terça-feira, 23 de junho de 2020





Foto – Rostand Medeiros.
Hoje, 21 de junho de 2020, por volta de cinco horas da manhã, na Rua Chile, número 161, no bairro da Ribeira, caiu com certo estrondo uma grande parte do antigo prédio da Boate Arpége, um dos mais representativos locais do boêmio bairro da Ribeira e fortemente ligado ao período da Segunda Guerra Mundial e história da aviação histórica em Natal.


Foto – Rostand Medeiros.
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As últimas chuvas que caíram em Natal ajudaram a destruição desse imóvel que se encontra abandonado já faz algum tempo. A área se encontra isolada e oferece  risco de novos desabamentos e, como parece que ainda vai acontecer novas chuvas em ter os meses de junho e julho, é provável que o que sobrou venha abaixo.
Existe no local e a cena é triste para quem valoriza a história do lugar onde vive. Apesar de toda problemática com o COVID-19, tive a felicidade de encontrar o amigo German Zaunseder, com quem troquei algumas ideias sobre essa situação. Esse local histórico, tombado pelo poder público, em breve deixará de existir definitivamente.


Foto – Isa Cristina.
Em agosto de 2019 do ano passado eu lancei o meu livro “Lugares de Memória”, que nos seus capítulos apresenta informações e imagens (atuais e antigas) de 27 locais de Natal que possuem ligação com a participação de Natal no conflito, incluindo quartéis, hospitais, sedes de companhias aéreas, bares, cabarés, hotéis, clubes militares, residências de oficiais e do cônsul norte-americano, entre tantos outros pontos que ainda mantêm as características de sete décadas atrás, ou cujos prédios originais deram lugar a novas edificações em Natal.
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Entre as edificações apresentadas no livro “Lugares de Memória” estava esse histórico edifício, que agora está quase totalmente destruído. Trago aos leitores do blog TOK DE HISTÓRIA o capítulo que trata do antigo Arpége.


Imagem obtida em junho de 2019 – Foto – Rostand Medeiros.
UM CABARÉ CHAMADO ARPÈGE – RUA CHILE, 161
Esse prédio, já quase completamente destruído, com dois pavimentos superiores derrubados por falta de reparos, ficou conhecido durante muitos anos por ser o local onde funcionou o prostíbulo denominado “Boate Arpège”.
Mas esse local, que em 2010 teria sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), possui na história de um antigo proprietário uma ligação muito forte com os períodos da aviação histórica e da Segunda Guerra Mundial na capital potiguar.


Lançado em agosto de 2019, “Lugares de memória” trás entre seus capítulo a história do edifício onde funcionou o Arpège.
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O site de genealogia http://www.parentesco.com.br aponta que Enest Walter Lück, também conhecido como Ernest Luck, ou Ernesto Luck, nasceu no ano de 1883, na Alemanha. Segundo o falecido escrito e pesquisador Hypérides Lamartine, conhecido por todos em Natal como Pery Lamartine, em um trabalho que foi entregue em 2008 aos pesquisadores Rostand Medeiros e Frederico Nicolau, Enest Lück é oriundo da cidade de Gevelsberg, na antiga província alemã da Westphalian. Era de uma família de agricultores que trabalhavam também como ferreiros[1].
O trabalho de pesquisa de Pery Lamartine foi realizado por meio das informações do filho de Enest, o empresário do ramo do turismo Werner Ernest Ferdinand Lück, falecido em Recife no ano de 2002. Werner comentou que seu pai trabalhava na cidade belga de Ostende, em uma firma de importação e exportação. Quando um amigo de infância chamado Richard Robert Bürgers lhe escreve do Brasil informando que morava no estado do Rio Grande do Norte. Aqui, Bürgers fora contratado por uma firma inglesa para perfurar poços e que precisava de um auxiliar de confiança para participar dos trabalhos. Enest Lück tomou, então, o navio Karshel, que atracou no porto de Recife em 7 de outubro de 1911, seguindo para Natal em um navio costeiro. Na capital potiguar, o novo imigrante alemão soube que a firma inglesa tinha falido e começou a buscar um novo rumo para a sua vida. Lück, então com 28 anos, adquiriu uma fazenda no sertão do Rio Grande do Norte, com a intenção de criar gado, plantar algodão e mamona. Essa fazenda era localizada próxima ao Pico do Cabugi, na região central do estado. Em suas visitas a Natal, o Sr. Lück enamorou-se por uma senhorita chamada Henriqueta Green, de origem inglesa ou norte-americana, cujo romance acabou com a deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914- 1918) e o envolvimento de seus países de origem em lados opostos.


