Maria Eugênia Maceira Montenegro teve uma existência longeva, recheada de momentos felizes. Era filha de pai português e mãe mineira. Aos 90 anos de idade - quando partiu para o outro lado - estava em plena lucidez de invejar qualquer pessoa. Deixou a cidade de Assu - terra que ela tanto amou - literariamente "mais pobre e deserdada de seu talento".
Aparentemente modesta, amiga dos seus amigos. Tratava as pessoas com carinho e zelo. Aparentemente ingênua. Como ela gostava das palestras e das reuniões sociais na calçada de sua casa do largo da igreja matriz, que hoje leva o seu nome.
E como eu gostava de conversar com ela, Maria Eugênia, na calçada da sua residência que eu passei a frequentar desde os meus tempos de menino de calças curtas no Assu. E ela sempre a me falar da grande poesia, dos pensamentos amargurados de João Lins Caldas, seu amigo, crítico e maior incentivador para o seu ingresso nas letras da terra potiguar.
Poeta, historiadora, palestradora, artista plástica. Aquela escritora pertencia a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, cadeira número 16, desde 1972 (sucedendo Rômulo Wanderley), e tinha cadeira também, na Academia Lavrense de Letras, desde 1970.
Maria Eugênia chegou em terra assuense procedente de Lavras, sua terra natal, interior ao sul de Minas Gerais (cognominada de Atenas Mineira), nos idos de trinta, com apenas 23 anos de idade, acompanhando o seu marido, o jovem recém formado pela Escola Superior de Agricultura de Lavras, chamado Nelson Borges Montenegro, para morar na fazenda "Picada", na localidade de Sacramento, atual e importante município de Ipanguaçu, por onde se elegeu prefeita nas eleições de 1972, como candidata única, pelo partido da Aliança Renovadora Nacional - ARENA. Um fato, penso eu, inédito na política brasileira.
Maria Eugênia, incentivou e apoiou a cultura da terra ipanguaçuense, pois não podia ser diferente para uma intelectual e amante da cultura, da literatura.
No final da década de 50, dona Gena deixou de conviver com as matas verdes e carnaubeiras da Picada ou Itu (importante fazenda da região do Vale do Açu), para fixar residência na aristocrática e poética cidade de Assu, que já vivia naquele tempo em plena atividade literária, com jornais e mais jornais sendo editados, a sociedade praticando as artes cênicas, realizando tertúlias literárias, e seus célebres poetas produzindo versos e mais versos da melhor qualidade.
Dona Gena, passou então a morar num rico casarão da praça da Proclamação, atual Getúlio Vargas, parede-e-meia com Tarcísio Amorim, filho do poeta e memorialista, escritor Francisco Algusto Caldas de Amorim, com quem, talvez, adquiriu muitos conhecimentos sobre o Assu e sua gente evidente.
Não foi difícil para ela, Gena, que já carregava no seu interior, a arte da prosa e do verso, conviver na cidade de Assu, além dos membros da família Montenegro, com os Caldas, de Renato Caldas (poeta de "Fulô do Mato" que o Brasil consagrou), os Amorim, de Pedro Amorim, os Wanderley, de Sinhazinha Wanderley, os Soares de Macedo, de João Natanael de Macedo, os Soutos, de Elias souto (fundador da imprensa diária no Estado potiguar), os Silveira, de Celso da Silveira (que fundou em Assu o 1º museu de arte popular do Brasil), e tantas outras famílias daquela terra de povo inteligente.
Aquela mulher de letras, assuense por escolha e lei, norte-rio-grandense por outorga, colaborou em vários jornais do Assu, de Natal e de sua terra natal (Lavras), como "A Gazeta" e "Tribuna de Lavras". Publicou onze livros, intitulados "Saudade, Teu Nome é Menina" (1962), além de "Alfar a Que Está Só", "Azul Solitário" (poemas), "Perfil de João Lins Caldas" (plaquete), 1974, "Por Que o Américo Ficou Lelé da Cuca", "Lembranças e Tradições do Açu" (história e costumes), "A Piabinha Encantada e Outras Histórias", "Lourenço, O Sertanejo" (romance), "A Andorinha Sagrada de Vila Flor", "Lavras, Terras de Lembranças" e "Todas as Marias" (contos). Tinha ainda os inéditos intitulados "Redomas de Luz" (Epitáfios) e "Poemas do Entardecer".
