FEBRE A DENTRO
Da raça amarga, trágica dos tristes,
Aureolado de todas as desgraças,
Eu sinto em mim o sangue dessas raças
Que vós, ó outros, para vós não vistes.
Uma loucura amarga-me na boca
Outra me vae sangrando, dentro d’alma...
Vê tu também: a mão que hoje se espalma
Traja os dedos de amor de uma anciã louca...
No meu delírio languido me vejo
Um condenado para os condenados...
Vê tu também tu se abraças este meu sobejo...
As mãos quebradas e os feridos brados...
Leio-te os olhos lúbricos na febre...
E’ o delírio que morre, os pés sangrando...
E eu contigo a crescer, eu me queimando...
... A dor que é dor que a minha dor celebre.
Minhas mãos que te apertem, mão de gelo...
Caiam-te as mãos aqui, no derramado...
Vae partir este louco: alucinado...
... Minha mão a premer no teu cabelo...
Nossa Senhora tremula me arrasta...
Vejo quatro cilícios pelos dedos...
Vaes morrer... acabar... os meus segredos...
Minha agonia psra sempre gasta...
Beija o ferro tortura que se avista...
E cavalo no peito, mais potente,
Deixa o sangue correr... olha de frente...
Vê que de passo do meu passo dista...
Bebo-te os olhos languidos na flama...
Vaes agora morrer... eu não te quero...
... E és hoje a sombra que no sonho espero...!
Vê, porém. Nada vês que eu não conheça...
Ali tens um sudário: eu me amortalho...
E, fruto amargo, a se estender no galho,
Esta grande saudade que anoiteça...
Hora de sangue, languida, me corre...
Escorrendo, sangrando, eu vou morrendo...
Um instante, uma noite, eu te estou vendo...
... Sombra de tarde quando a tarde morre...
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