quinta-feira, 7 de abril de 2022
quarta-feira, 6 de abril de 2022
Igreja São Pedro, Distrito de Pataxó, Ipanguaçu-RN. Fora construída por iniciativa de Eurípedes, não recordo o sobrenome dele. que era funcionário do DNOCS, órgão federal que construiu o açude daquela localidade do semiárido nordestino. Padre José Luiz Silva depõe que a pia batismal daquela igrejinha é a mais bela e original do estado. Aquela capela está, portanto, ligada a construção daquela barragem - Rio Pataxó. "O estilo da igreja é único e sua torre relembra um pouco da
arquitetura medieval europeia, não se tendo notícias de construção
religiosa similar na região". O poeta Chagas Matias natural daquele lugar, escreveu:
segunda-feira, 4 de abril de 2022
Você sofre com ansiedade? Especialistas explicam o que isso faz à sua saúde
Por Sábias Palavras -
Todos nós temos episódios de ansiedade de vez em quando. Na verdade, a resposta de ansiedade é naturalmente conectada ao nosso cérebro – que é mais comumente referido como reação de “luta ou fuga”.
Biologicamente, o mecanismo de luta ou fuga é bastante fascinante: No curto prazo, a ansiedade aumenta sua frequência respiratória e cardíaca, concentrando o fluxo sanguíneo para o cérebro, onde você precisa. Essa resposta muito física está preparando você para enfrentar uma situação intensa.
Lutar ou fugir é necessário para produzir as reações que nos permitem reagir rapidamente ao perigo. Quando essa resposta se recusa a desligar, no entanto, pode causar uma série de problemas mentais e físicos. Esta condição é conhecida como transtorno de ansiedade, que está presente em cerca de 40 milhões de adultos só nos Estados Unidos.
Aqui estão indicadores comuns de um transtorno de ansiedade:
– Pânico, medo e inquietação
– Problemas de sono
– Não ser capaz de ficar calmo e quieto
– Mãos ou pés frios, suados, dormentes ou formigando
– Falta de ar
– Palpitações cardíacas (batimentos cardíacos rápidos)
– Boca seca
– Náusea
– Músculos tensos
– Tonturas
O estado quase constante de inquietação tem o potencial de atrapalhar a vida de uma pessoa. A presença de ansiedade, especialmente em casos graves, “pode ter um efeito devastador em sua saúde pessoal e mental. A ansiedade crônica pode interferir em obrigações familiares, profissionais e sociais”.
Tipos de ansiedade
O transtorno de ansiedade social, também conhecido como fobia social, envolve sentir-se sobrecarregado e autoconsciente na maioria, se não em todos os ambientes sociais. As pessoas com essa condição ficam obcecadas com o que os outros podem estar pensando delas. Elas podem sentir que estão sendo julgados ou criticados.
O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) é o segundo tipo mais diagnosticado de ansiedade. O TAG pode ser a mais enigmática de todas as condições de ansiedade, pois a pessoa sente altos níveis de preocupação, tensão e angústia sem motivo. Os sintomas geralmente variam de leves a graves.
O transtorno do pânico, em relação aos efeitos físicos no corpo, excede os de outras condições em gravidade. Os ataques de pânico, definidos como “o início abrupto do medo do desconforto que atinge um pico em poucos minutos”, podem parecer estranhamente semelhantes a um ataque cardíaco.
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) “se desenvolve depois que você testemunhou ou experimentou algo traumático”. Hoje, associamos o TEPT à guerra – e com razão. O Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA estima que o TEPT afeta: 31% dos veteranos do Vietnã, 10% dos veteranos da Guerra do Golfo e 11% dos veteranos das guerras no Iraque e no Afeganistão. Os sintomas psicológicos do TEPT costumam ser graves e incluem: ficar facilmente irritado e agitado, insônia, pesadelos e flashbacks.
