domingo, 28 de julho de 2013

BAR DO GENILSON

Foto ilustrativa
Esse foi um dos primeiros trabalhos do poeta Paulo Varela quando retornou ao seu solo pátrio, Assu, no ano de 2003. Alguns companheiros de bar já não compartilham do bate papo daquele recinto, nem degustam mais de seus aperitivos e petiscos, como é o caso dos saudosos amigos Detônho e Beltrão. Na época em que foram escritos estes versos o Bar do Genilson ainda funcionava na Praça Getúlio Vargas - ao lado da Igreja Matriz. Vejamos:

O nosso Assu tem beleza
E para nossa riqueza
Existem pontos de encontro
Onde encontramos jogadores
E também com bebedores
Que todo dia sai pronto.

O Genilson tem um bar
Onde amigos vão jogar
Prosear, tomar cerveja
Tem sinuca, tem baralho
Venha depois do trabalho
Lá na esquina da Igreja.

Nossa localização
É no mei do quarteirão
Junto ao beco sem saída
Chegando não tem errada
Encontrará camarada
Pra divertir sua vida.

Tem todo tipo de gente
Uns alegres, outros contente
frequenta gente educada
De bacharel a doutor
E uns que choram sua dor
Porque já levou chifrada.

Neste canto dá de tudo
Gente que tem estudo
E também analfabeto
Quando chegar na cidade
Expanda sua amizade
Venha trazer seu afeto
  
Iremos lhe receber
Sua vida agradecer
Nossa porta ta aberta
Pra você se basear
Veja quem vem prosear
A lista não ta completa:

Tem gente sócio do Bar
Que vem pra se embriagar
É o caso do Beltrão
Pois ele ta todo dia
E já fez a Moradia
Bem lá perto do Balcão.

Vem gente de toda parte
Dudu amigo das artes
Também faz parte da lista
E vem pra se diverti
Nós temos também aqui
Este amigo dentista.

Você pode aparecer
Pois num vai adoecer
E nem vai morrer a míngua
Tem médico, tem curandeiro
Tem o nosso Ivan Pinheiro
Do Assu, na ponta da língua.

Tem Crisanto, o tal Ninô
Que não bebe, pois deixou
Vem aqui pra prosear
Pois ele é muito querido
De nós não tem esquecido
Vem sempre nos visitar.
  
Por aqui não tem cochicho
Tem até jogo do bicho
Venha, Jean vai fazer
Jogue que é garantido
Se ganhar não é perdido
E ganhando vai receber

Tem cabra aposentado
A muito tempo encostado
É o caso do Moquita
Que fica nos enganando
Diz que não ta escutando
Só que ninguém acredita.

Tem Mariano de Macedo
Que é cabra sem segredo
Que sempre vem visitar
Chega, na sua educação
Tem nossa admiração
Pois sabe sempre chegar.

A turma fica completa
Quando vem nosso poeta
Com a sua explanação
Pra nós é uma alegria
Quando é chegado o dia
Que aparece o Roldão.

Aqui tem cabra medonho
Existe cá o Detônho
Que também gosta de arte
Aqui, tu encontra artista
Faça parte desta lista
Vem gente de toda parte.
  
Tem o Luiz Carlos – Coxinha
Pense numa coisa feinha
Parece que vai parir
Joga no bicho e na loto
Num pode subir na moto
Que pensa logo em cair.

Existe o Sr. Tadeu
Que é grande amigo meu
Que vem nos prestigiar
Ele e sua educação
Anda sempre em comunhão
Que só faz admirar.

Lá não tem gente maluca
Tem o nosso amigo Juca
Que trabalha com dinheiro
Sua chegada é bem quista
Também faz parte da lista
É também um companheiro

Tem o índio jogador
Que na sinuca é doutor
E não enjeita parada
É bonito ver jogar
Ele sinuca tirar
E ver a partida fechada.
 
Mas ele recebe tranco
Ao enfrentar o “branco”
Um menino “satanás”
Pois na sinuca é o cão
Pois faz apresentação,
O garoto joga demais.
  
Porém tem ele um defeito
Fica acuado sem jeito
Quando ganha um tostão.
Se ele ganhou dinheiro
Entoca logo ligeiro,
E não compra um pão.

Aqui, não tem arruaceiro,
Mas existe muambeiro
Que vive negociando
Tudo arranja de momento
Até brinco pra jumento
Vá lá falar com Fernando!.

Tem sim, um tal de Benô
Que é metido a jogador
Mas cai sempre na desgraça
Porque só joga bebendo
Acaba as cartas esquecendo
Por causa dessa cachaça.

