Imagem: Por do sol, rio Potengi *Por Bosco Lopes As muitas outras cidades que me perdoem, mas Natal é fundamental. Não fosse pelo seu pôr do sol do Potengi, seria pelas pessoas que o contemplam, embriagas de poesia e que passeiam a beleza pelas suas ruas seculares.
Nasceste, Natal, entre o rio e o mar, com os teus alicerces ancorados nos arrecifes da Praia do Forte, estrela maior que guia a nau catarineta tripulada de poetas, que saem por tuas noites em busca de bares nunca dantes navegados. C aminhas ecologicamente banhada pelo rio e protegida pelas dunas. Foste a bem amada dos aventureiros gauleses, holandeses e lusitanos, para tempos depois servires de pilar de uma ponte de guerra que ia desta parte ao outro mundo.
Natal, admiro a ternura fotogênica dos teus becos: becos que não cantei num dístico. Mas que canto cotidianamente com a minha presença, pois num deles aconteceu, num acaso feliz, meu batismo de cachaça e poesia, apadrinhado por Berilo Wanderley e Celso da Silveira. Para citar apenas um, fico com o bar do beco de Nazi, que com suas alquimias prepara a melhor “ meladinha” deste mundo.
Nas tuas noites, vejo teu nome inscrito em gás neon: Maria Boa, educadora de várias gerações. Noites que varei violentando teu silêncio com violões, modinhas, amigos e tragos de aguardente. Noites inolvidáveis do Brizza Del Maré, do Cisne, do Granada Bar, do Acácia, tão distantes das tardes de minha infância, onde no patamar da Igraja do Galo meu velocípede azul pedalava esperanças. Mas é nas tuas manhãs ensolaradas que vejo tuas mulheres bonitas na passarela pública das praças, parques, praias e se perderem de vista.
Mas se é inverno, evito tuas praias e me agasalho no abrigo dos copos dos teus bares e no calor dos corpos de tuas mulheres. Tenho tudo para te agradecer, Natal, pois tudo me deste: poetas como Itajubá, Jorge Fernandes e Jaime Wanderley, cujos versos guardo de memória.
Eu, também etilírico poeta, de pé no chão aprendi o ofício da poesia para te dizer: muito obrigado, Natal, pelas dádivas que de ti recebo há 33 anos.
Da necessidade real de executar uma cagada em pé, lançando um chicote de merda, depois sentar na latrina, puxar a descarga, tomar um banho, sentir-se “limpado” e sair da empreitada risonho e feliz, escrevendo nos blogues da paróquia:
Deu, ipsis litteris, no blogue SUBSTANTIVO PLURAL, de Tácito Costa – Natal/RN, nicho maior da “Cultura Potiguar” hodierna: “Por Ednar Andrade Pensando… (Sento-me no trono da necessidade real); Executando a necessidade física e pensando…Que bom, que bom seria se o homem de pé Evacuasseda vida as coisas sem sentido, As coisas que o deixam de joelho (uma vida) E solto um riso, um riso mudo… Que só escuta meu próprio ouvido. Demoro um pouco aqui pensando: O homem, na sua maioria, prefere ser evacuado (…) E limpado a ser limpo.Limpo de preconceitos ou sinônimos do termo, etc, etc, etc. Eu? Bem eu, mando pra p… Num jato todas as m… da vida. Prefiro ser limpo; nunca ser limpado. E aí, saio do trono, puxo a descarga: chuá. Pensando? Hum, bem, pense. Eu, tomo um banho e saio rindo, não é? Seria mais fácil, pense, é!”(Os grifos não são do original!) M O T E:
Cagar em pé como um boi
vai ser sucesso em Natal
G L O S A:
Literatos, digam “oi”
à nova moda lançada!
- Vamos, pois, todos, cambada,
cagar em pé, como um boi!
O Rio Grande já foi
terra de bardo e jornal…
Hoje cuida do anal
sacrifício escatológico.
Consequentemente - é lógico! –
vai ser sucesso em Natal…
Não me recordo que é o autor desta bela fotografia.