Natal no início do Século XX.
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Esse conflito em muito retardou o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte, mas, após o fim da Primeira Guerra, Enest Lück planejou uma mudança de vida. Assim, fundou com um amigo uma loja na Rua Chile, 161, onde se vendia muitos artigos e ficou conhecida como uma loja de “Secos e Molhados”. Além da loja eles criaram a firma de importação e comércio Gurgel, Luck & Cia., com o objetivo de importar produtos da Alemanha e exportar matérias primas produzidas no Rio Grande do Norte, como algodão, óleos, couros, etc.
Ainda segundo Pery Lamartine os sócios vão à Alemanha em 1922 em busca de contatos comerciais, no que são bem-sucedidos. Eles conseguem a representação potiguar da grande casa exportadora Theodor Wille, uma empresa criada por um alemão no Brasil em 1848, que se tornou uma verdadeira potência comercial na década de 1920, onde exportava para a Alemanha o nosso café e exportava tecidos, ferramentas, máquinas e até locomotivas.
Ainda na Alemanha os dois sócios igualmente conseguiram a representação da empresa de navegação Hamburg Sud, ou Hamburg Südamerikanische Dampfschifffahrts-Gesellschaft, também conhecida como Hamburg South America Line, até hoje uma grande empresa de navegação que faz parte da Maersk Line, a maior empresa de transporte de contêineres do mundo.
Ou seja, o alemão e seu sócio brasileiro, além de fecharem um interessante contrato de representação com uma empresa que trazia da Alemanha produtos de primeira qualidade e aceitava comprar as matérias primas produzidas em terras potiguares, também conseguiram a representação de uma grande empresa de navegação. Essa provavelmente transportava os produtos ligados a Gurgel, Luck & Cia., possivelmente com um valor diferenciado e vantajoso.