Sobre a morte, esse "velho tema sempre novo", no dizer do poeta João Lins Caldas, Gena, certo dia, já esperando a morte chegar, me disse: "Não tenho medo de morrer! A morte é o princípio de uma vida. A gente nasce para morrer e morre para viver"!
E ficou o Assu, sem o seu poetar. Os jovens estudiosos da terra assuense perderam (não me recordo a data da sua partida para no outro lado) o seu maior patrimônio cultural. Era ela o maior referencial da terra assuense.
Ficamos nos versos de tanta pureza e ternura que ela escreveu:
Minhas mãos são asas. Taças, Preces: Quando anseio a liberdade, Quando tenho sede de amor, quando minha alma se transforma em dor.
O tempo parou neste instante e à nossa volta a vida suspendeu-se. Somos apenas energia que flui entre corpos, viajantes à deriva por textos sem sentido. Amor sob a forma de sentires, palavras sobre forma de mil textos por descobrir. Bebo de ti, gotas de inspiração, inalo o amor que me ofereces no vento que me afaga o corpo, inspiração profunda, expiração ausente. Colho-te do peito a própria invenção, metáfora, sentido, até ilusão. Quero dizer-te o que sinto mas os teus dedos seguram-me os sentidos e não me permitem soltar as palavras. És letra nua, palavra crua, frase doce e terna que me afaga em cada texto. Canção ritmada, rima incandescente de amor, saudade de um tempo por inventar. Vagueio pelos textos que crio para ti, e nasço, a cada frase tua, como se me lesses em cada olhar.
O JUMENTO
"Não se eleve esse jumento Que isso é coisa muito à-toa No caminho ele se deita No terreiro ele se 'acoa' Apertado na espora Solta um peido e a merda avoa".
Se a voz da experiência é sabia como dizem, é bom escutar o que dona Jessie Gallan tem a dizer. Aos 109 anos, ela simplesmente é a mulher mais velha da Escócia, revelou o seu segredo para ter uma vida longa e saudável: se alimentar com mingau e manter distância (tipo, corra!) dos homens. Ela, que nunca se casou, atualmente mora num lar para idosos.
“O meu segredo para uma vida longa foi ficar longe dos homens. Eles causam muito mais problemas do que realmente valem. Também tenho a certeza de que fazer muito exercício, comer uma tigela de mingau quente e agradável a cada manhã. E ah, nunca se casar! “, frisou ela.
Ela diz que adora o fato de ter sido autossuficiente a vida inteira. “Sempre tive bons empregos com pessoas muito agradáveis. É incrível ver como o mundo está completamente diferente agora do que aquele mundo que onde cresci.” Quando jovem, Jessie trabalhou com gado leiteiro, foi ajudante de cozinha em uma fazenda e trabalhou num hotel que recebeu as ilustres visitas darainha Elizabeth enquanto ela era funcionária, tsá?
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Aceite-me, querido Deus, aceite-me por um momento. Deixe os dias órfãos gastos sem Você serem esquecidos. Alongue este breve instante por Seu amplo colo, mantendo-o sob Sua luz. Vaguei atrás de vozes que me atraíram…deu em nada.
Permita-me, agora, sentar em paz e escutar Suas palavras no espírito de meu silêncio. Não mostre Suas costas aos segredos obscuros do meu coração: queime-os até que Seu fogo os ilumine.