Quando Assu completou em 1995, 150 de Emancipação Política, o poeta assuense Andiére Abreu - Majó, escreveu o poema intitulado "Homenagem", conforme transcrito adiante:
Cheia de encanto e beleza do grande Vale é a princesa a nossa cidade do Assu, e que entre outras façanhas é receber o Piranhas e também o Paraú.
Bela e privilegiada Por seus rios abraçada ama os filhos com ardor, não nos tira da lembrança: e nos faz séria cobrança Quer um pouco mais de amor.
Diz que abriu seu coração quer que pisemos seu chão que preparou o arraial, quer ouvir nossa zoada na praça, na vaquejada dar o abraço maternal.
Quer também ser mais lembrada, um pouco mais visitada nesta sua faixa etária, quer que a encham de calor, quer dar, receber amor por ser sesquicentenária.
Com o avanço na qualidade de vida e na medicina nos dias de hoje, cada vez é mais comum pessoas chegando a idades avançadas e com boa qualidade de vida. Justamente por causa desta perspectiva de envelhecimento saudável e vida social intensa é normal que se queira estar com boa aparência. Ao passo que em algumas regiões do corpo uma roupa possa esconder ou até mesmo corrigir momentaneamente um contorno ou aspecto indesejável, a região facial esta sempre exposta, com subterfúgios limitados, que nem sempre suprem o desejo do cliente de parecer mais jovem.
Quando se fala hoje em cirurgia de face, lembra-se de algumas denominações, tais como cirurgia de rugas, “lifting” facial e ritidoplastia. Com o avanço das técnicas e dos conceitos de beleza e volumetria facial, a nomenclatura mais usada hoje é a de cirurgia do rejuvenescimento facial, onde o objetivo cirúrgico não é simplesmente o de retirar excessos de pele ou “levantar” a face, e sim o de recompor volumes faciais perdidos com o avançar da idade. Não se concebe mais faces extremamente repuxadas para a lateral, com perda das expressões, deformidades labiais e pálpebras que não acompanham o olhar para baixo.
A cirurgia de rejuvenescimento facial deve ser - antes de tudo -, agradável aos olhos, dando uma sensação de menos cansaço, mais leveza, vivacidade e, por conseqüência, mais juventude. É um dos ramos mais complexos da cirurgia plástica, pois engloba um conjunto grande de estruturas anatômicas que podem estar envolvidas em uma face não harmônica.
Todas as estruturas contidas na face, tais como pescoço, queixo, mandíbula, maxila, nariz, pálpebras, bochechas e testa, são importantes na obtenção de uma face agradável e harmoniosa, tanto individualmente quanto no tocante às relações entre elas.
É muito importante ressaltar que as estruturas devem ser tratadas tanto superficialmente quanto profundamente, para que obtenhamos um resultado satisfatório, natural e duradouro.
Hoje é possível obter resultados excelentes no rejuvenescimento facial, com naturalidade, aspecto saudável, sem trações excessivas de pele, pois nos conceitos mais modernos de cirurgia da face o mais importante é o reposicionamento das estruturas profundas faciais, corrigindo consumos ósseos, flacidez muscular e perda da elasticidade destas estruturas, situações estas diretamente relacionadas ao processo de envelhecimento.
Somado a todas estas manobras cirúrgicas e cientificas, hábitos de vida saudáveis são sempre muito importantes, tais como uma boa alimentação, atividade física regular, evitar fumo e álcool e Sol, que é o maior fator de envelhecimento da pele.
A recuperação de uma cirurgia como esta depende dos procedimentos associados, quais estruturas tiveram indicações cirúrgicas, do fator individual de resposta ao trauma cirúrgico (alguns pacientes incham mais do que outros, fazem mais manchas roxas, etc.) Em geral varia de 20 a 30 dias para que retorne às suas atividades normais e 60 dias para atividades físicas. As drenagens linfáticas são fundamentais para boa recuperação e resultado (de 10 a 20 sessões). Vários procedimentos ambulatoriais podem ser associados aos procedimentos cirúrgicos para um melhor resultado, tais como aplicação de toxina botulínica, preenchimentos, “peelings”, dependendo da avaliação individual de cada caso.