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é uma condição de ansiedade que “causa sintomas comportamentais óbvios, como realizar atos compulsivos e repetitivos”. As pessoas com TOC sentem um desejo implacável de realizar tais atos para (perceptivamente) iludir as consequências negativas. Por exemplo, trancar e destrancar a porta um certo número de vezes para provar que está funcionando.
Complicações
Além da angústia inerente causada por vários sintomas de ansiedade, a ansiedade crônica pode resultar em outros impedimentos à saúde. A causa subjacente das complicações de saúde da ansiedade é a incapacidade do cérebro de retornar a um estado de equilíbrio – isso afeta negativamente a funcionalidade e estimula reações incomuns dentro do corpo.
Aqui estão algumas complicações potenciais:
– O estresse prolongado muitas vezes se manifesta em um sentimento de saúde geral.
– Existem algumas evidências de que as vacinas são menos eficazes em pessoas com esses distúrbios.
– De acordo com a Harvard Medical School (HMS), pode existir uma ligação entre altos níveis de estresse e o desenvolvimento da síndrome do intestino irritável.
– Enfraquecimento do sistema imunológico.
Ajuda com ansiedade
Um transtorno de ansiedade não é uma fraqueza pessoal; é um desequilíbrio químico no cérebro. Com o tratamento certo, você se sentirá melhor!
A maioria dentro do campo médico aconselhará alguém que sofre de ansiedade a consultar um médico. A terapia cognitiva ou comportamental, juntamente com a medicação, pode ser o melhor curso de ação, de acordo com muitos profissionais médicos.
Para aqueles que procuram uma abordagem mais natural para resolver o problema, algumas mudanças no estilo de vida podem ajudar.
– Exercício: malhar libera hormônios do bem-estar e é uma excelente maneira de aliviar o estresse e a ansiedade.
– Meditação/yoga: Práticas de atenção plena, como meditação e ioga, são poderosas. Evidências sugerem que a meditação regular altera positivamente a química do cérebro, o que é promissor como uma potencial solução a longo prazo.
– Sono adequado: 7 a 8 horas de sono de qualidade são essenciais para restaurar os recursos esgotados do cérebro (e outros motivos). Dormir demais (mais de 10 horas/noite) tem um efeito contraproducente, no entanto.
– Uma dieta bem equilibrada: A nutrição derivada dos alimentos é crucial para o funcionamento natural do cérebro. Recomenda-se uma mistura de grãos integrais, frutas, legumes e carnes magras.
– Pare de fumar e/ou reduza a ingestão de álcool: Embora ambos possam produzir um aumento temporário (resultado do aumento dos níveis de dopamina no cérebro), o tabagismo prolongado e o abuso de álcool trazem riscos significativos à saúde.
sexta-feira, 1 de abril de 2022
quinta-feira, 31 de março de 2022
Depressão: Uma luta de dentro para fora que ninguém ao redor consegue ver.
Não sinta vergonha de ter depressão. Não deixe os julgamentos de pessoas que não entendem o seu estado, aumentarem uma dor emocional que já é grande o suficiente para a sua alma.
A pior coisa da depressão é que ela é uma disfunção afetiva, psíquica que acontece dentro da gente. Por isso, muitas vezes, ninguém consegue vê-la e muito menos ajudar. Não é um osso quebrado que vemos no raio x ou um corte que a enfermeira costura e logo cicatriza. Depressão é um rasgo na alma que ninguém tem acesso. É uma ferida aberta e inflamada na nossa alegria de viver que ninguém pode desinfetar porque não há como alcançá-la fisicamente.
