quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

UMA HISTÓRIA SOBRE PARNAMIRIM FIELD EM MUITOS IDIOMAS

Imagem 10/12/2023Deixe um comentário

(DETALHE – MUITOS DESSES AVIÕES ACIDENTADOS ESTIVERAM EM NATAL)

Autor – Soutik Biswas – Correspondente da Índia*

Fonte – https://www.bbc.com/news/world-asia-india-67633928

Um Museu Recém-inaugurado na Índia Abriga os Restos de Aviões Americanos Que Caíram no Himalaia Durante a Segunda Guerra Mundial. Soutik Biswas, da BBC, Relata Uma Operação Aérea Audaciosamente Arriscada Que Ocorreu Quando a Guerra Global Chegou à Índia.

Metralhadoras, pedaços de destroços de aeronaves, uma câmera: alguns dos artefatos recuperados no museu recém-inaugurado – Fonte – BBC NEWS.

Desde 2009, equipes indianas e norte-americanas vasculham as montanhas do estado de Arunachal Pradesh, no nordeste da Índia, em busca de destroços e restos mortais de tripulações perdidas de centenas de aviões que caíram aqui há mais de 80 anos.

Estima-se que cerca de 600 aviões de transporte americanos tenham se perdido na região remota, matando pelo menos 1.500 aviadores e passageiros durante uma notável e muitas vezes esquecida operação militar da Segunda Guerra Mundial na Índia, que durou 42 meses. Entre as vítimas estavam pilotos, operadores de rádio e soldados americanos e chineses.

Destroços de muitos aviões foram encontrados nas montanhas nos últimos anos – Fonte – BBC NEWS.

A operação sustentou uma rota de transporte aéreo vital dos estados indianos de Assam e Bengala, para apoiar as forças chinesas em Kunming e Chunking (agora chamada Chongqing).

A guerra entre as potências do Eixo (Alemanha, Itália, Japão) e os Aliados (França, Grã-Bretanha, Estados Unidos, União Soviética, China, Brasil e outros) atingiu a parte nordeste da Índia governada pelos britânicos. O corredor aéreo tornou-se uma tábua de salvação após o avanço japonês para as fronteiras da Índia, que efetivamente fechou a rota terrestre para a China através do norte de Mianmar (então conhecida como Birmânia).

Um típico aeroporto na rota dos aviões americanos – Fonte – Tok de História.

A operação militar dos Estados Unidos, iniciada em abril de 1942, transportou com sucesso 650.000 toneladas de suprimentos de guerra através da rota – um feito que reforçou significativamente a vitória dos Aliados.

Os pilotos apelidaram a perigosa rota de voo de The Hump (O Salto), uma homenagem às alturas traiçoeiras do leste do Himalaia, principalmente na atual Arunachal Pradesh, que eles tiveram que navegar.

Um bimotor de trnsporte Douglas CD-47 voa próximo a montanhas – Fonte – Tok de História.

Ao longo dos últimos quatorze anos, equipes indo-americanas compostas por montanhistas, estudantes, médicos, arqueólogos forenses e especialistas em resgate percorreram densas selvas tropicais e escalaram altitudes que atingiram 15.000 pés (4.572 m) em Arunachal Pradesh, na fronteira com Myanmar e China. Eles incluíram membros da Agência de Contabilidade de Defesa POW / MIA (POW – Prisioners Of War – Prisioneiros De Guerra / MIS – Missing In Action – Desaparecido Em Ação) dos Estados Unidos, cuja sigla é DPAA, a agência dos Estados Unidos que lida com soldados desaparecidos em combate.

Avião de transporte C-87 Liberator Express no aeroporto de Parnamirim, Natal, Brasil, como parte da rota em direção a África, Oriente Médio, India e China – Fonte – Foto de Ivan Dmitri/Michael Ochs Archives/Getty Images.

Com a ajuda de tribos locais, as suas expedições de um mês chegaram aos locais dos acidentes, localizando pelo menos vinte aviões e os restos mortais de vários aviadores desaparecidos em combate.

É um trabalho desafiador – uma caminhada de seis dias, precedida por uma viagem rodoviária de dois dias, levou à descoberta de um único local de acidente. Uma missão ficou presa nas montanhas por três semanas depois de ser atingida por uma terrível tempestade de neve.

Um bimotor de trnsporte Curttis C-46 Commando sobre o belo Taj Mahal, India – Fonte – Tok de História.

“Das planícies aluviais às montanhas, é um terreno desafiador. O clima pode ser um problema e normalmente só temos o final do outono e o início do inverno para trabalhar”, diz William Belcher, antropólogo forense envolvido nas expedições.