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Nesse retorno de Enest Lück ao seu país, ele reencontrou uma vizinha de infância chamada Elisabeth Luise Bamberger, com quem casou. Enquanto sua vida familiar progredia na caliente Natal, na sua loja da Rua Chile, 161, Enest Lück vendia muitas mercadorias e se tornou referência na cidade. Encontramos em jornais natalenses anúncios de venda de facas, ferramentas agrícolas, talheres, tesouras, etc. Esse edifício não era o único imóvel que o  imigrante alemão possuía naquele setor da cidade. Ele era proprietário de um salão aberto na Travessa Venezuela e uma loja na Rua Dr. Barata, a de número 170, onde ali funcionou durante algum tempo a Confeitaria Savoia, de Giovani Fulco. Enest Lück cresceu como comerciante e na respeitabilidade junto ao povo de Natal, tornou-se o mais proeminente representante da pequena colônia alemã aqui radicada, representante diplomático de sua nação na cidade.
Apesar desses avanços, percebemos na leitura dos antigos jornais uma situação que, aparentemente, chamou negativamente a atenção do povo de Natal em relação às atitudes do alemão Enest Lück.
Segundo nos conta Pery Lamartine, nos primeiros anos da década de 1930, vivia-se, a nível mundial, uma acirrada disputa no que se refere ao transporte do correio aéreo e de passageiros, principalmente entre franceses e alemães. O falecido escritor e aviador potiguar informou que Enest Lück conseguiu então as representações das empresas Lufthansa e Sindicato Condor. Duas companhias de transporte aéreo que se completavam e, conforme podemos observar no capítulo dedicado a  atuação do Sindicato Condor em Natal, ficava localizada na Rua Frei Miguelinho, 119, Ribeira. Foi quando a edição de domingo, 13 de setembro de 1931, do jornal A República, apresentou com grande destaque os fatos que envolveram a tragédia de um hidroavião Dornier Wall, do Sindicato Condor.
Registrado como P-BALA e batizado como “Olinda”, o jornal aponta que, no dia anterior, um sábado, ao buscar decolar no Rio Potengi o piloto Max Christian Sauer e o copiloto Rudolf Karwat não conseguiram força suficiente, aparentemente devido ao mau funcionamento em um dos motores e a aeronave não alcançou a ascensão desejada.
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Ao sobrevoar o Canto do Mangue, local de atracação de barcos de pescadores às margens do Rio Potengi, o piloto decidiu fazer uma curva à esquerda para levar o “Olinda” para o mesmo ponto de onde partiram e tentar uma nova arremetida.
Provavelmente devido à falha no motor, desconhecimento dos obstáculos que havia na área que sobrevoava, desorientação espacial, ou outras causas, o Dornier Wall chocou-se violentamente contra uma antiga barcaça utilizada para o transporte de areia e explodiu em chamas. O impacto ocorreu na outra margem do rio, defronte à administração do Porto de Natal. Os que foram entrevistados pelo jornal nada comentaram sobre o barulho de uma explosão, mas narraram quer viram uma bola de fogo que se criou após o choque.
Consta, nas páginas de A República, que entre os que testemunharam a tragédia e estavam no outro lado do Potengi estava Mestre Manoel Ciríaco, proprietário de um barco conhecido como Minerva, além dos seus tripulantes Luís Jacaré e Chico Velho. EsSas rapidamente embarcam no bote e foram os primeiros a chegar ao local da tragédia.
Na barcaça abandonada, que o jornal chama de “areieiro”, Ciríaco encontrou o mecânico Paul Hein, ferido e desacordado. Próximo à barcaça, ainda dentro do que restou da cabina do “Olinda”, os brasileiros viram os restos mortais do piloto, do copiloto e do radiotelegrafista Franz Noether. Nesse momento, encostou uma lancha com vários passageiros, entre eles o alemão Enest Walter Lück e funcionários do Sindicato Condor. Mestre Ciríaco e seus ajudantes transferiram então o mecânico ferido para a lancha e este foi transportado para o cais do porto. Para a surpresa do simples barqueiro e seus tripulantes, em vez de Lück e os membros do Sindicato Condor resgatarem os corpos dos seus companheiros, esses passam a recolher as encomendas, envelopes e malas postais que flutuavam no rio. Ciríaco e seus companheiros comentaram os fatos com detalhe no principal jornal de Natal, o que aparentemente chamou atenção na cidade.
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Estaríamos, então, diante da fria lógica germânica que, frente à morte de três tripulantes e da prestação inicial de assistência ao ferido, o mais importante era o recolhimento do material ao resgate dos cadáveres dos seus companheiros? Vale ressaltar que o piloto Max Christian Sauer era o diretor técnico do Sindicato Condor.
E o que haveria de tão importante nesse material que flutuava no Potengi?