Quando nos afogamos no mar, buscamos a superfície incessantemente no desespero pelo ar. Na depressão é o contrário. Afogamo-nos na dor e quando tentamos buscar ar no lado de fora, podemos sufocar ainda mais, porque é mergulhando dentro da gente que conseguimos respirar melhor. Por isso, não entendemos porque as pessoas nos julgam tanto. Porque ninguém nos ajuda, enquanto a angústia esmaga nosso peito e tira todo nosso fôlego nos deixando jogados na cama. Então, a gente escuta que estamos nos fazendo de vítima. Que é bobagem, frescura. As pessoas nos ignoram justamente no momento em que mais precisamos, nos deixando, sem se darem conta, a beira de um precipício, porque a nossa depressão pode ser imperceptível aos olhos do coração de quem não sabe o que é passar por essa dolorosa experiência.
Então, a gente senta vergonha do nosso estado. Já nos achamos inúteis, os julgamentos só nos pioram mais. Por isso, nos questionamos se esse afogamento na dor é real, se faz sentido. Se não é pura frescura de quem quer atenção. E como a depressão é uma doença e não uma birra infantil, a gente disfarça porque não quer parecer tolo, mimado ou dramático. Fingimos nadar enquanto nos afogamos. Sorrimos mesmo quando fica impossível respirar. Escondemos o desespero porque dói menos fingir e enganar as pessoas do que mostrar toda nossa dor e não ser compreendido, pior, ser julgado.
As pessoas podem nos falar as melhores coisas, estender o braço para nos puxar dessa lama da alma, mas se a gente não levantar a mão e segurar firme, permaneceremos imersos em um mundo escuro, onde ninguém nos vê, de uma doença que é o mal do mundo e que somente a coragem de quem a tem é capaz de salvar.
Por isso, peça ajuda, sim, sem vergonha de estar deprimido. E o mais importante, aceite orientação, pois, no fim das contas, somos nossos próprios salva-vidas na depressão. Somos o motorista do nosso caminhão de dor. Então, quando alguém lhe julgar, não desanime, apenas lembre-se de que: as trilhas mais difíceis nos levam aos melhore destinos. E se no meio do caminho o tempo virar, em vez de esperar a tempestade passar, dance na chuva!
quarta-feira, 30 de março de 2022
terça-feira, 29 de março de 2022
“DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDE A LER” – CONHEÇA A MAIS INTENSA E REVOLUCIONÁRIA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL REALIZADA NO BRASIL – E ELA ACONTECEU EM NATAL!
FONTE – DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDE A LER- Uma Experiência revolucionária – Boletim da VIII SESAC – Semana de Estudos da Semana Comunitária, Natal-RN, abril de 1981, págs. 37 a 39.
NOTA – Esse texto é dedicado a Professora Claudete Lourenço Alves, que trabalhou nesse projeto, me comentou anos atrás sobre sua participação com muito orgulho e lembrava principalmente do progresso que conseguia junto as crianças com o método. Infelizmente Clau, como a minha família carinhosamente lhe chamava, não está mais nesse plano, mas jamais esqueci seu relato.
Durante três anos — de fevereiro de 1961 a abril de 1964 — Natal viveu uma das experiências mais importantes na História do Brasil em termos de educação popular. Foi a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, iniciativa do prefeito Djalma Maranhão, o líder que morreu de saudade, exilado em Montevidéu, e cujos restos mortais estão depositados hoje no tradicional Cemitério do Alecrim.
O principal assessor de Djalma na área educacional — Moacyr de Góes — que era Secretário Municipal de Educação, Cultura e Saúde, esteve à frente dessa experiência que chegou a movimentar cerca de 17 mil alunos nos bairros natalenses,não só com aulas, mas também com debates e outras atividades culturais. A dura repressão desencadeada em 1964 conseguiu paralisar “De pé no chão também se aprende a ler”, mas não impediu que a memória daquela mobilização popular ficasse na consciência de todos os que a viveram.
A Natal dos anos de 1960 era uma cidade de 160 mil habitantes. dos quais 36 mil eleitores. O seu líder popular mais expressivo — Djalma Maranhão lá havia sido prefeito nomeado de 1956 a 1959, quando a capital era considerada “cidade base”, de acordo com a Constituição de 1946, e não podia eleger diretamente seu prefeito.
