segunda-feira, 5 de abril de 2010
O RIO
O rio Piranhas/Açu se encontrando com o atlântico em Macau.
Por João Lins Caldas
Alvo e largo, profundo entre os cabeços brancos
É o rio a se estirar vendo os bambus copados
E lhe vão a correr pelo seios nevados
As torrentes de encher os lagos e os barrancos
Das águas que carrega, os largos veios francos,
Descidos de alta serra e na várzea alongados,
Caminho do oceano, olhando os descampados,
Lá se vão a tremer pelos rasgados flancos.
Onde vai leva a andar os balseiros folhudos
Os escombros de palha, os canaçus caídos
Os restos de fogueira e os ramos velhos mudos
E carrega, a rolar, aos pedaços e aos galhos,
Os altos mulungus, os gravatás fendidos,
As lavouas de abril e a lama dos atalhos...
Por João Lins Caldas
Alvo e largo, profundo entre os cabeços brancos
É o rio a se estirar vendo os bambus copados
E lhe vão a correr pelo seios nevados
As torrentes de encher os lagos e os barrancos
Das águas que carrega, os largos veios francos,
Descidos de alta serra e na várzea alongados,
Caminho do oceano, olhando os descampados,
Lá se vão a tremer pelos rasgados flancos.
Onde vai leva a andar os balseiros folhudos
Os escombros de palha, os canaçus caídos
Os restos de fogueira e os ramos velhos mudos
E carrega, a rolar, aos pedaços e aos galhos,
Os altos mulungus, os gravatás fendidos,
As lavouas de abril e a lama dos atalhos...
domingo, 4 de abril de 2010
JOÃO MOACIR DE MEDEIROS QUE EU CONHECI
*Por João Celso Neto
(Artigo transcrito do seu blog "Falando o Que Penso", em 22.2.2008
A vida me reservou muitos momentos mágicos e felizes, oportunidades raras. Dentre tantas, me fez conhecer e conviver com Moacir Medeiros, entre janeiro de 1960 (quando cheguei ao Rio de Janeiro) até sua morte ocorrido recentemente.
É verdade que já não nos víamos há mais de 20 anos, 25 talvez. Porém, muitas vezes nos falamos ao telefone, em papos prolongados, nesses últimos anos. Trocávamos informações sobre a genealogia comum. Todas as (poucas) ocasiões em que me acontecia de ir ao Rio, prometia ir visitá-lo na Almirante Guillem, 332 - Leblon. E, por algum motivo, no máximo, lhe telefonava, mas não tinha a ventura de vê-lo.
Eu o via, pela primeira vez, ainda de calças curtas, anos 50, numa manhã de domingo em Natal. Tio Celso me disse que ele era um publicitário famoso e que era nosso primo. Eu conhecia apenas Zaíra e Félix. Tia Maroca e D. Maria Francisca.
Quando nos mudamos para a terra carioca, comecei a conviver amiúde e quase que diariamente com ele, inclusive fazendo refeições em sua casa, naquele tempo de transição. O convívio se ampliou quando papai foi trabalha na JMM, na Almirante Barroso. Então, eram, sim, diários nossos encontros. Posso dizer que vi um gênio trabalhar e criar.
Poeta maravilhoso, porém modesto, preferia exaltar Caldas, e vários outros. Com ele aprendi tovas e sonetos alheios. E jamais deixei de louvar-lhe a veia poética, sendo um dos meus prediletos sua "Aspiração", sua ânsia de ser montanha, e de ser pedra, em vez de ser homem.
Poderia pedir como herança sua os retratos de Vovô que ele prometeu, tantas vezes, me mandar (pelo menos uma cópia).
Porque nada iguala ou suplanta a memória da convivência e da admiração que nutri por Moacir.
Devo-lhe um genial prefácio para o livro "Glosas de Hélio Neves de Oliveira", praticamente rabiscado ou improvisado em momento de, nele, habitual inspiração. Vivemos episódios que somente a lembrança pode e deve guardar.
Uma noite, em Copacabana, em 1967, assisti ao encontro de duas inteligências privilegiadíssimas, ele e Tio Expedito, a se somarem, sem disputas ou tentativas de vitória, deixar mudos quem teve a felicidade de estar presente.
