Roberto Guedes (*)
Quando terminarem de ler "Política -
Atos e Fatos", vocês compreenderão porque este livro me surpreendeu
tanto, e tão agradavelmente, quando devorei todas as suas letras, linhas
e páginas antes de o texto final chegar ao prelo, forçando-me a
reconhecer que até então conhecia seu autor, o jornalista e historiador
João Batista Machado, o nosso "Machadinho", bem menos do que ele se me
apresenta agora, quase cinquenta anos depois de entrarmos muito
impregnadamente um na vida do outro.
Antes de tudo, carimbo meu
reconhecimento. Por dever de justiça.Machadinho foi bom de bola nos
tempos de adolescente em seu Açu com cedilha e em Mossoró. Sabe-se que
foi estudante mais do que mediano no Colégio Diocesano do padre Sátyro
dos anos cinquenta e início dos efervescentes sessenta. Passou depois a
líder de entidade estudantil em Natal, onde iniciou e praticou todo o
seu jornalismo, que, pela competência e perenidade profissional, com
certeza o levaria, se quisesse, ao sucesso também nos maiores centros do
país.
Preso à força telúrica que aqui manteve muita gente boa, como
o legendário Luiz da Câmara Cascudo, ficou a vida inteira no chão
potiguar, onde também se descobriu capaz de contar a história em muitos e
bons volumes, desses que, como exigem os leitores mais exigentes, fazem
muito mais do que ficar em pé nas estantes.Machadinho chega hoje a seu
décimo livro consagrado como um dos melhores periodistas contemporâneos
do Rio Grande do Norte, onde também se afirmou nesta década como o mais
profícuo historiador político.
Conhecendo-o muito de perto, não
deveria ser surpreendente para mim, portanto, o conteúdo de "Política -
Atos e Fatos", cujos originais, depois de reunidos e consolidados,
Machadinho me emprestou para que melhor pudesse me integrar, através
deste texto metido a prefácio, à obra prestes a ser impressa.
Sou
leitor cativo de todos os livros anteriores de Machadinho, e não perco o
que ele publica em jornal desde que o conheci e à sua séria e ética
dedicação ao jornalismo.Lembro-me de tê-lo adicionado ao rol de grandes
amigos no finzinho de 1.967, começo de 1.968, quando me acostei à
redação do "Diário de Natal" da ladeira da avenida Rio Branco em demanda
da Ribeira, onde, todo dia, de segunda a sábado, antes do meio-dia,
entregava no mínimo três matérias dignas de chamada de primeira página
para o vespertino e pelo menos uma maior, mais ampla e de muito maior
profundidade, para o hebdomadário "O Poti".
A nossa era uma redação
altamente permeável, quente e barulhenta, em tudo diferente das gélidas
salas de digitação dos jornais de hoje. O silêncio quase sepulcral
destas nem de longe lembra o quanto naquela sala era preciso
concentração e conscientização profissional para se produzir de dentro
para fora numa interação devassadora com o mundo exterior.
Para
começar, a redação não era redação. Era tosca, grotesca linha de
montagem. Ocupava um imóvel projetado para ser loja e tinha uma grande
porta de subir, metal, como fronteira em face da Rio Branco. O calor e a
necessidade de luz natural exigiam que durante todo o tempo a loja,
situada do lado do sol, ficasse aberta, permitindo que todo tipo de
gente a penetrasse, aqui também no sentido de invadir. Uma de suas
extremidades guardava grandes rolos de papel para impressão, e uma
passagem escura fazia a ligação com a oficina de seu Januário, uma
grande figura humana de mansidão a toda prova, um dos melhores chefes de
oficinas que o jornalismo já conheceu. Era a fronteira entre o
matraquear de nossas máquinas de datilografia e os linotipos, máquinas
de derreter chumbo e impressoras de Paulo Leão, Zé Neguinho, Tota e
tanta gente boa que interagiam com os jornalistas, principalmente nos
balcões etílicos da vizinhança, numa maravilhosa igualdade fraternal.
Num
ambiente de estúpido desconforto físico, ali Machadinho trabalhou com
muitos colegas que nos ensinariam de cima para baixo, na igualdade do
aprendizado, e de baixo para cima, com humildade enriquecedora. Há quem
diga que, ressalvando a época do surgimento do "Diário de Natal", quando
uma verdadeira plêiade de jornalistas se uniu para criar o periódico, o
tempo de iniciação de Machadinho na casa foi o melhor na história da
grande integração entre o jornal e a população natalense.
