quarta-feira, 18 de março de 2015

HISTÓRIA DA CATEDRAL DA SÉ DE OLINDA

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Igreja do Salvador do Mundo, segundo registro fotográfico de Leonardo Dantas Silva (2015).
Igreja do Salvador do Mundo, segundo registro fotográfico de Leonardo Dantas Silva (2015).
Texto & Fotos de LEONARDO DANTAS SILVA.
Quando de sua chegada a Pernambuco, Duarte Coelho Pereira[1] trazia consigo o alvará régio de criação da paróquia do Salvador do Mundo, datado de 5 de outubro de 1534, que veio a ser instalada na vila por ele fundada “resultando na matriz mais ampla e bem provida da Colônia”. [2]
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Doada a Duarte Coelho Pereira pelo Rei D. João III, em carta datada de Évora, 10 de março de 1534, a capitania de Pernambuco compreendia “sessenta léguas de terra na costa do Brasil, as quais começarão no Rio de São Francisco, que é do Cabo Santo Agostinho para o Sul, e acabarão no rio que cerca em redondo toda a ilha de Itamaracá, ao qual rio ora novamente ponho o nome de Rio Santa Cruz, e mando que assim se nomeie e chame daqui por diante a isto com tal declaração que ficará com o dito Duarte Coelho a terra da banda Sul, e o dito rio onde Cristóvão Jaques fez a primeira casa de minha feitoria…” [3]
De posse da carta de doação da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho Pereira começou a reunir “a gente nobre e limpa”, de que fala Oliveira Lima, necessária ao início da colonização.
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Não poderia descuidar-se da assistência religiosa de sua gente, tendo para isso escolhido o padre Mestre Pedro da Figueira, que veio a ser o primeiro vigário da paróquia do Salvador, datando o seu primeiro ordenado de 3 junho de 1534, na razão de 15$000 ao ano, tendo sido pago o primeiro trimestre, 3$750, em setembro do mesmo ano.[4]
Partindo de Portugal em outubro de 1534, Duarte Coelho Pereira veio aportar na Praia dos Marcos, junto à antiga feitoria de Cristóvão Jaques, no Canal de Santa Cruz, em 9 de março do ano seguinte, onde se abrigou nos primeiros meses juntamente com sua mulher e as muitas famílias que trouxe consigo.
Seguindo para o Sul, o donatário foi à procura de um local onde pudesse construir a sede de sua capitania, a fim de iniciar a colonização das terras que veio a denominar de Nova Lusitânia.
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Foi Duarte Coelho Pereira, no dizer de Francis A. Dutra (The Americas, vol. XXIX, nº 4, Washington 1973), “o começo de uma dinastia”. Seu tino administrativo, ao conceder favores e incentivos especiais aos primeiros colonizadores, serviu de lição às gerações que o sucederam.
Fundou ele a matriz do Salvador de Olinda, tendo para isso trazido de Portugal o primeiro vigário, Padre Mestre Pedro da Figueira, auxiliado por quatro capelães, devidamente examinados pelo Deão da Capela Real, D. Diogo Ortiz de Vilhegas, bispo de São Tomé, por se achar vacante o bispado do Funchal, a cuja jurisdição pertenciam. No alvará régio de criação da Paróquia do Salvador consta o ordenado do vigário, 15$000 (quinze mil réis) ao ano e duas peças de escravos, estando estipulado para cada um dos quatro capelães a quantia de 8$000 (oito mil réis) e uma peça de escravos, devendo os vencimentos contarem a partir de Lisboa, logo que aceitasse o convite do donatário. Informa o padre Arlindo Rubert não constar nos documentos os nomes dos primeiros capelães e nem sempre eram necessariamente sacerdotes, já que consta haver entre eles clérigos de ordens menores e diáconos, embora genericamente chamados de padres, inclusive nas cartas jesuíticas.