Tem amigo verdadeiro
O Pedro Gurgel, do dinheiro
Que socorre cabra quebrado
Pois muita gente tem dito
E eu também acredito
Que tem dinheiro emprestado.

Por aqui não tem problema
O Antonio de Upanema
Também aparece aqui
E só para você saber
E já vi ele beber
Mas nunca o vi cair.
  
Tem também o Diassis
Pois toda gente já diz
Que vem aqui sempre,
Vem com sua animação
E pra nossa admiração
Ele é gente da gente.

Tem Atson, o jogador
Ele é cabra de valor
Que vem aqui pra jogar
É jogando e bebendo
E o cabra já vai sabendo
A cana quem vai pagar.

Tem também Zé cabeção
Que não tem assombração
Que já joga muito bem
É bonito a gente ver
Ele nas bolas bater
Pois quase sempre sai bem.

Você já ta convidado
Será sempre bem chegado
Nós esperamos você.
Venha jogar, beber, prosear
E ver o tempo passar,
Que não vamos lhe esquecer.

Paulo varela

Assu/RN, maio de 2003. (data do poema).

CRÔNICA

Des-ODE AO CANALHA.

Uma crônica para reflexão, de autoria do saudoso Padre Zé Luiz, com o título de: Des-ODE AO CANALHA.
Há dois tipos de homem, capazes de perdoar 77 vezes 7: o SANTO e o CANALHA. Somente os dois serão capazes de dar a face direita depois de ter apanhado na face esquerda. Aquele pela humildade, este pela malandragem. Para o santo, esquecer é um gesto natural. Para o canalha também. O santo escuta desaforos, vai aos tribunais, recebe insultos e depois volta sorrindo, porque sua força esta dentro dele. E o Canalha? Justamente porque é destituído de qualquer força interior desnutrido de qualquer dimensão ética, ele aceita tudo sorrindo. Seu sorriso, porém, é um misto de cinismo e desfibramento.

O santo não sofre. O canalha também. Para ambos tudo é passageiro e supérfluo. Mas nós outros, nem santos nem canalhas, nos perdemos na contradição da maldade. Ficamos bobamente exigindo justiça, querendo ingenuamente assumir um compromisso com a palavra dada, com a afirmação feita. Mas hoje, qual é a palavra que corresponde a ela mesma? Quem souber roubar, apenas faz “química”, quem mente, faz restrições mentais; quem adultera conseguiu transar uma diferente. Em todos os espaços o santo poderá viver. Há um terreno porém, onde ele se perderá impreterivelmente. Aqui, todo o seu treinamento místico, toda sua ascese, todos os seus jejuns e sacrifícios, todo seu aprendizado, serão inevitavelmente sacrificados com um simples gesto de zombaria ou com um abraço ensaiado para se chamar fraternal.

E é justamente aí onde o canalha tem “nourral”. Na hora de dizer sem estar dizendo, de abraçar traindo, de sorrir denunciando, de convocar recusando, de oferecer retirando, de aderir explorando, de chorar sorrindo por dentro, de sorrir queimando de ódio. O canalha é o artesão da maldade. Ele não cresce isolado. Ele consegue ter a cor do trigo, o farfalhar do trigo, mas ele é joio. Aproveita o vento que sopra e os raios do sol para também tornar-se cheio de vida. O santo é exigente com ele mesmo. O canalha é exigente com os outros. Para o santo não há dia seguinte. Para o canalha também. Ambos têm um compromisso com seu agora... mas o agora do canalha é sempre um instante de interrogação... Você já conviveu com o SANTO? E com um CANALHA? Se não experimentou, jamais entenderá o que eu estou pretendendo lhe dizer.

Qualquer semelhança é mera coincidência.
“Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.”

(Carlos Drummond de Andrade)

De: Permita-se


sábado, 27 de julho de 2013

O meu desejo

Vejo-te só a ti no azul dos céus,
Olhando a nuvem de oiro que flutua.
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!

Nos vultos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus...
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!

Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou a grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo...

Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, Amor, devagarinho,
Até a morte me levar consigo...

Florbela Espanca in, Reliquiae*
*Versos póstumos publicados pela primeira vez com a edição de Charneca em Flor, em 1931.

Imagem:Tutt'ART@ do pintor Spanish- born Marcos Rodrigo.
De: Recordar Florbela Espanca


Utilidade pública

A juíza de Direito Márcia Cunha Silva Araújo de Carvalho, titular da 2ª vara Empresarial do RJ, decidiu que os consumidores que tiverem seus automóveis roubados, furtados ou devolvidos amigavelmente e possuírem contratos de financiamento na forma de leasing não precisarão mais continuar pagando suas prestações. A ação foi ajuizada pela Comissão de Defesa do Consumidor da Alerj.