Este mundo fica, certamente, mais pobre quando morre um homem como Moacir. Em compensação, o "outro", a verdadeira pátria de nós todos, se enriquece na mesma medida.
Imagino que farra podem estar fazendo, ou vão fazer quando se encontrarem, Moacir Medeiros, Expedito Silveira, João Lins Caldas, Orígenes Lessa (imortal da ABL, a cuja posse compareci, a seu convite, graças ao tempo em que OL trabalhou na JMM e foi colega de papai lá), além de Nathércia, Hélio e Dolores.
*João Celso Neto, poeta, engenheiro, advogado, natural do Assu, reside em Brasília. .
Em tempo: Moacir Medeiros era assuense, um dos maiores publicitários brasileiros. Foi ele, Moacyr, o primeira publicitário a fazer campanha eleitoral marketizada no Brasil (campanha de Celso Azevedo para prefeito de Belo Horizonte - MG, em 1954). Por sinal Moacir faleceu no dia das eleições de outubro de 2008. Fica o registro.
(Artigo transcrito do seu blog "Falando o Que Penso", em 22.2.2008
A vida me reservou muitos momentos mágicos e felizes, oportunidades raras. Dentre tantas, me fez conhecer e conviver com Moacir Medeiros, entre janeiro de 1960 (quando cheguei ao Rio de Janeiro) até sua morte ocorrido recentemente.
É verdade que já não nos víamos há mais de 20 anos, 25 talvez. Porém, muitas vezes nos falamos ao telefone, em papos prolongados, nesses últimos anos. Trocávamos informações sobre a genealogia comum. Todas as (poucas) ocasiões em que me acontecia de ir ao Rio, prometia ir visitá-lo na Almirante Guillem, 332 - Leblon. E, por algum motivo, no máximo, lhe telefonava, mas não tinha a ventura de vê-lo.
Eu o via, pela primeira vez, ainda de calças curtas, anos 50, numa manhã de domingo em Natal. Tio Celso me disse que ele era um publicitário famoso e que era nosso primo. Eu conhecia apenas Zaíra e Félix. Tia Maroca e D. Maria Francisca.
Quando nos mudamos para a terra carioca, comecei a conviver amiúde e quase que diariamente com ele, inclusive fazendo refeições em sua casa, naquele tempo de transição. O convívio se ampliou quando papai foi trabalha na JMM, na Almirante Barroso. Então, eram, sim, diários nossos encontros. Posso dizer que vi um gênio trabalhar e criar.
Poeta maravilhoso, porém modesto, preferia exaltar Caldas, e vários outros. Com ele aprendi tovas e sonetos alheios. E jamais deixei de louvar-lhe a veia poética, sendo um dos meus prediletos sua "Aspiração", sua ânsia de ser montanha, e de ser pedra, em vez de ser homem.
Poderia pedir como herança sua os retratos de Vovô que ele prometeu, tantas vezes, me mandar (pelo menos uma cópia).
Porque nada iguala ou suplanta a memória da convivência e da admiração que nutri por Moacir.
Devo-lhe um genial prefácio para o livro "Glosas de Hélio Neves de Oliveira", praticamente rabiscado ou improvisado em momento de, nele, habitual inspiração. Vivemos episódios que somente a lembrança pode e deve guardar.
Uma noite, em Copacabana, em 1967, assisti ao encontro de duas inteligências privilegiadíssimas, ele e Tio Expedito, a se somarem, sem disputas ou tentativas de vitória, deixar mudos quem teve a felicidade de estar presente.
Este mundo fica, certamente, mais pobre quando morre um homem como Moacir. Em compensação, o "outro", a verdadeira pátria de nós todos, se enriquece na mesma medida.
Imagino que farra podem estar fazendo, ou vão fazer quando se encontrarem, Moacir Medeiros, Expedito Silveira, João Lins Caldas, Orígenes Lessa (imortal da ABL, a cuja posse compareci, a seu convite, graças ao tempo em que OL trabalhou na JMM e foi colega de papai lá), além de Nathércia, Hélio e Dolores.
*João Celso Neto, poeta, engenheiro, advogado, natural do Assu, reside em Brasília. .
