As cenas da tragédia do dia 1º de abril de 1981, que contabilizou seis mortes e 1.044 casas destruídas em Santa Cruz deixando cinco mil pessoas desabrigadas e o Rio Grande do Norte sem luz e água por cinco dias, ainda permanece na memória dos moradores do município de Campo Redondo e Santa Cruz.
Foram momentos de agonia que marcou as vidas dos cidadãos e fez heroína uma telefonista: Maria de Fátima da Silva, que fez contatos com o prefeito da época, Hildebrando Teixeira, para esvaziar a cidade antes do rompimento da barragem de Campo Redondo, distante 25 km de Santa Cruz, salvando milhares de pessoas.
Apesar de ser o dia 1 de abril, conhecido como o dia nacional da mentira, o alerta da telefonista deu resultado e carros de som anunciaram a ameaça da enchente. Os moradores deixaram para trás suas casas e foram abrigados em prédios públicos ou regiões altas da cidade. Dentro de três horas a enxurrada das águas devastaria a cidade.
A ponte da entrada da cidade de Campo Redondo foi arrastada pelas águas. A correnteza percorreu ainda cerca de 80 km e atingiu outros quatro municípios.
Com 14 torres da rede de energia da CHESF derrubados, o Rio Grande do Norte permaneceu uma semana às escuras. Em Natal, o único hospital com gerador na época era o Walfredo Gurgel. Supermercados fechavam mais cedo com medo de assaltos. Sem energia, o bombeamento para abastecimento de água também foi comprometido.
O então governador Lavoisier Maia decretou estado de calamidade pública em toda a região do Trairi e levou fotos da tragédia ao presidente da República, João Figueiredo. O ministro do Interior na época, Mário Andreazza confidenciou ao prefeito de Santa Cruz só ter visto cena igual em guerra.
Com a solidariedade de todos, um grande mutirão envolveu as instituições públicas e privadas, ONGs, voluntários, igreja e as próprias vítimas. As três esferas do poder executivo esqueceram diferenças partidárias e também se uniram para reconstruir as cidades atingidas. As doações chegavam de todas as regiões do Brasil.
Trata-se da história de uma das mais significativas cidades potiguares e o que ocorreu nunca deva ser apagado da memória!
SONHO MAGNÍFICO SONHO Magnífico! Sonho! Sonho que me leva às nuvens, e me preenche de paz! E vou sonhando, deslizando nas relvas frescas do pensar ameno brinco, viro criança que convida a brincar de roda para que no sonho, a humanidade dê as mãos, e lado a lado, se olhe e veja no olhar do outro o desejo de paz...
Magnífico Sonho! Sonho que me leva às nuvens, e preenche-me de paz! Sonho que me traz à terra E deslizando no frescor da relva dá de beber das gotas delicadas Esperança a acariciar os leves pensamentos Como criança que canta e brinca Balbuciando a fertilidade do sonhar, Sonho a humanidade na Humana Idade de crescer Lado a lado, olho no olho. Curvo-me perante a “NATUREZA HUMANA” No olhar do outro, a imagem que solfeja o desejo de paz, nos olhos do mundo a lágrima seca dando passagem ao riso salpicando aroma de união e fé...
Vejo no sonho, a crença nos resgates de um tempo perdido no meio do nada e colho a maturidade na percepção, recolho folhas caídas, apanho o choro que se disfarçava em gargalhadas, acordo as cordas que emudecidas, esqueceram da canção da vida! Silencio o rumor que quer ensurdecer os meus ouvidos e a paisagem vai se espargindo trazendo anjos e cestos, arminhos e pergaminhos...
Letreiros bordados registrando a busca e o encontro dos seres que, humanos, Renomados, antes nem lembrados, eram desclassificados... À luz, o esplendor da força criadora que renova a tudo! Os espaços sonhados estão repletos de SERES DE LUZ!
O primeiro cangaceiro a assombrar o Nordeste foi o Cabeleira, nascido em Gloria do Goitá, no interior de Pernambuco, presumivelmente no ano de 1751, conforme o seu biografo, Luís da Câmara Cascudo. O Cabeleira morreu enforcado, no Largo das Cinco Pontas – em Recife – em 1776 – “A sua figura de homem belo, de cabeleira loura – escreveu José Lins do Rego – passaria a figura de ninar nos cantos das pretas velhas. – Seria um dos modelos para a figura de Aparício Vieira, protótipo dos bandidos do sertão brasileiro” (conforme a definição de Antônio da Cunha, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa), que o romancista paraibano levanta nos livros Pedra Bonita e Cangaceiro. José Lins mostra com força dramática, nos seus romances sertanejos, esse mundo “dos santos e dos cangaceiros, dos que matam e rezam com a mesma crueza e humanidade”.