Em 1960. Djalma foi eleito com 66% dos votos e seu Partido – o Partido Trabalhista Nacional, PTN – fez aliança com a dissidência da UDN (União Democrática Nacional), representada por Aluízio Alves, candidato a governador: e com o PSD (Partido Social Democrático) que apresentou como candidato a vice-governador monsenhor Walfredo Gurgel. Já no plano nacional, Djalma e Luiz Gonzaga dos Santos, seu candidato a vice, deram apoio à chapa do marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, do PSD.
Foi neste contexto político que a Secretaria de Educação do município começou a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, com dois objetivos básicos: a erradicação do analfabetismo e a execução de uma política de educação e cultura popular, definida a nível de unia proposta das classes subalternas.
Entre 1960/1964, estas classes estavam organizadas em Comités Nacionalistas ou Comités de Ruas, que se reuniam regularmente para a discussão de temas políticos — tais como o latifúndio, o imperialismo — e temas específicos dos bairros e ruas, como água, luz, esgoto e outros equipamentos comunitários.
Destes comités surgiram as convenções de bairros (uma das mais dinâmicas funcionou no Alecrim), visando fazer uma listagem dos problemas comunitários, incluindo propostas de solução. Este trabalho de base levou à convocação de uma convenção municipal, de onde foi tirada a plataforma de Djalma Maranhão.
O ponto número um nas reivindicações populares de Natal, segundo Moacyr de Góes, foi o de escola para todos. Com base neste pedido, aSecretaria de Educação partiu para a primeira fase da Campanha, com o funcionamento das escolinhas que eram, simplesmente, salas cedidas à Prefeitura para o funcionamento declasses. Eram salas de sindicatos, casas populares, clubes, associações diversas. A prefeitura entrava com as carteiras, a monitora, material escolar e merenda. No final de 1961, realizou-se uma importante reunião no Comité Nacionalista do Bairro das Rocas, importante bairro proletário da capital potiguar, cujo presidente era o pastor José Fernandes Machado, funcionário dos Correios e Telégrafos. O principal resultado do debate foi a decisão de construir acampamentos escolares, já que não havia condições financeiras para a construção de grupos de alvenaria. Em fevereiro daquele ano já estava construído o primeiro acampamento nas Rocas: era um conjunto de quatro galpões, sem paredes. cobertos com palha de coqueiro. As divisórias eram quadros murais e de giz; cada galpão tinha quatro salas de aulas e o chão era de barro batido. Ao lado dos galpões escolares, havia um outro, redondo, para as festas e debates comunitários. O conjunto também incluía horta e aviários, para enriquecimento da merenda escolar.
Enquanto as escolinhas eram organizadas nos bairros mais populares da cidade, e o primeiro acampamento começava a funcionar nas Rocas, a campanha “De pé no chão também se aprende a ler” iniciava mais uma etapa: a do ensino mútuo, com a primeira experiência também nas Rocas. O método Paulo Freire ainda não chegara ao Rio Grande do Norte e cerca de vinte secundaristas engajavam-se na tarefa de alfabetizar adultos em suas próprias casas. O coordenador da experiência foi o professor Antônio Campos e Silva. Este mesmo educador coordenava a equipe que fazia a identificação das manchas de analfabetismo na cidade de Natal pesquisando também as causas da evasão escolar.
PRAÇAS DE CULTURA
Sob a influência direta do Movimento de Cultura Popular MCP — de Recife (criado no governo de Miguel Arraes), a Prefeitura de Natal, através de sua Secretaria de Educação, partiu, em seguida, para uma nova etapa na campanha através das Praças de Cultura.
