terça-feira, 26 de julho de 2011

DO JORNAL BESTA FUBANA




 Ivanildo Villanova e Raimundo Caetano improvisando em Sextilhas sobre o tema “O que a natureza fez
* * *
Inês Gomes glosando o mote:
A coruja agourenta é inquilina
Dos escombros da casa abandonada
Nem a sombra do velho juazeiro
Tem a mesma extensão e quietude,
Acabou-se o barreiro de açude
Que ficava nas margens do terreiro.
No curral só tem pé de marmeleiro,
Mata-pasto nascido na calçada,
A casinha dos pintos desmanchada,
Que era feita de cerca de faxina.
A coruja agourenta é inquilina
Dos escombros da casa abandonada
* * *
Josa Rabelo glosando o mote:
Quem nasce no Pajeú
Tem o “gen” da poesia.


Quem nasce aqui nesta terra
Já nasce um abençoado
Tudo que fala é rimado
Vendo o dia que se encerra
As flores no pé da serra
Versejam de noite e dia
Trazendo mais alegria
Pra um vaqueiro sem lundu
Quem nasce no Pajeú
Tem o “gen” da poesia.
Temos vaqueiro valente
Com o cheiro no gibão
Das madeiras do sertão
Quando passa a gente sente
Canta um aboio dolente
Quem escuta se arrepia
Causando uma nostalgia
Pr’àqueles que tão no sul
Quem nasce no Pajéu
Tem o “gen” da poesia.
De Diomedes Mariano
A um José Marcolino
Qu’a sua canção é hino
Cantada de ano a ano
Dedé que o mais humano
Lembra Elizeu Ventania
Dos versos que se fazia
Com a inspiração de Xudu
Quem nasce no Pajeú
Tem o “gen” da poesia.
A tríade dos Patriota
Que a todos nós encantou
Antonio Marinho imperou
Louro foi trocadilhota
Nos versos de Jô se nota
Seu lirismo que iradia
O reco-reco da jia
As marcas de um tatu
Quem nasce no Pajeú
Tem o “gen” da poesia.
* * *
Geraldo Amâncio glosando o mote:
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Quem foi pai do folheto nordestino
Foi Agostinho Nunes do Teixeira,
Escreveu a história pioneira
Com os filhos Nicandro e Ugolino.
Prosseguiu com Germano e com Silvino,
Eis aí a primeira geração.
O romance no estado de embrião
Fervilhou no poder imaginário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.

Teve berço no chão paraibano,
Da cultura do povo um grande guia,
Registrou a primeira cantoria
Na peleja de Inácio com Romano.
A memória do padre Otaviano
Levou luz  onde havia escuridão,
O veículo maior de informação
E o primeiro jornal do proletário
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
O cordel memoriza a cantoria
Na peleja de Pinto com Marinho,
Com o Cego Aderaldo e Zé Pretinho,
O que via apanhou do que não via.
Zé Gustavo e Roxinha da Bahia,
Nisso tudo aparece até o cão,
Na peleja do Diabo e Riachão
Foi Assu testemunha do cenário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
A maior expressão do menestrel
Não há força que atinja o seu alcance
O campônio conhece por romance
Ou então por folheto de papel.
Só  depois veio o nome de cordel,
Que em feira era exposto num cordão
Ou então numa lona pelo chão
E um poeta a cantar feito um canário.
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Registrando o passado e o presente,
Para tudo o cordel tem sempre espaço:
Pra amor; pra política, pra cangaço,
Romaria, promessa e penitente.
Retirante, romeiro, presidente,
Seca, fome, fartura, inundação,
Nele encontra o melhor documentário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Dos cordéis elegeu-se o mais famoso,
Entre métrica, oração, rima e estilo
O segundo lugar é de João Grilo
E o primeiro o Pavão Misterioso,
A história de um pássaro formoso
Misturando o real com ficção.
O enredo imortal de uma paixão
Imprimiu-se no nosso imaginário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
O cordel é valente e denuncia
O que esconde o poder que nos domina,
Conceição do Araguaia uma chacina
Que revolta, entristece e arrepia.
A tragédia em Canudos da Bahia,
O massacre no Sítio Caldeirão
Tem um rastro de morte e opressão
De um governo despótico e arbitrário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
O cordel atestou que Conselheiro
Ainda exige pesquisa e mais estudos
E que o santo profeta de Canudos
Quis salvar o Nordeste brasileiro.
Padre Cícero Romão em Juazeiro
Construiu um caminho do perdão,
O quarteto maior da salvação:
Penitência, jejum, fé e rosário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão
Luminares da arte e da cultura,
O Cascudo e Ariano Suassuna.
Pedestais do saber; têm por tribuna
O cordel de onde emana a iluminura.
Toda saga de um povo se emoldura
Nas histórias da sua tradição,
Se encontra o registro da nação
Na memória do acervo literário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
No futuro, a famosa Academia
Brasileira de Letras, com seus mitos
Vai saber que nem só os eruditos
Têm direito a medalha e honraria.
Os que fazem cordel e cantoria
Fazem parte da lista da exclusão.
Sem diploma, troféu, sem medalhão,
Tem no mundo da idéia um santuário,
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
O cordel continua sempre forte
Sem temer novidades nem impasse;
Como fênix, da cinza ele renasce,
Desmentindo os que pregam sua morte.
Por um lance de Deus, pra nossa sorte,
Do cordel temos nova geração,
Sepultando na cova da ilusão
Os profetas do seu obituário.
O cordel completou um centenário
Viajando nas asas do pavão.
Postado por Fernando Caldas

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