Peruei
parte desta epopeia, e posso dizer: foi o tempo de brilhantes escritores
da crônica perseverante e cotidiana de Natal. Ali Machadinho conviveu
com o maior exemplo para todos nós, o grande Berilo Wanderley, a quem
terminaria levando a se tornar assíduo do "Bom Miguel", lá no Beco da
Lama, onde se tomava a melhor meladinha para abrir o apetite antes do
almoço, a preparada por Nazir do apelido machadiano.
Suou e se
divertiu com o saudoso Domício Ramalho, aprendeu com Sanderson
Negreiros, até hoje seu irmão de fé, Francisco de Assis Barbosa, João
Gualberto Aguiar, a maior esperança de jornalismo de nossa geração,
Lauracy Costa e Antonio Melo, que chegaria muito longe onde todo
repórter provinciano daqui gostaria de vencer, nas melhores redações do
país. Conviveu bem com todos os repórteres policiais da casa, de Nilo
Lourival Ferreira a Pepe dos Santos, passando também por Danilo Santos,
que viajou muito cedo, e se divertiu com tiradas bissextas do
diagramador Josué Maranhão, que depois seria sucedido por Carlos Jorge,
Gení Alves, Marluce e Zé Meira, adiante o responsável pela condução do
processo de implantação do sistema "off set" de impressão do jornal.
Curtiu
carraspanas do legendário fotógrafo Paulo Saulo e ajudou a abrir
caminho para que um adolescente precocemente amadurecido chamado Edilson
Braga se iniciasse na profissão como fotógrafo para tempos depois
tornar-se respeitado chefe de redações.
Absorveu as ótimas piadas do
maior repórter esportivo que o Rio Grande do Norte já conheceu, o grande
Everaldo Lopes, e tomou muitas lições de exercício profissional e
carraspanas com outro monumento de nossa geração, Rubens Lemos, para ele
o eterno "Migüim" da esquerda atuante e das raízes da música popular
brasileira original e tradicional.
Na outra extremidade da corda
cultural, conviveu maravilhosamente com o grande divulgador da
modernidade universalizante do Tropicalismo e da poesia-processo,
movimentos que não o atraíam, o saudoso repórter Alexis Gurgel, somente
"Machó", corruptela de "Majó", um dos apelidos que lhe aplicou
fraternalmente. Quando o colunista social Paulo Macedo adentrava a loja
de escrever, Machadinho ainda encontrava tempo para ouvir suas prosas
cosmopolitíssimas.
Nosso expediente na redação do então vespertino
era pela manhã, mas à tarde ele ainda encontrava tempo de baixar no
mesmo terreiro para conversar com os colunistas que só então visitavam a
casa, o analista político Leonardo Bezerra, o "Nêgo" de nossas
afinidades, e o grande cronista lírico Aderbal de França, que se
assinava "Danilo" de merecidas reverências.
Liso de fazer dó, fora
da redação Machadinho convivia com ricos e poderosos e mesmo assim não
melhorava de vida, porque também para ele o produto tinha que vir, ética
e honestamente, do suor de seu trabalho. Pontual em tudo, inclusive
pagamentos, sofria muito porque o dinheiro não rendia os trinta dias.
Vivia pendurado em birôs de gentes de bancos amigos, levantando e
reformando papagaios que lhe eram viabilizados pela adimplência
invariável.
Também o vi muito diante do diretor comercial da
editora, o grande Silvino Sinedino, negociando vales de adiantamento
salarial que sua persuasão sempre arrancava entre sorrisos.
Não
tinha rodante no tempo em que os mais bem situados já possuíam seus
carros velhos, do Ford Prefect que Zé Meira compraria a João Neto quando
este passou para um Dauphine, ao fusca azul de Sanderson e a um
automóvel bem conservado em que muitas vezes Dodó Ramalho o carregava,
ao contínuo
"Biroquinho" e a um ou outro agregado, para excursões
etílicas pelas muitas bocas da Natal ainda boêmia.
A serviço, só se
deslocava na Kombi do jornal, confabulando com Pedro, o motorista que em
tempos melhores passaria a chefe dos setores de circulação e de
transporte. Só chegou à casa própria quando o programa habitacional do
governo federal lhe permitiu comprar uma em Mirassol para pagar a perder
de vista.
