segunda-feira, 2 de julho de 2012

Uma marcante lição de cidadania



Roberto Guedes (*)

Quando terminarem de ler "Política - Atos e Fatos", vocês compreenderão porque este livro me surpreendeu tanto, e tão agradavelmente, quando devorei todas as suas letras, linhas e páginas antes de o texto final chegar ao prelo, forçando-me a reconhecer que até então conhecia seu autor, o jornalista e historiador João Batista Machado, o nosso "Machadinho", bem menos do que ele se me apresenta agora, quase cinquenta anos depois de entrarmos muito impregnadamente um na vida do outro.

Antes de tudo, carimbo meu reconhecimento. Por dever de justiça.Machadinho foi bom de bola nos tempos de adolescente em seu Açu com cedilha e em Mossoró. Sabe-se que foi estudante mais do que mediano no Colégio Diocesano do padre Sátyro dos anos cinquenta e início dos efervescentes sessenta. Passou depois a líder de entidade estudantil em Natal, onde iniciou e praticou todo o seu jornalismo, que, pela competência e perenidade profissional, com certeza o levaria, se quisesse, ao sucesso também nos maiores centros do país.

Preso à força telúrica que aqui manteve muita gente boa, como o legendário Luiz da Câmara Cascudo, ficou a vida inteira no chão potiguar, onde também se descobriu capaz de contar a história em muitos e bons volumes, desses que, como exigem os leitores mais exigentes, fazem muito mais do que ficar em pé nas estantes.Machadinho chega hoje a seu décimo livro consagrado como um dos melhores periodistas contemporâneos do Rio Grande do Norte, onde também se afirmou nesta década como o mais profícuo historiador político.

Conhecendo-o muito de perto, não deveria ser surpreendente para mim, portanto, o conteúdo de "Política - Atos e Fatos", cujos originais, depois de reunidos e consolidados, Machadinho me emprestou para que melhor pudesse me integrar, através deste texto metido a prefácio, à obra prestes a ser impressa.

Sou leitor cativo de todos os livros anteriores de Machadinho, e não perco o que ele publica em jornal desde que o conheci e à sua séria e ética dedicação ao jornalismo.Lembro-me de tê-lo adicionado ao rol de grandes amigos no finzinho de 1.967, começo de 1.968, quando me acostei à redação do "Diário de Natal" da ladeira da avenida Rio Branco em demanda da Ribeira, onde, todo dia, de segunda a sábado, antes do meio-dia, entregava no mínimo três matérias dignas de chamada de primeira página para o vespertino e pelo menos uma maior, mais ampla e de muito maior profundidade, para o hebdomadário "O Poti".

A nossa era uma redação altamente permeável, quente e barulhenta, em tudo diferente das gélidas salas de digitação dos jornais de hoje. O silêncio quase sepulcral destas nem de longe lembra o quanto naquela sala era preciso concentração e conscientização profissional para se produzir de dentro para fora numa interação devassadora com o mundo exterior.

Para começar, a redação não era redação. Era tosca, grotesca linha de montagem. Ocupava um imóvel projetado para ser loja e tinha uma grande porta de subir, metal, como fronteira em face da Rio Branco. O calor e a necessidade de luz natural exigiam que durante todo o tempo a loja, situada do lado do sol, ficasse aberta, permitindo que todo tipo de gente a penetrasse, aqui também no sentido de invadir. Uma de suas extremidades guardava grandes rolos de papel para impressão, e uma passagem escura fazia a ligação com a oficina de seu Januário, uma grande figura humana de mansidão a toda prova, um dos melhores chefes de oficinas que o jornalismo já conheceu. Era a fronteira entre o matraquear de nossas máquinas de datilografia e os linotipos, máquinas de derreter chumbo e impressoras de Paulo Leão, Zé Neguinho, Tota e tanta gente boa que interagiam com os jornalistas, principalmente nos balcões etílicos da vizinhança, numa maravilhosa igualdade fraternal.

Num ambiente de estúpido desconforto físico, ali Machadinho trabalhou com muitos colegas que nos ensinariam de cima para baixo, na igualdade do aprendizado, e de baixo para cima, com humildade enriquecedora. Há quem diga que, ressalvando a época do surgimento do "Diário de Natal", quando uma verdadeira plêiade de jornalistas se uniu para criar o periódico, o tempo de iniciação de Machadinho na casa foi o melhor na história da grande integração entre o jornal e a população natalense.

