segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sem parar: Mariano Tavares volta à cena musical
 
Por Redação em 01/07/2012 às 16:30 - Gaseta do Oeste
Novo trabalho que será lançado no dia 5, às 22h, no Séletc Nouveau
FOTO: DIVULGAÇÃO
 
Mariano Tavares: de Rimbaud a Shakespeare

Mariano Tavares faz parte da nova geração de músicos do Estado. Lançou seu primeiro trabalho com músicas autorais e um estilo diferenciado. "O SoBrado" (2005) foi apenas o início da carreira de Mariano Tavares. Agora, ele retorna com um novo CD, intitulado "Sem Parar", que faz justiça à disposição do artista em continuar produzindo um repertório ligado à poesia e à música folk.

Mariano destaca que o título do novo trabalho foi inspirado da canção que abre o disco, mas também se refere à relação que mantém com o palco e com a canção, que, apesar dos aparentes hiatos, nunca se interrompe. Na perspectiva do artista, involuntariamente o álbum Sem Parar acabou resultando num grupo coeso de canções que, cada uma a seu modo, acabam dialogando com a ideia de tempo, e se reportando "à continuidade de tudo aquilo que não controlamos no mundo: a natureza, o sonho, o amor, o acaso, a beleza, o futuro, a inocência, a morte; tudo aquilo que desliza nos espaços da vida, continuamente, ininterruptamente, sem parar".

Para ele, neste novo trabalho o objetivo é sempre o de conseguir alcançar uma voz própria, que não remeta a influências, mas a um discurso musical e poético próprio, autoral. "Por outro lado, nunca nos livramos daquilo que nos formou ou forma-nos enquanto artistas, daquilo que lemos, vemos ou ouvimos durante toda a vida. Influência é uma questão de observação e assimilação não apenas de outros discursos artísticos, mas da própria vida, da experiência. Para mim, em Sem Parar há uma presença clara do folk e do country norte-americanos, que eu tenho ouvido muito nos últimos tempos. Mas, até já me disseram que isso só fica claro para mim mesmo. No mais, são as influências de sempre: a canção tradicional brasileira, a música regional e o rock, diluídos nessa tentativa de encontrar o próprio som, a própria voz", declara o artista.

Segundo Mariano, de modo geral, o novo disco vem sendo muito bem avaliado e recebendo excelentes críticas. "Para mim, um álbum nunca é uma simples coletânea de peças avulsas, mas uma obra inteira, um grupo de canções que representa as visões de um momento que o artista está vivendo. Durante o processo de gravação, lembro que gostava de observar como ele ia, aos poucos e quase involuntariamente, se convertendo numa obra inteira e coesa. Comparando-o com O SoBrado, meu primeiro álbum, penso também que Sem Parar é uma obra mais orgânica, com uma presença corpórea mais clara, mais aparente e mais sensível. Vejo-o como uma evolução, nesse sentido. Acho que ainda há muito o que esperar desse álbum, estamos apenas começando, fazendo agora os primeiros shows e tentando trilhar esse caminho movediço e cheio de incertezas que é o de apresentar uma obra autoral inédita", salienta.

Avaliando o cenário musical do Estado, o músico acredita que podemos estar vivendo "o melhor momento da música popular no Estado, em termos de produção e volume, sobretudo porque só vejo crescer nos artistas uma consciência em relação à ideia de autoria. Creio que a construção da tal "identidade local", ainda que eu não seja chegado a regionalismos extremados, passa necessariamente por aí, pela composição, pela construção de um discurso que nasça e dê frutos aqui, para depois trilhar outros caminhos. Produz-se muito mais música no Rio Grande do Norte, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade, do que nas décadas anteriores. Estuda-se mais e melhor também", explica, reforçando que em Mossoró essa consciência ainda está engatinhando. "Vejo os músicos daqui ainda muito presos à reprodução da obra de artistas consagrados. Isso os distancia de um trabalho artístico mais profundo, e da construção de um discurso próprio, autoral. Porém, a chegada do selo DoSol à cidade me parece ser uma luz para isso tudo. Se eles conseguirem desenvolver aqui o mesmo trabalho que vêm desenvolvendo em Natal há anos, vai ser uma evolução e tanto", diz.


