CRÔNICA
Des-ODE AO CANALHA.
Uma crônica para reflexão, de autoria do saudoso Padre Zé Luiz, com o título de: Des-ODE AO CANALHA.
Há dois tipos de homem, capazes de perdoar 77 vezes 7: o SANTO e o CANALHA. Somente os dois serão capazes de dar a face direita depois de ter apanhado na face esquerda. Aquele pela humildade, este pela malandragem. Para o santo, esquecer é um gesto natural. Para o canalha também. O santo escuta desaforos, vai aos tribunais, recebe insultos e depois volta sorrindo, porque sua força esta dentro dele. E o Canalha? Justamente porque é destituído de qualquer força interior desnutrido de qualquer dimensão ética, ele aceita tudo sorrindo. Seu sorriso, porém, é um misto de cinismo e desfibramento.
O santo não sofre. O canalha também. Para ambos tudo é passageiro e supérfluo. Mas nós outros, nem santos nem canalhas, nos perdemos na contradição da maldade. Ficamos bobamente exigindo justiça, querendo ingenuamente assumir um compromisso com a palavra dada, com a afirmação feita. Mas hoje, qual é a palavra que corresponde a ela mesma? Quem souber roubar, apenas faz “química”, quem mente, faz restrições mentais; quem adultera conseguiu transar uma diferente. Em todos os espaços o santo poderá viver. Há um terreno porém, onde ele se perderá impreterivelmente. Aqui, todo o seu treinamento místico, toda sua ascese, todos os seus jejuns e sacrifícios, todo seu aprendizado, serão inevitavelmente sacrificados com um simples gesto de zombaria ou com um abraço ensaiado para se chamar fraternal.
E é justamente aí onde o canalha tem “nourral”. Na hora de dizer sem estar dizendo, de abraçar traindo, de sorrir denunciando, de convocar recusando, de oferecer retirando, de aderir explorando, de chorar sorrindo por dentro, de sorrir queimando de ódio. O canalha é o artesão da maldade. Ele não cresce isolado. Ele consegue ter a cor do trigo, o farfalhar do trigo, mas ele é joio. Aproveita o vento que sopra e os raios do sol para também tornar-se cheio de vida. O santo é exigente com ele mesmo. O canalha é exigente com os outros. Para o santo não há dia seguinte. Para o canalha também. Ambos têm um compromisso com seu agora... mas o agora do canalha é sempre um instante de interrogação... Você já conviveu com o SANTO? E com um CANALHA? Se não experimentou, jamais entenderá o que eu estou pretendendo lhe dizer.
Qualquer semelhança é mera coincidência.
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