E lembre-se: Cirurgia Plástica é com o cirurgião plástico.
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Leonardo Sodré João Maria Medeiros
Editor Geral Diretor de Redação
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Theodorico Bezerra [1903-1994] foi um político potiguar influente durante décadas, no Rio Grande do Norte. Figura espirituosa. As suas citações sábias, as suas estórias pitorescas são incontáveis, estão catalogadas no dicionário folclórico da política potiguar. Por sinal, a TV Globo, no início dos anos setenta, produziu um documentário [O Imperador do Sertão] em 1978 sobre a sua trajetória que foi um sucesso no país inteiro. Ele foi deputado estadual por várias legislaturas, desde os tempos do PSD, além de fazendeiro, hoteleiro. Amigo íntimo de Juscelino Kubitschek chegou a lançar sua candidatura ao governo do seu estado em 1965 [Theodorico 65] era a sua logomarca de campanha. Pois bem, em Natal, era o locatário do imóvel de propriedade do Governo do Estado, onde ele explorava uma hospedaria denominada Grande Hotel que chegou a ser o melhor hotel, salvo engano, nos anos quarenta e cinquenta. Amado e odiado também. Seus ferrenhos adversários diziam que ele pagava ao governo apenas uma quantia irrisória, pela locação daquele prédio [hoje servindo ao Juizado de Pequenas causas, no bairro da Ribeira] que ele explorou durante décadas. Certo dia, alguém lhe perguntou o valor que ele pagava pelo aluguel daquele imóvel. Matreiro que era, respondeu: "Eu pago o que o Governo do Estado me cobra". E papo encerrado.
Em tempo: Certa vez, Theodorico mesmo com aquela toda sua sabedoria, fora infeliz quando o poeta matuto do Assu [que o Brasil consagrou] chamado Renato Caldas ofereceu a ele, Theodrico, um livro de sua autoria intitulado "Fulô do Mato", ao chamá-lo de "vagabundo". Renato não guardou ressentimento, porém não esqueceu. Dias depois daquele fato, escreveu a seguinte sextilha conforme adiante:
Ivete Vargas [São Borja, 17 de julho de 1927 - São Paulo, 3 de janeiro de 1984] era sobrinha-neta do ex-presidente Getúlio Vargas. Durante o seu primeiro mandato [ela foi eleita pela primeira vez em 1950] de deputada federal [PTB] por São Paulo, visitou a cidade de Mossoró, importante município Norte-rio-grandense. Pois bem, Epifânio Barbosa [ele era entusiasta de Vargas] grande fazendeiro nos Sertões do Assu, figura espirituosa, influente nos meus políticos, com relações amistosas com o ex-governador Dix-Sept Rosado, dentre outros do seu tempo, resolveu ir até a terra mossoroense conhecer aquela parlamentar. Ao chegar no aeroporto, Ivete já se encontrava arrodeada por uma multidão de admiradores. Não deu outra. Epifânio despachado, desinibido que era, meteu-se no meio daquela gente toda e, com facilidade se aproximou daquela ilustre visitante, batendo forte com a mão, no 'bumbum' de Ivete, se auto apresentando com aquele seu jeitão sertanejo que lhe era peculiar: "Muito prazer, deputada. Epifânio Barbosa, do Assu. Nunca bati na bunda de uma mulher, pra ela não olhar pra trás."
O poeta dos causos matutos potiguar do Assu chamado Paulo Varela, é também construtor de casa de taipa, uma construção rústica de pau-a-pique, barro e madeira, é originária das várzeas, das regiões ribeirinhas dos sertões e das periferias das cidades também, do interior nordestino. A sua cobertura além da madeira e da telha, no vale do Assu ainda é coberta com palha da carnaubeira [uma arvore nativa então abundante naquela região].