*/Rabindranath Tagore
[Poema do livro “O Coração de Deus: Poemas Místicos de Tagore Rabindranath]
Não, meus amigos, não vou falar de Papai Noel ou do pinheiro com bolinhas. E, sim, da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, de onde acabo de chegar. Fui participar da terceira edição do Festival Literário da cidade. Uma festa em torno dos livros de ficção e não ficção. A capital do estado possui 900 mil habitantes e se estira preguiçosa e ensolarada, entre o estuário do rio Potengi e o mar cor de turquesa. Paisagem, aliás, que esse patrimônio nacional que foi Luiz da Câmara Cascudo apreciava da janela de sua biblioteca, na Ribeira, onde dormem gostosamente milhares de documentos sobre sua vida e obra.
O FLIN é obra de um prefeito, Carlos Eduardo Alves, ligado nas coisas da cultura e da história, um secretário de cultura, Dácio Galvão, afinado com os movimentos literários mais recentes e uma gente calorosa e simpática. Gostar de livros é tradição antiga entre os políticos natalenses. Aluysio Alves, que levou eletricidade ao estado nos anos 60, foi grande editor nos anos 70 e 80! Assim, é impossível não ser feliz em Natal!
O festival reuniu Gilberto Gil, os poetas Antonio Cícero e Eucanaã Ferraz, Affonso Romano de Santana, entre outros. “Profissional do entusiasmo” que sou, fui falar de nossa disciplina. De como reinventá-la, de como mantê-la viva, de como animar os jovens professores. Fui contar das dificuldades que temos no nosso dia a dia como docentes ou pesquisadores, mas, também, dos bons resultados quando não desistimos de bater tambores e lembrar, a todos os brasileiros, que temos passado. E, que esse passado, faz parte do nosso hoje, do nosso “aqui e agora”! Que ele se cola a nossa pele. Mais: que é importante conhecer o ontem, para transformar o amanhã. Sobretudo se nossa voz se mistura aquela dos poetas, dos músicos, dos ficcionistas.
No palco, tive a feliz companhia de um jovem professor da UFRGN, Francisco Santiago, e de um jornalista de renome, Cassiano Arruda Câmara. Que bom momento para falar de arquivos, biografias, romance histórico e, sobretudo, da “cozinha do historiador”. Houve muitas perguntas sobre como interrogamos os documentos, as surpresas e decepções com as leituras, as dificuldades em escrever… Todos sabemos que o prazer é coisa misteriosa e que, aquele que tiramos de uma conversa gostosa, se deve a bem pouca coisa: um clima de conivência rapidamente estabelecido, uma confidência inesperada, um sorriso roubado.
Uma boa conversa também tem seus não ditos, seus silêncios. Isso, tanto vale para os vivos quanto para os mortos. Pois, como bem disse Robert Darnton, “fazer história e conversar com eles”. Respondi, falando sobre esse prazer! Sobre de como fazer uma história menos arrogante, que produza verdades mais modestas, pois não há mais certezas. Respondi dizendo que é mais importante evocar, do que provar ou demonstrar. E insisti: a história está no gerúndio: “se fazendo”. E, por cada um de nós.
Muito bom foi estar com os jovens historiadores e professores, entre os quais conheci seminaristas que, à luz dos ensinamentos do Papa Chico, querem dialogar com história. Fazer uma nova história da Igreja, não apenas no papel, mas, sobretudo, nos atos. O sorriso de todos ali reunidos, a alegria em estarmos juntos é, para mim, uma prova viva de que a História quer mudanças, quer se reinventar, escapar das fórmulas prontas. Os alunos querem maior liberdade para se lançar em temas que não são necessariamente aqueles dos seus orientadores. Já professores estão desanimados pelo clima que se instalou nos Departamentos: falta de recursos, desinteresse das autoridades, falta de perspectivas. Enfim, o momento é para reflexão, mas, não, para desânimo. Nossa tarefa, “educar”, não é dar um bem definitivo, mas, despertar disposições. Nisso temos que nos engajar.
A História e os historiadores têm hoje seu lugar na cena intelectual e literária brasileira. Se estamos na época da comunicação, por que não valorizar a “transmissão”? Transmissão que, graças à História, nos convide a passar o sentido das heranças, dos valores, do saber fazer e das idéias. Tudo o que Câmara Cascudo já fazia. Tudo de bom que encontrei em Natal! - Texto de Mary del Priore.