Do primeiro vigário de Olinda não temos outras notícias nem sabemos até quando dirigiu a freguesia. Terá sido sucedido, talvez antes de 1550, pelo Padre Pedro Manso.[5]
Foram esses os difíceis tempos de lutas contra os índios e contra seus apresadores, contra os contrabandistas de pau-brasil, contra os que ameaçavam a estabilidade social da colônia, em favor da criação de uma reserva ecológica da cobiçada madeira de tingir (pau-brasil) e dos privilégios e liberdades concedidos por El Rei, quando da outorga da carta de doação da capitania.
Assim, Duarte Coelho fundou a Vila de Olinda, antes mesmo da dos Santos Cosme e Damião, originária de uma propriedade do vianês Afonso Gonçalves, conforme este faz menção em carta dirigida a El Rei em 1548, segundo revelação feita por José Antônio Gonsalves de Mello. [6]
Procurou o donatário dar o sustentáculo econômico a sua capitania, encarregando o seu cunhado, Jerônimo de Albuquerque, da fundação do primeiro engenho de açúcar e distribuindo sesmarias com outros colonos dispostos a implantar a agroindústria do açúcar na Várzea do Capibaribe.
Os frutos de sua administração não se fizeram tardar: em 1585, segundo relato do Padre Fernão Cardim, a produção dos 66 engenhos de açúcar de Pernambuco era estimada em 200 mil arrobas, sendo o porto do Recife visitado anualmente por 45 navios, com algumas famílias da capitania ostentando uma vida de fausto superior à de Lisboa.
Para Gabriel Soares de Sousa, Pernambuco era, em 1587, a mais adiantada das capitanias, quer no cultivo das terras, quer na polidez dos costumes e conforto da vida (Tratado Descritivo do Brasil).
A matriz do Salvador de Olinda veio a ser a igreja mais importante da América Portuguesa, depois da Sé da Bahia, durante todo o século XVI e início do século XVII. Matriz colegiada era dirigida por um pároco, auxiliado por um coadjutor e quatro capelães, que recitavam o ofício divino e celebravam missa solene em comum.
O pároco era, no dizer de Arlindo Rubert, uma espécie de vigário Geral da Capitania, com especiais faculdades outorgadas pelo Bispo da Bahia. Em “A Igreja no Brasil” (Santa Maria 1981).
Destruída pelos holandeses em novembro de 1631, a matriz do Salvador do Mundo veio a ser reconstruída, tendo os trabalhos sido parcialmente concluídos em 1669, quando a 6 de outubro foi rezada a primeira missa pelo vigário Manuel Ferreira Nunes.
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As obras de restauração continuaram até 1676, ano em que foi elevada a catedral do Bispado de Pernambuco, nela instalado em 21 de maio daquele ano; seguindo-se, no ano seguinte, a posse do primeiro bispo, D. Estevão Brioso de Figueiredo.
As obras da Sé de Olinda têm continuidade nos anos que se seguiram, tomando grande impulso quando da administração do bispo D. Frei Luís de Santa Teresa (1739-1753) e no episcopado de D. Francisco Xavier Aranha (1753-1771), quando foi concluída a restauração do seu interior.