Em tempo: Moacir Medeiros era assuense, um dos maiores publicitários brasileiros. Foi ele, Moacyr, o primeira publicitário a fazer campanha eleitoral marketizada no Brasil (campanha de Celso Azevedo para prefeito de Belo Horizonte - MG, em 1954). Por sinal Moacir faleceu no dia das eleições de outubro de 2008. Fica o registro.
ASSU ANTIGO
O sobrado a esquerda da praça etúlio Vagas entã denominada de praça da Proclamação (fotografia acima) era onde funcionava o Bar Astronauta. Fora demolido para dar lugar a uma casa (vizinho a Senhora Anita Caldas pelo lado esquerdo e pelo lado direito Eloi Fonse/Marina) do Senhor Tião Diogenes.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
QUANDO A GENTE É CRIANÇA
Por João Lins Caldas, poeta potiguar.
Quando a inocência não cheira
Pelos vergais da existência
São flores de laranjeira
Todos requebros de infância...
A gente vê-se criança
Na vida de brincadeira...
Por tudo respira essência,
Por toda parte fragrância...
Ah! Quando a gente é criança
Na vida de brincadeira!...
Quando a inocência não cheira
Pelos vergais da existência
São flores de laranjeira
Todos requebros de infância...
A gente vê-se criança
Na vida de brincadeira...
Por tudo respira essência,
Por toda parte fragrância...
Ah! Quando a gente é criança
Na vida de brincadeira!...
quinta-feira, 1 de abril de 2010
ILUSTRES FIGURAS DO ASSU DE ANTIGAMENTE
Foto de Genilda.
Esquerda para direita: Astrogildo Soares (advogado), João Marcolino de Vasconcelos Lou (advogado), Cabo Manuel, João Germano (tabelião e escrivão), Adroaldo Soares de Macedo (advogado), Armando (advogado), Migas Fonseca (juiz de paz), Expedito Silveira (promotor), d. Túlio Fernandes (juiz de direito), Kaká (oficial de justiça), Sabóia de Sá Leitão (juiz de paz), Santos Oliveira (tabelião e escrivão), Francisco Amorim - Chisquito (prefeito municipal do Assu) e Cozinho Germano (tabelião e escrivão. A fotografia deve ser entre 1954-55.
Esquerda para direita: Astrogildo Soares (advogado), João Marcolino de Vasconcelos Lou (advogado), Cabo Manuel, João Germano (tabelião e escrivão), Adroaldo Soares de Macedo (advogado), Armando (advogado), Migas Fonseca (juiz de paz), Expedito Silveira (promotor), d. Túlio Fernandes (juiz de direito), Kaká (oficial de justiça), Sabóia de Sá Leitão (juiz de paz), Santos Oliveira (tabelião e escrivão), Francisco Amorim - Chisquito (prefeito municipal do Assu) e Cozinho Germano (tabelião e escrivão. A fotografia deve ser entre 1954-55.
ASSU ANTIGO
A fotografia fora tirada no Colégio as Freiras (Educandáio Nossa Senhora as Vitórias, de Assu) provavelmente no final da década de qurenta. Na foto, senhoras assuenses participando de um retiro espiritual com o Padre José Gusmão. Foto cedida por Genilda Soares de Macedo Varela para colaborar com este blog sobre o Assu de antigamente. Clique na imagem para melhor visualizar.
Fernando Fanfa Caldas
Fernando Fanfa Caldas
ASSU EM REVISTA
"Assu em Revista", editado em 1980, salvo engano, po Francisco Amorim ou por Marcos Henrique. Aquela edição traz artigos e ilustrações além do município do Assu, carnaubais e região, bem como suas figuras ilustres, sua gente evidente. Na fotografia abaixo o fazendeiro Alfredo Soares de Macedo (imagem da revista foi cedida pela sua neta Genilda Soares de Macedo Varela, filha de Adroaldo Soares de Macedo que foi tabelião e advogado no Assu) e seu neto Gustavo Alberto de Macedo Varela. Ainda me lembro do velho Alfredo. Ele viveu mais de 1O0 anos e morava na rua Ulisses Caldas, 433, Macapá, antigo bairro do Assu, também denominaa de Lagoinha. A sua casa era onde hoje reside, se não me falha a memória, Walfredo Freire de Carvalho hoje remodelada.