Ivanildo Villanova e Raimundo Caetano improvisando em Sextilhas sobre o tema “O que a natureza fez“
* * *
Inês Gomes glosando o mote:
A coruja agourenta é inquilina
Dos escombros da casa abandonada
Nem a sombra do velho juazeiro
Tem a mesma extensão e quietude,
Acabou-se o barreiro de açude
Que ficava nas margens do terreiro.
No curral só tem pé de marmeleiro,
Mata-pasto nascido na calçada,
A casinha dos pintos desmanchada,
Que era feita de cerca de faxina.
A coruja agourenta é inquilina
Dos escombros da casa abandonada
* * *
Josa Rabelo glosando o mote:
Quem nasce no Pajeú
Tem o “gen” da poesia.
Quem nasce aqui nesta terra
Já nasce um abençoado
Tudo que fala é rimado
Vendo o dia que se encerra
As flores no pé da serra
Versejam de noite e dia
Trazendo mais alegria
Pra um vaqueiro sem lundu
Quem nasce no Pajeú
Tem o “gen” da poesia.
Temos vaqueiro valente
Com o cheiro no gibão
Das madeiras do sertão
Quando passa a gente sente
Canta um aboio dolente
Quem escuta se arrepia
Causando uma nostalgia
Pr’àqueles que tão no sul
Quem nasce no Pajéu
Tem o “gen” da poesia.
De Diomedes Mariano
A um José Marcolino
Qu’a sua canção é hino
Cantada de ano a ano
Dedé que o mais humano
Lembra Elizeu Ventania
Dos versos que se fazia
Com a inspiração de Xudu
Quem nasce no Pajeú
Tem o “gen” da poesia.
A tríade dos Patriota
Que a todos nós encantou
Antonio Marinho imperou
Louro foi trocadilhota
Nos versos de Jô se nota
Seu lirismo que iradia
O reco-reco da jia
As marcas de um tatu
Quem nasce no Pajeú
Tem o “gen” da poesia.
* * *
Geraldo Amâncio glosando o mote:
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Quem foi pai do folheto nordestino
Foi Agostinho Nunes do Teixeira,
Escreveu a história pioneira
Com os filhos Nicandro e Ugolino.
Prosseguiu com Germano e com Silvino,
Eis aí a primeira geração.
O romance no estado de embrião
Fervilhou no poder imaginário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Teve berço no chão paraibano,
Da cultura do povo um grande guia,
Registrou a primeira cantoria
Na peleja de Inácio com Romano.
A memória do padre Otaviano
Levou luz onde havia escuridão,
O veículo maior de informação
E o primeiro jornal do proletário
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
O cordel memoriza a cantoria
Na peleja de Pinto com Marinho,
Com o Cego Aderaldo e Zé Pretinho,
O que via apanhou do que não via.
Zé Gustavo e Roxinha da Bahia,
Nisso tudo aparece até o cão,
Na peleja do Diabo e Riachão
Foi Assu testemunha do cenário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
A maior expressão do menestrel
Não há força que atinja o seu alcance
O campônio conhece por romance
Ou então por folheto de papel.
Só depois veio o nome de cordel,
Que em feira era exposto num cordão
Ou então numa lona pelo chão
E um poeta a cantar feito um canário.
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Registrando o passado e o presente,
Para tudo o cordel tem sempre espaço:
Pra amor; pra política, pra cangaço,
Romaria, promessa e penitente.
Retirante, romeiro, presidente,
Seca, fome, fartura, inundação,
Nele encontra o melhor documentário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Dos cordéis elegeu-se o mais famoso,
Entre métrica, oração, rima e estilo
O segundo lugar é de João Grilo
E o primeiro o Pavão Misterioso,
A história de um pássaro formoso
Misturando o real com ficção.
O enredo imortal de uma paixão
Imprimiu-se no nosso imaginário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
O cordel é valente e denuncia
O que esconde o poder que nos domina,
Conceição do Araguaia uma chacina
Que revolta, entristece e arrepia.