Ao observamos os jornais da época, um fato chama a atenção. No dia 27 de agosto de 1931, dezesseis dias antes do acidente do “Olinda”, procedente das Antilhas chegou ao porto de Natal o cruzador ligeiro Inglês H. M. S. Dauntless. Esse era um fato não muito comum na capital potiguar, sendo noticiado pelos jornais da época como “uma tranquila visita de cortesia de 400 oficiais e marinheiros da marinha de Sua Majestade”. Não faltaram inúmeras recepções que movimentaram a urbe, com um baile a bordo do cruzador e outras festividades. Ocorreu até mesmo um movimentado jogo de futebol entre a equipe do navio e o time do América Futebol Clube, que venceu os marinheiros ingleses pelo placar de 4×2. O certo é que o cruzador inglês H. M. S. Dauntless não era nenhum navio desprezível, ou que não chamasse atenção. Era uma moderna nave de combate da classe “D” de cruzadores ligeiros ingleses, estava em serviço ativo desde 1918, possuía o código D-45 e pertencia, na época, à Divisão Sul Americana da frota inglesa. Desenvolvia quase 30 nós de velocidade, com um armamento que incluía torpedos de 533 m.m., seis canhões de 152 m.m. e canhões antiaéreos. Seu peso era de 5.000 toneladas e tinha quase 150 metros de comprimento[2]. Em 1931, apesar de a Alemanha ainda não viver sob o domínio do Terceiro Reich, haviam se passado apenas treze anos do fim da Primeira Guerra Mundial, onde a Inglaterra era vista pelos alemães como um potencial inimigo. Era normal aos agentes e representantes alemães pelo mundo afora, como era o caso de Enest Walter Lück, informar as movimentações e os detalhes sobre as belonaves de guerra dos países considerados inimigos em suas viagens. Haveria então nas malas postais transportadas pelo “Olinda” alguma informação interessante sobre o cruzador H. M. S. Dauntless que teria sido enviada para a Embaixada Alemã no Rio de Janeiro?
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Seria essa a razão do Sr. Enest Walter Lück ter deixado de lado o resgate dos corpos dos tripulantes do “Olinda”?
Ou seria apenas uma coincidência?
Não sabemos, mas vale ressaltar que, devido à falta de atenção do Sr. Enest Walter Lück em não ordenar o resgate dos corpos dos tripulantes do hidroavião, esses são deslocados pela maré e se perdem na noite. Só vão ser encontrados, segundo o jornal A República, a partir das dez da manhã de domingo, 13 de setembro. Eles estavam espalhados em vários pontos do rio e já em adiantado estado de putrefação. Ainda no domingo, com grande acompanhamento por parte da população local, autoridades e membros da colônia alemã, os três alemães mortos foram rapidamente enterrados no cemitério do Alecrim.
Conforme apresentamos no texto dedicado ao comerciante italiano Guglielmo Lettieri, durante a Segunda Guerra Mundial, o alemão Enest Lück e dois compatriotas foram acusados e condenados como espiões da Alemanha Nazista atuando em Natal. Clyde Smith deixa a entender em seu livro que a loja que Lück possuía na Rua Chile era uma espécie de fachada para outras atividades, pois ali “aparentemente, ninguém entrava”[3]. Mas logo após o fim do conflito todos foram soltos e, de uma forma que merece estudo complementar, foram perdoados pela sociedade natalense e continuaram a tocar suas vidas.
Não conseguimos uma informação mais abrangente sobre o que aconteceu com a loja de Lück na Rua Chile, 161. Mas, segundo a dissertação de mestrado do arquiteto e urbanista Gilmar de Siqueira Costa, pouco antes da chegada dos militares norte-americanos a Natal, o dia a dia naquela edificação ficou bem movimentada.
Intitulada Reutilização de imóveis de interesse patrimonial, voltados para a habitação: Um estudo de caso na ribeira – Natal/RN e publicada em 2006, essa dissertação, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da UFRN, aponta, nas páginas 147 a 149, que o pavimento do edifício da Rua Chile, 161, foi construído em 1904. Já em 1941, o Senhor Nestor Galhardo adquiriu parte da edificação, tendo o intuito de instalar sua própria gráfica, ocupando apenas o pavimento térreo. Porém, com o advento da Segunda Grande Guerra, muitas prostitutas e seus clientes vieram para a Ribeira. Pensando em atender ao grande número de militares e marinheiros, o Sr. Galhardo, que era amante de uma meretriz chamada Rosita, decidiu abrir um cabaré no pavimento superior, que seria administrado pela sua concubina e cuja entrada era feita pela Travessa Venezuela. Aparentemente foi nessa época que a edificação ficou conhecida popularmente como “Edifício Galhardo”.
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Segundo Gilmar de Siqueira Costa, um dos aspectos mais curiosos relacionados ao Edifício Galhardo é o fato de ter sediado durante muito tempo uma das mais famosas casas de meretrício do Nordeste – o Cabaré Arpège. O autor aponta como sendo uma “casa de recursos vinculada à cultura da boemia e dos cabarés, geradora de toda uma série de mitologias e anedotas referentes a personagens destacados na vida social, no decorrer do seu tempo de atuação”. Sobre esse lugar paira a lenda que durante a visita dos Presidentes Roosevelt e Getúlio Vargas à Natal, em janeiro de 1943, esses teriam visitado discretamente as instalações do elegante lupanar.
Após a morte do seu proprietário, o seu parente Nestor Galhardo Neto assumiu a administração dos negócios contidos no imóvel. Gilmar de Siqueira Costa aponta como fato curioso que durante as gravações da película “For All”, que buscava retratar a cidade de Natal no período da Segunda Guerra, algumas cenas foram tomadas nos espaços do prédio.
NOTAS

