sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Soneto
SEGREDOS
(Gilmar Rodrigues de Lima*)
Ah se pudesse desvendar o peito,
Abrir os olhos, descrever a mente,
Tudo o que faz, que fala e que sente,
Fosse escrito do modo mais perfeito.
Sim, um jeito, quem me dera um jeito,
De transformar num todo convergente,
A insensatez, hipócrita indolente,
Apenas uma ilusão que eu tenha direito.
Sei, no amor seria o pior dos réus,
Sentir o tempo parar o meu desejo,
Sentir o tempo jogando-me ao espaço.
Erguer os olhos alcançando os céus,
Lábios vazios implorando um beijo,
Braços abertos mendigando um abraço.
* Gilmar faz parte do cenário humano do Assu.
Postado por Ivan Pinheiro Bezerra
Quem vive desenha ideias, e aprende que Viver não é apenas existir.
Quem vive pinta de diferentes cores as várias fases que viveu.
Quem vive escreve sonhos, e com esses sonhos aprende a caminhar, seja em busca deles ou com eles.
Ter um sonho é imaginar novas histórias, ver novas terras e desenhar novas paisagens. É olhar para o futuro com o coração vivendo no presente e a memória sempre de olho no passado. Viver um sonho, ter um sonho ou ser um sonho é dar asas ao nosso sentido mais interno - e descobrir-se, pouco a pouco, no mundo maravilhoso de sentimentos e sensações.
Ter um sonho é revelar a si mesmo os segredos que tanto escondemos.
É contar para a sua imagem refletida no espelho os anseios mais urgentes e as angústias mais dolorosas.
Acreditar num sonho é encher-se da força necessária para buscá-lo; e da energia inesgotável de um novo renascer.
Um sonho é exatamente isso: é o renascer de um corpo e de uma mente exaustos da mesmice da rotina. É o presente do ócio para os momentos vazios e escuros que nos sujeitamos a viver... Ou que somos obrigados a viver.
Entregar-se a um sonho é dar um novo sentido ao que parecia perdido.
Quando acreditamos que podemos fazer algo impossível, percorremos pelo menos metade do caminho rumo ao supostamente inalcançável; quando acreditamos em um sonho, por mais distante que ele possa parecer, dizemos a todo o universo...
"Somos do tamanho dos nossos sonhos, e não daquilo que dizem..."
A www.aterceiraidade.com é muito mais que viver uma fase da vida: é acreditar que cada momento tem seu sentido e o seu complemento.
Antiquário Epoca — em Antiquário Época Café
Av Afonso Pena 1173- Tirol Natal RN. Reservas (084) 2226-5424/9952-7731
Sábias palavras. Não deixem cair no esquecimento.
"Aos que não casaram,
Aos que vão casar,
Aos que acabaram de casar,
Aos que pensam em se separar,
Aos que acabaram de se separar.
Aos que pensam em voltar...
Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja.
O AMOR É ÚNICO, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.
A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, A SEDUÇÃO tem que ser ininterrupta...
Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia SER ETERNA.
Casaram. Te amo pra lá, te amo pra cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas.
Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes, nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, RESPEITO. Agressões zero.
Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência... Amor só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura, para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver BOM HUMOR para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar.
Amar só é pouco.
Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar.
Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.
Entre casais que se unem , visando à longevidade do matrimônio, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança. Certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar "solamente", não basta.
Entre homens e mulheres que acham que O AMOR É SÓ POESIA,
tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.
O amor é grande, mas não são dois.
Tem que saber se aquele amor faz bem ou não, se não fizer bem, não é amor. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.
Um bom Amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!"
Artur da Távola
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Tédio
Ir levando no caminho os amores perdidos
e os sonhos idos
e os fatais sinais do olvido.
Ir seguindo na dúvida das horas apagadas,
pensando que todas as coisas se tornaram amargas
para alongarmos mais a via dolorosa.
