Era eu menino de calças curtas quando tive o privilégio de ter conhecido Epifânio Barbosa. Tipo baixo, garboso, esperto (no bom sentido), morenão, jeitão sertanejo. Fazendeiro, negociante de gado. Epifâneo era amigo leal de meu avô materno Fernando Tavares (Vemvem) que foi também fazendeiro na região do Assu. Lembro-me de dele, Epifânio, frequentando assiduamente as reuniões sociais na calçada do rico e antigo casarão do casal Maria Eugênia e Nelson Montenegro. Ele era proprietário da famosa Fazenda Cruzeiro, localizada, se não me engano, no distrito do Riacho.
Epifânio tinha um mundo de amigos e era admirado por todos daquela região
sertaneja. Homem de poucas letras, porém sabido nos negócios de compra e venda
de gado, sábio na maneira de viver e ver a vida, espirituoso como ninguém. O
governador Dix-sept Rosado de quem ele era amigo íntimo, que o conheceu através
de Vemvem que tinha amizade estreita com Dix-Sept que fora governador do Rio Grande
do Norte, em 1951,deliciava-se com suas tiradas de espíritos, suas estórias pitorescas,
os seus repentes. Nas festas políticas Epifâneo não perdia a oportunidade para
discursar. A sua fala com aquele seu linguajar matuto, estapafúrdio, que tinha
um sentido filosófico e lhe fazia gracioso, encantava e agradava a leigos e
eruditos.
Epifânio não tinha inibição, era desenrolado. Grosseirão (no bom sentido).
Certa vez, a deputada federal Ivete Vargas, visitava a cidade de Mossoró (RN).
Epifâneo era admirador do então presidente Vargas, resolveu ir até aquela
cidade do oeste potiguar conhecer aquela parlamentar do PTB. Ao chegar no
aeroporto daquela terra do oeste potiguar, uma multidão incalculável se
encontrava presente naquele local, prestigiando a filha do presidente Vargas. Pois bem, Epifânio usando da habilidade que lhe era peculiar, "como um relâmpago
inesperado", meteu-se no meio daquele povão e chegou próximo a Ivete,
batendo forte com uma das mãos no "bumbum" daquela parlamentar que
assustou-se, virou-se e ficou olho no olho com Epifânio que apresentou-se a si
mesmo de forma graciosa, dizendo assim: "Muita prazer, deputada. Epifânio
Barbosa do Assu. Nunca bati na bunda de uma mulher, pra ela não olhar para
trás!"
Epifânio imortalizou-se na "pena fulgurante e adestrada", da
escritora assuense de Lavras (MG), Maria Eugênia, no romance intitulado "Lourenço,
O Sertanejo", cujo conto é o seu protagonista. Aquela mulher de letras,
começa a narrativa do seu belo e original romance dizendo que "na aridez
das caatingas, Lourenço viu-se jogado no mundo. De estatura mediana, saudável,
inteligente, rosto largo e moreno, era figura popular no Vale do Açu, a rica
região onde as carnaubeiras, com seus leques entreabertos, emolduravam de verde
os longínquos horizontes, ao abano constante dos ventos.
Herdara dos ancestrais a tenacidade na luta pela vida. Corpo raiado, espírito
forte, aceitava com a alegria ou sem amargor, tudo o que a vida lhe oferecia em
suas variadas contingências.
Ali nascera e se fizera homem. Integrado à terra, como os verdes juazeiros, que
heroicamente resistem a todos os ventos. Lourenço, ali possuía raízes como as
agigantadas árvores que não poderiam ser transplantadas. Não se aclimataria
jamais em qualquer lugar."
Fica este artigo que tem, sobretudo o sentido de resgatar, relembrar,
apresentar aos mais jovens, Epifânio Barbosa, o que ele representou para o
folclore regional, a pecuária dos sertões do Assu.
Por fim, nas palavras do poeta
cordelista (desconheço o autor), homenageio e reverencio a memória de
Epifânio Barbosa, que diz assim:
Muito gado na fazenda,
Vacas, bezerros, garrotes.
Diversos reprodutores,
Novilhas e novilhotes,
Muitas cabras e cabritos,
Pulando pelos serrotes.
(Fernando Caldas)