[2] O H. M. S. Dauntless chegou a participar de toda a Segunda Guerra Mundial, combatendo os japoneses na região da Batavia e Singapura, além de participar dos combates a submarinos alemães no Atlântico.
[3]SMITH JUNIOR, Clyde – Trampolim Para a Vitória. 1. Ed. – Natal-RN: Ed. Universitária, 1993, página 22.

ARTIGO - DIDI - O AUTOR DO PRIMEIRO GOL NO MARACANÃ.


Waldir Pereira, mais conhecido como Didi, nasceu em Campos dos Goytacazes/RJ, em 08/10/28, foi um futebolista brasileiro que atuava como meia.
Defendeu a Seleção Brasileira em três copas do mundo, sendo campeão das duas últimas, era especializado em bolas paradas, sendo a ele creditado a invenção do chute folha seca que dá um efeito repentino e inesperado na bola.
Foi um dos melhores jogadores brasileiros de todos os tempos, conquistando as copas do mundo de 58 e 62, dividiu holofotes com Pelé e Garrincha. Didi foi um exemplo de craque, diferente do europeu, pela malícia, pelo gingado de improvisação.
Mas era também um atleta perfeccionista, que tentava, tentava e tentava, que tinha uma qualidade de passe invejável.
Didi era a magia da arte, e a execução perfeita.
Morreu aos 71 anos de idade no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Izabel a centenas de metros do Maracanã.
CHICO TORQUATO

quarta-feira, 17 de junho de 2020

O dia 17 de junho é celebrado o Dia Mundial de Combate à Seca, desde 1995, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou essa data. Portanto, vale a pena lembrar o poeta assuense Renato Caldas.
Entretanto, se o renomado pintor Cândido Portinare utilizava a sua arte para denunciar os problemas sociais do povo comum, o renomado poeta Norte-riograndense Renato Caldas através dos seus versos em linguagem rude do sertanejo, utilizava a sua verve para retratar e denunciar a aflição do povo sertanejo do Nordeste brasileiro. Confira o poema sob o titulo "Secas", conforme adiante:
Meu patrão, mecê pergunta,
Pula vida do Sertão?
Eu num sei cuma cumece!...
Mecê, tarvez desconhece
Nossa dô, nossa afrição.
Proque é qui vós mecê,
Qué ôvi minha dô fala?
Qué que descasque a ferida,
Qui tenho narma iscundida
E véve sempre a sangrá?
Apois bem, vô lhe dizê,
Vou lhe contá meu patrão,
A história mais repitida,
Passada in todas as vida
Dos fio do meu sertão.
Vivemos naquelas terras,
Cuma outo bicho quarqué,
Nós só tem uma deferença,
Qui Deus dá pru recompensa:
A cumpanheira, a muié.
Além da nossa muié,
A nossa satisfação:
É uma noite inluarada,
Um prato bom de cuaiáda
E um cusido de feijão
Mas, quando a Sêca malina,
Se alasta pulo sertão...
Rio, cacimba secando,
Esturricando, lascando,
Tudo, tudo meu patrão!
O póbe do sertanejo,
Vê tudo seu se acabá.
Dia e noite nas estradas,
Vão passando as retiradas
Sem sabê onde escapá.
Quantas vez, nessa viage,
Num perde um fio, ou muié...
Quantas vez, pulas estradas,
Se encontra uma cruz infincada,
Sem se sab de quem é?
- Eu já sofri tudo isso!
Sofri mais qui outo quarqué.
- Sei qui mecê acredita –
Pois vi, a fome mardita,
Sucumbí minha muié.
E. à sombra duma oiticica,
Pejada de fruita e frô:
Deixei uma cruz infincada,
Trez parmo abaixo, interrada,
Minha muié! Meu amô.
Patrão, a história é cumprida,
Mas, num posso aterminá...
Fui descasca a ferida,
Qui tenho n’arma escundida...
Deixe a dor apalacá.
_____________EM, Fulô do Mato, 1940.
Os retirantes, de Cândido Portinari

