extraordinários dotes vocais. Seu repertório, sempre de alta qualidade, contribuiu, sem dúvidas, para o sucesso que obteve. Ademilde quando cantava, deixava-se possuir pela música. Era da estirpe de Carmem Miranda: natural, espontânea, vibrante.
Dona de estilo especialíssimo, foi uma das primeiras senão a primeira intérprete do choro cantado. A seu respeito, Herminio Bello de Carvalho, autoridade em matéria de MPB, afirma:
“Rainha inconteste de um gênero predominantemente instrumental, ela se impôs através dos anos como intérprete, única e inigualável. Afinação irrepreensível, articulação precisa, senso rítmico incomum e timbre inconfundível” (Nota na contracapa do Lp “A Rainha Ademilde e seus Chorões Maravilhosos”).
Note-se que as interpretações de Ademilde eram valorizadas, quase sempre, por excelente acompanhamento orquestral, do qual faziam parte verdadeiros ases do choro.
Sucessos da Rainha do Choro
Dentre os sucessos da Rainha do Choro destacam-se “Tico-tico no Fubá” (Zequinha de Abreu\ Eurico Barreiros), “Apanhei-te Cavaquinho” ( Ernesto Nazareth\ Darci de Oliveira\ Benedito Lacerda), “Brasileirinho” ( Waldir Azevedo\ Pereira da Costa), “Delicado” ( Waldir Azevedo\ Ari Vieira), “Galo Garnizé” ( Miguel Lima\ Antonio Almeida\ Luiz Gonzaga), “Pinicadinho” (Jararaca e Ratinho\
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Severino Rangel), “Meu Cariri” (Rosil Cavalcanti\ Dilu Melo).
Embora tenha se notabilizado com chorinhos, polcas e baiões, como estes, também soube afirmar-se em composições nada trepidantes, tipo “Doce Melodia” (Abel Ferreira\ Luiz Antonio), “Sonoroso” (K-Chimbinho\ Del Loro) e outras de viés romântico ou sentimental.
Entre parêntesis, diga-se que o autor da melodia do choro citado por último, K-Chimbinho (pseudônimo de Sebastião Barros) é norte-rio-grandense, natural de Taipu, figura de primeira plana na história do choro, não só compositor, mas também instrumentista.
Referindo-se ao itinerário artístico da Rainha do Choro, Leide Câmara observa, com justeza:
“O fato de ser respeitada como mestra do chorinho, por um lado ajudou, e por outro, prejudicou a carreira da cantora, pois com ‘a decadência’ do choro, ela passou alguns anos no esquecimento” (Dicionário da Música no Rio Grande do Norte, 2001).
Em meado da década de 70, Ademilde voltou à crista da onda com a ressurgência do chorinho. E em plena forma. Recebeu várias homenagens, entre as quais destaque-se o chorinho ‘Títulos de Nobreza’ (João Bosco\ Aldir Blanc), cuja letra, citando os nomes de choros famosos, termina por declinar, como que em apoteose, “Ademilde no Choro”.
A convite do Governador Cortez Pereira, Admilde, já com 53 anos de idade, mas ainda no fio, apresentou-se em Natal, 1975, dentro do evento “Reencontro”, que reuniu vários artistas norte-rio-grandenses, de projeção nacional: cantores, músicos e compositores. Brilhou, como sempre.
Em 1977, lançou o Lp “A Rainha Ademilde e Seus Chorões Maravilhosos”, pela gravadora Copacabana, em parceria com o Museu da Imagem e do Som (RJ). Ótimo disco, esse. Foi o seu canto de cisne. Daí em diante somente apareceu em coletâneas musicais, e fez alguns shows, Brasil afora.
Ademilde faleceu no Rio de Janeiro, a 27 de março de 2012, com 91 anos de idade. Um dia antes apresentara-se num programa televisivo, no Rio, ao lado de sua filha Eymar Fonseca, também cantora.
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