Abundam as descobertas: tanques de oxigênio, metralhadoras, seções de fuselagem. Crânios, ossos, sapatos e relógios foram encontrados nos escombros e amostras de DNA coletadas para identificar os mortos. A pulseira com a rubrica de um aviador desaparecido, uma relíquia comovente, trocou de mãos com um aldeão que a recuperou nos destroços. Alguns locais de acidentes foram vasculhados pelos moradores locais ao longo dos anos e o alumínio permanece vendido como sucata.

Fotografia de militar norte-americano que utiliza no ombro o símbolo do CBI – China Burma India Theatre, a designação militar dos Estados Unidos para as áreas de operações aéreas na China, Sudeste Asiático ou o setor entre a índia e a Birmânia (atual Myanmar), durante a Segunda Guerra Mundial.

Estes e outros artefatos e narrativas relacionadas com estes aviões condenados têm agora um lugar no recém-inaugurado The Hump Museum em Pasighat, uma pitoresca cidade em Arunachal Pradesh, situada no sopé do Himalaia.

O Embaixador dos Estados Unidos na Índia, Eric Garcetti, inaugurou a coleção em 29 de novembro, dizendo: “Este não é apenas um presente para Arunachal Pradesh ou para as famílias afetadas, mas um presente para a Índia e o mundo.” Oken Tayeng, diretor do museu, acrescentou: “Este é também um reconhecimento de todos os habitantes de Arunachal Pradesh que foram e ainda são parte integrante desta missão de respeitar a memória dos outros”.

Douglas C-47 acidentado em área de selva – Fonte – Tok de História.

O museu destaca claramente os perigos de voar nesta rota. Nas suas vívidas memórias da operação, o major-general William Turner, piloto da Força Aérea dos Estados Unidos, lembra-se de ter navegado com o seu avião de carga C-46 sobre aldeias em encostas íngremes, vales amplos, desfiladeiros profundos, riachos estreitos e rios castanhos escuros.

Os voos, muitas vezes realizados por pilotos jovens e recém-treinados, eram turbulentos. O clima em The Hump, de acordo com Turner, mudava “de minuto a minuto, de quilômetro a quilômetro”: uma das extremidades ficava nas selvas baixas e úmidas da Índia; o outro no planalto de quilômetros de altura do oeste da China.

C-46 sobre o Himalaia – Fonte – Tok de História.

Aviões de transporte fortemente carregados, apanhados por uma corrente descendente, podem descer rapidamente 5.000 pés e depois subir rapidamente a uma velocidade semelhante. Turner escreve sobre um avião que virou de costas depois de encontrar uma corrente descendente a 25.000 pés.

Tempestades de primavera, com ventos uivantes, granizo e granizo, representavam o maior desafio para controlar aviões com ferramentas de navegação rudimentares. Theodore White, jornalista da revista Life que voou a rota cinco vezes para uma reportagem, escreveu que o piloto de um avião que transportava soldados chineses sem paraquedas decidiu fazer uma aterragem forçada depois do seu avião ter congelado.

Um Consolidated B-24 Liberator – Fonte – Tok de História.

O copiloto e o operador de rádio conseguiram saltar e pousar em uma “grande árvore tropical e vagaram por 15 dias antes que nativos amigáveis ​​os encontrassem”. As comunidades locais em aldeias remotas muitas vezes resgataram e cuidaram dos sobreviventes feridos dos acidentes, recuperando-os. (Mais tarde soube-se que o avião pousou em segurança e nenhuma vida foi perdida.)

Não é de surpreender que o rádio estivesse cheio de pedidos de socorro. Os aviões foram lançados tão fora do curso que colidiram com montanhas que os pilotos nem sabiam que estavam a 80 quilômetros, lembrou Turner. Só uma tempestade derrubou nove aviões, matando 27 tripulantes e passageiros. “Nestas nuvens, ao longo de todo o percurso, a turbulência aumentaria com uma severidade maior do que alguma vez vi em qualquer parte do mundo, antes ou depois”, escreveu ele.

Tripulantes de um C-47 – Fonte – Tok de História.

Os pais dos aviadores desaparecidos tinham esperança de que os seus filhos ainda estivessem vivos. “Onde está meu filho? Eu adoraria que o mundo soubesse / Sua missão foi cumprida e deixou a terra abaixo? / Ele está lá em cima naquela bela terra, bebendo nas fontes, ou ele ainda é um andarilho nas selvas da Índia e montanhas?” perguntou Pearl Dunaway, mãe de um aviador desaparecido, Joseph Dunaway, em um poema de 1945.

Os aviadores desaparecidos agora são lendas. “Esses homens Hump lutam contra os japoneses, a selva, as montanhas e as monções o dia todo e a noite toda, todos os dias e todas as noites durante todo o ano. O único mundo que eles conhecem são os aviões. Eles nunca param de ouvi-los, pilotá-los, remendá-los, amaldiçoando-os. No entanto, eles nunca se cansam de ver os aviões partindo para a China”, contou White.