17/06: DIA MUNDIAL DE COMBATE À SECA.
NAS QUEBRADAS DO SERTÃO.
Do livro: À SOMBRA DOS JUAZEIROS (páginas 19 e 20).
Ei! quando chega janeiro
A chuva cai no torrão,
Sertanejo pro roçado
E começa a plantação,
Cedinho vai pela estrada
Uma feliz caminhada
Nas quebradas do sertão.
Quando não ocorre a chuva
É grande a decepção,
Falta água e também o pasto
E nada de animação,
Olha a natura sozinho
Jurema só tem espinho
Nas quebradas do sertão.
Na chuva tem verde pasto
No meu bonito rincão,
O matuto corta e planta
É aquela animação,
Quando chega a invernada
Tem festa com vaquejada
Nas quebradas do sertão.
Quando a seca é muito braba
É triste o meu lindo chão,
Homem do campo se vira
É reza e lamentação,
No banco chora sentado
Mas ele sonha acordado
Nas quebradas do sertão.
Pipoca o pai da coalhada
Que é o robusto trovão,
Anuncia coisa boa
Nossa chuva no torrão,
Passarinho tem filhote
Vaca amamenta garrote
Nas quebradas do sertão.
Triste seca acaba tudo
Seca rio e cacimbão,
Verde só o juazeiro
E morre a vegetação,
Sede e fome mata gado
Carcaça pra todo lado
Nas quebradas do sertão.
Deus escuta belas preces
E chove no meu rincão,
A flora muda de cor
Com a pastagem no chão,
Tem gado gordo e colheita
Natureza satisfeita
Nas quebradas do sertão.
Marcos Calaça é poeta regionalista.
Nenhuma descrição de foto disponível.
Gileno Cabral
Fantástica foto da AVENIDA DEODORO, no Bairro de PETRÓPOLIS/NATAL, década de 40, na construção da balaustrada no trecho para chegar na ladeira da POTI !!!
Foto de Silvio Pedrosa/Acervo da FJA !!!
Jomar Fábio Silva de Carvalho para Fatos e fotos de Natal Antiga
Usem seus lugares e boa viagem!
Parnamirim, plataforma 1; Ceará-Mirim, plataforma 2; e Canguaretama, plataforma 3.
Atenção senhores motoristas dos veículos que se destinam às cidades de João Pessoa e Recife, ocupem as plataformas de embarque!
Onze horas em Natal.

terça-feira, 16 de junho de 2020

QUAL SERÁ O ÍNDICE DE ABSTENÇÃO DAS ELEIÇÕES


O Supremo Tribunal Eleitoral (STE) vem mantendo artificialmente, o calendário de datas para as eleições de 2020, num clima de bastante dúvidas e incertezas. 

A pandemia obrigou os Tribunais Regionais Eleitorais (TRE) a criar alguns 

mecanismos para efetivação da legalidade individual do eleitor. Atividades on line via
 o processo de informatização, cumpriu o prazo dos novos títulos e suas respectivas 
transferências. 

Fala-se nas convenções virtuais e ainda não se  tem definido a data exata da eleição. 
Está em avaliação uma mudança curta, tirando de 4 de outubro para o meio do mês 
de novembro ou inicio de dezembro. 

É um verdadeiro quebra cabeça, um jogo de empurra-empurra, uma incógnita.
Porém existe um fator que não se está avaliando no momento. 

A cultura brasileira sempre foi de grandes aglomerações em campanha e em dia de 
eleição.

A abstenção já vinha sendo crescente, o eleitor se sente desestimulado pela falta de 
credibilidade da classe politica. 

Com certeza, faltando manifestação nas ruas, investimentos por parte dos 
candidatos, a tendência é que o voto nulo e branco, vai ser derrotado de goleada pela 
abstenção.