As duas maiores foram instaladas no bairro das Quintas e nas Rocas, com quadra esportiva, arquibancada de cimento, parque infantil e uma pequena biblioteca. A Praça servia tanto para jogos quanto para teatro e outros espetáculos populares, além de debates. Somente com quadra e parque, chegaram a ser implantadas dez praças. Na Praça André de Albuquerque, chamada de “Praça da Cultura”, havia também uma concha acústica, uma biblioteca, galeria de arte e um local para danças, onde o professor Gracio Barbalho fez muitas palestras sobre a música popular brasileira. “A Praça André de Albuquerque era um verdadeiro fórum aberto e democrático, de onde todos se aproximavam para participar dos debates e usufruir da cultura, lembrou anos depois Moacyr de Góes.
O POVO TECE SUA HISTÓRIA
Paralelamente, a expansão da campanha exigia a preparação do pessoal técnico e, por isso, a Secretaria decidiu criar o Centro de Formação de Professores – CFP, ligado ao Grupo de Educação Popular e à Coordenadoria Técnico-Pedagógica da instituição. A responsável pelo Centro foi Margarida de Jesus Cortez, que fizera curso, promovido nos anos de 1950, em São Paulo, pela UNESCO, sobre uma nova educação para os pises subdesenvolvidos.
Moacyr lembrou que Margarida Cortez inovou a pedagogia do Rio Grande do Norte, com a criação de unidades de trabalho na experiência de educação popular. Eram textos mimeografados, com o objetivo de integrar conhecimentos, e distribuídas nos vários níveis da campanha.
O Centro oferecia treinamentos de três meses para os futuros monitores e também cursos de reciclagem durante as férias, além de cuidar da supervisão da campanha e manter uma escola experimental. Ele representava o grande laboratório da revolucionária experiência.
NOVA CAMPANHA
A partir da realidade básica do trabalho, os responsáveis pela campanha “De pé no chão também se aprende a ler” resolveram partir para mais uma etapa, implantando a campanha – “De pé no chão também se aprende uma profissão”.
Em fevereiro de 1963, já funcionavam oito cursos nas Rocas: corte e costura, enfermagem de urgência, sapataria, marcenaria, barbearia, datilografia, artesanato e encadernação. Em setembro, a campanha já oferecia dezessete cursos nas regiões das Rocas, no Carrasco, Nova Descoberta, Bairro Nordeste e Quintas, atingindo a jovens e adultos.
A experiência de Paulo Freire uniu-se à de Natal em 1963 e, segundo Moacyr, chegaram a funcionar em Natal de dez a doze Círculos de Cultura, debatendo a passagem da consciência ingénua para a consciência crítica e os passos necessários para a construção de uma sociedade democrática. O próprio Paulo Freire veio a Natal preparar os monitores. Nesta fase, a campanha “De pé no chão também se aprende a ler” ampliou a sua interiorização, com a vinda de professores leigos para cursos em Natal, assinatura de convênios com instituições das cidades potiguares de São Tomé, São Paulo do Potengi, Afonso Bezerra, Assú, Currais Novos, São Gonçalo e Macau (principalmente sindicatos), além de uma importante reunião na capital com quarenta prefeitos.
Neste encontro os prefeitos chegaram a fundar a Frente de Educação Popular do Rio Grande do Norte, que não chegou a se consolidar por causa do Golpe de 1964.
A nova fase da campanha de Djalma para que todos tivessem acesso bens culturais foi a de “uma escola brasileira construída comdinheiro brasileiro”. E a escolha deste sloganestava intimamente ligado ao quadro político estadual da época, a aliança de 1960 já estava rompida e Djalma Maranhão estava em um campo oposto ao do governador Aluízio Alves. O pomo central da discórdia era o papel do programa “Aliança para o Progresso” no Rio Grandedo Norte e no Nordeste.
A professora Vanilda Pereira Paiva contou essa história em seu livro – Paulo Freire e o nacionalismo desenvolvimentista” (Civilização Brasileira, 1950. páginas 22 e 23): “Devemos lembrar aqui que a criação da Aliança Pelo Progresso em 1961 muito deveu à situação política vivida no campo nordestino no período, especialmente à multiplicação das Ligas Camponesas. Não por casualidade que no Brasil o escritório da USAID – United States Agency of International Development (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) foi montado na cidade de Recife, logo após a criação da Aliança para o Progresso.