Peruei parte desta epopeia, e posso dizer: foi o tempo de brilhantes escritores da crônica perseverante e cotidiana de Natal. Ali Machadinho conviveu com o maior exemplo para todos nós, o grande Berilo Wanderley, a quem terminaria levando a se tornar assíduo do "Bom Miguel", lá no Beco da Lama, onde se tomava a melhor meladinha para abrir o apetite antes do almoço, a preparada por Nazir do apelido machadiano.

Suou e se divertiu com o saudoso Domício Ramalho, aprendeu com Sanderson Negreiros, até hoje seu irmão de fé, Francisco de Assis Barbosa, João Gualberto Aguiar, a maior esperança de jornalismo de nossa geração, Lauracy Costa e Antonio Melo, que chegaria muito longe onde todo repórter provinciano daqui gostaria de vencer, nas melhores redações do país. Conviveu bem com todos os repórteres policiais da casa, de Nilo Lourival Ferreira a Pepe dos Santos, passando também por Danilo Santos, que viajou muito cedo, e se divertiu com tiradas bissextas do diagramador Josué Maranhão, que depois seria sucedido por Carlos Jorge, Gení Alves, Marluce e Zé Meira, adiante o responsável pela condução do processo de implantação do sistema "off set" de impressão do jornal.

Curtiu carraspanas do legendário fotógrafo Paulo Saulo e ajudou a abrir caminho para que um adolescente precocemente amadurecido chamado Edilson Braga se iniciasse na profissão como fotógrafo para tempos depois tornar-se respeitado chefe de redações.
Absorveu as ótimas piadas do maior repórter esportivo que o Rio Grande do Norte já conheceu, o grande Everaldo Lopes, e tomou muitas lições de exercício profissional e carraspanas com outro monumento de nossa geração, Rubens Lemos, para ele o eterno "Migüim" da esquerda atuante e das raízes da música popular brasileira original e tradicional.

Na outra extremidade da corda cultural, conviveu maravilhosamente com o grande divulgador da modernidade universalizante do Tropicalismo e da poesia-processo, movimentos que não o atraíam, o saudoso repórter Alexis Gurgel, somente "Machó", corruptela de "Majó", um dos apelidos que lhe aplicou fraternalmente. Quando o colunista social Paulo Macedo adentrava a loja de escrever, Machadinho ainda encontrava tempo para ouvir suas prosas cosmopolitíssimas.

Nosso expediente na redação do então vespertino era pela manhã, mas à tarde ele ainda encontrava tempo de baixar no mesmo terreiro para conversar com os colunistas que só então visitavam a casa, o analista político Leonardo Bezerra, o "Nêgo" de nossas afinidades, e o grande cronista lírico Aderbal de França, que se assinava "Danilo" de merecidas reverências.


Liso de fazer dó, fora da redação Machadinho convivia com ricos e poderosos e mesmo assim não melhorava de vida, porque também para ele o produto tinha que vir, ética e honestamente, do suor de seu trabalho. Pontual em tudo, inclusive pagamentos, sofria muito porque o dinheiro não rendia os trinta dias. Vivia pendurado em birôs de gentes de bancos amigos, levantando e reformando papagaios que lhe eram viabilizados pela adimplência invariável.

Também o vi muito diante do diretor comercial da editora, o grande Silvino Sinedino, negociando vales de adiantamento salarial que sua persuasão sempre arrancava entre sorrisos.

Não tinha rodante no tempo em que os mais bem situados já possuíam seus carros velhos, do Ford Prefect que Zé Meira compraria a João Neto quando este passou para um Dauphine, ao fusca azul de Sanderson e a um automóvel bem conservado em que muitas vezes Dodó Ramalho o carregava, ao contínuo

"Biroquinho" e a um ou outro agregado, para excursões etílicas pelas muitas bocas da Natal ainda boêmia.
A serviço, só se deslocava na Kombi do jornal, confabulando com Pedro, o motorista que em tempos melhores passaria a chefe dos setores de circulação e de transporte. Só chegou à casa própria quando o programa habitacional do governo federal lhe permitiu comprar uma em Mirassol para pagar a perder de vista.