Enfrentando todo tipo de dificuldade, era um repórter
altamente permeável para absorver tudo dos entrevistados, e seletivo
para não se confundir com eles. Num texto enxutíssimo, mostrava-os como
eram ou como seu olhar de objetividade profissional os via, sem se
acumpliciar com os personagens.
Da grande dignidade do saudoso
Monsenhor Walfredo Gurgel, o Governador com quem ele conversava todo
dia, com direito a entrar a qualquer hora no seu gabinete, no Palácio
Potengí, e na residência oficial, ao deputado Fidélis do Amaral Neto,
que outros jornalistas e muitos políticos rebatizariam como "Amoral
Nato", quando este vinha trazer à base de lançamento de foguetes de
Barreira do Inferno seu programa de reportagens para a rede Tupi de
televisão, "JB Machado", como Machadinho se assinava no início da
carreira, sabia tornar-se interlocutor confiável pela seriedade.
No
dia em que um político o atraiu para perto de si, largou a redação para
assumir a assessoria de comunicação do governo do Estado no mandato do
hoje falecido Tarcísio Maia. Sabia que em jornalismo o assessoramento
não se compatibiliza com o batente em veículo de informação. Também por
isto, entrou para a história como um dos melhores coordenadores de
comunicação social no executivo potiguar, desenvolvendo uma carreira
especializada que o mostrou muito bem na prefeitura de Natal e nos
últimos anos no Tribunal de Contas do Estado.
Eclético, sem prejuízo
de sua dedicação preferencial pelo noticiário político, o Machadinho de
batente de jornal incursionava em todas as áreas onde pudesse haver
boas reportagens e entrevistas à espera de um repórter de primeira
linha. Isto o levou a viagens pelo esporte, pela música e outras
manifestações da inteligência humana, sem prejuízo da primeira
obrigação, o cumprimento dos três pontos da pauta diária que o jornal
impunha a todos os seus repórteres, e de sua acuidade quanto a
apresentar o lado humano das ocorrências que descrevia.
Encontrava
tempo para esta beleza de desempenho profissional sem prejuízo de outro
vínculo empregatício que estabelecera antes de entrar numa redação, um
posto no governo do Estado, conquistado ainda nos tempos de colegial em
Assu e Mossoró; sem gazear aulas da Faculdade de Jornalismo Eloy de
Souza, hoje integrada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). E cuidava para sempre que possível não faltar ao expediente
sentimental até no máximo às 22 horas junto à namorada, após o que ainda
aceitava reuniões com amigos e colegas na "Palhoça" de seu Damasceno
até com direito a descidas rumo à "Galinha de Mãe" e aulas de dança no
"Francesinha" de saudosa memória.
Seriíssimo na conduta e na
produtividade profissional, surpreendia-me que de repente, em nossa
redação, sem interromper a datilografia de um texto, "Machadinho"
contasse uma piada ou soltasse oralmente uma brincadeira capaz de fazer o
mais sisudo colega soltar um largo sorriso redação adentro e afora. Sua
tirada ensejava as mais diversas manifestações e levaria à criação,
pelos colegas, de verdadeiras marcas registradas de humor. O "Bom,
basta!" de BW, como ele citava e convocava Berilo, fez história como
chamamento ao riso.
Intrigava-me agradavelmente saber como
Machadinho ainda encontrava tempo para tantas destas ações profissionais
e de relacionamento enquanto urdia, feito formiguinha ou abelha, uma de
suas mais profícuas criações, a fabricação de apelidos que ainda hoje o
caracteriza.
Houve deles que se imortalizaram para todos nós, mas
chamava nossa atenção o transformismo que o autor impunha a algumas de
suas criações.
Fui e tenho sido alvo de uma dessas metamorfoses. Fui
"Gênio", depois "Óxigênio", com acento no ó, adiante "Xênio", depois
voltei a "Óxigênio", e quando menos esperava estava reduzido ao "Óxi"
com que me trata até hoje.
A melhor dessas trajetórias de apelidos
foi uma que marcou um rapaz que montou um misto de barzinho e lanchonete
alguns metros acima da redação, quase na esquina da Rio Branco com a
ladeira com que a rua Juvino Barreto trazia o trânsito de Petrópolis
para a Ribeira e vice-versa, onde servia um bife acebolado de botar água
na boca.