[1] Muito embora assinasse em suas cartas tão-somente Duarte Coelho, seu nome completo era Duarte Coelho Pereira, como se depreende das declarações do seu filho Jorge de Albuquerque Coelho: “por alma do meu pai, Duarte Coelho Pereira, primeiro Governador que foi desta Capitania . . .’’ Livro de Tombo do Mosteiro de São Bento de Olinda; Revista do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, vol. XLI (Recife 1948), p. 26. Ainda o mesmo Jorge de Albuquerque Coelho: . . . “Faço saber que Duarte Coelho Pereira, meu Senhor e Pai, que Deus tem, ao tempo que foi povoar e conquistar a dita Capitania. . .’’ . Provisão datada de Lisboa, 2 de setembro de 1594, transcrita por José Antônio Gonsalves de Mello. In: Cartas de Duarte Coelho a El Rei. Recife: 1967. p. 21.
[2] Arlindo Rubert citando a carta do padre Antônio Pires, datada de 2 de agosto de 1551, “fué cosa para dar murchas gracias al Señor, ver este Domingo pasado una iglesia muy grande lhena de esclavos que venian a la doctrina, que serian cerca de mil”. In A Igreja no Brasil, v. 1. Santa Maria: 1981. p. 59
[3] COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Anais pernambucanos 1493-1850. Edição fac-similar. Recife: FUNDARPE; Diretoria de Assuntos Culturais; 1983. v. 1 p. 161 (Coleção Pernambucana, 2ª fase, v. 2).
[4] Quem pela primeira vez revelou tal documento foi Methódio Maranhão, Duarte Coelho e a Colonização de Pernambuco (Recife: 1935, p. 73), citando pesquisa do seu filho, Gil Maranhão, responsável pela revelação.
[5] RUBERT, Arlindo. op. cit. p. 59-60.
[6] MELLO, José Antônio Gonsalves de; ALBUQUERQUE, Cleonir Xavier de. Cartas de Duarte Coelho a El Rei. Prefácio de Leonardo Dantas Silva. 2. ed. Recife: FJN; Ed. Massangana, 1997. 138 p. (Descobrimentos, n.º 7).
[7] RUBERT, Arlindo. Op. cit. v. 1, p. 199.

