Não sinta vergonha de ter depressão. Não deixe os julgamentos
de pessoas que não entendem o seu estado, aumentarem uma dor emocional
que já é grande o suficiente para a sua alma.
A pior coisa da depressão é que ela é
uma disfunção afetiva, psíquica que acontece dentro da gente. Por isso,
muitas vezes, ninguém consegue vê-la e muito menos ajudar. Não é um
osso quebrado que vemos no raio x ou um corte que a enfermeira costura e
logo cicatriza. Depressão é um rasgo na alma que ninguém tem acesso. É
uma ferida aberta e inflamada na nossa alegria de viver que ninguém pode
desinfetar porque não há como alcançá-la fisicamente.
Quando nos afogamos no mar, buscamos a
superfície incessantemente no desespero pelo ar. Na depressão é o
contrário. Afogamo-nos na dor e quando tentamos buscar ar no lado de
fora, podemos sufocar ainda mais, porque é mergulhando dentro da gente
que conseguimos respirar melhor. Por isso, não entendemos porque as
pessoas nos julgam tanto. Porque ninguém nos ajuda, enquanto a angústia
esmaga nosso peito e tira todo nosso fôlego nos deixando jogados na
cama. Então, a gente escuta que estamos nos fazendo de vítima. Que é
bobagem, frescura. As pessoas nos ignoram justamente no momento em que
mais precisamos, nos deixando, sem se darem conta, a beira de um
precipício, porque a nossa depressão pode ser imperceptível aos olhos do
coração de quem não sabe o que é passar por essa dolorosa experiência.
Então, a gente senta vergonha do
nosso estado. Já nos achamos inúteis, os julgamentos só nos pioram mais.
Por isso, nos questionamos se esse afogamento na dor é real, se faz
sentido. Se não é pura frescura de quem quer atenção. E como a depressão
é uma doença e não uma birra infantil, a gente disfarça porque não quer
parecer tolo, mimado ou dramático. Fingimos nadar enquanto nos
afogamos. Sorrimos mesmo quando fica impossível respirar. Escondemos o
desespero porque dói menos fingir e enganar as pessoas do que mostrar
toda nossa dor e não ser compreendido, pior, ser julgado.
As pessoas podem nos falar as
melhores coisas, estender o braço para nos puxar dessa lama da alma, mas
se a gente não levantar a mão e segurar firme, permaneceremos imersos
em um mundo escuro, onde ninguém nos vê, de uma doença que é o mal do
mundo e que somente a coragem de quem a tem é capaz de salvar.
Por isso, peça ajuda, sim, sem
vergonha de estar deprimido. E o mais importante, aceite orientação,
pois, no fim das contas, somos nossos próprios salva-vidas na depressão.
Somos o motorista do nosso caminhão de dor. Então, quando alguém lhe
julgar, não desanime, apenas lembre-se de que: as trilhas mais difíceis
nos levam aos melhore destinos. E se no meio do caminho o tempo virar,
em vez de esperar a tempestade passar, dance na chuva!
"Um garoto perguntou ao pai: Qual o tamanho de Deus? Então ao olhar para o céu o pai avistou um avião e perguntou ao filho: Que tamanho tem aquele avião? O menino disse: Pequeno, quase não dá para ver. Então o pai o levou a um aeroporto e ao chegar próximo de um avião perguntou: E agora, qual o tamanho desse? O menino respondeu: Nossa pai, esse é enorme! O pai então disse: Assim é Deus, o tamanho vai depender da distância que você estiver dele. Quanto mais perto você está dele, maior Ele será na sua vida!"
FONTE – DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDE A LER- Uma
Experiência revolucionária – Boletim da VIII SESAC – Semana de Estudos
da Semana Comunitária, Natal-RN, abril de 1981, págs. 37 a 39.
NOTA – Esse texto é dedicado a Professora Claudete Lourenço
Alves, que trabalhou nesse projeto, me comentou anos atrás sobre sua
participação com muito orgulho e lembrava principalmente do progresso
que conseguia junto as crianças com o método. Infelizmente Clau, como a
minha família carinhosamente lhe chamava, não está mais nesse plano, mas
jamais esqueci seu relato.
Durante três anos — de fevereiro de 1961 a abril de 1964 — Natal
viveu uma das experiências mais importantes na História do Brasil em
termos de educação popular. Foi a campanha “De pé no chão também se
aprende a ler”, iniciativa do prefeito Djalma Maranhão, o líder que
morreu de saudade, exilado em Montevidéu, e cujos restos mortais estão
depositados hoje no tradicional Cemitério do Alecrim.