Isto é apenas um pitaco de um curioso do cotidiano político. 
Não sou candidato, nem tenho nenhum familiar  disputando voto, o que a banda 
tocar eu danço, sem ter o que lucrar ou perder!

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Pr Samuel Ramos - Final dos Tempos - Colapso Mundial

As novas memórias

O mulato carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é convencionalmente tido como o maior escritor brasileiro de todos os tempos. É quase uma unanimidade, acredito. E esse enorme prestígio de Machado de Assis se dá tanto cá, entre nós, quanto mundo afora, como se pôde constatar com o relançamento, nos Estados Unidos da América, na semana passada, pela respeitadíssima Penguin Books, do seu romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), com o título, traduzido ao pé da letra, “The Posthumous Memoirs of Brás Cubas”.
Enorme sucesso. Primeiro, de crítica. Se Harold Bloom (1930-2019), o grande literato recém-falecido, já havia apontado Machado como o “maior escritor negro de todos os tempos”, a prestigiosa revista New Yorker, agora, deu à sua resenha do livro o convidativo título – “Redescobrindo o livro mais espirituoso já escrito”. E, também, de público, já que o livro físico esgotou nas gigantes Amazon e Barnes & Noble em um só dia. Toda essa repercussão vocês podem conferir nos sites de lá (EUA) e de cá, como eu mesmo fiz no da própria Penguin (onde você pode ler um excerto do livro), na Amazon, na Superinteressante, na Veja e por aí vai.
Primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (fundada em 1897), “O Bruxo do Cosme Velho” – epíteto de Machado, tornado célebre pelo nosso genial poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) – escreveu em quase todos os gêneros literários. Fez poesia, teatro, crônica, crítica literária, jornalismo e por aí vai, mas foi sobretudo no conto/novela e no romance que ele produziu algumas das obras-primas da literatura brasileira e, posso dizer, universal. A lista é enorme. A dos meus preferidos também. Do conto/novela “O Alienista” (1892) à tríade de romances “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), “Quincas Borba” (1891) e “Dom Casmurro” (1899). Eu considero as “Memórias” o maior dos romances de Machado. “Quincas Borba”, o vice-campeão. Que me perdoem os amantes de “Dom Casmurro”. Questão de tema, talvez. Gosto dos filósofos loucos.
Na verdade, inspirado no “Tristram Shandy” (“The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman”, 1759-1767), de Laurence Sterne (1713-1768), com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, Machado nos presenteou com um romance inovador – experimental, posso dizer –, tido como o marco inicial do realismo (mágico?) na literatura brasileira, até então presa ao romantismo. Que é um ponto de virada, para melhor, na obra do Bruxo, disso ninguém duvida. As ousadias formais – basta lembrar que o narrador é um “defunto autor”, sem compromisso com a cronologia do tempo – e o humor implacável são revolucionários. E, para além dos aspectos formais, o romance também encanta pelo seu conteúdo: pretensa autobiografia, é uma crítica, refinada mas sem concessões, da hipocrisia da sociedade brasileira de então (e de hoje?). Por detrás do humor, revela o pessimismo do autor com tudo que ele enxerga. É um romance filosófico e moral, que combina diversão e profundidade com natural equilíbrio.
Bom, eu ainda não conheço fisicamente essa nova edição de “The Posthumous Memoirs of Brás Cubas” da Penguin Books. Mas eu tenho uma outra edição, em inglês, do maravilhoso romance. De 1991, editora Vintage. E nela, na contracapa, outro grande escritor, Salman Rushdie (1947-), faz rasgados elogios a Machado e a seu livro: “Se Borges é o escritor que fez Garcia Marquez possível, então não é exagero dizer que Machado é o escritor que fez Borges possível. (…) Ele é uma das obras-primas da literatura brasileira, e esta espirituosa e lúcida tradução é puro prazer de leitura”. Só o título dado em inglês à minha edição, “Epitaph of a Small Winner”, me soa estranho. Brás Cubas é hoje, sem dúvida, um “grande” vencedor.
Por fim, lembro-me bem de quando comprei essa edição, usada, por três libras, naquelas bancas de livros na margem sul do Tâmisa, em Londres. Memórias vivas, graças a Deus.
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

