O professor João Tibúrcio da Cunha Pinheiro
O velho mestre do Atheneu, de voz mansa, infexível, cautelosa fez a história da primeira vogal no latim, grego, galego, português, nas línguas neo-latinoas
Segundo o professor e folclorista Luís da Câmara Cascudo, o professor “João Tibúrcio da Cunha Pinheiro” (1845-1927), ensinou Latim e Português mais de 58 anos, na sua vida política foi liberal, chegou a Deputado Provincial no biênio 1878-1879 sob a égide luzia de Cansanção de Sinimbu, mas sem evidências exaltas. No Atheneu, desde 1868, mas já ensinava antes. Seu jubileu em 1919, determinou um movimento emocional. Verificara-se que aquele velho de cabelo meio rente na cabeça chata, lento, gordo, bonachão, sereno, fora mestre de quase toda a gente alfabetizada em Natal.
Aposentou-se em 1927, ano em que faleceu, porque ensinar para ele era sinônimo de viver. Em 1928 mereceu um busto de bronze na praça que leva o seu nome na cidade alta. Primeira homenagem oficial e pública a um professor. Foi meu mestre de latim. Vez por outra, aos domingos, vinha “passar o dia” em nossa chácara no bairro Tirol. Podia perguntar e ouvi-lo dissertar sem livro, de memória, claro e natural como água no monte. Onde fora estudar? Era autoridade tradicional e decisiva. Ninguém dessa época consultava-no como a um oráculo tranquilo e sem pitonisa intermediária. Devo-lhe, entre outras lições, advertir-me contra o latim hipotético dos filólogos e as locuções imaginadas nas explicações magistrais.
O velho mestre do Atheneu, de voz mansa, infexível, cautelosa fez a história da primeira vogal no latim, grego, galego, português, nas línguas neo-latinoas. Na sua casinha na Praça das Laranjeiras, a última antes da descida para o Passo da Pátria, em espreguiçadeira de lona, junto à primeira janela, lia sozinho, em voz alta, os clássicos latinos nas tarde infindáveis do verão tropical. Ia visita-lo, levando charutos baratos (os bons tocava-os pelos pacaias), ouvir-lhe a entonação meticulosa e sonora do latim imperial. “Tibulo está me fazendo companhia”, dizia-me, triste e feliz.
Carlos Frederico de O. L. da Câmara - Fonte: ONTEM – memórias –Luís da Câmara Cascudo – EDUFRN – Editora da UFRN.
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