E sua política de “ajuda ao desenvolvimento” deixou ver, em seguida, a sua verdadeira face de “programas de impacto”, entrando o novo organismo em conflito com a SUDENE – Superintendência Para o Desenvolvimento do Nordeste, por realizar convênios diretamente com os governos estaduais considerados “receptivos” e aplicando seus recursos com base em critérios essencialmente políticos.
Segundo Riordan Roett, que trabalhou como membro da equipe da missão Aid no Nordeste, os “Estados Unidos viam a região como, um problema de segurança internacional e a assistência econômica externa como uma arma contra uma ameaça que o Brasil não reconhecia unanimemente”. Por isso, os planos de ajuda eram, em primeiro lugar, adaptados às “exigências da segurança dos Estados Unidos”, a fim de “derrotar a ameaça comunista” e, em abril de 1962, os Estados Unidos consideravam que a situação nordestina já ultrapassava o estado de que motivou a decisão inicial de oferecer ajuda econômica.
Do ponto de vista de Washington — dia Roett — o Problema não era mais o desenvolvimento econômico e social, mas a sobrevivência política imediata deuma sociedade não comunista no Nordeste. Ora, não apenas as Ligas Camponesas eram vistas corno ameaçadoras. Também a vitória eleitoral das Frentes com participação de forças de esquerda não somente revelava a radicalização da vida política da região, como contribuía para levá-la mais longe.
Assim, preocupava a conquista das prefeituras de Recife e Natal, mas especialmente a possibilidade dos prefeitos daquelas cidades chegarem e governos dos respectivos Estados; um dos problemas dos norte-americanos era corno contribuir para evitá-lo. A interferência nas eleições através do financiamento dos candidatos antinacionalistas não era suficiente; havia que fortalecer os políticos “receptivos”.
Aluízio Alves — antigo quadro (leia LDN — não só era “receptivo”. como conjugava características ideais, por um lado ele era capaz de controlar os impulsos da radicalização das classes populares, através da prática de urna política ultramanipulatória e suficientemente ambicioso e conservador para não representar um perigo potencial de evolução para a esquerda. Por outro lado, embora aliado a algumas oligarquias tradicionais, ele representava a vitória deuma política de incentivo à industrialização no seu Estado. Tratava-se. pois, de ajudar a um governador “favorável ao progresso”.
As negociações entre Alves e a USAID começaram em agosto de 1962, mas devemos lembrar que logo que foi eleito, ele visitou Kennedy, em Washington, a convite do Departamento de Estado norte-americano, e recebeu promessa de ajuda. Esta era essencial para Alves, pois, representando a vitória de um espírito “desenvolvimentista” e travando uma dura luta contra as oligarquias udenistas, seu fortalecimento político e a realização de suas ambições ao nível federal estavam ligados à transformação económica do Estado eaos programas que ele conseguisse realizar na sua gestão.
A obtenção de recursos parece ter sido facilitadapela aceitação, por parte do governador, de pressões norte-americanas para que entregasse a Secretaria de Educação ao jornalista Calazans Fernandes. Os interesses ianques e os de Alves acoplaram-se bem no que concerne ao tipo de programa aser lançado: os “programas de impacto” que deixam de lado projetos de ajuda propriamente económica e se concentram emáreas “visíveis” como saúde e educação (principalmente a construção de prédios escolares), serviam para assegurar à população ointeresse norte-americano e do governo do Estado pelo seu bem-estar.
O complemento para o programa de construções escolares era urna campanha de alfabetização que aumentasse o eleitorado sob controle do líder populista, fortalecendo suas bases eleitorais e diminuindo as chances de uma futura vitória do então prefeito de Natal.