Um restaurante na Índia – Fonte – Tok de História.

A operação foi de fato um feito ousado de logística aérea após a guerra global que chegou à porta da Índia. “As colinas e o povo de Arunachal Pradesh foram atraídos para o drama, o heroísmo e as tragédias da Segunda Guerra Mundial pela operação Hump”, diz Tayeng. É uma história que poucos conhecem.

*Soutik é correspondente na Índia. Ele cobriu eleições no Afeganistão e no Sri Lanka, o tsunami na Índia e no Sri Lanka em 2005 e a militância na região indiana da Caxemira. Antes de ingressar na BBC, trabalhou em jornais e revistas indianos. Soutik também foi Reuters Fellow na Universidade de Oxford. Ele adora filmes, blues e jazz e acredita que Derek Trucks é o melhor e mais inovador guitarrista vivo.

https://tokdehistoria.com.br/, de Rostand Medeiros

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Escritor Franklin Jorge receberá Medalha do Mérito Literário

Criado no Vale do Açu, entre os regionalismos e a convivência sertaneja, o escritor e jornalista Franklin Jorge (1952) receberá uma homenagem por sua contribuição à Cultura do RN.

Criado no Vale do Açu, entre os regionalismos e a convivência sertaneja, o escritor e jornalista Franklin Jorge (1952) receberá uma homenagem por sua contribuição à Cultura do RN. Sua produção literária é vasta, composta por 7 livros publicados e mais de 50 títulos inéditos.

Franklin atuou em diversos jornais do estado, como Tribuna do Norte e O Novo Jornal, fundou a Pinacoteca do RN em 1983 e a revista digital Navegos, que registra quase 500 mil leitores. Sua obra é das mais relevantes da literatura potiguar contemporânea.

A solenidade de premiação acontecerá na próxima terça-feira (12) às 14h na Assembleia Legislativa do RN em Natal (RN) e foi proposta pelo deputado estadual José Dias.

Livros publicados

• Impróprio Para Menores de 18 Amores, em parceria com Leila Míccolis; Edições Limiar,

1976;

• Isso É Que É, Edições Clima, 1980;

• Poemas Diabólicos, Ministério da Educação e Cultura/Fundação José Augusto, 1982;

• O Spleen de Natal, 2ª edição, Edfurn, 2006;

• Ficções Fricções Africções, Prêmio Câmara Cascudo, 1998;

• O Ouro de Goiás, Instituto José Mendonça Telles, 2012;

• O Livro dos Afiguraves, 2015;

• Verniz dos Mestres, 2020.

Por Dayse Moura, Licenciada em Letras (Português), Especializada em Linguística textual e ensino, Mestranda em Ciências da linguagem e editora-colaboradora do Observatório da Várzea.

https://blogoalerta.com.br/

Carnatal começa nesta sexta-feira com Anitta e Bell Marques

De hoje (8) até domingo (10), Natal a capital do Sol, vai se transformar na cidade da folia com a edição 2023 do Carnatal.

De hoje (8) até domingo (10), Natal a capital do Sol, vai se transformar na cidade da folia com a edição 2023 do Carnatal. A maior micareta fora de época do país completa 32 anos e promete arrastar milhares de foliões pelo corredor e nos camarotes. O evento passou por reformulação nos últimos dois anos.

A festa já inicia em grande estilo com a passagem da cantora Anitta no corredor da folia. No terceiro ano de bloco, a artista promete trazer surpresas para o público. Uma das novidades é o lançamento de Beats Tropical, a nova bebida da Ambev, que será apresentada aos foliões no Carnatal. Esse ano, o Bloco da Anitta foi unificado com O Vale, de Alinne Rosa que também se apresenta hoje.

Em seguida, tem Bell Marques no primeiro dia de folia. O bloco Vumbora, que é um dos mais tradicionais do Carnatal vai passar todos os dias pela avenida.

Para os setores do Comércio, dos Serviços e do Turismo, a micareta é vista como oportunidade de geração de empregos e renda. Segundo os responsáveis pela realização do evento, agora em 2023 há perspectiva de superação dos R$ 60 milhões registrados na movimentação da economia potiguar em 2022.

