O epicentro do amor em Natal é movente. Houve um tempo que um desses templos ficava ali na quinze. Lugar de muitos bares, sinucas e casas de mulheres da vida fácil. Em tempos não muito afastados tinha o feijão verde para curar a ressaca. Confluência de várias ruas e bairros a Quinze era o point da época. Ainda rapaz saia da Escola Técnica para os bares da região. Nesse lugar hoje habitam sebos, barbearias, brechós, ateliês de arte e alguns bares que lembram os velhos tempos. A junção de várias ruas formavam um quadrilátero do prazer e da boêmia, quando Natal acabava na Quinze, com seu posto de gasolina e uma corrente. Na quinze tinha a maior concentração de cabaré de Natal e talvez, do Brasil. Na Bernardo Vieira, tinha Leonora. Era famoso o cabaré de Zefa Paulo, na Prudente de Morais. Virgínia e o Royal , na Romualdo Galvão. Rita Loura, na Antônio Basílio. Na Amaro Mesquita tinha o Sibad. Os bares eram o Diamante Azul, Poço do Tetel e ex-combatentes.
Gosto desses lugares e faço deles minha Lapa ou Montparnasse. É assim que me sentia também na velha Tavares de Lira. Um boêmio no meio de buchudas, gatos, pedintes, loucos boêmios e artistas. Prefiro esses lugares aos shoppings. Na quinze ainda tem um bar que frequento. Não sei jogar sinuca, mas aprecio e jogo, dependendo da ocasião. Nesse bar também você pode cantar karaokê. Muitos jovens aparecem para mostrar seus talentos. Eu gosto mesmo é de ficar observando. Ultimamente a frequência do bar aumentou por causa de uma Lolita que pareceu por lá. Linda. Tenta o vestibular. Trabalha lá para se manter. Como mora longe muitas vezes dorme no próprio bar.
Não sei e vocês também não precisam saber não vou dizer a graça de ninguém. O dono, um senhor, muitas vezes aparece sem camisas. O ambiente é quente e precisa ser ventilado por fazedores de vento. Mas não é da Lolita que pretendo falar. E não se anime. A menina é funcionária tentando levar a vida. Peço para colocar o disco do Cae com Gadú. Estava tocando Roberto Carlos. Meu amigo pergunta se tem cigarro. Só Derby em retalhos. Um pintor passa pedindo cinco reais para fritar um peixe. Na galeria ao lado tem um quadro com todo mundo de Natal.
Um rapaz jovem e bonito tá bêbedo. Canta alto e fica difícil conversar. Eu convidei uns amigos e eles me querem me levar ao PROCOM. A lolita ainda não apareceu. Quem aparece no meu caminho é uma mulher que bebe muito. Beija-me a mão quando passa. Fala alto. Diz palavrões. Quando vou ao banheiro ela está esparramada no chão NUMA CENA não tão boa para muitos mocinhos. Boêmio, conheço bem onde pouso.
O rapaz moço que cantava alto acorda e sai com o seu amigo travesti. A mulher diz outro palavrão e toma mais uma. A nossa mesa, ela diz que é federal. O ônibus passa e os Paulos e Martas da vida pequena comentam: que decadência! Todos saem, é tarde do dia e a noite ainda vai começar prometendo mais emoções. A mulher fala um palavrão maior para todos os hipócritas. Ela que amou tanto hoje está sozinha e bebe. A luz dos cabarés para muitos ainda não fechou. Toca ai Dolores Sierra, peço para a nova mascote do bar. A minha amiga toma mais uma e tenta se equilibrar no tamborete. Ela é a ultima dona da noite de uma Natal que ainda não se vendeu. Ela é a minha inspiração nessa tarde de uma Natal que ainda vive em mim. Não importa que ao sair o pneu estava furado . Não importa o que você diga. Não importa os malas. O que importa é que bebi na quinze junto com a minha querida amiga boemia de tantas e tantas trepadas.
João da Mata Costa
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