Fonte: Tribuna do Norte, 14/6/20

domingo, 14 de junho de 2020

Mais um 14 de junho que o assuense vivencia. Desta vez, em face do isolamento social, o dia está apático, sem pessoas nas ruas, sem os devotos rumando para a Igreja Matriz. O sol deu lugar à chuva que deixou o céu nublado. A igreja vazia será o destinatário de lembranças dos momentos outrora vividos tantas vezes. O hasteamento da bandeira do Santo Padroeiro será dentro dos corações daqueles assuenses devotados à sua terra.
As imagens que minha memória produz são daquelas senhoras que iam descalças para as novenas, são dos balões que coloriram o céu de Assu, são do parque funcionando desde a semana que antecedia a abertura da festa. Se eu me esforçar um pouco mais, chego a escutar a algazarra delirante das crianças na Praça Getúlio Vargas e, ainda, o "quanto tempo!" que conterrâneos diriam ao se encontrarem. Daqui a dez dias, celebraremos o orago do Assú desde 1726, o precursor de Jesus Cristo, seu primo, aquele que clamou no deserto. Certos de que estamos fazendo o correto em prol da vida, façamos a festa de São João Batista no interior de nossas residências.
Pedro Otávio Oliveira, 2020

ASSU HILÁRIO


Fotografia do acervo de Carmém Délia de Saboia Costa.

"Castanha Chocha" e "Cachorrinha de Borracha" (pseudônimos) eram dois débeis mentais que perambulavam juntos pelas ruas da cidade de Assu (ninguém tinha conhecimento dos seus nomes de nascimentos).  Castanha tinha uns 30 anos de idade e Cachorrinha era mais velha do que ele, Castanha, uns 30 e poucos anos. Naquele tempo, se uniram em matrimônio, ato religioso realizado (incentivado por populares), salvo engano, por padre Militino, na igreja matriz de São João Batista, lotada de curiosos como podemos conferir na fotografia. Era eu, ainda menino e me lembro deles com presenciei este fato. Pois bem, o poeta Renato Caldas, um vigilante permanente do cotidiano da terra assuense, que não perdia as oportunidade para vesejar, não deixou de registrar em versos, aquele inusitado e gracioso acontecimento, escreveu com irreverência e graça a décima adiante: 

Quem procura sempre acha
É o ditado do povo
Arranjou marido novo
Cachorrinha de Borracha
Mas vai ser preciso graxa
Que a coisa não está tão frouxa
A fuzarca vai ser rouxa
Até o raiar do dia
Arranjou o que queria
Casou com Castanha Chocha.

Postado por Fernando Caldas
LUA CHEIA
 
 


Por Renato Caldas*

Logo de noite,
Quando vórto do trabáio,
Pégo a vióla e me espáio.
Coméço logo a cantá.
Enquanto a lua
Tá no céo dipindurada
Ouvindo a minha toáda
Com vontade de chorá.

Oh! Lua cheia, oh! Lua cheia.
Não óie nas teia
da casa de meu amô.
Pruquê se oiá,
Se espiá,
Cabô-se lua cheia
O teu furgô.

Eu tenho raiva
quando vejo a lua cheia,
Espiando pelas teia
Da casinha de meu bem!
Eu penso inté
Qu'essa lua tão marvada,
Qué levá a minha amada
Pra uma casa que ela tem.

Mas, se eu pegasse
A lua pelas guéla,
Dava tanta tápa nela
Qui nem é bom se falá...
Que me importava
Que o mundão escurecesse,
Ou que ela se escondesse,
Só com mêdo de apanhá.

Se Deus deixasse,
Se Deus aconsentisse,
Que pro céo eu assubisse
E fosse lua também...
Passava a noite,
Lá no céo dipindurado,
Oiando pulo teiádo
Da casinha de meu bem.

*Renato Caldas juntamente com o bardo maranhense Catulo da Paixão Cearense autor da famosa canção Luar do Sertão, além de Zé da Luz, foram os responsáveis pela introdução da poesia matuta na Literatura Popular Brasileira. O poema canção acima, está publicado na 2. edição da antologia Fulô do Mato, 1954.

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