O principal assessor de Djalma na área educacional — Moacyr de Góes —
que era Secretário Municipal de Educação, Cultura e Saúde, esteve à
frente dessa experiência que chegou a movimentar cerca de 17 mil alunos
nos bairros natalenses,não só com aulas, mas também com debates e outras
atividades culturais. A dura repressão desencadeada em 1964 conseguiu
paralisar “De pé no chão também se aprende a ler”, mas não impediu que a
memória daquela mobilização popular ficasse na consciência de todos os
que a viveram.
A Natal dos anos de 1960 era uma cidade de 160 mil habitantes. dos
quais 36 mil eleitores. O seu líder popular mais expressivo — Djalma
Maranhão lá havia sido prefeito nomeado de 1956 a 1959, quando a capital
era considerada “cidade base”, de acordo com a Constituição de 1946, e
não podia eleger diretamente seu prefeito.
Em 1960. Djalma foi eleito com 66% dos votos e seu Partido – o
Partido Trabalhista Nacional, PTN – fez aliança com a dissidência da UDN
(União Democrática Nacional), representada por Aluízio Alves, candidato
a governador: e com o PSD (Partido Social Democrático) que apresentou
como candidato a vice-governador monsenhor Walfredo Gurgel. Já no plano
nacional, Djalma e Luiz Gonzaga dos Santos, seu candidato a vice, deram
apoio à chapa do marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, do
PSD.
Foi neste contexto político que a Secretaria de Educação do município
começou a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, com dois
objetivos básicos: a erradicação do analfabetismo e a execução de uma
política de educação e cultura popular, definida a nível de unia
proposta das classes subalternas.
Entre 1960/1964, estas classes estavam organizadas em Comités
Nacionalistas ou Comités de Ruas, que se reuniam regularmente para a
discussão de temas políticos — tais como o latifúndio, o imperialismo — e
temas específicos dos bairros e ruas, como água, luz, esgoto e outros
equipamentos comunitários.
Destes comités surgiram as convenções de bairros (uma das mais
dinâmicas funcionou no Alecrim), visando fazer uma listagem dos
problemas comunitários, incluindo propostas de solução. Este trabalho de
base levou à convocação de uma convenção municipal, de onde foi tirada a
plataforma de Djalma Maranhão.
O ponto número um nas reivindicações populares de Natal, segundo
Moacyr de Góes, foi o de escola para todos. Com base neste pedido,
aSecretaria de Educação partiu para a primeira fase da Campanha, com o
funcionamento das escolinhas que eram, simplesmente, salas cedidas à
Prefeitura para o funcionamento declasses. Eram salas de sindicatos,
casas populares, clubes, associações diversas. A prefeitura entrava com
as carteiras, a monitora, material escolar e merenda. No final de 1961,
realizou-se uma importante reunião no Comité Nacionalista do Bairro das
Rocas, importante bairro proletário da capital potiguar, cujo presidente
era o pastor José Fernandes Machado, funcionário dos Correios e
Telégrafos. O principal resultado do debate foi a decisão de construir
acampamentos escolares, já que não havia condições financeiras para a
construção de grupos de alvenaria. Em fevereiro daquele ano já estava
construído o primeiro acampamento nas Rocas: era um conjunto de quatro
galpões, sem paredes. cobertos com palha de coqueiro. As divisórias eram
quadros murais e de giz; cada galpão tinha quatro salas de aulas e o
chão era de barro batido. Ao lado dos galpões escolares, havia um outro,
redondo, para as festas e debates comunitários. O conjunto também
incluía horta e aviários, para enriquecimento da merenda escolar.
Enquanto as escolinhas eram organizadas nos bairros mais populares da
cidade, e o primeiro acampamento começava a funcionar nas Rocas, a
campanha “De pé no chão também se aprende a ler” iniciava mais uma
etapa: a do ensino mútuo, com a primeira experiência também nas Rocas. O
método Paulo Freire ainda não chegara ao Rio Grande do Norte e cerca de
vinte secundaristas engajavam-se na tarefa de alfabetizar adultos em
suas próprias casas. O coordenador da experiência foi o professor
Antônio Campos e Silva. Este mesmo educador coordenava a equipe que
fazia a identificação das manchas de analfabetismo na cidade de Natal
pesquisando também as causas da evasão escolar.
PRAÇAS DE CULTURA
Sob a influência direta do Movimento de Cultura Popular MCP — de
Recife (criado no governo de Miguel Arraes), a Prefeitura de Natal,
através de sua Secretaria de Educação, partiu, em seguida, para uma nova
etapa na campanha através das Praças de Cultura.