A REVOLTA DE PRINCESA – GUERRA NA CAATINGA

  

Nota da Guerra de Princesa
A Revolta de Princesa, em 1930, foi um acontecimento que marcou e transformou a vida estadual e teve repercussão nacional. Tudo começou através de discórdias políticas e econômicas, envolvendo poderosos coronéis do interior do estado e o governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. O principal deles era o chefe político de Princesa Isabel, o “coronel” José Pereira de Lima, detentor do maior prestígio na região, que se tornou o líder do movimento. Era a própria personificação do poder político. Homem de decisão e coragem pessoal, também era fazendeiro, comerciante, deputado e membro da Comissão Executiva do partido.
No dia 22 de outubro de 1928, na qualidade de presidente (governador) do estado da Paraíba, assumiu o governo Dr. João Pessoa Cavalcante de Albuquerque.
Nota de 1930 sobre o início da guerra de Princesa
João Pessoa discordava da forma como grupos políticos que o elegera, conduziam a política paraibana, onde era valorizado o grande latifundiário de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados e outras ações as quais o novo governador não concordava. Nos seus redutos, eram eles que apontavam os candidatos a cargos executivos, além de nomearem delegados, promotores e juízes. Eles julgavam, mas não eram julgados. Verdadeiros senhores feudais, nada era feito ou deixava de ser feito em seus territórios que não tivesse a sua aprovação. Mas João Pessoa passou a não respeitar mais as indicações de mandatários para nomeações de cargos públicos.
Antigo casarão do coronel José Pereira
Antigo casarão do coronel José Pereira
Por esta época, esses coronéis exportavam seus produtos através do principal porto de Pernambuco, em Recife, provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os coronéis, João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente passaram a chamar o governador de “João Cancela”.
A gota d água foi a escolha dos candidatos paraibanos à deputação federal. Como presidente do estado, João Pessoa dirigiu o conclave da comissão executiva do Partido Republicano da Paraíba que escolheu os nomes de tais pessoas. A ideia diretriz era a rotatividade. Quem já era deputado não entraria no rol de candidatos. Tal orientação objetivava afastar o Sr. João Suassuna, grande aliado de José Pereira que, como presidente do estado que antecedeu a João Pessoa, teria maltratado parentes de Epitácio na cidade natal de ambos, Umbuzeiro. No entanto, João Pessoa deixou na relação dos candidatos o nome de seu primo, Carlos Pessoa, que já era deputado. Isso valeu controvérsia na comissão executiva e apenas João Pessoa assinou o rol dos candidatos.
No dia 19 de fevereiro de 1930, o presidente do estado da Paraíba, João Pessoa, na tentativa de contornar a crise política provocada pela divergência na composição da chapa para deputado federal, viaja a Princesa. A chapa para deputado federal fora publicada um dia antes da viagem, no jornal “A União”. O presidente é recebido com festa. Por falta de habilidade política, o presidente João Pessoa e o “coronel” José Pereira, chefe político princesense, não encontraram um denominador comum.
Combatentes da Guerra de Princesa (3)
Em 22 de fevereiro de 1930, o “coronel” José Pereira rompe oficialmente com o governo do Estado, através do telegrama n.º 52. José Pereira conta com o apoio dos Pessoa de Queirós (os irmãos José e João Pessoa de Queirós), primos do presidente João Pessoa e donos de um grande empório industrial, jornalístico (Jornal do Commércio) e mercantil (João Pessoa de Queirós e Cia.), no Recife, rebelou-se contra o governo estadual. Com o apoio discreto, mas efetivo, do Presidente da República e dos governadores de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Coimbra, e do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine de Faria, o coronel José Pereira decidiu resistir a essas investidas contra seus poderes. Partiu então para a arregimentação de aliados.
Como resposta, no dia 24 de fevereiro de 1930, o presidente João Pessoa, visando desestabilizar o poder de mando do “coronel”, retira os funcionários do Estado, lotados em Princesa; quase todos os parentes do “coronel”, e exonera o prefeito José Frazão de Medeiros Lima, o vice-prefeito Glicério Florentino Diniz e o adjunto de promotor Manoel Medeiros Lima, indicados pelo oligarca princesense. O juiz Clímaco Xavier abandonou a cidade por falta de garantias. O jornal “A União” de 28 de fevereiro de 1930, trazia decretos de exoneração do subdelegado de Tavares, Belém, Alagoa Nova (Manaíra) e São José, distritos de Princesa na época. Com o rompimento oficial do “coronel” José Pereira em 22 de fevereiro de 1930 no município de Princesa, a justiça deixou de funcionar, as aulas foram interrompidas e foi suspensa a arrecadação de impostos.
