sábado, 18 de dezembro de 2021

RUA CORONEL ESTEVÃO

Por Luís da Câmara Cascudo

Um "Leitor do Alecrim" pergunta por que a rua Coronel Estevão tem este nome.

O coronel Estevão José Barbosa de Moura (1810-1891) abriu aquela estrada, caminho da povoação da Macaíba, antiga COITÉ.

“Há meio século a Intendência do Natal, pela resolução n”. 120, à 10 de agosto de 1908, denominou Coronel Estevão a via pública.

Assim diziam os Intendentes, Joaquim Manuel Teixeira de Moura, Presidente, Teodósio Ribeiro de Paiva, Padre José de Calasans Pinheiro, Dr. Pedro Soares de Amorim e Miguel Augusto Seabra de Meio: "Considerando que é um dever cívico prestar homenagem ao cidadão que, à sua custa, abriu a primeira estrada que pôs esta Capital em comunicação terrestre com a Cidade de Macaíba, o qual foi o Coronel Estêvão José Barbosa de Moura, resolve:


Art. 1°: O perímetro da área urbana do lado do sul, será limitado por uma linha que parta do Refoles, até a Avenida Oitava, que constitui a nova Avenida "Almirante Alexandrino".

Art. 2°: A antiga Rua do Alecrim passará de ora avante a denominar-se Rua Coronel Estêvão".

Macaíba foi Vila em 1877 e Cidade no ano da proclamação da República, 1889. O Coronel Estevão rasgou a estrada do fins de 1859 a princípio de 1861. Recebeu um conto de réis (Lei 571, 22 de dezembro de
1864),

Foi um trabalho teimoso e difícil mas o traçado é o mesmo que os nossos automóveis percorrem com
rapidez e conforto.

Exigia-se muita força de vontade e experiência para manter as turmas de trabalhadores, especialmente escravos pagos a jornal, isto é, diariamente, na disciplina dos dias ao relento, roçando mato, derrubando árvores, aterrando grotas, acompanhando o risco ideal mais próximo das retas ao pé dos monos de areia solta.

Foi uma personalidade sugestiva de sua época. Seu pai governou a Capitania e ele presidiu a Província.


Foi deputado influente, meio chefe de Partido.
Em uma das maiores fortunas da Província. Não sabia o número das fazendas que possuía e as milhares e milhares de cabeças de gado que engordavam para o seu fausto. Sítios, propriedades rurais, eram incontáveis. Podia viajar' a cavalo de Natal até a cidade de Lajes sem sair de dentro dos seus domínios.


Para Macaíba, S. Paulo do Potengi, terras do velho S, Gonçalo, Serra Caiada, rodeios de Santa Cruz, estiravam-se suas "posses", escravos, cavalos, bois de engorda, feitores, agregados.


Armava um exército à sua custa e com os homens que trabalhavam e viviam para ele.

Apenas, nunca trabalhou. Herdou a riqueza que lhe escorregou dentre os dedos como água viva, Não sabia poupar, prever e, acima de tudo, desconfiar. Toda a gente lhe devia e ninguém lhe pagava. Acreditava em todos e todos fiavam nele enquanto o viram cheio de ouro, rodeado de escravaria, montando os melhores
cavalos da Província.

 

O ex-Vice Presidente que governara o Rio Grande do Norte três vezes, aderiu ao Partido Republicano em janeiro de 1889. Estava velho, pobre, ignorado, desconhecido.


A farru1ia, como grande árvore, espalhou-se na fecundidade e na força vital. Coronel Estevão, nome que fazia estacar e arrancar' a chapéu da cabeça, passou como uma sombra.

Para viver na memória popular há seu nome na rua do Alecrim e uma presença, poderosa e simpática, na história do Rio Grande do Norte.

Fonte: CÂMARA CASCUDO, Luís. Em, “O Livro das Velhas Figuras”, Câmara Cascudo, páginas 162 a 164.
A REPÚBLICA – 24/07/1959

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