As duas maiores foram instaladas no bairro das Quintas e nas Rocas,
com quadra esportiva, arquibancada de cimento, parque infantil e uma
pequena biblioteca. A Praça servia tanto para jogos quanto para teatro e
outros espetáculos populares, além de debates. Somente com quadra e
parque, chegaram a ser implantadas dez praças. Na Praça André de
Albuquerque, chamada de “Praça da Cultura”, havia também uma concha
acústica, uma biblioteca, galeria de arte e um local para danças, onde o
professor Gracio Barbalho fez muitas palestras sobre a música popular
brasileira. “A Praça André de Albuquerque era um verdadeiro fórum aberto
e democrático, de onde todos se aproximavam para participar dos debates
e usufruir da cultura, lembrou anos depois Moacyr de Góes.
O POVO TECE SUA HISTÓRIA
Paralelamente, a expansão da campanha exigia a preparação do pessoal
técnico e, por isso, a Secretaria decidiu criar o Centro de Formação de
Professores – CFP, ligado ao Grupo de Educação Popular e à Coordenadoria
Técnico-Pedagógica da instituição. A responsável pelo Centro foi
Margarida de Jesus Cortez, que fizera curso, promovido nos anos de 1950,
em São Paulo, pela UNESCO, sobre uma nova educação para os pises
subdesenvolvidos.
Moacyr lembrou que Margarida Cortez inovou a pedagogia do Rio Grande
do Norte, com a criação de unidades de trabalho na experiência de
educação popular. Eram textos mimeografados, com o objetivo de integrar
conhecimentos, e distribuídas nos vários níveis da campanha.
O Centro oferecia treinamentos de três meses para os futuros
monitores e também cursos de reciclagem durante as férias, além de
cuidar da supervisão da campanha e manter uma escola experimental. Ele
representava o grande laboratório da revolucionária experiência.
NOVA CAMPANHA
A partir da realidade básica do trabalho, os responsáveis pela
campanha “De pé no chão também se aprende a ler” resolveram partir para
mais uma etapa, implantando a campanha – “De pé no chão também se
aprende uma profissão”.
Em fevereiro de 1963, já funcionavam oito cursos nas Rocas: corte e
costura, enfermagem de urgência, sapataria, marcenaria, barbearia,
datilografia, artesanato e encadernação. Em setembro, a campanha já
oferecia dezessete cursos nas regiões das Rocas, no Carrasco, Nova
Descoberta, Bairro Nordeste e Quintas, atingindo a jovens e adultos.
A experiência de Paulo Freire uniu-se à de Natal em 1963 e, segundo
Moacyr, chegaram a funcionar em Natal de dez a doze Círculos de Cultura,
debatendo a passagem da consciência ingénua para a consciência crítica e
os passos necessários para a construção de uma sociedade democrática. O
próprio Paulo Freire veio a Natal preparar os monitores. Nesta fase, a
campanha “De pé no chão também se aprende a ler” ampliou a sua
interiorização, com a vinda de professores leigos para cursos em Natal,
assinatura de convênios com instituições das cidades potiguares de São
Tomé, São Paulo do Potengi, Afonso Bezerra, Assú, Currais Novos, São
Gonçalo e Macau (principalmente sindicatos), além de uma importante
reunião na capital com quarenta prefeitos.
Neste encontro os prefeitos chegaram a fundar a Frente de Educação
Popular do Rio Grande do Norte, que não chegou a se consolidar por causa
do Golpe de 1964.
A nova fase da campanha de Djalma para que todos tivessem acesso bens
culturais foi a de “uma escola brasileira construída comdinheiro
brasileiro”. E a escolha deste sloganestava intimamente ligado ao quadro
político estadual da época, a aliança de 1960 já estava rompida e
Djalma Maranhão estava em um campo oposto ao do governador Aluízio
Alves. O pomo central da discórdia era o papel do programa “Aliança para
o Progresso” no Rio Grandedo Norte e no Nordeste.
A professora Vanilda Pereira Paiva contou essa história em seu livro –
Paulo Freire e o nacionalismo desenvolvimentista” (Civilização
Brasileira, 1950. páginas 22 e 23): “Devemos lembrar aqui que a criação
da Aliança Pelo Progresso em 1961 muito deveu à situação política vivida
no campo nordestino no período, especialmente à multiplicação das Ligas
Camponesas. Não por casualidade que no Brasil o escritório da USAID –
United States Agency of International Development (Agência dos Estados
Unidos para o Desenvolvimento Internacional) foi montado na cidade de
Recife, logo após a criação da Aliança para o Progresso.