quarta-feira, 31 de março de 2010
CARNAVAL DO ASSU, 1965
Na fotografia acima, esquerda para direita: Expedidito Silveira (que foi promotorm público de Assu no início na década de sessenta), Geraldo Dantas (na época funcioário do Banco do Brasil), Maria Auxiliadora Montenegro (esposa de dr. Edgar Montenegro, Francisca e Ximenes. Na fotografia abaixo esquerda para direita: Zé de Ana (comerciante em Assu), Edmar Montenegro, Maria Auxiliadora e seu marido Edgard Montenegro que naquela época, 1965, era deputado estadual, e Francisca Ximenes.
CASARÃO DO BANGUÊ - ASSU
Casarão do Banguê, distrito de Assu. Segundo depõe o historiador Ivan Pinheiro era de proprieade do Sr.Zuza Marreiro que construiu em 1911. Tempos depois d. Senhorinha Pessoa casado que era com Alexandre de Carvalho (Xanduzinho) adquiriu por herança.
terça-feira, 30 de março de 2010
UM BELO POEMA DE WALFLAN DE QUEIROZ
Ah, minha alma triste implora perdão
Nunca desejei de ti preces, ternura
Teus olhos que se encontravam com os meus
Eram como um farol me guiando no mar cheio de tormentas da minha vida.
(Walflan de Queiroz é poeta potiguar de São Miguel, conisderado um dos melhores poetas potiguares).
Nunca desejei de ti preces, ternura
Teus olhos que se encontravam com os meus
Eram como um farol me guiando no mar cheio de tormentas da minha vida.
(Walflan de Queiroz é poeta potiguar de São Miguel, conisderado um dos melhores poetas potiguares).
CORAÇÃO MALSINADO
Por João Lins Caldas
Coração malsinado das torturas,
Coração de mulher sem amor ter,
Goza um pouco a ventura de querer
Que este gozo é maior que outras venturas.
Tens, como as dores que hoje tens seguras,
Do amor a porta sem poder se erguer.
Ah! Que ventura se ilusões, das puras.
Hoje pudesses, coração, conter!
Mas não! Que o gelo que dá vida à morte
É o mesmo gelo que campeia forte
Nesse teu seio onde batalha a dor...
És para o tédio e para o mal nascido...
Muda essa sorte, coração ferido,
Abre essa porta para o meu amor!...
Coração malsinado das torturas,
Coração de mulher sem amor ter,
Goza um pouco a ventura de querer
Que este gozo é maior que outras venturas.
Tens, como as dores que hoje tens seguras,
Do amor a porta sem poder se erguer.
Ah! Que ventura se ilusões, das puras.
Hoje pudesses, coração, conter!
Mas não! Que o gelo que dá vida à morte
É o mesmo gelo que campeia forte
Nesse teu seio onde batalha a dor...
És para o tédio e para o mal nascido...
Muda essa sorte, coração ferido,
Abre essa porta para o meu amor!...
segunda-feira, 29 de março de 2010
LOURENÇO, O SERTANEJO (II)
"Cero dia, na estrada do Vale, Lourenço enconntrou-se com o Coronel Moisés.
- Bom dia, Lourenço. Observo que o vento norte continua soprando para você. Tudo verde no sítio... progredindo...
- Certo, Coronel. Nem todo mal é mal. O mundo dá mais volta que roleta. Hoje, sou dono da Pedras Branca. Ontem, era o senhor. Eu sei que o Coronel foi à casa de meu pai naquele dia, com seus filhos armados até os dentes. Mas, Coronel, não guardo rancor. Já se vão os anos, já sou pai de famíilia. Querendo aparecer com d. Josefa nós ficaremos contentes. Lunarda é mulher de verdade, Coronel. É a mão que pega o leme da nossa casa. Eu sou o casco do navio velho que balança o mar. Aguento o rojão... O Coronel precisa conhecer Lunarda. Como é bonita! E Juraci, um bichinho que nasceu por lá. Dá gosto de ver, Coronel. É a menina mais bonita do Vale.
O Cornel Moisés ficou engasgado. Bateu no ombro de Lourenço e disse:
- A vida também é madastra. Às vezes, vem como as ondas do mar e leva tudo na maré. O meu gado...