Veja a programação

Sexta-feira (8):  Bloco Vumbora com Bell Marques / Bloco da Anitta e O Vale com Alinne Rosa

Camarote Beats Thiaguinho / Durval Lelys / Filhos da Bahia / Pedro Sampaio

Sábado (9): Bloco Largadinho com Cláudia Leitte / Vem com o Gigante com Léo Santana / Vumbora com Bell Marques

Camarote Beats - Xand Avião / Hugo e Guilherme /Rafa e Pipo / Os Locos

Domingo (10) Bloco Village com Ivete Sangalo / Vumbora com Bell Marques / 084 com Grafith

Camarote Beats - Jorge e Mateus / Zé Vaqueiro / Banda Eva / Lipe Lucena

Fonte: Novo Notícias

De: https://blogoalerta.com.br/

PERSONALIDADE ASSUENSE

OTAVIANO CABRAL RAPOSO DA CÂMARA nasceu a 15 de janeiro de 1819, na fazenda Arraial, de propriedade do seu avô, coronel Jerônimo Cabral de Oliveira, no município de Assu, hoje Carnaubais. Foram seus pais: o coronel Gabriel Soares Raposo da Câmara e dona Francisca Cabral de oliveira. Bacharel pela Faculdade de Direito de Olinda, em 1843. Chefiou o Partido “Nortista”, depois “Conservador”, em cuja agremiação política teve destacada influência, chegando a exercer o cargo de Deputado Provincial em seis legislaturas: 1852-1853, 1860-1861, 1862-1863, 1864-1865, 1866-1867 e 1870-1871.
Otaviano Cabral representou, também, o Rio Grande do Norte, na Câmara Temporária ou Assembleia Geral do Império (o cargo atual de Deputado Federal) nas legislaturas de: 1853-1856 e 1869-1872, sendo que esta última, por decreto de 18 de julho de 1872, foi dissolvida.
Na qualidade de 1º Vice-presidente da Província do RN, nomeação de 02 de julho de 1853, assumiu o Governo de 19 de maio a 18 de junho de 1858, e, com a mesma nomeação como 3º Vice-presidente, governou de 17 de fevereiro a 22 de março de 1870.
Otaviano fez parte de uma delegação da Câmara Municipal de Natal, em 1869, para cumprimentar Sua Majestade o Imperador à sua chegada em Recife. Advogado e tribuno político, a sua atuação foi notável, exercendo, também, destacado relevo no jornalismo provinciano. Ligado aos seus irmãos Jerônimo, Gabriel e Leocádio, “Os Cabrais”, como era chamado o grupo Saquaresma, formava uma arregimentada corrente política com acentuada preponderância nos destinos administrativos do Estado.
Foi Procurador Fiscal da Tesouraria Provincial, de 31 de agosto de 1870 a 15 de junho de 1872 e exerceu, também, o cargo de Inspetor da Tesouraria quando, a seu pedido, foi exonerado.
Homem de espírito culto e progressista, Otaviano Cabral fundou, em parceria com outros, em 1854, em Natal, a Sociedade Teatral Apolo Rio-Grandense. Por sugestão do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, no ano de 1930, a Prefeitura Municipal do Natal, em louvor aos seus méritos, ligou seu nome a uma rua.
OTAVIANO CABRAL RAPOSO DA CÂMARA faleceu, no município de Bonito, no estado de Pernambuco, no ano de 1872.
Como foi possível observar, mostramos mais um assuense que chegou ao topo da governabilidade estadual, ou seja, foi Governador do Rio Grande do Norte, na época em que era Província.
   
Fonte: Titulados do Assu - Francisco Amorim
O Grande Ponto à meia-noite

Joanilo de Paula Rêgo

Há cidades, sítios, locais, lugares, praças e ruas, envolvidos por uma atmosfera singular e misteriosa, por uma aura sobrenatural e mágica, que lhes demarcam o espírito e a alma, o fluxo e a presença, a solidão e a vida.

Dizia Camus que Tipasa, no verão, era habitada pelos deuses. Para Manuel Bandeira, Pasárgada era outra civilização... Shangri-La, para James Hilton, era a visão transcendental do paraíso na terra, uma escala no caminho de Deus. Para Baudelaire, a magia e a beleza estavam em "algum lugar", naquele pedaço insinuado no seu "Invitation au Voyage".

Em Natal, o Grande Ponto é o território encantado onde vive a alma errante, boêmia e lírica, curiosa e loquaz, da gente natalense. É um simples cruzamento de ruas. Poderia ser um boulevard, talvez seja um calçadão. Por enquanto, ainda é aquela área que se delimita pela Praça Pio X, ao Sul, onde se alteia a nova Catedral; pela praça João Maria, ao Norte; pelo Café São Luís, ao Leste; e pelo Cinema Rex, a Oeste.

É o território profano de uma legenda sagrada, onde há várias décadas, gerações sucessivas elegeram aquele chão para pouso e escala das suas idas e vindas cotidianas ao trabalho e ao lazer. O Grande Ponto é a fusão, ou o "ménage à trois" da Rio Branco, Princesa Isabel e João Pessoa, justamente o epicentro do H, que forma o lendário, maldito, tradicional, eterno e imortal Grande Ponto.