E sua política de “ajuda ao desenvolvimento” deixou ver, em seguida, a
sua verdadeira face de “programas de impacto”, entrando o novo
organismo em conflito com a SUDENE – Superintendência Para o
Desenvolvimento do Nordeste, por realizar convênios diretamente com os
governos estaduais considerados “receptivos” e aplicando seus recursos
com base em critérios essencialmente políticos.
Segundo Riordan Roett, que trabalhou como membro da equipe da missão
Aid no Nordeste, os “Estados Unidos viam a região como, um problema de
segurança internacional e a assistência econômica externa como uma arma
contra uma ameaça que o Brasil não reconhecia unanimemente”. Por isso,
os planos de ajuda eram, em primeiro lugar, adaptados às “exigências da
segurança dos Estados Unidos”, a fim de “derrotar a ameaça comunista” e,
em abril de 1962, os Estados Unidos consideravam que a situação
nordestina já ultrapassava o estado de que motivou a decisão inicial de
oferecer ajuda econômica.
Do ponto de vista de Washington — dia Roett — o Problema não era mais
o desenvolvimento econômico e social, mas a sobrevivência política
imediata deuma sociedade não comunista no Nordeste. Ora, não apenas as
Ligas Camponesas eram vistas corno ameaçadoras. Também a vitória
eleitoral das Frentes com participação de forças de esquerda não somente
revelava a radicalização da vida política da região, como contribuía
para levá-la mais longe.
Assim, preocupava a conquista das prefeituras de Recife e Natal, mas
especialmente a possibilidade dos prefeitos daquelas cidades chegarem e
governos dos respectivos Estados; um dos problemas dos norte-americanos
era corno contribuir para evitá-lo. A interferência nas eleições através
do financiamento dos candidatos antinacionalistas não era suficiente;
havia que fortalecer os políticos “receptivos”.
Aluízio Alves — antigo quadro (leia LDN — não só era “receptivo”.
como conjugava características ideais, por um lado ele era capaz de
controlar os impulsos da radicalização das classes populares, através da
prática de urna política ultramanipulatória e suficientemente ambicioso
e conservador para não representar um perigo potencial de evolução para
a esquerda. Por outro lado, embora aliado a algumas oligarquias
tradicionais, ele representava a vitória deuma política de incentivo à
industrialização no seu Estado. Tratava-se. pois, de ajudar a um
governador “favorável ao progresso”.
As negociações entre Alves e a USAID começaram em agosto de 1962, mas
devemos lembrar que logo que foi eleito, ele visitou Kennedy, em
Washington, a convite do Departamento de Estado norte-americano, e
recebeu promessa de ajuda. Esta era essencial para Alves, pois,
representando a vitória de um espírito “desenvolvimentista” e travando
uma dura luta contra as oligarquias udenistas, seu fortalecimento
político e a realização de suas ambições ao nível federal estavam
ligados à transformação económica do Estado eaos programas que ele
conseguisse realizar na sua gestão.
A obtenção de recursos parece ter sido facilitadapela aceitação, por
parte do governador, de pressões norte-americanas para que entregasse a
Secretaria de Educação ao jornalista Calazans Fernandes. Os interesses
ianques e os de Alves acoplaram-se bem no que concerne ao tipo de
programa aser lançado: os “programas de impacto” que deixam de lado
projetos de ajuda propriamente económica e se concentram emáreas
“visíveis” como saúde e educação (principalmente a construção de prédios
escolares), serviam para assegurar à população ointeresse
norte-americano e do governo do Estado pelo seu bem-estar.
O complemento para o programa de construções escolares era urna
campanha de alfabetização que aumentasse o eleitorado sob controle do
líder populista, fortalecendo suas bases eleitorais e diminuindo as
chances de uma futura vitória do então prefeito de Natal.
Djalma Maranhão nunca deixou de denunciar esta ação da Aliança para
oProgresso e, segundo Moacyr de Góes, propôs “uma escola brasileira com
dinheiro brasileiro”. Em vez dos dólares, ele recebeu 50 mil cruzeiros
do então Ministro da Educação, Paulo de Tarso, e com esse dinheiro foram
construídos o Centro de Treinamento de Professores, na região do Baldo,
e algumas poucas escolas de alvenaria nos bairros.