A figura de Jose Gomes já aparecera, muito romantizada, no livro de Franklin Távora O Cabeleira. O cangaceiro e seu bando aterrorizavam as populações, “estripando mulheres a punhal, incendiando casas, depredando tudo, espalhando a morte”, no dizer de Cascudo. O Cabeleira, como ocorria com Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e, claro, Lampião, o mais célebre e temível de todos os cangaceiros, cujo sobrenome chegou a adjetivar-se, como sinônimo e arquétipo – seria também personagem dos poetas populares e cordelistas. Silvio Romero registra seu nome em Cantos Populares do Brasil. Pereira da Costa trata dele no Folclore Pernambucano e Leonardo Mota escreveu um drama sobre suas façanhas, intitulado Cabeleira vem aí, cujo título se origina, certamente, dessas quadrinhas populares – citadas por José Lins e Cascudo, com algumas variações – hoje praticamente esquecidas na memória popular nordestina:
Fecha a porta gente
Cabeleira aí vem
Ele não vem só
Vem seu pai também.
Fecha a porta gente
Cabeleira aí vem
Vem matando menino
E velho também.
Cascudo o descreve como um tipo forte, alto, airoso, com extensa cabeleira anelada que lhe cobria a nuca, dizendo que madrugou nas tropelias e violências, guiado por seu pai, Joaquim Gomes, e em companhia do mameluco Teodósio. José Bernardo Fernandes Gama, nas Memórias Históricas da Província de Pernambuco, registrou as façanhas do Cabeleira, confundido o apelido que atribui ao pai do cangaceiro: fala de um celerado, a quem chamavam de Cabeleira, um filho deste (sic), e “um pardo, de nome Teodósio, ladrão mui astuto”, que aterrorizavam esta província com seus enormes crimes. Entretanto, como ocorreria com a maioria dos cangaceiros célebres, o Cabeleira encontrou simpatias populares. Cascudo explica: “Sua mocidade, beleza física, a graça de maneiras, as lágrimas de arrependimento, as evocações constantes a figura da mãe e aos conselhos, sua arte de tocar viola, horas e horas encantando os soldados (sic) e assistentes, foram modificando a impressão corrente, e o Cabeleira começou a encontrar defensores e mesmo simpatias”.
Mais ou menos nesta mesma linha José Lins do Rego escreve sobre José Gomes, o Cabeleira: “Apesar de toda crueldade, ainda chegou a impressionar a massa sobre a qual afligia tamanha servidão. Contava-se que morreu por amor. Apaixonado por uma linda moça, o seu coração ficou terno e não resistiu ao mágico poder da mulher, deixando-se enfeitiçar para morrer na forca”.
Um dos episódios sinistros do Cabeleira reporta que ele matou a tiros de bacamarte umas crianças que se haviam refugio com temor de seu bando em uma árvore, numa estrada de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco (para alguns, local de nascimento do cangaceiro). Outra versão sustenta que a vítima foi um adulto, que, por estar defendendo-se com um galho de árvore, o cangaceiro compara a um grande macaco guariba – um guaribão -, daí a denominação de “macacos” para as volantes de soldados que se opunham aos cangaceiros e os enfrentavam nas caatingas nordestinas. Silvio Romero colocou em versos, que imitam o ritmo do cordel, o episódio de “guaribão”. Na peça fala o próprio Cabeleira, lembrando seus feitos mais heroicos:
Lá na minha terra
la em Sant’ão
encontrei um homem
feito um guaribão.
Botei o bacamarte,
Foi pá – pí no chão.
No ensaio Presença do Nordeste na Literatura Brasileira, José Lins do Rego aborda o tema do cangaço nordestino, assinalando que está intimamente ligado à história social do patriarcalismo, à vida de uma região dominada pelo mandonismo do senhor da terra e de homens, como se fossem barões de feudos.