Djalma Maranhão nunca deixou de denunciar esta ação da Aliança para oProgresso e, segundo Moacyr de Góes, propôs “uma escola brasileira com dinheiro brasileiro”. Em vez dos dólares, ele recebeu 50 mil cruzeiros do então Ministro da Educação, Paulo de Tarso, e com esse dinheiro foram construídos o Centro de Treinamento de Professores, na região do Baldo, e algumas poucas escolas de alvenaria nos bairros.
A REPRESSÃO
Toda essarica experiência de educação c de participação popular em Natal foi interrompida pelo golpe de 31 de março de 1964. Djalma foi pressionado pela repressão para renunciar, mas não o fez. A Prefeitura foi invadida e o prefeito preso. No quadro estadual, houve centenas de prisões na área rural (sindicatos c Ligas Camponesas), Correios, estrada de ferro, meio estudantil, sindicatos urbanos e na Prefeitura natalense. Nesta última, osetor mais atingido foi a Secretaria de Educação. Entre março e abril, foram presos o secretário Moacyr de Góes, o diretor de ensino Omar Fernandes Pimenta, a chefe de documentação Mailde Ferreira de Almeida, a diretora do CFP Margarida de Jesus Cortez, o diretor do Colégio Estadual Genilberto Paiva Campos, a vice-diretora do CFP, Maria Diva da Salete Lucena, o chefe de gabinete e ex-presidente da CFP, Francisco Floripes Ginani, o responsável pela interiorização da campanha, Josemá Azevedo, opresidente do Comitê Nacionalista das Rocas e responsável pelo sistema Paulo Freire na Colónia dos Pescadores, José Fernandes Machado, oprofessor do CFP e Presidente da União Estadual dos Estudantes – UEE, João Faustino Ferreira Neto.
Muitos outros colaboradores da Campanha também foram presos: Luiz Maranhão Filho, Aldo da Fonseca Tinoco, Luiz Gonzaga dos Santos, Hélio Xavier de Vasconcelos, Evlin Medeiros, Carlos Alberto de Lima, Maria Lali Carneiro, Nei Leandro de Castro, José Arruda Fialho, Paulo Frassinetti de Oliveira, Eurico Reis, Guaracy Queiroz de Oliveira, entre outros.
Outro importante educador, Marcos José de Castro Guerra, responsável na área do Estado pela experiência Paulo Freire em Angicos, foi preso nada menos de oito vezes, entre abril e dezembro de 1964.
O interrogatório dos presos — e a investigação de “comunismo” — foram feitos por dois policiais pernambucanos, Carlos Moura de Moraes Veras e José Domingos da Silva — nomeados pelo governador Aluízio Alves, através do decreto publicado em 17 de abril de 1964, no Diário Oficial e republicado no dia 29. Segundo constava na época, os policiais haviam feito curso nos Estados Unidos no FBI, o Federal Bureau of Investigation, ou Departamento Federal de Investigação.
Com o Golpe Militar de 1964, todas as atividades da Campanha foram encerradas. Com a deposição e prisão de Djalma Maranhão, assumiu como prefeito de Natal Tertius César Pires de Lima Rebelo, um oficial da Marinha do Brasil. Na sequência foram criadas várias comissões de inquérito especificas para a Secretaria de Educação.
Outros inquéritos civis e militares foram iniciados, os líderes da Campanha indiciados e presos, e seus materiais, documentos e parte da infraestrutura foram destruídos. Desse modo, teve fim uma das mais importantes propostas de democratização da Educação formal durante o século XX em Natal. Ao ser destruída pelo Golpe Militar, a Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler já tinha alfabetizado vinte e cinco mil crianças somente em Natal.
MAIS SOBRE A CAMPANHA “DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDE A LER” VEJA NO TOK DE HISTÓRIA – https://tokdehistoria.com.br/2013/04/21/de-pe-no-chao-tambem-se-aprende-a-ler/
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