De: Assu Antigo
A Atenas Potiguar
Alex
Ramon Ribeiro
Repórter
Uma das cidades mais antigas do Rio Grande do Norte, Assu é conhecida como terra de muitos poetas. E de tantos poetas que nasceram no município ou passaram por lá deixando suas contribuições, um assuense baixinho, magricela, de olhar desconfiado, mas bastante esperto, soube como ninguém aprender as manhas da cantoria, do repente, da poesia, dos temas, dos cenários, dos costumes, enfim, de tudo que envolve a cultura popular nordestina. Aos 53, o poeta Paulo Varela leva o nome da cidade em para todos os cantos do Brasil em que é convidado a se apresentar. E gosta de falar com orgulho da sua cidade.
Paulo Varela traz em suas raízes do oeste potiguar a inspiração para expressar sua arte “Assu é uma terra muito bonito. Tenho paixão pela cidade. As pessoas a chamam de Atena norte-riograndense”, diz Varela, que além de poeta, é escultor, cenografista, xilogravurista, canta côco, dentre muitas outras atividades que ele se dedicou de cabeça após encher o saco de seu antigo trabalho no ramo das telecomunicações. “Viajei todo o país como técnico, construindo redes telefônicas. Passei por todos os setores das telecomunicações, tive minha empresa, ganhei dinheiro, mas há 22 anos, parei. Vi que o dinheiro não era tudo e entrei de cabeça na literatura”.
Caçula dos 22 filhos de Joana Varela e Domingos Canuto, Paulo Varela viveu até os 11 anos em Assu, depois teve que ir para Natal estudar e acompanhar os irmãos mais velhos. Mas todo ano retornava para a cidade no Oeste Potiguar, afinal, toda sua família é de lá. Na década de 90, casado, retorna para morar no município. É quando encontra a região arrasada culturalmente e decide implementar suas ideias culturais. É descoberto como autêntico poeta popular e desde então vive da poesia, disseminando seus versos e de norte a sul do país. “Sou um dos raros poetas aqui do Estado que tem um espetáculo, o ‘Sertão in verso’”, comenta o artista, que dos cinco filhos, dois são nascidos em Assu e com o termo assuense no nome.
Muito reconhecido também pelos causo matutos que narra como poucos, esse assuense tem atualmente levantado casas de taipa em feiras pelo interior. Na Festa do Boi, há anos é ele e sua esposa que comandam a casa na fazendinha do povo. Outra de suas ação populares é a Vila da Cultura, uma cidadezinha cenográfica que ele instala por todo o nordeste, abarcando em seu espaço, atividades socioeducativas, livraria, artesanato, arte popular, exposição folclórica, museu do cordel, além de atrações artísticas. “Vivo só de fazer cultura”, fala orgulhoso o poeta.
Atena potiguar
Na minha época de infância Assu era muito rica em cultura. A gente tinha bibliotecas, cinemas, teatros. Me lembro da passar em frente ao cinema e ver aqueles cartazes. Mas como eu era muito novo para ver alguns filmes e tinha que ajudar meus pais na roça, não cheguei a entrar no cinema. Na história do RN, também fomos a primeira cidade ter carnaval.
Terra de poetas
Lá tem duas famílias com tradição literária, a Caldas e a Wanderley. Mas nossos grandes nomes são João Lins, que foi um dos precursores do modernismo na literatura brasileira, Renato Caldas, Celso da Silveira. Assu é cheia de poetas. E a efervescência literária de antigamente passava para o cotidiano. Era comum ver as pessoas lendo livros nas pracinhas.
O fascínio pelas feiras de rua
Quando papai ia nas feiras comprar alimentos, eu ficava observando os cantadores de viola, os repentistas, o homem da cobra, os vendedores de raízes. Também cheguei a assistir Chico Daniel, nosso maior mamulengueiro. Essa era a atmosfera da feira e eu me encantava com aquilo. Os grandes cantadores passavam por Assu, como Patativa do Assaré, que tem registros na cidade. Mais velho, na década de 80, me encontrei com Patativa e ele disse que em poesia só respeitava Renato Caldas e Catulo da Paixão Cearense. Ele tinha apreciação por essas pessoas.
Rio Piranhas-Açu
Na década de 60, 70, nosso maior lazer era o rio Piranhas-Açu. Tudo era envolta dele, desde a agricultura até às brincadeiras.
Lembro das plantações dos meus pais na rasante do rio. Enquanto eles ficavam cultivando, a gente ficava brincando na água, dando cambalhotas, montando nas toras de madeira e descendo a correnteza. Também fazíamos cavalos de talo de carnaúba para brincar na rua. Brincávamos também de fazenda com os ossos de vaca, fazíamos também roladeira de lata de leite.
O retorno a Assu
Depois de viajar todo o país trabalhando no ramo das telecomunicações, eu decido parar e voltar para Assu. Era nos anos 1990. Encontro a cidade um caos, sem cinema, biblioteca, teatro, sem cinema. Me comprometi a movimentar as coisas por lá.
Casa da Poesia
Naquela época, aluguei um imóvel em Assu e chamei de Casa da Poesia. Começou as pessoas a aparecerem, os alunos da UERN iam lá. Nessa época surgiu a ideia de se abrir uma casa de cultura em Assu, o Solar da Baronesa. Eu fui o primeiro a entrar no espaço como representante da cultura popular. Eu abro um sebo no Solar da Baronesa e, a partir dele, sou descoberto pelo pessoal da comissão do folclore, que vê as coisas que eu tenho e ai eu começo me apresentar pelo Estado.
Em Natal
A partir das apresentações, venho para Natal e abro o primeiro espaço para o cordel no Rio Grande do Norte, o Encanto do Cordel.
Depois chamo Abaeté para participar comigo lá. E depois de uns sete anos ele abre a Casa do Cordel. E eu continuo até hoje com o Encanto do Cordel, só que itinerante, frequentando feiras culturais pelo Brasil.
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