E sempre, sempre, sempre recordar a fragrância
das horas que passam sem dúvidas e sem ânsias
e que deixamos longe na estéril errância.
Pablo Neruda
ÂNGELO ROQUE – A REGENERAÇÃO DE UM CANGACEIRO
Publicado em por Rostand Medeiros
Autor – Rostand Medeiros
No Brasil a palavra “regeneração”, definitivamente é algo que o nosso povo não sabe trabalhar muito bem em suas mentes e seus corações, quando aplicada aqueles que erraram junto a sociedade, contra os que praticaram crimes diversos, contra os que sofreram as duras penas da lei e estiveram um período em alguma unidade prisional.
Dificilmente vemos o antigo presidiário como alguém que se regenerou. Olhamos para ele mais com medo do que com esperança de que ali está uma pessoa recuperada. Isso não é difícil diante verdadeiras masmorras medievais que existem nos nossos presídios.
Por isso é que na história carcerária brasileira chama tanto atenção o fato dos homens que foram cangaceiros, pelo menos os que se entregaram e passaram um tempo presos, terem tido um índice de reincidência criminal baixíssimo.
Na verdade digo “terem tido um índice de reincidência criminal baixíssimo”, pois ouvi isso de outros pesquisadores do tema cangaço. Mas confesso que nunca li e não tenho dados que comprovem especificamente quantos antigos cangaceiros padeceram na prisão e quantos voltaram ao crime após a liberdade.
Entretanto é vasto, inclusive amplamente divulgado na imprensa brasileira das décadas de 1950 e 1960, que vários homens que andaram nas caatingas debaixo do peso do chapéu de couro e do “pau de fogo”, ao deixarem a prisão se tornaram os ditos “cidadãos de bem”, totalmente regenerados. Muitos se tornaram pacatos funcionários públicos, pequenos comerciantes, caixeiros viajantes e outros exerceram simples e honestas atividades. Um dos casos mais emblemáticos na minha opinião é a recuperação do chefe cangaceiro Ângelo Roque.
Vida Bandida
Em uma entrevista a um periódico carioca, repleta de fotografias, temos a história de Ângelo Roque da Costa, o conhecido cangaceiro Anjo Roque, o conhecido Labareda. Teria nascido em 1910, no lugar Jatobá, depois pertencente ao município pernambucano de Tacaratu (e por isso conhecido como Jatobá de Tacaratu), era filho de família humilde, mas respeitada em seu lugar.
Na reportagem afirmou que entrou na vida do cangaço após matar um soldado de polícia que desvirginou a sua irmã de 14 anos de idade. Roque contou que o conquistador se chamava Horácio Cavalcanti, que havia casado quatro vezes e quatro vezes abandonou as esposas. Consta que sua família buscou a justiça de sua região, mas um juiz e outras autoridades pouco deram importância ao sentimento de raiva de seus familiares.
Logo houve um encontro dos dois homens em um trem, a faca vibrou e ambos ficaram feridos. Mas logo o jovem Roque, então com 16 ou 17 anos, matou o soldado com um tiro de rifle e caiu “em desgraça” perante a justiça.
Para sobreviver em uma situação como esta, naquele sertão atrasado, só entrando para o cangaço. Foi em uma propriedade denominada Jurema que Roque entrou no bando de Lampião, que lhe deu apoio e ambos se tornaram grandes amigos.
Um Cangaceiro
Na reportagem Ângelo Roque detalhou que esperou 13 dias por Lampião na propriedade Jurema. Logo Roque ficou alcunhado no bando como Labareda. Comentou que Lampião sempre foi um homem de pouca conversa, mas era extremamente hábil na luta das caatingas. Labareda informou que passou dois anos andando junto a Lampião no seu bando, onde teve um grande aprendizado na arte da guerrilha nordestina. Devido a sua capacidade de comando e de combate, logo Labareda passou a comandar um subgrupo de cangaceiros.