A REPRESSÃO
Toda essarica experiência de educação c de participação popular em
Natal foi interrompida pelo golpe de 31 de março de 1964. Djalma foi
pressionado pela repressão para renunciar, mas não o fez. A Prefeitura
foi invadida e o prefeito preso. No quadro estadual, houve centenas de
prisões na área rural (sindicatos c Ligas Camponesas), Correios, estrada
de ferro, meio estudantil, sindicatos urbanos e na Prefeitura
natalense. Nesta última, osetor mais atingido foi a Secretaria de
Educação. Entre março e abril, foram presos o secretário Moacyr de Góes,
o diretor de ensino Omar Fernandes Pimenta, a chefe de documentação
Mailde Ferreira de Almeida, a diretora do CFP Margarida de Jesus Cortez,
o diretor do Colégio Estadual Genilberto Paiva Campos, a vice-diretora
do CFP, Maria Diva da Salete Lucena, o chefe de gabinete e ex-presidente
da CFP, Francisco Floripes Ginani, o responsável pela interiorização da
campanha, Josemá Azevedo, opresidente do Comitê Nacionalista das Rocas e
responsável pelo sistema Paulo Freire na Colónia dos Pescadores, José
Fernandes Machado, oprofessor do CFP e Presidente da União Estadual dos
Estudantes – UEE, João Faustino Ferreira Neto.
Muitos outros colaboradores da Campanha também foram presos: Luiz
Maranhão Filho, Aldo da Fonseca Tinoco, Luiz Gonzaga dos Santos, Hélio
Xavier de Vasconcelos, Evlin Medeiros, Carlos Alberto de Lima, Maria
Lali Carneiro, Nei Leandro de Castro, José Arruda Fialho, Paulo
Frassinetti de Oliveira, Eurico Reis, Guaracy Queiroz de Oliveira, entre
outros.
Outro importante educador, Marcos José de Castro Guerra, responsável
na área do Estado pela experiência Paulo Freire em Angicos, foi preso
nada menos de oito vezes, entre abril e dezembro de 1964.
O interrogatório dos presos — e a investigação de “comunismo” — foram
feitos por dois policiais pernambucanos, Carlos Moura de Moraes Veras e
José Domingos da Silva — nomeados pelo governador Aluízio Alves,
através do decreto publicado em 17 de abril de 1964, no Diário Oficial e
republicado no dia 29. Segundo constava na época, os policiais haviam
feito curso nos Estados Unidos no FBI, o Federal Bureau of
Investigation, ou Departamento Federal de Investigação.
Com o Golpe Militar de 1964, todas as atividades da Campanha foram
encerradas. Com a deposição e prisão de Djalma Maranhão, assumiu como
prefeito de Natal Tertius César Pires de Lima Rebelo, um oficial da
Marinha do Brasil. Na sequência foram criadas várias comissões de
inquérito especificas para a Secretaria de Educação.
Outros inquéritos civis e militares foram iniciados, os líderes da
Campanha indiciados e presos, e seus materiais, documentos e parte da
infraestrutura foram destruídos. Desse modo, teve fim uma das mais
importantes propostas de democratização da Educação formal durante o
século XX em Natal. Ao ser destruída pelo Golpe Militar, a Campanha De
Pé no Chão Também se Aprende a Ler já tinha alfabetizado vinte e cinco
mil crianças somente em Natal.
Em Itajá-RN, o governo Jair Messias Bolsonaro fez a liberação de R$ 4 milhões para obras que vão dar segurança hídrica para a região. R$ 2,5 milhões vão para a revitalização do Açude Público do Saco, mantendo o abastecimento de áreas agrícolas, residenciais e industriais o ano todo.
Outros R$ 1,4 milhão serão aplicados na elaboração de estudos de viabilidade técnica, ambiental e econômica para perenização da Lagoa do Piató, em Assú, garantindo água para matar a sede das pessoas, pesca e produção de alimentos. A Lagoa é uma das maiores do RN.
O professor Joacir Rufino de Aquino, do
curso de Economia do Campus Avançado de Assú da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (Uern), toma posse nesta terça-feira, 29, como
Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
(IHGRN). A solenidade será às 19h, no Auditório da OAB/RN, no bairro de
Candelária, em Natal, dentro das comemorações dos 120 anos do
Instituto.
“O ingresso no quadro de sócios do IHGRN será uma grande honra para
mim, especialmente agora que iniciei o Doutorado em Geografia (Dinter
UFRN-UERN), no Campus de Assú. Além disso, vamos trabalhar para que o
Instituto possa incrementar as parcerias com a nossa Uern visando
fortalecer a luta pela valorização do patrimônio histórico e cultural do
nosso Estado”, comentou Joacir Rufino.
O Instituto fundado em 29 de março de 1902, também conhecido como
“Casa da Memória”, abriga uma coleção museológica, documental e
bibliográfica referente à história e cultura do Rio Grande do Norte.
Além das comemorações dos 120 anos da mais antiga das instituições
culturais do Estado, o evento marcará também a cerimônia de posse da
nova diretoria e outorga de títulos de sócios Efetivos, Correspondentes,
Beneméritos e Honoris Causa.