Como aconteciam os namoros no sertão de outrora. Suas regras, limitações e como se “adiantavam os papéis” com honra, decoro e respeito.
Autor – Rostand Medeiros
No antigo sertão potiguar, tal como hoje, as pessoas mantinham em suas existências uma tradicional preocupação com o medo das secas e a sempre renovada esperança das chuvas. Mas também era uma época onde a maioria da população sobrevivia com poucas possibilidades de ascensão financeira, em meio a uma intensa cobrança em relação aos costumes sociais.
Segundo apontam aqueles que conhecem a história do sertão potiguar, nas relações humanas no passado, o namoro era antes de tudo um tórrido drama com pinceladas de comédia e extrema teatralidade.
Namoro Tradicional
A coisa toda começava com olhares rápidos e gestos extremamente controlados. E o olhar nestes casos era direto nos olhos. Quase sempre discreto e fugidio. Além do mais, se o pretendente “escorregasse” as íris para outras partes do corpo da pretensa amada, isso poderia gerar vários e sérios problemas!
Já o tocar-se, sentir a pele e o calor da pessoa que se desejava era algo infinitamente mais complicado. Tudo poderia, por exemplo, começar com um discreto e pequeno toque entre as mãos dos pretendentes, na hora de receber a hóstia, em uma missa dominical na matriz da cidade.
Vale frisar que para aqueles jovens, na maioria das vezes, bastava essa simples troca de olhares, esse leve encontro das mãos, para que em seus corações e mentes existisse a certeza que eles estavam concretamente “namorando”.
Em muitos casos, principalmente quando havia forte afinidade entre as famílias envolvidas, a relação evoluía para rápidos, esquivos, inocentes e emocionantes encontros furtivos em festas de padroeiro, casamentos de amigos e contatos rápidos nas esquinas.
Mesmo com a anuência de ambas as famílias sobre aquela relação, não significava que “os bons costumes, o decoro e o recato”, sempre exigidos para uma moça de família e um rapaz de origem tradicional, fossem quebrados com coisas como abraços apertados, mãos passando pelos corpos e languidos beijos de boca.
Muitas vezes, para aliviar paixões sempre avassaladoras, os futuros nubentes eram forçados a recorrer a cartinhas e bilhetinhos levados pelas tradicionais “comadres”. Onde não faltavam segredos temperados de ciúmes e dúvidas atrozes, que assoberbavam principalmente os amargurados dias do amoroso sujeito.
Quando a família da futura noiva aceitava a presença do possível pretendente, mesmo ele sendo filho de uma família amiga e tradicional do burgo, acontecia toda uma série de formas de condutas e gestos, onde o rapaz era milimetricamente analisado em tudo que fazia.
Mas, para muitos destes jovens, está na casa da dita “namorada”, mesmo que cercado por pares de olhos extremamente atentos era algo que lhe causava uma intensa emoção.
Se um dia fosse convidado a sentar-se na sala de visitas, quando no interior do sacrossanto recinto, após cruzar a incrível linha divisória do portão de entrada da casa da amada, este era capaz de sofrer vertigens.
Para está neste local o garboso rapaz via-se obrigado a redobrados cuidados com a indumentária, com o lustro dos sapatos, o asseio do chapéu e outras coisas que o deixavam com boa aparência.
A nova situação exigia cuidados, delicadezas e rapapés. Dizem que normalmente o futuro sogro pouco aparecia. Somente a futura sogra estava presente.
Se esta fosse uma mulher tranquila e o pretende abastardo, talvez o que não faltasse no rosto da futura sogra fossem sorrisos. Nesta situação poderia surgir uma fatia de bolo e um copo de suco.
Sempre a conversa era amena, cerimoniosa, em meio a intensos desejos contidos. A pesada solenidade do momento somente era quebrada quando, por exemplo, a futura sogra colocava a jovem para tocar algum tipo de instrumento musical e assim mostrar as prendas da filha. Se as qualidades musicais da garota fossem sofríveis, o tormento era magnificamente suportado por quem andava doido para ouvir outro tipo de música.