Ah, Coronel! Não me fale em gado! È o meu fraco. Quando vejo um bezerro escaramuçar, tenho uma vontade danada de pegar no rabo dois bichinhos e de alisar, como aliso os cabelos de minha menina... O meu negócio é comprar e vender bois. O negácio melhor do mundo, Coronel. Conhece aquela história dos franceses quando quiseram tomar o nosso Brasil? Já ouviu falar num tal de Vileganhão?
- Sim - soriu o Coronel - Eu conheço a história da Invasão Francesa, Villegagnon, o bravo aventureiro.
- Pois se reuniram na assembléia e discutiram como haveriam de governar o nosso Brasil. Apresentaram os problemas e perguntaram ao Comandante: "Qual o primeiro negócio para o norte do Brasil?" Respondeu: "Gado bem administrado". "Qual o segundo negócio para o mesmo liugar?" e o comandante ainda respondeu: "Gado sem administração". Pois bem , Coronel, é o que faço. Compro, vendo, solto os rebanhos no mato e deixo engordar. E ainda tem mais, Coronel. É um negócio alegre. Todo mundo corre para ver uma boiada, parece festa. Os meninos gritam, os vaqueiros abóiam...
É isso mesmo, Lourenço. Dou-lhe os parabéns. Agora vou me apartar. Vou à casa do Compadre Chico Inácio que está adoentado. Até à vista, Lourenço.
- Até outro dia, Coronel.
Coitado do Coronel Moisés! Está ficando velho e cansado. Os filhos no mundo... essa vida! - E Lourenço, ficando a espera no seu alazão, esquipou rumo ao lar."
Maria Eugênia
(O texto acima é o segundo capítulo do livro intitulado "Lourenço, O Sertanejo", da escritora assuense Maria Eugênia. è um romance, prosa sertaneja, cujo protagonista é o fazendeiro (falecido no início da décadade de setenta) Epifânio Barbosa, figura abastada e esperitiosa da região do Assu).
- Bom dia, Lourenço. Observo que o vento norte continua soprando para você. Tudo verde no sítio... progredindo...
- Certo, Coronel. Nem todo mal é mal. O mundo dá mais volta que roleta. Hoje, sou dono da Pedras Branca. Ontem, era o senhor. Eu sei que o Coronel foi à casa de meu pai naquele dia, com seus filhos armados até os dentes. Mas, Coronel, não guardo rancor. Já se vão os anos, já sou pai de famíilia. Querendo aparecer com d. Josefa nós ficaremos contentes. Lunarda é mulher de verdade, Coronel. É a mão que pega o leme da nossa casa. Eu sou o casco do navio velho que balança o mar. Aguento o rojão... O Coronel precisa conhecer Lunarda. Como é bonita! E Juraci, um bichinho que nasceu por lá. Dá gosto de ver, Coronel. É a menina mais bonita do Vale.
O Cornel Moisés ficou engasgado. Bateu no ombro de Lourenço e disse:
- A vida também é madastra. Às vezes, vem como as ondas do mar e leva tudo na maré. O meu gado...
Ah, Coronel! Não me fale em gado! È o meu fraco. Quando vejo um bezerro escaramuçar, tenho uma vontade danada de pegar no rabo dois bichinhos e de alisar, como aliso os cabelos de minha menina... O meu negócio é comprar e vender bois. O negácio melhor do mundo, Coronel. Conhece aquela história dos franceses quando quiseram tomar o nosso Brasil? Já ouviu falar num tal de Vileganhão?
- Sim - soriu o Coronel - Eu conheço a história da Invasão Francesa, Villegagnon, o bravo aventureiro.
- Pois se reuniram na assembléia e discutiram como haveriam de governar o nosso Brasil. Apresentaram os problemas e perguntaram ao Comandante: "Qual o primeiro negócio para o norte do Brasil?" Respondeu: "Gado bem administrado". "Qual o segundo negócio para o mesmo liugar?" e o comandante ainda respondeu: "Gado sem administração". Pois bem , Coronel, é o que faço. Compro, vendo, solto os rebanhos no mato e deixo engordar. E ainda tem mais, Coronel. É um negócio alegre. Todo mundo corre para ver uma boiada, parece festa. Os meninos gritam, os vaqueiros abóiam...