Enfrentando todo tipo de dificuldade, era um repórter altamente permeável para absorver tudo dos entrevistados, e seletivo para não se confundir com eles. Num texto enxutíssimo, mostrava-os como eram ou como seu olhar de objetividade profissional os via, sem se acumpliciar com os personagens.

Da grande dignidade do saudoso Monsenhor Walfredo Gurgel, o Governador com quem ele conversava todo dia, com direito a entrar a qualquer hora no seu gabinete, no Palácio Potengí, e na residência oficial, ao deputado Fidélis do Amaral Neto, que outros jornalistas e muitos políticos rebatizariam como "Amoral Nato", quando este vinha trazer à base de lançamento de foguetes de Barreira do Inferno seu programa de reportagens para a rede Tupi de televisão, "JB Machado", como Machadinho se assinava no início da carreira, sabia tornar-se interlocutor confiável pela seriedade.

No dia em que um político o atraiu para perto de si, largou a redação para assumir a assessoria de comunicação do governo do Estado no mandato do hoje falecido Tarcísio Maia. Sabia que em jornalismo o assessoramento não se compatibiliza com o batente em veículo de informação. Também por isto, entrou para a história como um dos melhores coordenadores de comunicação social no executivo potiguar, desenvolvendo uma carreira especializada que o mostrou muito bem na prefeitura de Natal e nos últimos anos no Tribunal de Contas do Estado.

Eclético, sem prejuízo de sua dedicação preferencial pelo noticiário político, o Machadinho de batente de jornal incursionava em todas as áreas onde pudesse haver boas reportagens e entrevistas à espera de um repórter de primeira linha. Isto o levou a viagens pelo esporte, pela música e outras manifestações da inteligência humana, sem prejuízo da primeira obrigação, o cumprimento dos três pontos da pauta diária que o jornal impunha a todos os seus repórteres, e de sua acuidade quanto a apresentar o lado humano das ocorrências que descrevia.

Encontrava tempo para esta beleza de desempenho profissional sem prejuízo de outro vínculo empregatício que estabelecera antes de entrar numa redação, um posto no governo do Estado, conquistado ainda nos tempos de colegial em Assu e Mossoró; sem gazear aulas da Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, hoje integrada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E cuidava para sempre que possível não faltar ao expediente sentimental até no máximo às 22 horas junto à namorada, após o que ainda aceitava reuniões com amigos e colegas na "Palhoça" de seu Damasceno até com direito a descidas rumo à "Galinha de Mãe" e aulas de dança no "Francesinha" de saudosa memória.

Seriíssimo na conduta e na produtividade profissional, surpreendia-me que de repente, em nossa redação, sem interromper a datilografia de um texto, "Machadinho" contasse uma piada ou soltasse oralmente uma brincadeira capaz de fazer o mais sisudo colega soltar um largo sorriso redação adentro e afora. Sua tirada ensejava as mais diversas manifestações e levaria à criação, pelos colegas, de verdadeiras marcas registradas de humor. O "Bom, basta!" de BW, como ele citava e convocava Berilo, fez história como chamamento ao riso.

Intrigava-me agradavelmente saber como Machadinho ainda encontrava tempo para tantas destas ações profissionais e de relacionamento enquanto urdia, feito formiguinha ou abelha, uma de suas mais profícuas criações, a fabricação de apelidos que ainda hoje o caracteriza.

Houve deles que se imortalizaram para todos nós, mas chamava nossa atenção o transformismo que o autor impunha a algumas de suas criações.

Fui e tenho sido alvo de uma dessas metamorfoses. Fui "Gênio", depois "Óxigênio", com acento no ó, adiante "Xênio", depois voltei a "Óxigênio", e quando menos esperava estava reduzido ao "Óxi" com que me trata até hoje.

A melhor dessas trajetórias de apelidos foi uma que marcou um rapaz que montou um misto de barzinho e lanchonete alguns metros acima da redação, quase na esquina da Rio Branco com a ladeira com que a rua Juvino Barreto trazia o trânsito de Petrópolis para a Ribeira e vice-versa, onde servia um bife acebolado de botar água na boca.