Para Roque era normal Lampião ter cerca de 60 homens em seu bando. Já o famigerado cangaceiro Corisco andava com um grupo que tinha em torno de 20 a 25 combatentes e Labareda seguia com uma média de 15 cangaceiros. Nesta vida Ângelo Roque da Costa permaneceu 16 anos em luta, onde afirmou a reportagem ter combatido “200 vezes contra a polícia”.
Lembrou aos repórteres que seu primeiro combate, sem especificar datas, foi em Sergipe, onde cerca de 40 cangaceiros brigaram diretamente com vários policiais, sem perdas para os “cabras” de Lampião, mas com a morte de vários homens da lei.
Para o cangaceiro Labareda os dias de cangaço eram “Dias miseráveis!”, onde os cangaceiros tinham um ódio extremo aos policiais e, assim que tinham alguma oportunidade, não perdiam a oportunidade de desfechar terríveis ações violentas contra os membros da “Força”.
Em seus relatos Labareda afirmou categoricamente que era “Um bandido”, que aquela vida lhe trazia muitas amarguras. Tanto que para conceder a entrevista ele perguntou primeiramente ao Professor Estácio de Lima se aquela exposição na imprensa seria positivo para ele. O Professor Estácio concordou.
Na época da entrevista Ângelo Roque era um pacato funcionário do Concelho Penitenciário da Bahia, morando em Salvador, onde trabalhava como auxiliar de confiança do Professor Estácio.
Na Prisão
Após a morte de Lampião em 28 de julho de 1938, o cangaceiro Labareda andou ainda quase dois anos pelas caatingas de armas na mão, tendo se entregado as autoridades no início de abril de 1940, em Paripiranga, Bahia. Logo ele e mais outros companheiros foram recambiados para Salvador.
Na capital baiana, nos primeiros contatos com a imprensa na Secretaria de Segurança, os cangaceiros já se encontravam de cabelos cortados e usando paletó e gravata, mas Labareda fazia questão de ser tratado pela patente de “capitão”. Na ocasião houve um encontro muito animado com o cangaceiro Juriti, que já se encontrava detido. Comentaram que do terraço da repartição chamou atenção dos agora ex-cangaceiros a chegada ao porto de Salvador do paquete “L’Argentine”.
Após a sua entrega justiça, Ângelo Roque da Costa foi julgado e condenado a 95 anos de prisão, depois reduzidas a 30 anos e comutadas a apenas 10 anos de cárcere. Mesmo com condenações tão elevadas no início do seu período de detenção, ele manteve a calma e se tornou um prisioneiro de comportamento exemplar.
Primeiramente foi enviado para o “Campo Experimental de Ondina”, em Salvador, onde passou a cumprir seu tempo de prisão junto com os companheiros de luta.
Lembrou que na época do início do cumprimento de sua pena, lhe chamou atenção o interesse e a curiosidade provocada em várias pessoas pelos ex-cangaceiros. Recordou que em uma ocasião receberam a visita de Renato Monteiro, documentarista da “Tupy Films”, que realizou um pequeno filme (provavelmente pago pelo Governo Federal), mostrando a regeneração dos anteriormente temidos “Guerreiros das Caatingas”. Foram realizadas filmagens daqueles homens em uma lavoura, tendo sido capturado as imagens do antigo Labareda, de Saracura, Juriti, Jitirana, Velocidade e cinco outros ex-cangaceiros.
Inclusive pelo bom trabalho realizado nesta lavoura, em 1944, durante o período da Segunda Guerra Mundial, ele e outros 20 condenados pela justiça receberam um prêmio da LBA-Legião Brasileira de Assistência. Este programa era denominado “Hortas para a vitória!” e havia sido implantado para incrementar e ampliar o que hoje denominamos de agricultura familiar, tudo em prol do esforço de guerra brasileiro.
Como comentei anteriormente, não sei estatisticamente quantos dos cangaceiros que se entregaram as autoridades reincidiram no crime. Mas não deixa de chamar atenção pelas fotos aqui publicadas, como as autoridades faziam questão de propagar a regeneração dos antigos cangaceiros a imprensa brasileira.