É isso mesmo, Lourenço. Dou-lhe os parabéns. Agora vou me apartar. Vou à casa do Compadre Chico Inácio que está adoentado. Até à vista, Lourenço.
- Até outro dia, Coronel.
Coitado do Coronel Moisés! Está ficando velho e cansado. Os filhos no mundo... essa vida! - E Lourenço, ficando a espera no seu alazão, esquipou rumo ao lar."
Maria Eugênia
(O texto acima é o segundo capítulo do livro intitulado "Lourenço, O Sertanejo", da escritora assuense Maria Eugênia. è um romance, prosa sertaneja, cujo protagonista é o fazendeiro (falecido no início da décadade de setenta) Epifânio Barbosa, figura abastada e esperitiosa da região do Assu).
sexta-feira, 26 de março de 2010
MACAPÁ OU LAGOINHA
Macapá ou Lagoinha eram assim denominados a localidade que fica entre a rua Ulisses Calçdas até o bairro Bela Vista também denominado de Boi Chôco. Não sei porque razão aquelas denominações deixaram de serem conservadas até pelos mais antigos assuenses. Pois bem, a poetisa assuense Sinhazinha Wanderley retrata o Macapá, dizendo assim neste sonete que veremos adiante para o nosso deleite:
Macapá, Bairro outrora desprezado,
Hoje feliz, alegre, florescente...
Tendo vista boa e nobre povoado.
Em frente à "Lagoinha"; e aí ao lado
Um roçado em cultivo vividente,
Ali, o palmeiral verde, luzente,
E junto um matagal estrelaçado.
A enchente extravasou-te, "Lagoinha"
Pra descrever-te, a poesia minha
Não tem beleza, as expressões são baldas...
Mas sonhas um porvir aureolado
O pobre bairro outrora abandonado
Tem o nome febril de Ulisses Caldas!
Sinhazinha Wanderley
Fernando Fanfa Caldas
Macapá, Bairro outrora desprezado,
Hoje feliz, alegre, florescente...
Tendo vista boa e nobre povoado.
Em frente à "Lagoinha"; e aí ao lado
Um roçado em cultivo vividente,
Ali, o palmeiral verde, luzente,
E junto um matagal estrelaçado.
A enchente extravasou-te, "Lagoinha"
Pra descrever-te, a poesia minha
Não tem beleza, as expressões são baldas...
Mas sonhas um porvir aureolado
O pobre bairro outrora abandonado
Tem o nome febril de Ulisses Caldas!
Sinhazinha Wanderley
Fernando Fanfa Caldas
AQUELA NOITE
Por Renato Caldas
Era o finá da cuiêta...
Disso, inda tô bem lembrado.
As salina parecia,
Arguns pedaços de dia,
Qui a noite tinha rôbado.
Aquela noite bonita,
Qui se tornô tão mardita,
Qui me faz tão desgraçado.
Naquela noite de lua:
- Deus num me castigue não -
Mais ante, eu ficasse mudo,
Ficasse cêgo de tudo,
Pra num sê tão bestaião,
De cantá praquela ingrata,
Naquela noite de prata
"O Luá do meu Sertão".
Naquela noite, Seu môço...
Seu Môço, naquela noite;
Mais ante eu bebesse o fé,
Sofresse dores crué,
Levasse os quarenta açoite,
Fosse pregado na cruz,
Sofresse mais que Jesus,
Morresse naquela noite.