Podemos dizer que, com algumas variações sobre o tema, muitos relacionamentos duradouros nasceram desta forma. Mas vale frisar que neste artigo comentamos até agora sobre namoros consentidos entre jovens de famílias que se conheciam e mantinha relações.
E quando o par de querubins desejavam a união, mas a família da noiva não consentia o namoro em hipótese alguma?
“Bulir”
Bem, nestes casos o jovem e impetuoso rapaz poderia chegar um dia na casa da amada, fazer a jovem passar a perna por cima do lombo de um burro, ou de um cavalo, e levar a moça para algum lugar escondido e ermo, onde a relação seria na prática consumada. Quando acontecia essa consumação, se dizia no sertão que o rapaz “buliu” com a garota!
O problema é que este tipo de atitude quase sempre gerava toda uma sorte de problemas e poderia fazer muito mal a saúde do garboso rapaz!
Começa que se a família da jovem fosse formada de uma falange de homens “dispostos”, que não se inquietavam diante da “cor e do cheiro do sangue”, caso o enamorado não assumisse os erros cometidos certamente seria morto.
Isso quando a família da jovem tinha alguma pretensa ideia de fazer o casamento, se não o pobre rapaz era simplesmente eliminado!
Mesmo que a família da garota não possuísse no seu seio homens dessa natureza, mas tivessem condições financeiras, o que não faltavam nos sertões de antanho eram “cabras” dispostos a ir buscar o jovem enamorado (ou matá-lo) onde ele estivesse. Nem que fosse “no oco do mundo”. Além do mais estes homens que perseguiam e matavam os rapazes que raptavam (e “buliam”) com as meninas de família, estavam realizando uma tarefa plenamente aceita pela sociedade sertaneja do passado.
Mas existiu uma forma de consumação de uma relação entre dois jovens no sertão potiguar que é extremamente singular e hoje quase totalmente desconhecida – O “Roubar a noiva”.
Ao invés de explicar de forma pormenorizada, decidi trazer aos leitores do TOK DE HISTÓRIA um material que é fruto de uma entrevista que fiz com um homem do Seridó Potiguar, de família tradicional, nascido na década de 1920, muito lúcido, com quem tive a oportunidade de conversar em 2014 sobre as antigas relações do sertão de outrora.
Por razões outras esta pessoa pediu anonimato para narrar esta interessante história e que descrevesse os personagens aqui envolvidos com nomes fictícios.
“Roubar a Noiva”
Estamos nos primeiros anos da década de 1920, em uma antiga e tradicional cidade da região do Seridó Potiguar. Os jovens Zito e Mariazinha começaram a trocar sinais típicos dos enamorados daquela época, onde a praxe exigia que tudo fosse com muito recato, discrição, em razão das convenções sociais daquele tempo e o medo da reação da mãe da jovem seridoense.
Eles agora eram namorados, mas em sua pequena urbe apenas os amigos mais próximos sabiam o que ocorria. Era uma relação onde o que mais existia eram olhares, sorrisos, quando possível algum diálogo e raramente algum tipo de contato físico.
Logo Zito soube que a sua pretensa futura sogra não admitiu qualquer ideia de um namoro entre ele e Mariazinha. Para Dona Carminha aquela troca de olhares e sorrisos não poderia continuar.
Mas esta situação, ao invés de demover o rapaz da sua intenção, o fez ver que só fugindo com a sua amada eles conseguiriam a união que desejavam.
Logo surgiu a melhor ocasião para realizar a fuga; durante a festa do padroeiro da igreja mais nova do lugar. A cidade estaria com uma movimentação bem maior que era normal, com a presença de muitas pessoas de outras localidades circulando na praça principal entre as barracas e na procissão.
Como era o costume da época para esses casos, Zito então convocou os seus amigos mais próximos para lhe ajudarem na fuga de Mariazinha. Já a noiva foi informada das intenções de seu amado e aceitou o pedido para fugir. Através de amigas ela soube que deveria se encontrar em sua casa, em dia combinado, aguardando um sinal determinado, em hora especificada e só então ela poderia deixar o lar paterno.
