Por Luís
da Câmara Cascudo
Um
"Leitor do Alecrim" pergunta por que a rua Coronel Estevão tem este
nome.
O coronel
Estevão José Barbosa de Moura (1810-1891) abriu aquela estrada, caminho da
povoação da
Macaíba, antiga COITÉ.
“Há meio século
a Intendência do Natal, pela resolução n”. 120, à 10 de agosto de 1908,
denominou Coronel
Estevão a via pública.
Assim diziam os Intendentes, Joaquim Manuel Teixeira de Moura, Presidente, Teodósio Ribeiro de Paiva, Padre José de Calasans Pinheiro, Dr. Pedro Soares de Amorim e Miguel Augusto Seabra de Meio: "Considerando que é um dever cívico prestar homenagem ao cidadão que, à sua custa, abriu a primeira estrada que pôs esta Capital em comunicação terrestre com a Cidade de Macaíba, o qual foi o Coronel Estêvão José Barbosa de Moura, resolve:
Art. 1°:
O perímetro da área urbana do lado do sul, será limitado por uma linha que
parta do Refoles, até a Avenida Oitava, que constitui a nova Avenida
"Almirante Alexandrino".
Art. 2°:
A antiga Rua do Alecrim passará de ora avante a denominar-se Rua Coronel
Estêvão".
Macaíba
foi Vila em 1877 e Cidade no ano da proclamação da República, 1889. O Coronel
Estevão rasgou a
estrada do fins de 1859 a princípio de 1861. Recebeu um conto de réis (Lei 571,
22 de dezembro de
1864),
Foi um
trabalho teimoso e difícil mas o traçado é o mesmo que os nossos automóveis
percorrem com
rapidez e
conforto.
Exigia-se
muita força de vontade e experiência para manter as turmas de trabalhadores,
especialmente escravos pagos a jornal, isto é, diariamente, na disciplina dos
dias ao relento, roçando mato, derrubando árvores,
aterrando grotas, acompanhando o risco ideal mais próximo das retas ao pé dos
monos de areia solta.
Foi uma personalidade sugestiva de sua época. Seu pai governou a Capitania e ele presidiu a Província.
Foi
deputado influente, meio chefe de Partido.
Em uma
das maiores fortunas da Província. Não sabia o número das fazendas que possuía
e as milhares e milhares de cabeças de gado que engordavam para o seu fausto.
Sítios, propriedades rurais, eram incontáveis.
Podia viajar' a cavalo de Natal até a cidade de Lajes sem sair de dentro dos
seus domínios.
Para
Macaíba, S. Paulo do Potengi, terras do velho S, Gonçalo, Serra Caiada, rodeios
de Santa Cruz, estiravam-se
suas "posses", escravos, cavalos, bois de engorda, feitores,
agregados.
Armava um
exército à sua custa e com os homens que trabalhavam e viviam para ele.
Apenas,
nunca trabalhou. Herdou a riqueza que lhe escorregou dentre os dedos como água
viva, Não sabia poupar, prever e, acima de tudo, desconfiar. Toda a gente lhe
devia e ninguém lhe pagava. Acreditava em todos
e todos fiavam nele enquanto o viram cheio de ouro, rodeado de escravaria,
montando os melhores
cavalos
da Província.
O ex-Vice Presidente que governara o Rio Grande do Norte três vezes, aderiu ao Partido Republicano em janeiro de 1889. Estava velho, pobre, ignorado, desconhecido.
A
farru1ia, como grande árvore, espalhou-se na fecundidade e na força vital.
Coronel Estevão, nome que fazia estacar e arrancar' a chapéu da cabeça, passou
como uma sombra.
Para viver na memória popular há seu nome na rua do Alecrim e uma
presença, poderosa e simpática, na
história do Rio Grande do Norte.
Fonte: CÂMARA CASCUDO, Luís. Em, “O Livro das Velhas Figuras”, Câmara
Cascudo, páginas 162 a 164.
A
REPÚBLICA – 24/07/1959
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