Fotografia tirada na praia de Iracema, Fortaleza, em 1946. Da esquerda para direita os assuenses Fernando Tavares Filho (meu tio materno), Emilio Dantas da Silveira (Filho de João Celso Flho), Edmilson Lins Caldas (meu querido pai) e José Santiago. Este último era cearense. Emilio era estudante em Fortaleza no colégio militar daquela capital cearense e fez carreira no Exercito Brasileiro. Por sinal, foi superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Este Emilio Dantas da Silveira (que é nome de rua no Assu), quando visitava a sua terra natal, em 1970, esteve na nossa casa no Assu, visitando meu pai, seu amigo, com sua família com destino a Fazenda Camelo/Limoeiro localizada nos sertões do Assu. Foi naquele tempo que tive eu, o privilegio de conhecer Emílio, figura ilustre que engrandece e dignifica a importante cidade do Assu. Emílio é irmão de. Celso Da Silveira. João Celso neto depõe que seu tio Emílio "era da Arma de Artilharia, chegou a Coronel. Foi o Superintendente do DPF no RJ anos depois de passar para a reserva do EB. Formou-se em Direito pela FND, creio que em 1965 (ainda Capitão na Ativa, motivo de não ter podido ter sua carteirinha da OAB; morreu Bacharel). Foi Sup. no RJ do DPF em 1975, se não me engano. Faleceu em 1976". Fica o registro sobre Emílio, figura ilustre que engrandece e danifica o Assu.
Imprensada entre a montanha e o mar, a cidade do Rio de Janeiro teve seu litoral modificado por diversos aterros ao longo de sua história. Na imagem deste post, vemos o registo das obras de alargamento da então praia da Gávea, atual praia de São Conrado, em 1948.
A foto foi produzida por um profissional a serviço da Agência Nacional, órgão de comunicação governamental criado em 1945 e que agregou atribuições de instituições antecessoras. O acervo do órgão foi doado ao Arquivo Nacional em diferentes etapas a partir de 1964 e está reunido no fundo Agência Nacional (código EH).
Uma das atribuições da Agência Nacional era fazer a cobertura jornalística de atos governamentais. Dentre esses registros, estão muitas imagens de obras públicas realizadas em diferentes partes do Brasil.
Na imagem, obras de alargamento da praia da Gávea, Rio de Janeiro, 1948.
Quase não acreditei quando recebi, às 08h00min do dia 18 de fevereiro deste ano de 2022, a notícia da morte do escritor Eduardo Gosson. Não estava em Natal, ou melhor, no Rio Grande do Norte. Tinha acabado de despertar naquela manhã de sexta-feira. Adquiri o hábito, como a maioria das pessoas nos dias atuais (assim, creio), de ler as mensagens no aplicativo de comunicação instantânea WhatsApp numa estratégia de obter informações em tempo real.
A ex-presidente da União Brasileira de Escritores-seção RN, Tereza Custódio, com quem de vez em quando me correspondia, fora a mensageira:
Meu primeiro gesto foi responder-lhe a mensagem em busca de dados complementares sobre o ocorrido, o que procurou atender-me na medida do possível. Esclareceu-me a causa: Covid-19. Eduardo havia contraído a moléstia em decorrência de uma urgente internação hospitalar para tratamento de uma pneumonia que o levara à desidratação. Deixou-nos, portanto, aos 62 anos. Iria completar 63 em junho. Em nossos tempos, um óbito nessa idade é ainda, por incrível que pareça, tido como precoce. Fiquei “sem chão”, como se diz, impossibilitado de até despedir-me daquele que foi um verdadeiro militante da cultura do RN. Primeiro, em razão da distância; segundo, devido à pandemia em curso, pois ir ao velório, ou mesmo ao sepultamento, seria um enorme risco, tendo em vista de que convivo com uma pessoa portadora de comorbidades.
Dizem que, ao se ter ciência da partida de alguém rumo à eternidade, especialmente em se tratando de um alguém mais ou menos íntimo, a pessoa relembra vários momentos ao lado desse alguém. Como eu sou um memorialista por natureza (mesmo ainda não tendo tido coragem, nem idade para assumir tal ofício) uma tempestade de lembranças invade o meu cérebro por meses e meses até não conseguir mais resgatar do subconsciente nada mais importante que possa ser registrado. Assim, decidi escrever sobre o autor em questão.