Não sei se é utopia da minha parte, sei que os tempos e os problemas são outros, mas bom seria se alguém da área de direito penal, ou de alguma área relativa aos estudos penitenciários, se dispusesse a pesquisar mais a fundo estes casos específicos dos ex-cangaceiros.
Talvez o resultado de um trabalho assim, poderia trazer lições do passado que possam ajudar os “homens das leis” dos nossos conturbados e violentos dias, a terem uma nova abordagem para a recuperação dos nossos apenados.
http://tokdehistoria.wordpress.com
"Ilusão Perdida"
Pablo Neruda
Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.
Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado
na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,
agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.
"Ilusão Perdida"
Pablo Neruda
Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.
Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado
na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,
agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.
Pablo Neruda
Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.
Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado
na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,
agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Ilusão Perdida
Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.
Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado
na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,
agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.
Pablo Neruda
De: Pablo Neruda Poemas da Alma
"Modéstia...
Está aí uma palavra que admiro.
Poucos a tem, muitos a esnobam e outros a usam como se vestissem uma roupa menor que seu manequim!!!"
G.Fernandes
Abra Seu Coração!!! Voe Como As Borboletas.
Está aí uma palavra que admiro.
Poucos a tem, muitos a esnobam e outros a usam como se vestissem uma roupa menor que seu manequim!!!"
G.Fernandes
Abra Seu Coração!!! Voe Como As Borboletas.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
CONTO
PERNA DE PAU
- Eugênia!!!... Bote o comer filha de rapariga! – Esse tom ameaçador era o grito de guerra de Marcolino para sua esposa, quando se aproximava de casa embriagado.
Marcolino era
pescador. Um sujeito diferente. Moreno, alto, barrigudo, barba
descuidada, cabelos compridos e encaracolados. Para terror da criançada
tinha uma perna de pau. Tal qual a de alguns piratas das estórias
infantis. Devido a sua experiência não tinha dificuldades para andar.
Caminhava a passos longos. No entanto, quando estava bêbado andava
desengonçado, aos tombos, muitas vezes caindo. Atolava em qualquer
areal.
A comunidade de
Juazeiro ficava pavorosa, quando tinha notícias de que Marcolino Perna
de Pau estava bebendo. Era sinal de desgraças, arruaças, intranquilidade
para todos.
Ele já havia
brigado com quase todos os habitantes do lugarejo. Não tinha respeito e
consideração a ninguém, nem homem nem tampouco mulher. Era tido por
todos como um elemento revoltado, nocivo à sociedade. Alguns diziam que
tinha sido trauma por ter perdido a perna com apenas treze anos de idade
num acidente, quando tentava ancorar um barco no porto de Areia Branca.
A barcaça bateu noutra, sem dar tempo de retirar a sua perna da rota de
colisão.
Quando chegava a
seu barraco, construído de taipa, se a mulher não tivesse “pronta” a
peia comia o couro. Água fria, comer quentinho, rede armada no alpendre
da cozinha, eram o tripé de conforto exigido pelo valentão.
Os mais velhos
diziam que ele apareceu na comunidade de Juazeiro num final de semana
para uma pescaria na lagoa. Daí em diante nunca mais saiu do lugar.
Casou, teve cinco filhos. Apesar de aparentar um cinquentenário possuía
apenas 42 anos de idade.
Num sábado foi
para Assu vender o peixe pescado durante a semana. Entrou numa roda de
pif-paf no ‘beco do mercado’ e enrolou a noite, bebendo e jogando. O
jogo acabou, quando os parceiros desconfiaram de que ele estava roubando
e reclamaram. Foi o suficiente para Marcolino dar de mão de uma faca de
doze polegadas e de um revólver calibre 38 e apontar em tom ameaçador
para os companheiros de jogo. Todos correram.
