quinta-feira, 7 de novembro de 2024


CALDAS, O POETA DE 'ISABEL'

João Lins Caldas nascido no Rio Grande do Norte, de família assuense, é tido por alguns conhecedores e críticos de arte moderna no Brasil como “o pai da poesia moderna brasileira”, pois, já no Rio de Janeiro, para onde regressou em 1912, conviveu nas portas das livrarias José Olímpio e Garnier, além do Café Gaúcho, com grandes nomes das letras nacionais como, por exemplo, Olavo Bilac, Monteiro Lobato, Lima Campos, Hermes Fontes, José Geraldo Vieira que fez Caldas personagem do seu romance ‘Território Humano”, 1936, encarnado no personagem “Cassio Murtinho”, já escrevia anonimamente versos brancos, emancipados de métricas, como o comovente poema ‘A Casa’, é uma prova que o poeta Caldas já escrevia versos modernos, muitos antes do Movimento de Arte Moderna, de 1922.
Portanto, relendo o livro póstumo de Caldas “Poética”, organizado por Celso Da Silveira, editado pela Fundação José Augusto, 1974, livro este que recebi de presente da escritora assuese, membro da Academia Norte Rio-grandense de Letras, Maria Eugênia Montenegro, observo numa das páginas daquela antologia um pequeno escrito do próprio punho daquela escritora, afirmando que o decantado poema ‘Isabel’, de autoria de Caldas, fora ‘irradiado pela BBC’, a exemplo de outro poema intitulado ‘Minha Dor Na Grande Guerra’.
Por fim, pesquisando no Arquivo Público de Pernambuco, sobre Caldas deparo-me numa edição do ano de 1974, do Diário de Pernambuco, uma nota do poeta Mário Mota que dirigia o Suplemento Literário daquele importante periódico, onde afirma que no citado livro de Caldas existe quatro ou cinco poemas que são dos mais belos da língua portuguesa, incluindo o poema Isabel, do poeta Norte-rio-grandense. Vejamos a imagem abaixo.
Fernando Caldas



QUEM?

Quem me ama
Me preserva
Único sou
Sem reserva
Quem me ama
Me namora
Não sou ontem
Sou o agora
Quem me ama
Bem me quer
Não me compara
Com um qualquer
Quem me ama
Me pergunta:
Me amas?
E quem nunca?
Quem me ama
Em mim deseja
Está contida
Mesmo que não esteja
Me ama de longe
De perto bem mais
Amor assim
Me mande sinais
Edivan Bezerra, poeta do Assu

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

O MUNDO É GRANDE

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
(Drummond de Andrade)

domingo, 3 de novembro de 2024

DILINA PRA CASAMENTO

Era o ano de 1949. Walter de Sá Leitão namorava Evangelina Tavares, por apelido Dilina, filha do casal Maria Celeste Tavares e Fernando Tavares, mais conhecido no Assu e região como Vemvém (meus avós maternos). Pois bem. Era dia do aniversário de Vemvém, comemorado na fazenda Tanques, com a presença de familiares e amigos. Entre tantos, Dix-Sept Rosado (que foi governador do Rio Grande do Norte, em 1951 (ambos eram além de amigos, duplamente compadres), Mário Negócio, Epifânio Barbosa, Expedito Silveira, José Gonçalves de Medeiros e Mário Negócio, entre outros. Os comes e bebes já tinha começado. Chega Walter (que já namorava Evangelina) e, ao abraçar o futuro sogro, saiu-se com essa: Vemvém, vou lhe pedi um presente!” “Peça, Walter, o que você quiser!”, disse o anfitrião.” Walter não deixou para depois, dizendo assim: “Quero Dilina, pra casamento!” E a risada foi geral.

Em tempo: O casamento de Evangelina e Walter fora realizado e teve como padrinhos Dix-Sept Rosado/ Adalgisa de Souza Rosado e Antônio Coelho Malta/Nancy Malta. Ele, Malta, agrônomo de Profissão que chegou no Assu procedente do Recife, para dirigir a Base física do então Distrito de Sacramento, atual Ipanguaçu. Antes, Walter teria se casado com Laurita Da Silveira (De Sá leitão por casamento), que veio a se encantar, poucos anos depois).