Nascido em Natal/RN, em 01 de junho de 1959, Eduardo Antônio Gosson era de família libanesa que aportou no Brasil no ano de 1925, após 21 dias dentro de um navio, estabelecendo-se na região Nordeste, mais precisamente em Maranguape/CE (são esses os informes colhidos dos principais jornais culturais do RN, bem como de livros e sites sobre o autor). Cinco anos depois, houve a mudança para o Rio Grande do Norte. A atividade jornalística iniciou-se ainda no ensino médio, à época 2º grau escolar, junto com os colegas, editando jornais alternativos como Equipe e O letreiro. Em seguida, veio a editoração do suplemento Contexto, pertencente, naquele período, ao jornal potiguar A República. Este encarte costumava sair aos domingos e, às vezes, aos feriados. Além de poeta, jornalista, historiador e memorialista, Eduardo Antônio Gosson era sociólogo de formação acadêmica. A formação universitária, claro, fê-lo adotar, desde cedo, um posicionamento político-ideológico de esquerda, atuando, desse modo, também na política sindical aproximadamente nos anos 80 e 90.
No meio de tudo isso, veio a literatura. E a poesia foi o seu norte. Seu primeiro trabalho, publicado nessa área, ainda nos anos 90, foi o livro O ciclo do tempo. Sucederam-se os seguintes: Poemas das impossibilidades (2007) e Entre o azul e o infinito (2012). Outrossim, incursionou-se na pesquisa histórica, colaborando com a preservação do patrimônio do Poder Judiciário Estadual, a partir do final dos anos 90, ao lançar em livro a sua História do Poder Judiciário do RN e, na sequência, em 2005, Ministros Potiguares. Com o reconhecimento de uma parte desse trabalho, viria a se associar ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte em 1999. Ademais, tal iniciativa fez com que Eduardo Gosson assumisse a diretoria do Memorial Desembargador Vicente Lemos, anexo do Tribunal de Justiça do RN. Foi neste último espaço que o conheci pessoalmente no ano de 2011. Dias antes, pesquisando sobre literatura do Rio Grande do Norte, encontrei na web o site da União Brasileira de Escritores – seção RN, e ele era o presidente. Recordo-me que telefonei para o escritor Alexandre Abrantes, sócio-efetivo, com quem tenho amizade até hoje, e pedi-lhe dados sobre a referida entidade cultural cuja matriz é em São Paulo, mas que possui filiais em todos os estados da federação. Tive a promessa de que uma indicação, para tornar-me membro da UBE/RN, aconteceria. No entanto, talvez, o excesso de compromissos, já tomados, deve ter impedido que tal ação se consolidasse, e eu acabei tomando a liberdade de ir sozinho apresentar-me a Eduardo. Também me recordo da cena, chegando ao 1º andar do Memorial Desembargador Vicente Lemos, onde, naquele ano, funcionava a presidência da UBE-RN. Assim que deixei o elevador de acesso, após ter sido orientado por um dos vigilantes quanto ao caminho que deveria percorrer, logo dei de cara com a sala da presidência. Num birô largo, de madeira de lei, encontrava-se o escritor. Parecia que estava à espera de alguém enquanto conversava com um colega seu, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, o genealogista e historiador Ormuz Barbalho Simonetti, o qual, anos mais tarde, exerceria o cargo de presidente da aludida entidade centenária.
─ É Pedro? ─ dirigiu-se a mim logo que me viu entrar.
─ Não! É Paulo ─ corrigi sem saber direito o motivo de ele me ter nomeado assim. Possivelmente, esperasse um Pedro. O fato é que a circunstância foi até um pouco cômica.
Desculpou-se pelo equívoco, e eu, pedindo licença, comecei a falar à medida que também fui me sentando numa cadeira ao lado da que estava sentado Ormuz, antes, é claro, tendo o cuidado de pedir permissão. Prontamente atendido, manifestei o interesse em associar-me à UBE-RN, afirmando que era escritor, mas que ainda não tinha livros publicados. Por um instante, achei que isso seria um impedimento e já ia desanimando diante desse pormenor. Eduardo, de súbito, pegou um documento que era a ficha de inscrição do associado e entregou-me.
─ Aqui está! Deverá preencher e devolver-me depois.