Já em O Sertanejo, – livro que influenciou a obra, de Euclides da Cunha – José de Alencar retratava esses “barões sertanejos”, tão poderosos e autossuficientes nos tempos coloniais do Brasil, que “só nominalmente rendiam preito e homenagem ao rei de Portugal, seu senhor e suserano”. José Lins mostra, ainda em nosso século, “o chefe que continuava a mandar de baraço e cutelo, na família, nos aderentes e nos eleitores”; por isso, precisando muitas vezes de “uma força acima da lei, para impor-se a dominar sem limites”. Assim o chefe sertanejo cria um poder que nem o estado – pelo menos durante algum tempo – seria capaz de enfrentar, pois “o chefe era, no sertão, mais que o estado”.
Para firma-se de pé e impor sua lei – para “pré-firmasse suseranamente”, conforme as palavras de José Lins, ele próprio neto de um desses poderosos das terras nordestinas, conforme conta em livros como Menino de Engenho e Meus Verdes Anos – o chefe recorria aos seus “homens dispostos, aos cabras de olho virado, aos que matavam sem dor na consciência”. Assim, a função do cangaceiro, em certa medida, a de uma espécie de “gendarmeria às avessas”. Como, nessa inversão, o crime adquiria um poder corretivo (a lá Esquadrão da Morte de nosso passado recente e urbano), surgiram cangaceiros que, revoltando-se contra o senhor a cujas terras literalmente pertenciam, fizeram trabalhar por sua conta, tornando-se chefes de bandos e passando eles próprios a ditar as leis do sertão. É a estrutura social que determina o aparecimento do cangaceiro, conforme nos mostram em seus romances, um José Lins do Rego, mais recentemente, um Adonias Filho.
FONTE – Jornal da Paraíba, Campina Grande-PB, 2 de fevereiro de 1983, pág. B-5
AUTOR – JOSÉ EDILBERTO COUTINHO – Nasceu em 28 de setembro de 1938, em Bananeiras, Paraíba. Advogado, jornalista, professor e escritor dedicado ao folclore nordestino. Diplomado pelo World Press Institute, escreveu nos principais jornais e revistas do Brasil e durante algum tempo, foi correspondente, na Europa, do Jornal do Brasil e da Revista Manchete e, nos Estados Unidos, dos Diários Associados (O Jornal e O Cruzeiro). Em 1970, transferiu-se, definitivamente, para o Rio de Janeiro. Pela atuação nos meios intelectuais e literários, conquistou vários prêmios, tanto no Brasil como no exterior, entre os quais, destacamos: “Ensaios de Jornalismo Literário e de Ficção”, conferido pela Academia Brasileira de Letras; “Crítica Literária”, da Associação Paulista de Críticos de Arte; “Estudos Brasileiros de Ficção”, da Fundação Cultural de Brasília-Conselho Federal de Cultura; “Ensaio Biográfico”, da Associação Brasileira de Crítica Literária e o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio “Casa de Las Americas”, de Havana, com o livro Maracanã, adeus: onze histórias de futebol (1980). Ingressou na Academia Paraibana de Letras, em 28/05/1982. Principais livros publicados: Onda boiadeira e outros contos (1954), Erotismo no romance brasileiro, anos 30 a 60 (1967), Rondon e a integração amazônica (1968), Um negro vai à forra (1977), Sangue na praça(1979), 1979; Criaturas de papel (1980), Erotismo no conto brasileiro (1980),Memória demolida (1982), O jogo terminado (seleta de contos), (1983), A imaginação do real, (1983). Sua última publicação foi a obra póstuma: Bar Savoy. Faleceu em 1995.
A prefeitura do Assú realizou na última quinta-feira (2), a entrega das aves do “Projeto Cocoricó”, o evento aconteceu na comunidade rural de Palheiros e contou com a presença do prefeito Ivan Júnior.
O projeto Cocoricó é uma inciativa da Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural (SMDR), que visa oferecer uma nova alternativa de renda as famílias do campo, através da criação e comercialização de galinhas caipira.
O evento desta quinta-feira, quando, cada família recebeu 100 aves (pintos), foi apenas mais uma etapa do projeto que começou de fato no último dia 20 de março, com a realização de uma aula de capacitação que ensinou técnicas de: instalação, manejo, nutrição, planejamento de criação e comercialização.
Em seguida foram entregues 100 metros de tela para montagem do local de criação, denominado de “piquete”, e a ração completa para o primeiro ciclo.
A partir de agora os criadores receberão orientação e assistência técnica gratuita constante da equipe “Fazendo o Campo Mais Forte”, da SMDR.
O técnico José Valmir, explicou que: “com a comercialização das galinhas, dentro de alguns meses, se seguirem as orientações, os criadores poderão ter uma renda mensal de 1200 reais, além de uma poupança de aproximadamente 3.800 reais para investimentos e ampliação do negócio”.