Combatentes da Guerra de Princesa (2)Como resposta José Pereira declarou a independência provisória de Princesa do Estado da Paraíba. Neste mesmo dia 28 era publicado o Decreto nº 01 foi aclamado pela população, que declarou oficialmente a independência da cidade (República de Princesa), com hino, bandeira e leis próprias. Ainda em 28 de fevereiro de 1930, data aceita como início da Revolta de Princesa, João Pessoa mandou a polícia estadual ocupar o município de Teixeira, sob o comando dos capitães João da Costa e Irineu Rangel reduto dos Dantas, aliados de José Pereira, prendendo pessoas da família e impedindo que ocorresse votação naquela cidade. Houve reação armada dos Dantas.
Combatentes e destruições da Guerra de Princesa (5)
O “coronel” não era homem de se intimidar com pouca coisa e enviou 120 homens armados para Teixeira, que foi retomada pelos rebeldes.José Pereira tinha armas em quantidade, recebidas do próprio governo estadual, em gestões anteriores, para enfrentar o bando de Lampião e mais tarde a Coluna Prestes. Seu exército era estimado em torno de 1.200 a 1.500 combatentes, onde diversos desses lutadores eram egressos do cangaço ou desertores da própria polícia paraibana. Com esse poderio bélico e seu prestígio político, começou a planejar o que ficou conhecido como “A Revolta de Princesa”.
Essa rebelião atingiu também diversos municípios como Teixeira, Imaculada, Tavares e outros. A cidade, que já tinha visto passar diferentes grupos de cangaceiros, passou a ser reduto de valentia e independência.
Jornal de Princesa durante a Guerra
O Governo do Estado prepara o golpe que supunha fatal e envia à Princesa 220 homens em doze caminhões e farta munição sob o comando do tenente Francisco Genésio, e, pasmem, para espanto dos leigos e estrategistas, um feiticeiro que “benzia a estrada, a cada parada, dizendo: ‘Vamos pegar Zé Pereira à unha!’. Os soldados sentiam-se mais protegidos e aplaudiam com entusiasmo o novo protetor, pois com ele estariam imunes às balas. Não foi o que aconteceu. Ao chegarem ao povoado de Água Branca, no dia 5 de junho de 1930, foram recebidos à bala, numa emboscada fulminante. O primeiro a ser atingido, com um tiro na testa, foi o dito feiticeiro. Os caminhões foram queimados; quem não conseguiu fugir, morreu; inclusive o tenente Francisco Genésio. Mais de cem mortos e quarenta feridos.
João Pessoa tenta nova investida. Incapaz de dominar a cidade rebelde, ele apela para a guerra psicológica. Uma avioneta, pilotada por um italiano, lança panfletos sobre Princesa, exortando a população a depor as armas. Caso contrário, haveria bombardeio aéreo. Mas a resistência continua e as bombas não vêm. Nas semanas seguintes, os homens do “coronel” José Pereira, usando táticas de guerrilha, espalham sua ação pelo sertão, dando a entender que o conflito seria longo.
Casa de Marcolino Diniz, em Patos de Irerê, destruída pela polícia paraibana
Casa de Marcolino Diniz, em Patos de Irerê, destruída pela polícia paraibana
Foram travadas sangrentas batalhas e inúmeras vidas foram perdidas. Princesa se tornou uma fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais ao governador João Pessoa.
Mas a luta estava para terminar, com um desfecho imprevisto. João Pessoa foi assassinado no Recife por um desafeto, João Dantas, por motivos mais pessoais do que políticos. Foi na confeitaria Glória, no Recife, às 17 horas do dia 26 de julho de 1930. É que João Dantas teve a sua residência e escritório de advocacia na capital da Paraíba invadida pela polícia estadual, tendo parte de seus documentos apreendidos e divulgados pelo jornal A União, quase um diário oficial do estado. Vieram à luz detalhes de suas articulações políticas e de suas relações com a jovem Anayde Beiriz. Em uma época em que honra se lavava com sangue, Dantas sabendo que João Pessoa estava de visita ao Recife, saiu em sua procura para matá-lo.
Com sua morte, o movimento armado de Princesa, que pretendia a deposição do governo, tomou novo rumo. Os homens de José Pereira comemoraram, mas o coronel, pensativo, teria dito: “Perdemos…! Perdi o gosto da luta. Os ânimos agora vão se acirrar contra mim”. Essa data é considerada para o encerramento do conflito, faltando dois dias para completar quatro meses.
Combatentes e destruições da Guerra de Princesa (1)
E conforme sua previsão, os paraibanos ficaram chocados com o assassinato (a partir daí criou-se todo um mito). O crime foi apresentado como obra dos perrepistas, o Partido Republicano Paulista. Seus partidários, em retaliação, foram perseguidos e tiveram suas casas incendiadas, além de sofrerem outros tipos de perseguição e violência. O Presidente da República, Washington Luiz, decidiu então terminar com a Revolta de Princesa e o “coronel” José Pereira não ofereceu resistência, conforme acordo prévio, quando seiscentos soldados do 19º e 21º Batalhão de Caçadores do Exército, comandados pelo Capitão João Facó, ocuparam a cidade em 11 de agosto de 1930. José Pereira deixa a cidade no dia 5 de outubro de 1930.
No dia 29 de outubro de 1930, a Polícia Estadual ocupa a cidade de Princesa com trezentos e sessenta soldados comandados pelo capitão Emerson Benjamim, passando a perseguir os que lutaram para defender a cidade ameaçada, humilhando e torturando os que foram presos, sem direito a defesa. A luta teve um balanço final de, aproximadamente, 600 mortos.
FONTE – http://culturapopular2.blogspot.com.br/2011/02/revolta-de-princesa.html