Ao saber que ele se chamava Vicente de algum sobrenome,
Machadinho logo passou a tratá-lo como "Vicente Celestino", referência
ao grande menestrel de antanho. Adiante, "Vicente Celestino" se limitou a
"Celestno" para meses depois passar a ser apenas "Tino". Outros meses
adiante, Machadinho lhe devolveu à completude da palavra.
Porém,
decerto achando pouco o "Celestino" desprovido do nome original, apensou
ao apelido o sobrenome de famoso diretor do Atheneu, o professor
Celestino Pimentel. De repente, orgulhosos ex-alunos do Atheneu
abrigados numa mesma redação se alegravam ao serem servidos pelo nome do
velho mestre. Isto, porém, durou apenas semanas, porque Machadinho
amputou o "Celestino" que na sua tessitura mental havia atraído o
"Pimentel".
Passou a chamar Vicente apenas de "Pimentel". Quando nós
começávamos a nos acostumar com a nova qualificação, porém, ele cortou
"Pimen", tratando como "Tel" o coitado do Vicente, que ria a valer com
essas novas certidões de seu nascimento. Ficou assim durante outras
semanas, até um dia Machadinho apensar ao apelido de ocasião um pré-nome
da literatura.
Assim, Vicente foi "Guilherme Tell" até o autor
impor um apelido à sua nova denominação. Desta forma, o mesmo Vicente de
origem passou a ser "Gui Gui". Ao que me consta, este apelido reinou
enquanto trabalhei na redação de Machadinho, na época já transferida
para o prédio do antigo cinema Poti, na avenida Deodoro, no alto de
Petrópolis. Não me surpreenderia, porém, se Machado tivesse carimbado o
preparador de tira-gostos com muitas outras denominações a partir daí,
pois, muito fiel às suas ligações, não deixou de frequentar o bôínho de
Vicente depois de migrar para a nova sede do "Diário de Natal".
Senhor
de uma lhaneza sem afetação a toda prova, Machadinho tem sido homem de
coragem cívica e física. Atestam-no algumas ocorrências que
surpreenderam muitos de nós. Certo dia, um motorista de ônibus o trancou
na subida da "Rio-Bahia", que leva da Cidade Alta ao Alecrim, e ele se
irritou ao ponto de resolver tirar satisfação. Ultrapassou o grande
veículo e numa manobra perigosa fê-lo parar abruptamente, quase batendo
em seu automóvel. Desceu do carrinho, onde ficaram seus filhos,
dirigiu-se à porta dianteira do ônibus, disse o que quis com o condutor e
chamou-o para as vias de fato.
Covardemente, o "chofé" desceu do
veículo trazendo consigo uma grande alavanca de ferro, e mesmo assim
Machadinho não recuou. Atracou-se com ele, tomou-lhe a ferramenta,
dominou-o e emprestou-lhe muitas cacetadas de punho cerrado. Até hoje me
pergunto se então ele pensou que enquanto brigava com o motorista o
cobrador do ônibus poderia, em solidariedade ao companheiro de trabalho,
desequilibrar a contenda.
As azáfamas da vida nunca o modificaram.
Pelo contrário, sublimaram nele o jornalista e o escritor que almejava
ser ainda quando, nas ruas e praças de Assu, era o menino de dona
Letícia, o "João de Edinor", varão entre uma palma de irmãs num núcleo
familiar altamente unido, querido e respeitado em sua terra natal, como
pude testemunhar desde o final dos anos sessenta, quando visitei a
cidade pela primeira vez.
Visto o perfil de João Batista Machado que
a memória me proporciona, desembarco na apreciação do texto de
"Política - Atos e Fatos" para confessar a surpresa que me impôs. Toda
vida li e com muito gosto todos os escritos de Machadinho que chegaram
às minhas pupilas. Sempre vi o bom texto jornalístico em jornal e
criações ainda mais elaboradas em seus livros.
Quando me falou sobre
o décimo título, deixou claro que reuniria artigos que publicou nos
últimos dois anos e meses no matutino impresso "Novo Jornal". Cada um
num dia da semana, ele, eu, Albimar Furtado, Franklin Jorge, Jomar
Morais, Paulo Tarcísio Cavalcanti e outros jornalistas conterrâneos,
alguns dos quais brilham também na reportagem do periódico, atuamos no
"Novo Jornal" como colunistas ao lado de alguns autores oriundos de
outros campos profissionais que dão verdadeiros "shows" de escrita e
cidadania. É o caso da professora Eleika Bezerra e do empresário Bira
Rocha, para não me estender muito e adotando-os como modelo desta
contribuição ao periódico.