O dono do
ambiente mandou um menino avisar à polícia. Quando soube de quem se
tratava, o soldado de plantão mandou avisar que estava ocupado cuidando
dos presos e que o delegado tinha viajado.
No Cabaré de
Rosemary as mulheres ainda estavam curtindo a ressaca, quando as portas
dos quartos começaram a ser abertas a bofetes.
- Levanta raparigas, que Marcolino Perna de Pau chegou e quer fuder!
As mulheres
saiam dos quartos correndo. Descabeladas, enroladas em lençóis, outras
nuas. Buscavam um lugar seguro. Afinal o “elemento” já era conhecido no
trecho. Foi um domingo de horror: as mulheres dançaram e desfilaram
peladas; beberam a força copos cheios de cachaça; tomaram banho de
cerveja; fizeram fila para praticarem sexo oral no delinquente...
O sol já
buscava repouso no horizonte, quando despontou na rodagem que dá a cesso
a comunidade de Juazeiro um burro mulo conduzindo algo parecido com uma
pessoa. Depois de algum tempo foi reconhecido.
- Valha-me Nossa Senhora, lá se vem Marcolino! Bêbado rodando!
A velha Rita
tinha reconhecido a silhueta devido à perna de pau esticada, ao lado
direito do estribo da cela posta sobre o pobre animal.
À medida que
Marcolino ia passando ao longo da estrada, as poucas famílias da
comunidade iam fechando suas portas. Não sem antes dar uma olhadinha
para ver o estado daquele temível e indesejável morador.
- Eita terrinha de corno! Terra de cabuetas manobrados por muiê! - Dizia Marcolino ao passar à frente de cada casa fechada.
Quando foi se
aproximando de sua casa, viu saindo em toda carreira o jovem Benedito,
garoto que ele já tinha escutado falar de que enamorava Ritinha, sua
filha mais velha, de 16 anos de idade.
- Epa negro bom de peia. Volta aqui! Seja homem! Se te pego namorando Ritinha... –
Gritou Marcolino descendo do burro de ligeira em punho. Não perdendo
tempo, as duas primeiras ligeiradas acertaram as costas da sua filha
Ritinha. A mãe, Eugênia, tentou evitar e levou três lapadas que deixaram
marcas no seu corpo. Por sorte os outros quatro filhos menores entraram
na baderna e conseguiram, com muitos esforços, dominar o agressor.
Naquela noite
ele não saiu mais de casa. Acordou pela manhã cedo, pegou a canoa e
entrou na água da lagoa. Não chamou nenhum dos meninos, como de costume.
Provavelmente estava curtindo uma ressaca moral. Afinal, havia muito
tempo que os filhos de Marcolino não se envolviam numa briga em casa. De
certo estavam ficando grandes.
Três dias se passaram. Nenhuma notícia de Marcolino Perna de Pau. Um garoto entrou afrontado na casa gritando:
- Dona Eugênia!... Dona Eugênia! Encontraram Perna de Pau... Tá morto na beira da lagoa.
A notícia se
espalhou rapidamente. Todos os habitantes de Juazeiro foram para um
matagal de junco existente à margem da lagoa. O corpo de Marcolino
estava fétido. Podiam-se ver, por todo o corpo, diversos cortes de faca
peixeira, mais de trinta facadas.
Uma
curiosidade: o criminoso e a perna de pau usada por Marcolino nunca
foram localizados. Dizem que em noite de lua cheia, ouve-se o baralho da
perna de pau perambulando por Juazeiro.
Do Livro Dez Contos & Cem Causos - Ivan Pinheiro
Assinar:
Postagens (Atom)
SOBRE AFONSO SOARES DE MACEDO
Afonso de Macedo como era mais conhecido, nasceu na aristocrática cidade de Assu/RN, no dia 11 de outubro de 1887 e encantou-se em Salvador/...
-
Um dos princípios que orientam as decisões que tratam de direito do consumidor é a força obrigatória dos contratos (derivada do conceito de ...