CRÔNICA:

ANTÔNIO DAS ALMAS – O MULATO BENFEITOR
Ivan Pinheiro*
Dos inúmeros temores da minha meninice, a maioria arrogada pelos familiares para me manter em casa ou inibir minha ida a algum lugar guardo, com nitidez, lembranças arrepiantes de cidadãos que me metiam medo, muito medo. Lembro-me que certa vez cheguei a fazer xixi no calção, já que calça era coisa de adulto.

Chico Doido, Miguel da Lata, Perdido, Zé Vidal, Girome, Chico Veneno, Antônio das Almas... Eram tantos! Muitos desses faziam-me mudar de calçada ou retornar a toda carreira em qualquer circunstância. Geralmente, às escondidas, ficava acompanhando com o olhar a trajetória do “espantoso maluco” para retomar o caminho e concluir o meu destino.

Confesso que meu maior pânico era quando me deparava com Antônio das Almas (não encontrei ninguém que tivesse a certeza de onde ele veio... Surgiu. Dizem que tinha familiares em Pendências). Não tenho notícias de que ele tenha dado alguma carreira numa criança em todo o seu convívio em Assu. Os outros sim aconteciam com frequência, até por que eram provocados pela garotada, geralmente, influenciada pelos adultos.

Mas para “aperrear” Antônio das Almas era preciso coragem. Grandalhão, moreno, musculoso, maltrapilho (chapéu velho de palha na cabeça, camisa surrada e amassada, calça segurada na cintura por um pedaço de corda fazendo vez de cinto – que também servia para outras atividades -, pernas arregaçadas, pés descalços - dificilmente usava alpercatas). O cachimbo e um cassetete (um porrete de madeira) completavam sua indumentária. O mais aterrorizante: morava basicamente no cemitério. Ou seja, num quartinho ao lado, situado a atual Rua 29 de outubro. O local era conhecido como “Casa das Almas”. Lá eram guardados os caixões de defuntos para pobres e cadáveres desconhecidos. Tinha um branco para anjos, outro lilás para moças donzelas e o terceiro (o mais arrepiador - era preto retinto, com detalhes prateados) para os demais.   

Cabe uma reserva. Quem já passou dos cinquenta sabe dessa realidade: Até final dos anos sessenta, meados dos anos setenta (com menor intensidade) a maioria dos pobres se enterrava em redes. As criancinhas (anjos) eram transportadas até o cemitério em caixas de sapatos, telhas de olaria ou caixotes de madeira improvisados pelos familiares. A pobreza, à época, era franciscana - como costumava dizer o saudoso João Marcolino de Vasconcelos – Dr. Lô.

O leitor poderá até perguntar: Por que somente três caixões? Porque todos retornavam àquela “Casa das Almas”. O(a) falecido(a) era colocado(a) na cova sem caixão. Depois mudaram o “depósito funerário” para a Igreja Matriz no patamar de onde se toca(va) o sino - primeiro andar do lado esquerdo.

E quem era responsável para levar e trazer de volta aqueles horrorosos caixões? Quem?... Antônio das Almas. Sabe o que era se deparar, num beco estreito, com aquele homenzarrão conduzindo um caixão preto nas costas, vindo em sua direção? Terror!

Uma determinada vez eu caminhava displicentemente pelo “Beco do Padre”(mais parecia um funil, começava razoavelmente largo e terminava estreito em frente à casa de Edgard) quando, de súbito, quase topei com o dito cujo... Fiz um giro de 180 graus tão rápido que o vento e a areia fizeram redemoinho. Acho que cheguei a cair, mas acredito que não toquei no solo. Levantei numa rapidez indescritível já muito próximo de Antônio das Almas que, rindo da situação (acredito), bateu fortemente seus pés no chão. Pernas pra que te quero... Esgoelando-se cheguei à minha casa em segundos, todo mijado.   

Pois bem, continuando: Antônio das Almas era comunicado da morte e levava o ataúde, no ombro, até a residência do(a) falecido(a). Passava a noite ou o tempo necessário “bebendo o defunto” e, ao final, segurando uma das abas do caixão, acompanhava o cortejo fúnebre com destino ao cemitério São João Batista passando, quase sempre, pela Igreja Matriz para as exéquias.

