quarta-feira, 23 de agosto de 2023

 

INXURRADA MARDITA
Capítulo 1
J. A. Simonetti

Sentado no terreiro com os pés dentro de uma poça d'água, Antônio recorda a seca, enquanto seu coração lamenta a chuva.

*

“Seu moço, inda me alembro,
me alembro cuma ninguém
o tempo véio num léva
aquilo qui se quiz bem,
nem hai dinheiro qui págue
um amô qui a gente tem.

Faz muito tempo, seu môço,
nós morava no sertão
e a sêca véia danasca
veio qui nem um ladrão,
furtando os verde das fôia,
rôbando ás águas do chão.”

*

Depois das rezas e benditos e finda a esperança a solução era partir para sobreviver na cidade grande.

Antônio e Francisco parados junto a porta da casa maltratada pelo tempo observam as nuvens claras no horizonte.

Na paisagem seca um grupo de retirantes caminha fugindo do sol, que do céu castiga a terra dura e árida pela falta de chuva.

Como que hipnotizados pelo calor escaldante os irmãos Francisco e Antônio tentam resistir as claras nuvens que no céu vão sumindo para dar lugar a pálida imensidão azul.

Os irmãos caminham pelo terreiro com passos incertos.

Francisco, sentado embaixo do pé de juá, observa o dia querendo ir embora.

- Mais um dia que se vai. - Comenta com seu irmão Antônio.

Antônio olha para a imensidão seca.

- E nós aqui, né Francisco? Vamo imbora, meu irmão. Vamo s'imbora.

Amanhã - Capítulo 2

INXURRADA MARDITA
Baseada na obra de Renato Caldas
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