Ali, é onde as coisas germinam e acontecem, onde elas adquirem vida, forma e notoriedade, principalmente a publicidade, o sussurro, o murmúrio, o comentário, a maledicência, sem que os fatos mais importantes se perderiam no vazio e os fatos mais triviais jamais alcançariam as manchetes.

Ali, aportam os sobreviventes do diuturno naufrágio, as vozes de todos quantos percorrem as ruas da cidade, no desfile processional de cada dia, os passos perdidos nas calçadas, as vozes dissolvidas no anonimato das multidões.

Onisciente e onipresente, o Grande Ponto comanda a vida da cidade e das pessoas, de seus habitantes e moradores, de seus transeuntes e turistas.

As coisas só acontecem e vivem se o Grande Ponto as registrar.

Os acontecimentos, ali, se vestem com as roupas do sensacionalismo e as fantasias do escândalo, ou se desnudam no "strip tease" de sua chocante tragicidade e beleza.

Ali, se sabe de tudo, de todas as verdades e mentiras, de todos os atos e fatos e boatos, e, o que não se sabe, logo se conta com as tintas da verdade e do exagero, e o que não é mas poderia ter sido se inventa como se tivesse acontecido. Onisciente e onipresente, o "Grande Ponto" comanda a vida da cidade e das pessoas, de seus habitantes, de seus moradores, de seus transeuntes e de seus turistas.

Políticos, intelectuais, prostitutas, contrabandistas, profissionais liberais de todas as profissões e de todas as liberdades, pederastas e protestantes, bêbados e missionários, "minas" e coroas, adúlteras e tarados, marinheiros e vendilhões, cientistas e mendigos, aleijados de corpo e alma, santos de alma e de corpo, drogados e loucos, de nascença e de sofrimento, a virtude e o vício de mãos dadas, o bem e o mal em idílio fescenino e astral, toda essa formidável procissão de adoradores, amantes e amancebados dessa puta-vida como a chamou Gabriel Garcia Marquez, fazem dali o seu porto ou trampolim, sua bússola ou âncora, nas circunavegações que cada um faz em torno de si mesmo, para vencer as travessias do cotidiano.

O pai da pátria, o candidato, o técnico em idéias gerais, em futebol e finanças, o governador de amanhã, o ladrão em potencial, a menina que fugiu, o desastre que aconteceu, a mulher que trai, o último travesti, o velho transviado, a bailarina de nudez transparente, a "pirada" que faz tudo, o vapozeiro, o cara que inventou a máquina de economizar gasolina, o mão-boba e o bóia-fria, o sujeito que descobriu uma erva que levanta até defunto, o mago que conhece a poção e a fórmula que curam impotência, o contador de anedota pornofônica, o escriba pornográfico e o glosador fescenino, o derradeiro conto de vigário, tudo surge ali nu e cru como uma cicatriz: ou uma navalhada na carne.

Negócios são fechados com três palavras. Cantadas se consumam em um minuto e a vítima cai na primeira esquina. Ouve-se sempre a clássica "chamada" ou "armada", que é gritar o nome de uma pessoa e esperar que a vítima se volte e fique a procurar alguém que nunca se apresenta. No Grande Ponto, funciona a grande agência de informações para todos os viajantes e transeuntes, os perdidos e achados da vida...

O Grande Ponto é o tribunal maior da cidade, onde são julgados e quase sempre condenados os culpados e inocentes, e todos são condenados, porque o Grande Ponto não perdoa ninguém. Os jurados preferem jogar o bolão dentro de barro na túnica do justo a reconhecer-lhe de pronto a inocência que não é normal na criatura humana, ou melhor, na condição humana. Todos são degredados filhos de Eva... ou como diria Camus: "Não há mais inocentes ou culpados, todos somos vítimas".

O Grande Ponto é do contra. Contra-fé, contra-mão, contra-cultura, contra-ladrão, contra-razão, contra-ponto, contra-tudo. É sobretudo contra a força e a prepotência. Contra os governantes corruptos e antipáticos, os Narcisos do poder.

É o território livre dos comícios, das passeatas, dos discursos e das badernas. E das tavernas. É a favor dos humildes, do injustiçado e do descamisado, enquanto permanecer como tal. Mas, se passa a ser forte, dominador e bandido, ele se volta para o outro lado. Passa a condenar quem antes defendia. É contraditório e instável como os ventos, o mar e Deus, e como a brisa vespertina que vem das dunas trazendo o cheiro do cio da terra.

O Grande Ponto é o retrato da alma boêmia da cidade, alma leviana e borboleteante das ruas. A passarela de todas as alegrias e dores. Os esgotos de todas as sujeiras. O altar de todas as virtudes. Do Grande Ponto, se sai, pela mesma alameda, para a Catedral e para o retiro de Maria Boa.

