Em por Alex Medeiros
A primeira paçoca a gente nunca esquece. É para um jovem bebedor de cerveja o que o sutiã é para a menina-quase-moça. Eu só fui entender a maravilhosa combinação cerveja e paçoca depois que conheci o histórico bar do simpático casal Odeman e Sílvia. Já faz algum tempo.
A primeira paçoca a gente nunca esquece. É para um jovem bebedor de cerveja o que o sutiã é para a menina-quase-moça. Eu só fui entender a maravilhosa combinação cerveja e paçoca depois que conheci o histórico bar do simpático casal Odeman e Sílvia. Já faz algum tempo.
Nem entrara ainda na faixa dos vinte anos, em 1979, quando pisei pela primeira vez no ponto sagrado dos boêmios da cidade, a velha Confeitaria Atheneu, instalada na esquina do Largo do Atheneu, uns trinta anos antes de se deslocar para a casa onde está funcionando agora.
Naquele tempo, me avisaram os históricos frequentadores, já nem era o endereço original da pequena Natal das décadas anteriores. Fora fundada em 1954. Bastaram duas visitas para que o lugar se tornasse um destino costumeiro das minhas andanças furtivas entre Candelária e Petrópolis.
Minha vida estudantil ficou marcada pelas dezenas de garrafas de cerveja entornadas na ilustre calçada. Quando minha geração decidiu fazer política, embarcando nos partidos e tendências esquerdistas que se organizavam na cidade, o bar assumia a função de um festivo comitê.
Odeman conquistava todos com seu ar paternal, o olhar sereno e sertanejo do meu pai. Tinha até os mesmos quatro remanescentes dentes inferiores, como Seu Luís Cleodon de tanta saudade. A gente se sentia em casa celebrando a vida que parecia uma corrente sem fim.
Depois da pregressa e efêmera militância partidária, sobrou-me a atividade poética e etílica, discussões noturnas sobre passeatas do dia nacional da poesia, festival de artes do Forte, e um deslocamento de alguns anos para São Paulo; pausa para construir meu próprio lar.
Na volta, meados dos anos 1980 – pós Diretas Já – o reencontro semanal com os amigos na Confeitaria, o prazer de ser alvo do carinho de Odeman. Meus dois primeiros filhos, jamais batizados nas igrejas, estiveram no meu colo durante liturgias cervejeiras. Com direito a fotos para a posteridade.
Foi lá, almoçando a consagrada paçoca com cebola roxa, que rabisquei os primeiros textos da campanha publicitária dos 45 anos do Diário de Natal. Estavam comigo, dos que me lembro, Miranda Sá e Marcos Ottoni. Trabalho feito para a saudosa agência Dumbo, do quarteto fantástico Silvino Sinedino, Everaldo Porciúncula, Cassiano Arruda e Joacy Medeiros.
A inspiração veio de uma adolescente que passou entre as mesas e sumiu numa residência da vizinhança. Eu queria uma referência ao filme da Valisère, criado pela agência W/Brasil, de Washington Olivetto, com a então jovem atriz Patrícia Lucchesi.
A garota que passou por mim tinha aquela sensualidade angelical da menina do primeiro sutiã. Esperei-a voltar e abordei, perguntando se poderia conversar com seus pais sobre um trabalho com ela na TV. Do orelhão da calçada, liguei para a Dumbo.
Avisei a Augusto Lula, nosso diretor de vídeo, que havia uma menina do jeito que eu imaginara para ser a modelo que conversaria com o seu “querido diário” (hoje as meninas têm blogs, vlogs, MySpace e Instagram). E assim, chapado de cerveja, concluí o material que revelaria ao RN a bela Vanessa Gurgel.
Meus bons tempos de colunista no Diário de Natal e redator publicitário foram divididos entre a Confeitaria Atheneu e o Bar de Lourival, outro que marcou a cultura boêmia da cidade. Em Odeman, a Confraria do Peba instalou seu bunker dos amigos nada secretos.
Quando vou ali, tenho a impressão que o mítico Largo cresceu em torno dos sorrisos tímidos de Odemã e Sílvia, fiéis caseiros anfitriões do lugar, impassíveis às mudanças das “mudernage” do mundo informatizado. Discordo de que plano é o mundo, como quer um filósofo desses tempos. Plana é a humanidade do casal.
Em 2016, o bairro de Petrópolis terá uma rara oportunidade de reencontrar a tradição dos muitos blocos e troças que habitaram os anos agitados entre o pós-Guerra e a redemocratização. Pois saibam: se o carnaval nunca parou de respirar ali, é graças à luta de Odeman. Para ele haverá de ser a grande festa.
Foi ele. Foi ele, sim. Foi ele quem tomou a iniciativa de criar o hoje tradicional Baile de Máscara, que de tanto sucesso alcançado transformou o perímetro no marco zero da folia, onde o rei Momo recebe do prefeito a chave da cidade. Ah, foliões, boêmios, poetas, namorados, seresteiros, como é largo no Atheneu o legado carinhoso de Odeman.
Fonte:http://blogs.portalnoar.com/