A tragédia em Canudos da Bahia,
O massacre no Sítio Caldeirão
Tem um rastro de morte e opressão
De um governo despótico e arbitrário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
O cordel atestou que Conselheiro
Ainda exige pesquisa e mais estudos
E que o santo profeta de Canudos
Quis salvar o Nordeste brasileiro.
Padre Cícero Romão em Juazeiro
Construiu um caminho do perdão,
O quarteto maior da salvação:
Penitência, jejum, fé e rosário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão
Luminares da arte e da cultura,
O Cascudo e Ariano Suassuna.
Pedestais do saber; têm por tribuna
O cordel de onde emana a iluminura.
Toda saga de um povo se emoldura
Nas histórias da sua tradição,
Se encontra o registro da nação
Na memória do acervo literário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
No futuro, a famosa Academia
Brasileira de Letras, com seus mitos
Vai saber que nem só os eruditos
Têm direito a medalha e honraria.
Os que fazem cordel e cantoria
Fazem parte da lista da exclusão.
Sem diploma, troféu, sem medalhão,
Tem no mundo da idéia um santuário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
O cordel continua sempre forte
Sem temer novidades nem impasse;
Como fênix, da cinza ele renasce,
Desmentindo os que pregam sua morte.
Por um lance de Deus, pra nossa sorte,
Do cordel temos nova geração,
Sepultando na cova da ilusão
Os profetas do seu obituário.
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Está sendo realizado na comunidade de Picada, o curso de Artesanato sobre como trabalhar a fibra da banana. 25 mulheres, agricultoras familiares estão participando do curso que tem como objetivo, qualificação profissional, gera emprego e renda, inclusão e fixação das pessoas no campo.
O curso tem duração de 15 dias com a carga horaria de 60 horas e é ministrado pela VALER (Assú), a realização é da secretaria de assistência social e o apoio da Prefeitura Municipal de Ipanguaçu.
Veja os belos trabalhos feitos por estas artesãs:
[Do Blog de Juscelino França]
Texto de Pedro Simões [transcrito do seu Facebook]
POR QUE SE FORAM DE REPENTE?
Já estertores do dia comemorativo do amigo, ofereço para deguste sensível da comunidade fraterna do FB, a "Pavana para um amigo ausente", composta por Augusto Severo Neto em louvor de outro destacado acadêmico da Confraria Boêmia e Literária Natalense, Berilo Wanderley, o grande cronista, que dividiu com Wanflan de Queiroz e Sanderson Negreiros o laurel de os inexcedíveis cronistas dessas plagas do Potenvi. Os dois - poeta e cronista homenageado - estão encantados nos mais altos planos astrais. Que o bom Deus os tenha sob seus cuidados como menestréis celestes.
PAVANA PARA UM AMIGO AUSENTE
Poeta, meu bom poeta,
de outras plagas agora
bebendo vinho de nuvem
comendo queijo de aurora
tira-gosto de ambrosia
numa bodega celeste
bandeja de estrela d'alva
som de sino, rosa alpestre
largo balcão de arco-íris
lareira de sarça ardente
Poeta, meu bom poeta
por que foste de repente?
Ainda havia tanta coisa
a fazer, meu bom poeta,
tanta taça ainda cheia
tanta poesia incompleta
tanta noite moça ainda
querendo ser conquistada
tanta rota de navio
sem ter sido navegada
tantas esquinas da vida
tanta estrada, tanta trilha
tanto samba a ser cantado
só uma Maria Emilia
mulher, companheira, amante
namorada, colombina
parceira multiplicante
fêmea madura, menina
sabendo ser madrugada
gargalhada, riso quente
que teve o riso partido
quando te sentiu ausente
Poeta, meu bom poeta,
por que foste de repente?
Poeta, meu bom poeta,
amigo de muita vida
te recordo, luminoso
voz macia, taça erguida
pierrot chapliniano
mestre-sala, companheiro
bigode parnasiano
coração de mundo inteiro
cantor de terra de Espanha
andaluz e Iorqueano
navegador de serestas
navegando a todo pano
ergo a taça dolorida
à tua presença ausente
Poeta, meu bom poeta,
por que foste de repente?