Durante a solenidade o titular da SMDR, secretário Paulo Brito, destacou o apoio da administração municipal ao setor rural e aos pequenos produtores: “É muito bom estar em mais um evento voltado para o campo, com um projeto que vem se juntar a outros executados pela prefeitura com o objetivo de fortalecer a renda das famílias que aqui vivem”.
Representando os produtores o Sr. Antônio Lucena falou sobre a satisfação de fazer parte do projeto: “quem tá de parabéns não é só Antônio Lucena, são todos os agricultores que farão parte. Agradeço ao prefeito e ao seu secretariado por estarem aqui hoje trazendo mais este benefício”.
O prefeito Ivan Júnior parabenizou os beneficiados ressaltando que a Prefeitura prioriza o desenvolvimento e o bem-estar de todos: “O fortalecimento dos agricultores, dos pequenos produtores e de suas famílias é uma de nossas prioridades. Estamos felizes por estarmos aqui hoje, trazendo mais esta alternativa de renda através da criação e venda de galinhas caipiras. Temos certeza que se houver dedicação por parte de todos, dentro de alguns meses estaremos aqui comemorando os resultados positivos do projeto”. Afirmou o prefeito.
“Hoje o mercado é bastante promissor e além da demanda crescente, o pequeno produtor pode produzir e vender com o auxílio de associações e cooperativas, os produtores terão todo apoio da prefeitura”. Concluiu Ivan Júnior.
Também estiveram presentes: o secretário de governo Antônio José, secretário de educação Alberto Luís, secretário-adjunto de articulação comunitária Nelson Dantas, e o Vereador Sérgio Rocha representando a Câmara Municipal.
O Parque Ecológico Dunas de Genipabu em segundo lugar no ranking de dunas para se conhecer no Brasil elaborado pelo Guia Viagens Brasil. A lista, com as sete dunas mais belas e admiradas pelos turistas, tem os Lençóis Maranhenses na primeira colocação.
“É importante destacar que no Brasil existe muitas dunas belíssimas como Pequenos Lençóis, Trairi e Jalapão. Todos esses lugares merecem destaque e principalmente respeito”, afirma o fotógrafo Ricardo Júnior.
Além dos Lençóis e de Genipabu, também entraram na lista as dunas de Jericoacoara, no Ceará, Dunas da Joaquina e Siriú, em Santa Catarina, Piaçabuçu, em Alagoas, e Mangue Seco, na Bahia.
Foto: Frankie Marcone
Fonte: Tribuna do Norte “O objetivo do site é levar aos turistas e brasileiros a ideia de diversidade e possibilidades de passeio no próprio País. Não é necessário ir para Miami, Argentina ou Disney para se divertir. O Brasil tem uma ampla variedade em fauna, flora, praia, etc”, ressalta Ricardo Júnior.
Durante muitos anos fiquei sem qualquer conhecimento sobre o que tinha acontecido de verdade com meu pai, de 1935 até 1939. Aqui mesmo, neste jornal, escrevi um artigo intitulado “O telegrafista extremista”, onde retratei os passos dele, Miguel Trindade Filho, após o levante de 1935, baseado em notícias de antigos jornais da época, digitalizados pela Hemeroteca Nacional.
Resumidamente, descobri que ele tinha sido transferido, ainda em janeiro de 1936, da Regional dos Correios de Pernambuco (estava em Recife desde 1926) para a de Mato Grosso, fato que não constava na sua ficha funcional. Na viagem para esse estado, no vapor Poconé, em fevereiro desse mesmo ano, foi impedido de desembarcar em Salvador, acusado de exercício de atividades comunistas. O vapor seguiu viagem para o Rio de Janeiro, tendo sido ele, e Wanderlino Vírginio Nunes, presos a bordo, por investigadores da Polícia Central, no dia 21 de fevereiro. Nesse mesmo ano, em 14 de março, chegavam presos ao Rio de Janeiro, no vapor Manaus, 116 extremistas, estando entre eles, Graciliano Ramos e duas mulheres Maria Joana de Oliveira e Leonila Félix.
Após essa prisão, a única informação que tive a mais desse ano, é que o praticante diplomado, Miguel Trindade Filho, tinha sido exonerado por exercício de atividades subversivas de ordem política e social, em ato de 25 de junho de 1936. A sua nova prisão em 1938 foi decorrente de duas cartas.