Fernando Fanfa Caldas
O CINEMA NO ASSU
O primeiro cinema instalado no Assu não foi o Cine Teatro Pedro Amorim, como muitos pensam. O escritor potiguar assuense Francisco Amorim depõe que o primeiro cinema "funcionou num pequeno armazém localizado à rua do Córrego", atual Aureliano Lôpo. Seu Vicente era o proprietário daquela casa cinematográfica que, penso eu (é preciso pesquisar), provavelmente no prédio edificado aos fundos (fotografia acima) onde funcionou o cinema Pedro Amorim, porque a sua arquitetura tem caracteristicas de que ali era uma casa de espetáculo, hoje abandonada por completo. Isso por volta de 1911.Tempos depois também comenta o escritor Amorim "surgiu outro cinema que fazia suas apresentações no sobrado de Sebastião, à praça Pedro Velho", onde hoje funciona a betys Boutique ) de propriedade dos amigos Elizabeth e Astênio Tinoco. E vais mais além aquele também poeta e pesquisador ao dizer que outro cinema surgiu (o terceiro) vindo "das bandas de Caicó. O seu dono era Belizio Ferrer e localisou-se no prédio da rua São João. Dai para a instalação do Cine Teatro Pedro Amorim foi um tempão", conclui Francisco Amorim no seu livro intitlulado "Assu de Minha Meninice", 1982. Portanto, foi o Cine Teatro Pedro Amorim (trazido por Aldemar de Sá Leitão e instalado pelo comerciante coronel Francisco Martins) a quarta casa de apresentação da sétima arte, instalada na cidade do Assu.
Fernando Fanfa Caldas.
Fernando Fanfa Caldas.
quinta-feira, 25 de março de 2010
CORA CORALINA
Ilustração do blog.
Por Celso da Silveira, poeta, escritor assuense já falecido.
Enquanto em Natal era recolhidos votos dos intelectuais para que o poeta Gerardo Mello Mourão fosse agraciado com o prêmio Juca Pato, eu me encontrava na cidade de Goiás Velho levando dois abjetivos principais: conhecer a antiga capital do estado e visitar Cora Coralina, poetisa com 95 anos de idade.
Poeta e doceira.
Eu vinha de Goiânia, viajando quatro horas de ônibus. Cheguei à cidade perto da meia noite e logo me alojei no Hotel Alegrama. Posta a bagagem em sossego, decidi andar´pela cidade aonde esperava ainda encontrar, àquela hora, rumores de batucada, pois estávamos às vésperas do Carnaval desse ano, que começou nos primeiros dias de março.
A cidade se recolhia. Os bares arrumavam-se para fechar. No Coreto, um pequeno bar ainda me serviu algumas doses de vodka com laranjada. Mais adiante, um restaurante a la carte vendia cervejas e linguiças até a saída do último boêmio.;
No outro dia vi - pela janela do meu quarto - que o hotel estava à margem esquerda do rio Vermelho, que banha a cidade cortando-a em duas fatias desiguais. Do meu lado do rio. avistei a ponte de madeira que leva à outra parte menor. Logo adiante, na cabeceira da ponte, à esquerda, a primeira casa serve de residência a Cora Coralina. Uma casa velha, paredes descascadas, portas e janelas de pintura antiga. Típica arquitetura colonial. Lá fui bater palmas à sua porta. Ninguém para atender. Uma mulher, do outro lado da rua, saiu para informar que Coralina estava doente em Goiânia, hospitalizada. Pensei ali, que dessa vez terminava a vida dessa mulher extraordinária, de um vigor e lirísmo inexcedíveis. Deixei, então, o meu recado:
"Cora eu, ó Coralina
que te sei descoradindinha.
Vim conhecer-te, menina,
e te tomar por madrinha"
Goiás é cidade sem ônibus. Ou se anda a pé ou de automóvel.
Como dispunha de apenas 30 horas na cidade, fiz visitas-relâpagos ao sítio histórico, aos museus e às igrejas, em táxi, cujo motorista era verdadeiro guia turístico sem ônus para o governo municipal.
Voltando a Natal, por mera coincidência vou ser leitor de Gerardo Mello Mourão, num livro de sebo. Tenho dele a impressão de que é o melhor texto da safra de escritores brasileiros de agora. Leio seus artigos e cada vez mais me convenço de que ele tinha todo o direito a aspirar uma premiação da altura do Juca Pato. Mas, do outro lado, eu tinha predileção por Cora Coralina.
Agora, numa noite chuvosa dos últimos dias de abril, a televisaão me mostra a poetisa, com lucidez mental e voz firme, dizendo sua poesia de puro lirismo, tão segura quanto pode uma mulher de 95 anos.
Ganhara o prêmio Juca Pato, concorrendo com o poeta Gerardo Mello Mourão, dos troncos dos Inhamos cearenses, e viajante do mundo.
Natal, 2.5.84
(Artigo Transcrito do livro "Anjos Meus Aonde Estais", 1996).
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