O Grande Ponto é o palanque de todos os partidos, o parlatório de todos os assuntos, o pelourinho de todas as idéias, o purgatório de todos os pecados da humana criatura. É a grande tribuna da cidade. Sua voz, seu grito, seu protesto, seu incêndio e sua sagração.

As passeatas políticas mais exaltadas, os oradores mais incendiários, os choques de paixões mais inflamadas, os fanatismos mais desenfreados, tudo ali assume dimensões de lenda e de canções de gesta, e as personagens parecem verdadeiros titãs surgidos de alguma mitologia bárbara.

Grandes líderes de todos os tempos ali travaram batalhas memoráveis, duelos oratórios formidáveis, confrontos de força e prestígio, coragem e bravura. Pedro Velho, José da Penha, José Bernardo, Café Filho, José Augusto, Dinarte Mariz, Aluízio Alves, Djalma Maranhão, líderes do povo, voz do povo, amor do povo, vivem na lembrança, na saudade, na presença e na paixão dos que amam a sua terra e cultuam os seus heróis, com toda a força ciclópica das multidões em êxtase cívico.

Toda força, todo poder, toda magia, todo Dom divinatório, todo carisma, enfim, toda liderança vem do povo, nasce no estrume e no barro do sofrimento coletivo, se nutre da seiva e sangue das aspirações da gente, e floresce no sonho e na esperança da alma multitudinária. O povo ama seus líderes, nascidos de seu ventre trespassado por mil espadas, e por eles luta, mata e morre.

O povo não segue jamais, antes condena e repudia os tiranos e os prepotentes, os donos do poder abocanhado como uma presa de guerra, os dirigentes gerados em chocadeiras e concebidos em estufas, fecundados na cama e na mesa das alcovas e restaurantes palacianos, no concubinato de interesses espúrios, de negócios ilícitos e das relações perigosas e clandestinas.

Há uma página de deslumbrante beleza cívica do jornalista Bruno Pereira, e de não menos palpitante atualidade, contra a invasão do Rio Grande do Norte por hordas bárbaras e indígenas.

O Grande Ponto sempre foi cosmopolita e poliglota, ecumênico e universal. Zona Franca e Território Livre, bazar de todos os assuntos e mercado de todas as transações. Na Ribeira, existiu uma réplica do Grande Ponto, o café "Cova da Onça" com privatividade para os assuntos políticos.

O Grande Ponto lembra ainda o terminal de todas as linhas de bonde e ônibus que despejam a população migrante, e o local de onde partiam as excursões, os piqueniques e as comitivas políticas ou desportivas. Ali se comemoravam todos os festejos juninos, carnavalescos e natalinos.

Os desfiles de pastorinhas, de escolas de samba, blocos de sujos, batalhas de petardos, aconteciam lá no pedaço. Era dali que partiam as caravanas de jogadores de futebol para as violentas disputas entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba, os dois mais ferrenhos adversários no Campeonato brasileiro, disputado entre as seleções dos estados.

Batalhas homéricas se travavam entre as duas torcidas, numa rivalidade que não conhecia limites e exaltava os ânimos a todos os extremos. Naquelas horas as torcidas se uniam, o vermelho do América, o verde do Alecrim e o negro do ABC, mesclados numa só legenda para defender os brios potiguares contra a bazófia, a prepotência e a arrogância dos tabajaras. O estádio era um grito só: "Não paraibanizarão o Rio Grande do Norte!".

Revejo as figuras oraculares de Djalma Maranhão, João Machado, Ivanildo Deus e tantos outros que comandavam ajuntamentos e rodinhas que se postavam no meio da rua, obstruindo o trânsito, a ponto de os automóveis trafegarem em marcha lenta, pedindo licença para passarem.

Ali no Grande Ponto ninguém escapou no passado, e nem escapa no presente, à navalha e à língua do povo. Fala-se muito, fala-se demais, e fala-se mal. Ali o instrumento de trabalho é a língua, como chave de todas as portas e instrumento de todas as mensagens.

Quem tem língua, vai a Roma, diz o ditado, e, no Grande Ponto, a língua é açoite e carícia, para falar mal da vida alheia e prometer mistérios gozosos.

Ama-se o Grande Ponto com amor felino e sexual. Os que beberam de seu vinho e se banharam em suas águas premonitórias, que tinham suas nascentes no canal do Baldo, aprendendo a ler na bola de cristal a perscrutar os alguidares das pitonisas e a decifrar o baralho das cartomantes, e não esquecerão jamais, enquanto vida tiverem, os momentos ali vividos.

Poderão desertar dele por temporadas, mas voltarão sempre, ao primeiro cochilo da mulher, sob os pretextos mais variados, como a compra dos jornais do Rio, do remédio, do encontro com o amigo para realizar um negócio importante, e até para a olhada nas vitrines e a degustação de um cafezinho.