Voltei a encontrar novas notícias sobre Miguel Trindade Filho, nesses velhos jornais, somente em 1938. Havia um processo que tratava do julgamento dos participantes do levante de 1935, rolando nesse ano. Era o processo 636, que posteriormente localizei uma cópia microfilmada, no Arquivo Nacional. Fiz a encomenda desse processo, que recebi em CD. É nele que encontrei uma ficha do DOPS e um auto de declaração prestado por Miguel Trindade Filho e outros participantes. Daqui do Rio Grande do Norte, além de papai, aparecem, também, o veterinário, Dr. Raimundo Gurgel Cunha, e o estudante de Direito, José Ariston Filho.
Na ficha do DOPS constava que papai fora preso em 21 de dezembro de 1935, com suspeita de participação no movimento extremista de novembro daquele mesmo ano; que em 18 de janeiro de 1936 foi posto em liberdade e que procedida uma busca em sua residência, por ocasião da prisão, fora apreendido livros e boletins de caráter comunista e que ele confessou-se simpatizante da doutrina marxista; que em 14 de junho de 1938, fora preso em Natal, à disposição da Delegacia, em Recife, como acusado de exercer atividades extremistas.
Nessa ficha ainda constava que em 18 de junho de 1938 fora recolhido ao Presídio Especial; declarou que em fins de abril desse ano, no escritório comercial Oliveira & Cia, situado à Rua Chile, número sessenta e três, em Natal, onde trabalhava, foi procurado por um individuo desconhecido (que se identificou como Cardoso), que lhe disse que o procurava por indicação de José, pessoa que papai não sabia quem era; que tinha uma carta que era dirigida ao declarante, mas como Cardoso lhe dissera para entregá-la a quem procurasse, o declarante assim o fez; que reconhecia na fotografia que foi mostrada na Delegacia, a pessoa de Cardoso, o que sabia naquele momento ser conhecido em Recife pelo nome de Hélio Soares ou “Amorim”.
No auto de declaração que aparece, resumidamente, na ficha, ele conta que dez dias após essa visita apareceu a pessoa, que ele descreveu como sendo um rapaz de cor morena, estatura regular, trajado modestamente, o qual solicitou a entrega da carta deixada pelo tal Cardoso.
Continuando seu depoimento (o documento tem partes de difícil leitura) Miguel Trindade declarou: que exerceu neste estado (Pernambuco) as funções de praticante diplomado da Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos; que após o movimento subversivo de novembro de mil novecentos e trinta e cinco, o declarante foi preso como suspeito, tendo sido posto em liberdade dias depois; que ao passar ao Rio de Janeiro com destino ao Estado de Mato Grosso, para onde fora transferido, o declarante foi detido pela polícia carioca, tendo passado três meses detido, sendo posto em liberdade sem ser ouvido; que então resolveu voltar ao Rio Grande do Norte e abandonou o seu cargo; que não sabe se a carta apreendida por esta Delegacia na agência postal da Praça Maciel Pinheiro e que lhe fora dirigida por Cardoso, também fora escrita pela mesma pessoa que lhe dirigiu a carta que chegou às suas mãos; e como nada mais disse nem lhe foi perguntado, a autoridade mandou encerrar o presente, que lida e achada conforme, me assina com o declarante e comigo Heitor de Araújo de Sousa, escrivão que a escrevi. Edson Moury, Miguel Trindade Filho.
Foi no livro “China Gordo” que Andrade Lima Filho cita papai, com quem esteve preso, em 1938.
Habitavam-na três comunistas que seriam daí por diante meus companheiros de prisão por longo tempo. É curioso: o cárcere, que não conhece a aritmética, soma quantidades heterogêneas. Fizemos logo boa camaradagem. Os polos políticos se encontravam sob aquele meridiano sombrio. Tocavam-se os extremos. Dois deles eram boas praças, idealistas sinceros, a quem, apesar das nossas divergências então acirradas, afeiçoei-me logo. Um, o marinheiro José Leite, que mais tarde eu voltaria a encontrar na Assembleia Legislativa feito deputado. O outro, o Trindade Júnior (na verdade Trindade Filho), um telegrafista norte-rio-grandense, baixote, loquaz, muito lido. Trindade conhecia razoavelmente Marx e sabia de cor todo o "Eu" do Augusto dos Anjos. Mas quando ele vinha com a teoria da "Mais Valia", eu cortava logo a doutrinação, dizendo: - " Marx não, vamos ao Augusto".