Ao chegar ao Cemitério o caixão era assentado à beira da sepultura e, quando não apareciam familiares e/ou voluntários para ajudá-lo a retirar o corpo do ataúde, com naturalidade, ele descia para a cova, se agarrava com o cadáver e colocava-o no interior do sepulcro.

Na verdade Antônio das Almas que vivia ao “Deus dará” era um voluntário para servir aos pobres com ações humanitárias, gestos incomparáveis... Um cidadão de boa alma.  

Nas horas vagas fazia favores braçais para as pessoas mais afortunadas, como cuidar das sepulturas, carregar água, lenha, dar fim aos animais mortos, entre outras atividades à custa de quase nada, financeiramente. Uma cuia de farinha, feijão, açúcar e às vezes um pedaço de salgado (carne ou peixe) servia como pagamento.

Já adulto, tomei conhecimento que o então vereador Durval de Sá Leitão propôs aos colegas da Câmara Municipal do Assu a concessão de um Título de Cidadão Assuense ao Antônio das Almas, entre muitos outros. A propositura (já esperada pelo Edil) foi rejeitada pelos nobres representantes do povo. Resultado: Durval nunca mais retornou a Câmara Municipal perdendo o mandato por abandono de função.

O tempo passou e devidamente abandonado, já alquebrado pelo tempo, doente e injustiçado, Antônio das Almas retornou ao seu solo berço para o convívio dos familiares e por fim poder repousar eternamente no campo santo de sua terra natal (?).

Aquele peregrino, na sua ingenuidade, tinha a consciência (quem sabe?) de que existiam muitos irmãos precisando da sua força divina transformada em caridade, amparo material e espiritual. Assim, sem receio ou vergonha, se apequenou perante o povo e, com determinação, derramou muito suor e lágrimas em favor da causa, criando a identidade expressiva da sua personificação. Atitudes raras, digo até, inimagináveis, nos dias atuais.

*Ivan Pinheiro Bezerra – Historiador e escritor contista.
Desenho ilustrativo: Ivan Pinheiro 

terça-feira, 17 de março de 2015

...porque não quero
ser alguém
de palavras cheias
e atitudes vazias!─────•✤❥

Cristina Costa


Registrando comemoração  do  aniversário de sessenta anos de idade de Fernando Caldas editor deste blog, domingo último, 15 de março.


segunda-feira, 16 de março de 2015

Minha Terra Minha Gente

Treze anos já se foram desde o dia 1º de março de 2002, quando aconteceu nas dependências do Bar Dida.Tom, o lançamento do livro do poeta assuense Andiere Abreu - Majó (foto). A participação da seleta platéia dignificou o lançamento, numa demonstração de prestígio aos valores culturais da Terra da Poesia.

“Minha Terra Minha Gente” foi o nome do livro publicado naquele ano que trouxe apresentação de Ubirajara Macêdo e foi prefaciado pelo grande escritor Luís Carlos Guimarães. A poesia que dá o nome ao livro é uma belíssima homenagem ao Assu. Vejamos:

Minha terra é boa, nobre,
Uma grande área cobre
Para ao verso dar morada.
E a alta tecnologia
Mostra a parte da euforia
Na agricultura irrigada.

Dos conterrâneos antigos
Onde tinha bons amigos
Aos que se foram lamento,
Deles sinto muita falta,
Com as memórias em alta,
Este é o meu julgamento.

E tudo em mim se embaralha,
O raciocínio falha
Ao lembrar Anderson Abreu,
Sempre ao chegar no Assu
Penso no grande Guru
Que vida e tudo me deu.

E respiro triste ares
Por não ver um João Soares
E o nosso Chico Germano,
Melé, Purueca, Barão,
Dói fundo no coração
Traz tristeza e desengano.

