Apaixonado pela Ribeira, Procurador da Justiça quer construir um espaço de vivência e incentivar novos talentos
28 de abril de 2022
Cinthia Lopes
Ninguém passa pela Ribeira indiferente. Ou se fica impactado pela beleza das imponentes fachadas ou pela decadência da maioria dos imóveis. É um bairro com características que nenhum outro possui: O maior conjunto arquitetônico que remonta a história da cidade e, ao mesmo tempo, o mais abandonado por uma série de fatores, desde a falta de projetos de revitalização que não saíram do papel, ou por causa de inventários intermináveis e dívidas acumuladas há décadas pelos proprietários.
Movido por um sentimento de preservação da própria memória afetiva e da necessidade de legado para as próximas gerações, o promotor de justiça do RN e colecionador de artes Manoel Onofre Neto decidiu colocar em prática um sonho antigo de adquirir um imóvel no bairro. Sua primeira investida é na outrora famosa rua Doutor Barata, registrada nos livros como o coração comercial e festivo da Ribeira até a década de 1940. Onofre adquiriu um galpão onde até recentemente funcionava o depósito da Mar e Pesca, quase em frente a Galeria B-612. Ele explicou que se trata de um imóvel antigo, de linhas modernas, porém sem uma marco arquitetônico de destaque, pois vinha sendo reformado ao longo dos anos. “Bastante simples, mas com potencial. Pretendo requalificar o imóvel e dotá-lo de uma infraestrutura de charme”, disse em entrevista ao TL.
O magistrado também é um conhecedor das artes visuais e já é considerado um mecenas, por adquirir e incentivar novos talentos, reunindo uma grande coleção de obras de diversos estilos e criadores. Recemente ele fez a curadoria do Salão Dorian Gray de Artes Visuais realizado no Museu Café Filho. A mostra foi bastante elogiada por trazer para o coletivo muitos artistas da nova geração.
Ele conversou com o Típico Local sobre o investimento e os projetos para o imóvel. Lamentou ainda o fechamento da galeria B-612, que se estivesse em atividade seria a sua "vizinha" com potencial para movimentar a região. Uma porta se fecha outra se abre...
Confira o bate-bapo:
Onofre, você adquiriu um imóvel na Dr Barata, Ribeira. Tanto a rua quanto o bairro possuem um conjunto de prédios tombados pelo Iphan. Como foi a escolha do imóvel, o que levou em consideração?
O elemento primordial, ademais do valor, está relacionado às possibilidades de uso que o imóvel permite, com vãos amplos e uma estrutura sólida. Eu já vinha buscando um espaço com essas características.
A rua Dr. Barata mantém de pé fachadas de um passado de agitação e muitos comércios. Esse aspecto foi o que te atraiu?
A atmosfera da Ribeira como um todo sempre me atraiu. Ali muito da nossa história, com recorte à boemia e às artes, vem sendo escrita. Na Ribeira, em especial na Dr. Barata, em parceria com alguns amigos do Bicho (bloco do Carnatal, que integrei a diretoria) tive oportunidade de promover alguns eventos, dentre eles uma festa intitulada Ribeira Rainha, com performances e muita arte. Nos saudosos Blackout e no Galpão 29 comemorei aniversários. Bati ponto na Galeria B 612 aos sábados, religiosamente. São múltiplos os fatores que contribuíram para minha decisão.
Existe uma história por trás do imóvel? sabe o que funcionou lá?
Funcionava, até recentemente, o depósito da Mar e Pesca. É um imóvel antigo, mas sem uma marco arquitetônico de destaque pois vinha sendo reformado ao longo dos anos, com linhas modernas. Bastante simples, porém com potencial. Pretendo requalificar o imóvel e dotá-lo de uma infraestrutura de charme.
Você é um conhecido colecionador e incentivador das artes plásticas. O perfil de seu futuro espaço será uma forma de compensar o hiato deixado pelo fechamento da B-612? Você fará algo como residência artística, espaço para eventos de arte, galeria? fale um pouco sobre o que deseja abrigar no espaço...
O fechamento da B612 deixou um hiato impossível de ser preenchido. Aquele espaço era, literalmente, mágico. Anchieta completava a aura fascinante da galeria, que espero em breve desfrutar do novo espaço que ele vem gestando. A proposta será outra e está em construção, mas passa pela estruturação de um espaço para abrigar a minha coleção de arte potiguar de modo que eu possa partilhá-la e, com isso, fortalecer as artes visuais no Rio Grande do Norte e colaborar com a construção e solidificação dos percursos dos nossos artistas.
Asseguro, assim, um espaço pensado para exposições e eventos relacionados à arte. Residências artísticas, atelier coletivo e oficina de restauro e conservação também podem ser outras possibilidades, bem como a realização de eventos formativos e educativos relacionados às artes e à cultura, de modo a envolver a comunidade em geral. Como Promotor de Justiça que trabalha com o adolescente em conflito com a lei, vejo na arte um potencial transformador que precisa ser cada vez mais explorado.
Será necessária uma reforma? Você pretende buscar recursos externos, financiamento?
De: https://tipicolocal.com.br
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