Ao saber que ele se chamava Vicente de algum sobrenome, Machadinho logo passou a tratá-lo como "Vicente Celestino", referência ao grande menestrel de antanho. Adiante, "Vicente Celestino" se limitou a "Celestno" para meses depois passar a ser apenas "Tino". Outros meses adiante, Machadinho lhe devolveu à completude da palavra.

Porém, decerto achando pouco o "Celestino" desprovido do nome original, apensou ao apelido o sobrenome de famoso diretor do Atheneu, o professor Celestino Pimentel. De repente, orgulhosos ex-alunos do Atheneu abrigados numa mesma redação se alegravam ao serem servidos pelo nome do velho mestre. Isto, porém, durou apenas semanas, porque Machadinho amputou o "Celestino" que na sua tessitura mental havia atraído o "Pimentel".

Passou a chamar Vicente apenas de "Pimentel". Quando nós começávamos a nos acostumar com a nova qualificação, porém, ele cortou "Pimen", tratando como "Tel" o coitado do Vicente, que ria a valer com essas novas certidões de seu nascimento. Ficou assim durante outras semanas, até um dia Machadinho apensar ao apelido de ocasião um pré-nome da literatura.

Assim, Vicente foi "Guilherme Tell" até o autor impor um apelido à sua nova denominação. Desta forma, o mesmo Vicente de origem passou a ser "Gui Gui". Ao que me consta, este apelido reinou enquanto trabalhei na redação de Machadinho, na época já transferida para o prédio do antigo cinema Poti, na avenida Deodoro, no alto de Petrópolis. Não me surpreenderia, porém, se Machado tivesse carimbado o preparador de tira-gostos com muitas outras denominações a partir daí, pois, muito fiel às suas ligações, não deixou de frequentar o bôínho de Vicente depois de migrar para a nova sede do "Diário de Natal".

Senhor de uma lhaneza sem afetação a toda prova, Machadinho tem sido homem de coragem cívica e física. Atestam-no algumas ocorrências que surpreenderam muitos de nós. Certo dia, um motorista de ônibus o trancou na subida da "Rio-Bahia", que leva da Cidade Alta ao Alecrim, e ele se irritou ao ponto de resolver tirar satisfação. Ultrapassou o grande veículo e numa manobra perigosa fê-lo parar abruptamente, quase batendo em seu automóvel. Desceu do carrinho, onde ficaram seus filhos, dirigiu-se à porta dianteira do ônibus, disse o que quis com o condutor e chamou-o para as vias de fato.

Covardemente, o "chofé" desceu do veículo trazendo consigo uma grande alavanca de ferro, e mesmo assim Machadinho não recuou. Atracou-se com ele, tomou-lhe a ferramenta, dominou-o e emprestou-lhe muitas cacetadas de punho cerrado. Até hoje me pergunto se então ele pensou que enquanto brigava com o motorista o cobrador do ônibus poderia, em solidariedade ao companheiro de trabalho, desequilibrar a contenda.

As azáfamas da vida nunca o modificaram. Pelo contrário, sublimaram nele o jornalista e o escritor que almejava ser ainda quando, nas ruas e praças de Assu, era o menino de dona Letícia, o "João de Edinor", varão entre uma palma de irmãs num núcleo familiar altamente unido, querido e respeitado em sua terra natal, como pude testemunhar desde o final dos anos sessenta, quando visitei a cidade pela primeira vez.

Visto o perfil de João Batista Machado que a memória me proporciona, desembarco na apreciação do texto de "Política - Atos e Fatos" para confessar a surpresa que me impôs. Toda vida li e com muito gosto todos os escritos de Machadinho que chegaram às minhas pupilas. Sempre vi o bom texto jornalístico em jornal e criações ainda mais elaboradas em seus livros.

Quando me falou sobre o décimo título, deixou claro que reuniria artigos que publicou nos últimos dois anos e meses no matutino impresso "Novo Jornal". Cada um num dia da semana, ele, eu, Albimar Furtado, Franklin Jorge, Jomar Morais, Paulo Tarcísio Cavalcanti e outros jornalistas conterrâneos, alguns dos quais brilham também na reportagem do periódico, atuamos no "Novo Jornal" como colunistas ao lado de alguns autores oriundos de outros campos profissionais que dão verdadeiros "shows" de escrita e cidadania. É o caso da professora Eleika Bezerra e do empresário Bira Rocha, para não me estender muito e adotando-os como modelo desta contribuição ao periódico.