E não me impeçam que fale
Do grande líder do Vale
Primo e amigo Arnóbio Abreu,
Ele ainda está presente
Pois do Vale toda gente
Ainda não o esqueceu.

Aí a memória estira
Pois vem Alves e Traíra
Todos dois Sebastião,
Manoel Rodrigues de fé
Um irmão que bebia em pé
Só que, no pé do balcão.

Também saíram de cena
O amigo Batista Sena
E outro Batista o Nogueira,
Homens simples e corretos,
Bons companheiros, completos
Desses para a vida inteira.

Quero lembrar o “Baixinho”
O meu mestre Francisquinho
E o amigo violão,
Que mostra ter sete vidas
Vencendo todas bebidas
Tornando-se um campeão.

Só não fico mais tristonho
Por ter ainda um Detonho*
Pra eu rezar nos seus altares,
E também me dá prazer
Um bom Mel Borges beber
Com Mariano Tavares.

Com Dedé Caldas jantar
Na Acauã conversar
Sentindo aquele ventinho
É algo maravilhoso,
Mas também é bem gostoso
Dialogar com Zé Pretinho.

Tem gente que é um achado:
Nibinha, Carlos Machado
Ao chegar vou procurá-los,
Têm o cheiro da boêmia,
Só dão prazer e alegria,
É bom poder encontra-los.

Praças, Rio, Piató,
Muitos amigos, Chicó,
Ver o Cônsul da cidade,
O Vale a carnaubeira,
Risos, o culto à besteira,
A velhice, a mocidade.

Assu é a que nós conhecemos,
A ela todos nós demos
Valor, Orgulho, Riqueza,
Terra plena de valores
Cultuando versos, amores
É dádiva da natureza.

* Na época da poesia seu amigo Detonho era vivo. 

PÁGINA ASSUENSE:


POESIA

A linguagem poética
Não tem sotaque,
Ocupa lugar de destaque
Nos estudos da fonética.
A boa poesia, com ética,
Vai ao casebre do pobre,
Ao palacete do nobre,
Aos recantos da cidade,
A qualquer universidade
Sem encontrar quem a dobre.

A poesia não sai de moda
Não envelhece nem morre.
Cria-se lúcido e de porre (?!).
Ao ego agrada, acomoda...
Mas, vez por outra, incomoda,
Bate forte no coração
Como se fosse um ferrão...
Um tiro de bacamarte.
Aí, o poeta buscando a arte,
Encontra a bonança... A emoção.


Autor: Ivan Pinheiro - Assu.           

UM CASAL DE POETAS:


No dia da poesia

Meus parabéns aos poetas
De Assu terra bendita
Onde a rima desperta
Um arrepio, que agita
Paixão que corre na veia
Do poeta em lua cheia
Que entre a gente habita

Uma rima improvisada
Uma tirada um repente
Que nos faz arrepiar
Nos deixa triste ou contente
Poesia em verso e prosa
Uma quadrinha uma glosa
É Assu e sua gente

Então amados poetas
Que flua a inspiração
Pela rima nós tenhamos
Cada vez maior tesão
Vamos enfim dissertar
Rimando ou sem rimar
A poesia é paixão


Autor: Rosivaldo

*_*


O Dia da poesia.

Escolheram este dia
Pra ser o da poesia
E eu quero homenagear
Agradecendo ao Senhor
E dando o maior valor
Para quem sabe rimar.

Quando cada rima vem
A Mente da gente tem
O Poder da imaginação
Ela sai com facilidade
E se torna de verdade
Porque vem do coração.

O Poeta e pensador
Se alimenta do Amor
Que si do seu coração.
E Tudo se torna profundo
Porque ele enxerga o mundo
Com os olhos do coração.

Me sinto muito feliz
Porque sempre que eu quis
Compus uma poesia
Agradeço a Deus este dom
Pois além de ser muito bom
Me da muita alegria.


Autora: Antonieta Guilherme dos Ramos Bezerra.
Postado por Rosivaldo Quirino.

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