‘Pouquíssimas vezes me arrisquei a publicar versos’

A poesia sempre esteve presente nos trabalhos de Mariano Tavares. "A literatura me acompanha em tudo, tanto no meu trabalho artístico e acadêmico quanto na vida mesmo", explica. "Talvez ela me inspire muito mais na forma de viver e de estar no mundo, moldando minha sensibilidade, as vontades, o espírito. Claro que existem escritores especiais, aqueles que vivi mais ou dos quais me aproximei mais, sobretudo os poetas, que mais me interessam. Shakespeare, especialmente, construiu a obra mais impressionante que conheço. Embora seja um lugar comum dizer isso, não há como fugir desse feito. Além dele, releio sobretudo Walt Whitman e Fernando Pessoa, que considero, cada um a seu modo, os dois maiores poetas da literatura. Mas há tanta gente, e em tantas línguas. Wilde, Rimbaud, Dylan Thomas, Sylvia Plath, Emily Dickinson, Drummond, Lorca, é difícil citar", fala, sorrindo.

Porém, apesar de toda a carga de leitura que pode "respingar" no trabalho, Mariano procura uma voz própria. E, diferente de muitos de seu tempo, dedica-se a compor poemas que estejam, já em sua gênese, ligados à música. "Pouquíssimas vezes me arrisquei a publicar versos como poemas, sem o suporte da canção. Digo isso no sentido tradicional: aquele que concebe com sendo um poeta o sujeito que arquiteta versos sobre a página em branco do livro. Acho mesmo que não sou um poeta. Mas a história da literatura antiga está aí para provar que a canção e o poema são faces de um mesmo truque, de uma mesma magia, de um mesmo poder", explica.

Para ele, a forma como um texto ou uma canção nasce nunca é a mesma, a inspiração e a vontade podem vir de qualquer lugar e a qualquer hora. "Há canções que simplesmente 'chegam', como se estivessem prontas e caíssem sobre você, vindas de algum lugar além do seu, enquanto outras podem demorar meses para ficarem prontas, precisam de lapidação, trabalho, transpiração. Muitas vezes nascem de um pensamento, de uma vontade, de uma frase guardada, de uma exigência sua, ou do mundo", complementa.

O DISCO
Baseando-se principalmente nas canções do álbum, o show de lançamento do álbum reconstitui sua sonoridade ao mesmo tempo universal e regional, contemporânea e tradicional, para compor pequenas reflexões sobre o tempo do amor, do sonho, da natureza e da morte.

A banda que acompanhará o cantor é formada por músicos da cena potiguar que participaram diretamente da elaboração do cd: o pianista e co-produtor do álbum, Humberto Luiz (teclado, contrabaixo), e o guitarrista Alison Brazuka (violões, guitarra), além do baterista Gustavo Almeida. Juntos, o trio forma a banda Brazuka Jazz, que atua no cenário da música instrumental em todo o Brasil. Para o show em Mossoró, Mariano contará também com a participação especialíssima da cantora Renata Falcão.

Tendo como base principal as canções do novo CD, no repertório do show Mariano Tavares incluiu ainda a canção Idade de Ouro (poema do Francês Arthur Rimbaud musicado pelo artista, inédita em disco), novas versões para algumas canções de seu primeiro álbum (Dias de Espera, Disfarce e Carnaval), além de releituras para clássicos de Raimundo Fagner, Los Hermanos e Gilberto Gil.
Depois da apresentação em Mossoró, o show segue com apresentações já marcadas em Assu (07/07) e Natal (14/07).

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