Surpreso com o ato, acrescentei-lhe que possuía trabalhos engavetados e nenhuma condição financeira de publicá-los. Foi quando me falou do selo editorial que a UBE-RN estava criando: Nave da palavra, que adiante editaria os meus primeiros livros. Outro projeto em curso era o Concurso LiterárioPrêmio Escritor Eulício Faria de Lacerda, que premiaria em dinheiro os dois primeiros colocados, além de uma publicação do trabalho do primeiro colocado. Eduardo era um educador e empreendedor. Enxergava longe boas ações sociais, mesmo que algumas delas não viessem a se materializar por falta de apoio do poder público e do poder privado. A verdade é que ele tinha boas intenções. Idealizador de um lugar ao sol para o artista potiguar, sobretudo para o escritor, sempre procurou dar visibilidade à literatura do RN. Firmou parcerias com gráficas para que o selo editorial Nave da palavra funcionasse (o que em parte ocorreu); a criação de um curso sobre literatura do RN para professores da Rede Pública Estadual de Ensino, diretamente ministrado nas dependências da Fundação Hélio Galvão, dirigida pelo filho do então advogado e historiador, o poeta e ensaísta Dácio Galvão; parcerias com outras entidades culturais para que cedessem espaço a reuniões da diretoria executiva, como foi com a Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANRL), onde os associados puderam lançar os seus livros pelo respectivo selo editorial; com livrarias, dentre elas a extinta AS Book Shop, no bairro de Lagoa Nova, em Natal, a fim de que promovessem encontros literários. Dessa empreitada, surgiu o projeto Letras potiguares. Consistia em debates sobre obras e autores do RN. Eu mesmo tive o privilégio de participar de uma das edições em 2003. Nesta noite, Avelino de Araújo e Falves Silva, os adeptos do poema concreto e do poema processo dos anos 60, foram os homenageados; porém, só o último compareceu. Eduardo, mesmo ainda sem nos conhecermos pessoalmente, coordenou com afinco a sessão na livraria. Não cheguei a falar com ele. Só tive a chance de conhecer, nesta mesma noite, Falves, sempre muito bem-humorado, Jania Souza e Marcos Cavalcanti; os dois últimos pertencentes a uma entidade cultural que eu viria a integrar anos mais tarde: a Sociedade dos Poetas Vivos & Afins do Rio Grande do Norte (SPVA-RN). Lembro a gentileza de Marcos convidando-me, desde aquele ano, a associar-me à SPVA-RN; contudo, somente em 2012, já servidor público federal, é que eu daria também esse importante passo na direção do sonho de ser escritor.
Por falar em 2012, foi por ali que eu, aos 31 anos, lancei o primeiro livro: No ventre do mundo. Um ensaio literário agraciado com o 1º lugar no ano anterior (2011), no Concurso Literário Prêmio Eulício Faria de Lacerda, citado acima. Em sessão solene, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, na noite de 24 de outubro de 2011, obtive das mãos de Eduardo Gosson o certificado e a quantia em cheque. O escritor e dramaturgo Racine Santos, nacionalmente conhecido por seu trabalho na história do teatro, ficou em 2º lugar. Depois, soubera que este, em tom de brincadeira, confessaria em discurso, perante a mesa acadêmica, a sua surpresa pelo resultado, uma vez que ficara atrás de um jovem, à época, no apogeu dos seus 30 anos. Tudo se deu durante o Encontro Potiguar de Escritores, um evento todo ano organizado pela UBE-RN.
Lançamento do livro “No ventre do mundo” na Academia Norte-rio-grandense de Letras – 08 de agosto de 2012. Ao lado do autor, Eduardo Gosson, convidados e o escritor e Presidente da Sociedade Brasileira de Dentistas Escritores Rubens Azevedo.
O que assinalo aqui é apenas um breve testemunho da experiência ao lado de um homem grande, um visionário. Um homem que cometeu muitos erros e muitos acertos como todo mundo. E principalmente: nunca se traiu quanto aos seus ideais. Infelizmente, foi pouco tempo de convívio. E apesar das modestas divergências que nós dois tivemos, manteve, até o último suspiro, sua posição diante do mundo e do Brasil. Foi generoso com os outros, até mesmo com as novas gerações de escritores, sempre incentivando seus talentos. Há muito ainda a ser escrito sobre a figura de Eduardo Antônio Gosson, o que espero fazê-lo em projeto ainda em maturação. Agora, entrou, como costumava dizer, “na Nau da eternidade” para seguir seu destino junto aos seus, com a certeza de que cumpriu, em parte, a sua missão na terra. Vai, amigo! E tenhas a convicção de que se depender de muitos daqueles que reconhecem o valor do teu ser e da tua obra para o RN, tu jamais serás esquecido. Boa viagem!
"D. Pedro II, apesar de beirar os 50 anos e ostentar a barba branca que lhe conferiu a marca registrada nos livros de História, era um homem jovial e incansável, um “monarca empreendedor” e desbravador, como mostrou durante todo o percurso de suas viagens em transatlânticos, barcos, canoas, trens, carruagens, a camelo, a cavalo, a burrinho, em égua, a pé..."