Maior do que o amor de seus discípulos eternos é a vontade de pecar dos que nunca conheceram ou a ânsia de reincidir dos frequentadores de outrora.

Há nomes de pessoas, bares cafés, restaurantes, sorveterias, que se perenizaram nas idades e na tradição oral. Há namoradas inesquecíveis de sonhadores imortalizados através de gerações de contadores de histórias.

Há os "reitores" dessa Universidade, que são nomes famosos na cidade, os verdadeiros poetas e amantes dessa "filha de Poti mais Bela" (bela adjetivo ou substantivo), como foi batizada por um primaz da Igreja, que tanto amou esta cidade entre o Potengi e a beira-mar plantada.
Natal, à meia-noite, quando começa a viver sob a lua e o sol, o início de um novo dia, é a coisa mais bela do mundo vista do Grande Ponto.

À meia-noite, hora dos espíritos e das assombrações, das serenatas e dos presságios, Natal é uma mulher nua, amada-amante, oferecendo aos que acordados a vigiam e cantam, em versos e serestas, a ceia larga de suas estrelas cadentes e o seio largo de sua sensualidade perfumada pela brisa dos morros, de seu sexo em flor cheirando a jasmim e rosas, concha marinha aberta ao orgasmo delirante de seus apaixonados.

É de lá que se vê sobre o rio a estrela da manhã.

Pura ou degradada até a última baixeza, como dizia Manuel Bandeira, mas só de lá é que se vê, em todo seu resplendor embaciado, em seu brilho sujo de fumo e cachaça, saliva e esperma, lágrima e riso, a estrela da manhã sobre Natal...

In Grande Ponto - Antologia do Laboratório de Criatividade/UFRN - 1981

Foto Roberto Limeira, 1988



terça-feira, 5 de dezembro de 2023

 Natal não há tal

Poetas Celso da Silveira e Myriam Coeli conversando na calçada, defronte à residência do casal, em Natal. Foto de Carlos Lyra, publicada no livro "Natal através do tempo II". Natal: Sebo Vermelho, 2001.






Leide Camara

 

PRAIEIRA 100 ANOS. VAMOS CELEBRAR JUNTOS NA ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS

12 DEZEMBRO ÀS 18 HORAS.





domingo, 3 de dezembro de 2023

"PORTUGUÊS" É O ÚNICO IDIOMA EM QUE SE PODE ESCREVER UM TEXTO SÓ COM A LETRA "P".

PODEMOS PARTIR?

Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos. Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém posteriormente pintou pratos para poder pagar promessas.
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Pálido, porém perseverante, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris. Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo Pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedirem pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas. Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se. Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal. Povo previdente! Pensava Pedro Paulo… "Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses".
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Passando pela principal praça parisiense, partindo para Portugal, pediu para pintar pequenos pássaros pretos. Pintou, prostrou perante políticos, populares, pobres, pedintes. - "Paris! Paris!" Proferiu Pedro Paulo. -"Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir".
Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas. Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu: -Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias? -Papai, proferiu Pedro Paulo, pinto porque permitiste, porém preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal. Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro! Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus. Partindo pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro.

O CABAÇO DE DASDORES QUEBROU-SE EM BANDAS

 Por Gilberto Freire de Melo*


Quem não viveu, mas se aventurou pela várzea do Açu, certamente participou do crucial e ao mesmo tempo divertido processo de extração da cera de carnaúba. Ou, no mínimo, conviveu com a população afeita às tarefas dessa atividade.

Na indústria rudimentar de extração da cera de carnaúba, havia, dentre outros, o processo de batimento para decolar o pó existente nas palhas que, depois de secas, eram transportadas, em trincheiras, pelos homens e batidas, a cacetes, pelas mulheres, num processo trabalho manual feito à noite para evitar que os ventos prejudicassem a fixação do pó, que mais tarde seria transformado em cera, no piso que era igualmente forrado por lona para que não se misturasse com areia. Cada rachador tinha a sua ou as suas batedeiras, pois os mais habilidosos rachavam palhas para mais de uma mulher.

Não havia trabalho mais árduo, porém, ao mesmo tempo, mais divertido. As pilhérias, as chacotas, os ditos, as brincadeiras amenizavam as asperezas e divertiam sempre, sem, porém, ofender pessoas ou ferir a dignidade das famílias, moças, senhoras e crianças que ali trabalhavam. Uns cantavam "cocos" e "emboladas" ao ritmo do batuque improvisado por alguém mais competente que soubesse arremedar a batucada do "baião". O que não deixava, entretanto, de reservar certas intimidades a casais, dada a aproximação que, evoluindo, entremeava-se de afeto, de contatos, de esfregação, de namoro e de chamego, num ambiente estritamente de trabalho, porém com doses de acentuados encantos e estimulantes sexuais.

Como ninguém é de ferro, vez por outra alguém passava os pés adiante das mãos e os tampos voavam.