Na entrega, Machadinho preveniu-me para
um caso de "dejavu", como diria Franklin, pois reveria textos que já
havia absorvido no dia a dia do jornal. É aí que reside minha
descoberta. Lidos separadamente, um a cada semana, os textos completam
isoladamente seu desiderato de esmiuçar determinados assuntos, algumas
ocorrências e uma ou outra evocação. Belo trabalho de repórter, e ponto
final.
Quando os sorvi de uma levada só, missão que aguarda cada um
de vocês, deparei-me não mais com as várias árvores de um jornalismo
cotidiano, e sim com verdadeira floresta de cidadania.
Um texto
sobre Tancredo Neves pode preencher seu papel ao tentar esgotar a
focalização do personagem, o mesmo que ocorreu com relação a João
Goulart e outros nomes nacionais e locais, da mesma forma como uma nuvem
de ternura paira sobre seu depoimento a respeito de a doce e meiga
figura humana de dona Tereza Maia, a primeira dama do governo potiguar
que, distante de olhares de curiosos, cultivava amizades com pessoas
simples da fauna natalense, como Dalila de Redinha, a famosa preparadora
de "ginga", iguaria de peixe frito com tapioca cuja qualidade depende
da mão de quem a traz ao mundo.
No dia a dia de Machadinho repórter,
uma reverberação contra a corrupção pode exaurir o tema, a exemplo de
outro texto que enfrenta a desonestidade que firmou jurisprudência no
Brasil. A mesma plenitude ocasional se vê num outro artigo sobre as
organizações não governamentais que vivem de explorar dinheiros
governamentais ou nouto, sobre a oposição aos variados dutos infamantes
que a corrupção construiu em todo o país.
Antes de receber os
originais do livro, eu conhecia todas as árvores descritas por
Machadinho no alto da sexta página do "Jornal de Hoje". Tinha convicção
de que compartilharia um reencontro textual. Quando mergulhei na nova
leitura, deparei-me não mais com as árvores, mas com uma grande, imensa
floresta que vem a ser o conjunto da obra contida neste livro. Nada de
reencontro com enfoques isolados. Eis-me diante de um grande tema, que
perpassa todos os textos.
É como se desde a redação do primeiroo
artigo, Machado se impusesse desenhar um mapa sem que cada pedaço
perdesse outros objetivos específicos. Assim como Ernest Remingway
descreveu a inflação que corroia a Alemanha do fundo do poço após o
"crash" de 1.929 sem sugerir ao leitor que lhe tivesse incutindo uma
preocupação inescapável em relação ao problema e seus possíveis
desdobramentos, um dos quais, o pior deles, se imporia através da
ascensão do nazismo.
Impressionou-me no livro o quanto Machadinho
extrapolou o espaço do jornalista e do historiador para nas linhas e
entrelinhas dos mais variados textos compor obra una, na qual a gente vê
projetar-se um ente rarefeito nas sociedades brasileira e potiguar
destes anos. Refiro-me ao cidadão, para dizer que "Política - Atos e
Fatos" é uma verdadeira ode à cidadania, à necessária capacidade de
reagir, à irresignação contra os malfeitos que agridem a alma do
brasileiro e que, infelizmente, ainda não fez a população acordar para
um levante em defesa pelo menos das futuras gerações de patrícios.
Quem
começar a ler este livro pensando em atos e fatos de política estará,
como eu, predisposto a enfrentar algo que o título sugere e terminará
reconhecendo que conheceu um conteúdo muito maior e melhor do que a
proposta aparentemente contida no título. Para mim, o verdadeiro título
deste livro é a Cidadania que o autor nos recomenda em todos os teclares
de seu texto.
Com este livro, João Batista Machado demonstra estar
se credenciando a no futuro receber dos conterrâneos leitores o absoluto
reconhecimento como autor de uma grande contribuição à formação moral
dos futuros cidadãos norte-rio-grandenses. Natal, 03 de maio de 2.012.
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(*) Prefácio do livro "Política em Atos e Fatos", que o jornalista e
historiador João Batista Machado lançará na próxima quarta-feira, 4, às
18 horas, na sede da Academia Norte-rio-grandense de Letras