Consta na sentença: "Tratando-se de contrato de arrendamento mercantil, o arrendante permanece dono da coisa arrendada até o final do contrato, somente sendo transferido o domínio se houver essa opção feita pelo consumidor. Desse modo, se a coisa perece por ausência de dolo ou culpa do arrendatário, não pode ser este quem irá sofrer o prejuízo, de acordo com a regra res perit domino (arts. 233 a 236 do CCB). Portanto, em caso de roubo ou furto do bem (...) não pode ser cobrado do consumidor o prejuízo do arrendante pela perda da coisa."

A sentença prolatada produz efeitos em todo território nacional segundo a magistrada.

Processo : 0186728-64.2011.8.19.0001
De: Denuncia Online Internacional
Vamos compartilhar! Informação e tudo! 

Chegada de Dominguinhos no céu!!!

Gonzaga - Olá meu velho amigo, pegue a sanfona.
Dominguinho - Olá meu eterno rei, vamo espiar como tá de onde vir.
Gonzaga - Domingos, como tá as coisa no nodeste?
Dominguinho - Mai Rapá, a coisa ta fea.
Gonzaga - Mai o que tá aconteceno meu caba da peste?
Dominguinho - Trocaro a sanfona, o zabumbo e o triângulo.
Gonzaga - Como é, acabaro com o forró?
Dominguinho - Nã, mas se nós tivesse por lá a coisa tava preta.
Gonzaga - Proque, não tem baião, xaxado, xote e forró?
Dominguinho - Tem, mai o povo só quer sabê das garota safada que andam de aviões num ta de pegado danado nas farra de rico.
Gonzaga - Mai se se o caboco tivesse por lá a coisa ia ser deferente.
Dominguinho - Mai o que nói ia fazê eterno rei?
Gonzaga - Começar de novo, nas praça e nas feira, viajando como tropeiro pelo nodeste.
Dominguinho - Mai, a gente ia passa fome.
Gonzaga - Mai dessa vez, a aligria era maió.
Dominguinho - Pru que Gonzaga?
Gonzaga - Num ixiste, num ai prazê maió que renascer para o meu povo.
Dominguinho - Mai, ocê já falô pru pai essa pruposta?
Gonzaga - Oia ele aí para responder.

Jesus - Despreocupe Domingos, despreocupe Gonzaga, o que os fez eterno não foi a permanência física na terra, nem o canto de Gonzaga e nem o solo da sanfona de Domingos, o que te fizeram eternos foram os ensinamentos e as ações, ensinaram os valores e a moral ao povo, defenderam suas raízes e não negaram suas origens, não precisa voltar, o céu precisa do seu canto, meus anjos serão mais afinados e os corações da terra serão cada vez mais tocados, vocês serão eternamente a cara do nordeste.
Do mural/face de DF


www.oracaocatolica.com.br
Nosso amigo da alma!
"Queridos jóvenes, llevemos nuestras alegrías, nuestros sufrimientos, nuestros fracasos a la Cruz de Cristo; encontraremos un Corazón abierto que nos comprende, nos perdona, nos ama y nos pide llevar este mismo amor a nuestra vida, amar a cada hermano o hermana nuestra con ese mismo amor".
Fui como um ferido pelas ruas até que compreendi que havia encontrado amor, meu território de beijos e vulcões.

PABLO NERUDA
De: Pablo Neruda Poemas Da Alma 


Poema



Treva a dentro

Vivo esta angústia desoladora...
De ver a vida como um mal sonho...
Outro que eu fora
Si mais risonho

O mundo enjeita, quem não abraça,
Os torturados pela desdita...
Também nem fita
Meu grande sonho pela desgraça...

Hei de mostrar-lhe, ferida aberta,
Meu grande talho, posto no rosto...
Mas que desgosto
Si ela desperta...

Não, não me veja, quero distante
Seu grande riso, pela piedade...
Quero-me longe, quero-me adiante...
E além, comigo, na tempestade,
Eu sou distante...

João Lins Caldas

(Do livro Chão de enterro (inédito).
Em 1924, a revista Fon-Fon, do Rio de Janeiro lançou uma campanha para escolher O Príncipe dos Poetas Brasileiros. E lá estava os poetas potiguares João Lins Caldas, Carolina Wanderley e Jayme dos G. Wanderley entre os gigantes da poesia brasileira, conforme imagem abaixo do citado periódico. Lins Caldas, Carolina e Jayme eram de famílias tradicionais do Assu.





sexta-feira, 26 de julho de 2013

'Você é o que lava as mãos?', questiona o papa aos jovens em discurso; veja íntegra