Foi o que ocorreu com Dasdores, filha de Zé Beradeiro, um cinquentão respeitável, trabalhador, de procedência ignorada, porém com muitos indícios seridoenses. que alí viera ter ainda moço e ali constituíra numerosa família, após seu casamento com Maria do Rosário, uma varziana de dezoito quilates.

Dasdores, já moça feita, era a filha mais velha do primeiro casamento de Zé Beradeiro que enviuvara e vivia àquela época, com D. Esmerina, com quem os filhos se davam relativamente bem, sem ter que se queixar. Com atrativos e exuberâncias capazes de desarticular exércitos, Dasdores engraçou-se de Chico Bozó, fornido caboclo, rachador de palhas, bem parecido, que não desmerecia a família da namorada e que rachava palha para Dasdores bater.

Zé Beradeiro, num daqueles famosos batimentos de palha, surpreendeu casualmente uns lances de que não gostou. Sua filha, Dasdores, se espojava com o namorado, Chico Bozó, sobre uns montes de palha batida, fora da empanada, a quem se entregava de corpo e coração, sem qualquer reserva. O pai ficou calado, porém furioso, e no outro dia, chamando o conquistador aos carretéis, disse não aceitar o que havia presenciado, sendo necessário providenciarem o casamento. Chico, o sedutor, argumentou que precisava pensar, pois casamento era coisa séria. Zé Beradeiro, que também não estava brincando, disse que não queria conversa. E não estava disposto a bater boca. Queria uma decisão.

Os ânimos se alteraram e Zé Beradeiro acabou ouvindo o que não queria:

- A sua filha não era mais moça e eu não sou pedreiro pra tapar buraco de ninguém. Ela já é de maior e pode procurar seus direitos.

Zé Beradeiro, porém, não engoliu o bocado. E não era para um pai de família ficar calado diante de semelhante situação. Tinha que tomar alguma providência. Nem que fosse a última decisão de sua vida. Não podia aceitar a desonra da filha, de seu nome e de sua família. Não seria qualquer Chico Bozó que iria desfeiteá-lo. Tinha pouca coisa na sua vida e a honra da família era o mais importante. Teria que agir ligeiro, antes que o atrevido comentasse com alguém e se espalhasse o boato de sua desdita. Era questão de vida ou morte.

O desaparecimento de Chico até que não foi notado imediatamente, vez que ele era acostumado a sumir por alguns dias, visitando alguns parentes, reaparecendo, em seguida, pouco tempo depois. Mas não tanto assim como da última vez. Já dava o que falar. Parentes seus perguntavam sem obter qualquer notícia.

Foi-se avolumando a ausência de Chico, já consubstanciada pelos boatos do namoro que tivera, conforme insinuações motivadas por gabolices do próprio, de intimidades mantidas com a filha de Zé Beradeiro. Dissera ainda a alguns vizinhos que ela não era mais moça. E que fora chamado às favas pelo pai que queria casamento. E que ele não era otário para pagar pecado que não havia cometido.

Os comentários se faziam e nada de Chico aparecer. Já fazia mais de um ano que havia sumido. Zé Beradeiro, há muito, havia-se mudado dali com a família.

A polícia, tomando conhecimento do sumiço do homem através de queixa prestada por familiares, abriu inquérito e passou a ouvir pessoas da localidade. O próprio Zé Beradeiro fora localizado e ouvido, com sua filha, pelo delegado. Permaneceu preso ainda, por alguns dias e solto depois, enquanto se investigava o caso que, por falta de qualquer prova, acabou arquivado o processo e esquecido o assunto. Só que os familiares não aceitavam e mantinham a suspeita do assassinato de Chico. Mas como provar se nem o cadáver aparecia? 

Não se podia justificar. O sumiço de Chico deixava inconformados os seus parentes. E Seu José também havia saído do cenário da culpa.

A família de Chico apelou para tudo. Chegou até a insinuar que, em certo local, onde se havia construído uma vila de casas residenciais, ali antes, Chico havia sido enterrado. Derrubaram-se algumas casas, sem qualquer sucesso, até que desistiram dada a inconveniência de se derrubar todo o arruado.

Dasdores, noutras paragens, já com os burros n'agua, passou a viver amancebada com um vaqueiro com quem teve alguns filhos sem maldizer a vida e sem queixar da sorte.

O sedutor é que nunca justificou o seu desaparecimento.

*Gilberto Freire de Melo, sociólogo, escritor potiguar de Pendências. Gilberto morou no Assu, funcionário da antiga ECT, atual Correios e Telégrafos.

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EU...TU Eu sou doçura, Mas o mel és tu A imagem é minha, Mas a cor é dada por ti A flor sou eu, Mas tu és a fragrância Eu sou felicidade, Ma...