Na entrega, Machadinho preveniu-me para um caso de "dejavu", como diria Franklin, pois reveria textos que já havia absorvido no dia a dia do jornal. É aí que reside minha descoberta. Lidos separadamente, um a cada semana, os textos completam isoladamente seu desiderato de esmiuçar determinados assuntos, algumas ocorrências e uma ou outra evocação. Belo trabalho de repórter, e ponto final.

Quando os sorvi de uma levada só, missão que aguarda cada um de vocês, deparei-me não mais com as várias árvores de um jornalismo cotidiano, e sim com verdadeira floresta de cidadania.

Um texto sobre Tancredo Neves pode preencher seu papel ao tentar esgotar a focalização do personagem, o mesmo que ocorreu com relação a João Goulart e outros nomes nacionais e locais, da mesma forma como uma nuvem de ternura paira sobre seu depoimento a respeito de a doce e meiga figura humana de dona Tereza Maia, a primeira dama do governo potiguar que, distante de olhares de curiosos, cultivava amizades com pessoas simples da fauna natalense, como Dalila de Redinha, a famosa preparadora de "ginga", iguaria de peixe frito com tapioca cuja qualidade depende da mão de quem a traz ao mundo.

No dia a dia de Machadinho repórter, uma reverberação contra a corrupção pode exaurir o tema, a exemplo de outro texto que enfrenta a desonestidade que firmou jurisprudência no Brasil. A mesma plenitude ocasional se vê num outro artigo sobre as organizações não governamentais que vivem de explorar dinheiros governamentais ou nouto, sobre a oposição aos variados dutos infamantes que a corrupção construiu em todo o país.

Antes de receber os originais do livro, eu conhecia todas as árvores descritas por Machadinho no alto da sexta página do "Jornal de Hoje". Tinha convicção de que compartilharia um reencontro textual. Quando mergulhei na nova leitura, deparei-me não mais com as árvores, mas com uma grande, imensa floresta que vem a ser o conjunto da obra contida neste livro. Nada de reencontro com enfoques isolados. Eis-me diante de um grande tema, que perpassa todos os textos.

É como se desde a redação do primeiroo artigo, Machado se impusesse desenhar um mapa sem que cada pedaço perdesse outros objetivos específicos. Assim como Ernest Remingway descreveu a inflação que corroia a Alemanha do fundo do poço após o "crash" de 1.929 sem sugerir ao leitor que lhe tivesse incutindo uma preocupação inescapável em relação ao problema e seus possíveis desdobramentos, um dos quais, o pior deles, se imporia através da ascensão do nazismo.

Impressionou-me no livro o quanto Machadinho extrapolou o espaço do jornalista e do historiador para nas linhas e entrelinhas dos mais variados textos compor obra una, na qual a gente vê projetar-se um ente rarefeito nas sociedades brasileira e potiguar destes anos. Refiro-me ao cidadão, para dizer que "Política - Atos e Fatos" é uma verdadeira ode à cidadania, à necessária capacidade de reagir, à irresignação contra os malfeitos que agridem a alma do brasileiro e que, infelizmente, ainda não fez a população acordar para um levante em defesa pelo menos das futuras gerações de patrícios.

Quem começar a ler este livro pensando em atos e fatos de política estará, como eu, predisposto a enfrentar algo que o título sugere e terminará reconhecendo que conheceu um conteúdo muito maior e melhor do que a proposta aparentemente contida no título. Para mim, o verdadeiro título deste livro é a Cidadania que o autor nos recomenda em todos os teclares de seu texto.

Com este livro, João Batista Machado demonstra estar se credenciando a no futuro receber dos conterrâneos leitores o absoluto reconhecimento como autor de uma grande contribuição à formação moral dos futuros cidadãos norte-rio-grandenses. Natal, 03 de maio de 2.012.

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(*) Prefácio do livro "Política em Atos e Fatos", que o jornalista e historiador João Batista Machado lançará na próxima quarta-feira, 4, às 18 horas, na sede da Academia Norte-rio-grandense de Letras

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