Em cerimônia de representação da via-crúcis, em Copacabana, Francisco cobrou jovens a mudar o mundo e confrontar políticos e desafios sociais; vítimas do incêndio da boate Kiss foram lembradas
'Você é o que lava as mãos?', questiona o papa aos jovens em discurso; veja íntegra
"Papa durante a representação da via-crúcis, no palco de Copacabana"
Atualizado às 21h24
RIO - O papa Francisco convoca a juventude a confrontar o "egoísmo" da classe política e sua "corrupção", a fome, o racismo, a perseguição ideológica, violência e drogas. Marcando a Igreja com seu estilo, o papa Francisco deu à via-crúcis desta sexta-feira, 26, um sentido político e social. Dos jovens, cobrou uma atitude de "coragem" para mudar o mundo e, com a cruz, desafiar os problemas vividos pela sociedade. "Você é o que lava as mãos e vira para o outro lado?", questionou o papa à multidão.
Veja também:
No final da cerimônia, o pontífice pediu oração aos jovens que morreram na tragédia da boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, em janeiro deste ano.
Na praia de Copacabana, o argentino levou milhares de jovens para acompanhar a encenação da Via Sacra, depois de causar uma verdadeira histeria em seu trajeto pela orla.
Deixando claro que seu pontificado dará uma dimensão social ao evangelho, o papa foi além e cobrou da juventude internacional uma atitude para confrontar as mazelas do mundo. "Você é o que lava as mãos, se faz de distraído e vira ao outro lado?", questionou o papa à multidão, comparando a atitude a de Pilatos, que lavou as mãos diante da crucificação de Jesus. "Jesus olha agora e te diz: quer ajudar a levar a cruz?", apontou o papa.
Francisco optou por transformar a cruz e as imagens das estações do sofrimento de Jesus em alusões aos desafios sociais e políticos. "Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos", declarou o papa.
"Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, como os 242 que morreram em Santa Maria. Rezemos por eles. Ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga", disse o papa, em mais uma referência nesta viagem ao problema da dependência química.
Outro alerta de Francisco é para o desafio da fome, numa crítica explícita ao desperdício de setores inteiros da sociedade, enquanto milhões não tem o que comer. "Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida", alertou.
No discurso, falou pela primeira vez do racismo presente na sociedade, além dos problemas de intolerância religiosa. "Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias ou pela cor da pele", apontou.
O tradicional ato de devoção da Igreja não escapou ao estilo que o papa começa a implementar, transformando a Igreja em um centro do debate inclusive político. "Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho", declarou o papa.
Para o pontífice, os jovens não devem temer e precisam sair a enfrentar esses obstáculos. "Na Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida", disse Francisco.
Há dois dias, o papa já havia incentivado os jovens brasileiros a lutar contra a corrupção. Agora, usa o símbolo da cruz para insistir que não podem se dar por derrotados. "Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida: transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida", declarou.
O papa ainda fez questão de lembrar aos jovens brasileiros que a luta, na forma de cruz, esteve sempre presente na história do País. "O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de "Terra de Santa Cruz". A Cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro".
Veja a íntegra do discurso:
"Queridos jovens,
Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da Cruz, que é um dos momentos
fortes da Jornada Mundial da Juventude. No final do Ano Santo da Redenção, o bem-aventurado João Paulo II quis confiá-la a vocês, jovens, dizendo-lhes: "Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção"
A partir de então a cruz percorreu todos os continentes e atravessou os mais variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ninguém pode tocar a cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado na cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta cruz ensina para a nossa vida?
1. Uma antiga tradição da Igreja de Roma conta que o apóstolo Pedro, saindo da cidade para fugir da perseguição do imperador Nero, viu que Jesus caminhava na direção oposta e, admirado, lhe perguntou: "Para onde vais, Senhor?".E a resposta de Jesus foi: "Vou a Roma para ser crucificado outra vez". Naquele momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com coragem até o fim, mas entendeu sobretudo que nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que o amara até o ponto de morrer na cruz. Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho.
Na cruz de cristo está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida.
2. E assim podemos responder à segunda pergunta: o que foi que a cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá a força para poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar. Na cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele! Só em cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida: transformou a cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida.
O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de "Terra de Santa Cruz". A cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e não só: o cristo sofredor, sentimo-lo próximo, como um de nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar conosco.
3. Mas a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a Cruz: Pilatos, o Cirineu, Maria, as mulheres... Também nós diante dos demais podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos. Queridos amigos, a cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cirineu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura. E você como é? Como Pilatos, como o Cirineu, como Maria?
Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a cruz de Cristo; encontraremos um coração aberto que nos compreende, perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor. Assim seja!"

PELO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA Se Guilherme de Almeida escreveu 'Raça', em 1925, uma obra literária “que tem como tema a gênese da na...