A tradição deste ato para forçar um casamento, hoje praticamente extinto, mostrava que a ajuda dos amigos era tanto para ajudar Zito a tirar Mariazinha de casa, mas também para garantir, sob o peso de se tornarem conhecidos como mentirosos e sem honra, que o rapaz não “buliu” com a sua amada.
Em uma época onde não existia a televisão para ditar os horários caseiros e as pessoas jantavam por volta das cinco da tarde, Zito e seus amigos deixaram a comida de lado e, em uma área fora da cidade, se dedicaram a equipar seus vistosos alazões com arreios e selas. Era uma precaução para o caso da fuga de Mariazinha deixar de ser uma ação discreta e a velocidade das alimárias se tornar um fator preponderante para o sucesso da importante empreitada.
Às seis horas, na hora popularmente denominada “Boca da noite”, a comitiva entrou na pequena cidade seridoense na maior discrição. Devido à festa, não era incomum a presença de grupos de cavaleiros vindos dos sítios e localidades próximas. Para quem visse aquele grupo de rapazes montados, com Zito à frente, teria a ideia que eram apenas mais alguns jovens que vinham aproveitar os festejos do padroeiro.
Logo os cavaleiros chegaram ao sobrado do pai da moça, conhecido como Pedro Estevão, e o sinal previamente combinado foi emitido. Mariazinha, entre assustada e decidida, saiu de casa e montou na sela do cavalo de Zito. Naquele momento em que ela abraçou seu amado sobre a sela do seu cavalo, foi o instante em que até então seus corpos chegaram mais próximos um do outro!
Depois deram a volta no quarteirão e, na maior tranquilidade, Zito deixou a garota na casa do comerciante Romulo de Antônio Moreira, um amigo do seu pai. Este, junto com a sua esposa Santinha, seriam as pessoas que guardariam a jovem Mariazinha até o dia do casório.
Romulo Moreira foi então à casa de Pedro Estevão e Dona Carminha para comunicar formalmente que Zito havia “furtado” Mariazinha e que ela estava na sua casa, resguardada, protegida, que agora ela era noiva e de lá só iria sair para casar.
Para os pais da moça aquele comunicado, feito por um próspero comerciante da localidade, era a certeza que aquilo era um fato consumado. Pedro Estevão e seus familiares não iriam tirar Mariazinha à força da casa de Raimundo, sob o peso de quebrar uma tradição secular no Seridó e iniciar uma intriga duradoura.
Agora o fato estava consumado e os preparativos do casamento tiveram início.
E, como não poderia deixar de faltar neste tipo de história, os dois foram felizes para sempre!
Modernagem
Ao logo das décadas o mundo mudou, os costumes foram alterados e as relações entre os jovens no sertão seguiu o mesmo caminho. O namorar deixou de ser salada de maneirismos e salamaleques, sustos e emoções.
O namoro sofreu profunda modificação de sentido e assumiu uma importância jamais imaginada nos relacionamentos do passado. Adquiriu diversos sentidos e proporções capazes de se confundir com a união estável, que se formaliza ainda que os envolvidos não vivam sob o mesmo teto.
E não vamos esquecer o “ficar” (com exclusividade ou sem ela)!
O infinito não tem janelas nem porta.
Seguro por um fio invisível o tempo,
que pára na ponta dos meus dedos. Inalo o amor que a vida me oferece no vento que me afaga o corpo. O tempo parou, à minha volta. A vida suspendeu-se, no silêncio contido nas letras que escrevo, luz e saudade, esperança e eternidade. Quero um tempo só meu,que seja infinito. Escuto a voz do vento, que chega como canto suave duma outra dimensão, como canção ritmada, rima incandescente de amor, saudade de um tempo por inventar. O céu escurece, preenche-se de estrelas, e do nada me faço gente, corpo presente. É no silêncio da noite, à luz da Lua, que transformo meus sonhos em realidade.