SOB A TREVA
Ontem de madrugada encontraram-se as duas,
A minha e a tu'alma.
Deserta a rua entre as desertas ruas,
Era a hora mais calma.
Sem ver a minha que sozinha errava
A tua ia de frente.
Súbito a minha súbito parava...
Ali passava gente.
Parado o olhar nas orbitas dormentes,
A minha reparou
Tinhas na tua as alvas mãos trementes...
Meu Deus! hoje o que eu sou.
A verdade tão longe do meu sonho,
E sonhava e te via
O teu olhar, tão doce, tão risonho,
Para mim que sorria.
E agora és longe, e longe eternamente,
Para mim és perdida.
Baldado o sonho deste amor fremente,
Baldada a minha vida.
Não me valeu por toda a natureza
Por tudo procurar.
Provado o fogo da imortal beleza,
Quis o fogo de amar.
E do mundo tão belo, tão perfeito,
- A terra prometida,
Vi o céu tão perto: - achei-o estreito
O céu da minha vida.
E por tudo do tudo divisado
Que se foi, que cresceu,
Alguma cousa houve com meu brado...
Minha fé que morreu.
(João Lins Caldas, em Revista Souza Cruz, Rio de Janeiro, 1924)
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