Fernando Caldas

 

sábado, 2 de novembro de 2024

ULISSES CALDAS DE AMORIM, se não me engano, era funcionário do DNOCS, escritório de Assu. Era meu parente e cheguei ainda a conhecê-lo. Pois bem. Ulisses não perdia um cortejo fúnebre, até mesmo de quem ele não conhecia, porém, quando chegava ao portão de entrada do cemitério, voltava pra casa. Certo amigo de Tio Ulisses (como ele era mais conhecido na cidade de Assu), indagou: Tio Ulisses, porque você quando acompanha um enterro e, ao chegar na entrada do cemitério, você não entra?” Ulisses sem nem pestanejar, respondeu: "Amigo, quem não é visto, não é lembrado."

(Fernando Caldas)

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

LUIZ CARLOS LINS WANDERLEY – 1831/1990, foi um dos primeiros poetas do Assu, primeiro médico e romancista do Rio Grande do Norte. Foi também Governador da província do Rio Grande e deputado provincial em várias legislaturas. Luiz Carlos ganhou várias comendas concedida por D. Pedro II. Ele, Wanderley, empresta o seu nome a uma das ruas da importante cidade de Assu, sua terra natal. Nos deleitamos com o poema A mulher e a rosa, recheado de ternura, deste bardo assuense que engrandece às letras potiguares:

Seu donaire, sua cor...
No perfume que desprende
Só rescende
Doces eflúvios de amor.
A mulher também formosa,
Como a rosa,
Tem graça, inocência, odor...
E em seus sorrisos de fala
Encantada
Nos inspira ardente amor...
Mas ah! depois que nos prende
Nos acende numa paixão fervorosa,
Fere a nossa’alma o aguilhão
Da traição
A mulher é como a Rosa...


(Postado por Fernando Caldas)



quarta-feira, 30 de outubro de 2024

SINHAZINHA WANDERLEY – Maria Carolina Wanderley Caldas (1876-1954), poetisa sonetista de Assu. Esses dois tercetos transcrito abaixo, do soneto intitulado Alvorada, é de uma beleza rara. Senão vejamos:

E quando enfim do coração se evola
A pureza da crença, que consola
O desalento, a mágoa, o pranto, a dor;
Vê-se que d’alma se irradia agora
A luz, tão bela como a luz d’aurora.
- O sol sem nuvens do primeiro amor.
(Postado por Fernando Caldas)



 


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 


AMO EM SILÊNCIO

Quisera eu encorajar um dia
Ante a ti revelar segredos
E te falar da minha covardia
Quiçá também expulsar os medos
Feliz talvez, sei que aliviaria
Falar do amor que sempre sentia
Ao te ver como meu enredo
Mas a timidez o meu ser invade
Minhas forças estão no além
Doi-me a alma só por piedade
Em pensar que tens um outro alguém
E a vontade aumenta a vontade
De revelar meu amor que na verdade
É só teu e de mais ninguém
No silêncio sigo imaginando
Por dentro o querer corroendo
O coração sempre perguntando
Até quando vás viver sofrendo?
Respondendo deixo soluçando
A solidão que segue aumentando
De amor vai enfim morrendo
Edivan Bezerra

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

 AUSÊNCIA


"Que ausência de tudo tua ausência me traz!
São feios os dias assim embassados
Através da cortinas dos olhos molhados.
Que visão tão triste é a visão da nada!
Não há brilho de sol, não há noite de estrelas,
Só angustia, angustia vazia de tudo,
E a esperança tão linge, num caminhar lento
Que envia a saudade nas asas do vento!

Que ausência tão triste é ausencia de ti!
Que silêncio tão quieto paralisando a vida.
Onde aquele incentivo pela luta unida!
Que tristeza é o vácuo tão morteo sem alma,
As pessoas vazias e as cousas vazias.
Vejo tudo tão longe e tão longe eu estou
Sem o sol dos teus olhos, sem ouvir tua voz!
Sem ter vida, amorr! Porque vida é só nós!... "





quarta-feira, 23 de outubro de 2024

 

A vida humana, seja ou não tranquila
profunda ou não, - só poderá senti-la
quem senti-la apaixonadamente.

Virgínia Victorina, poetisa portugesa





segunda-feira, 21 de outubro de 2024

 Fernando Caldas

 
Compartilhado com: Seus amigos
No dia Nacional do Poeta, vale a pena postar uma grande poesia de um grande poeta Norte-Riograndense, chamamado João Lins Caldas. Vejamos:
A nuvem grande desceu sobre a minha cabeça.
A nuvem grande e o vento grande. O céu
Despedio todos os raios sobre a minha cabeça.
Eu fiz o meu tumulto grande para o céu.
Eram nuvens rolando, atrôos, trovôes, relampagos fervendo...
E tudo a noite iluminando o céu.
... Quando cansado, sobre a terra, o sangue me levando,
Levantado, meu corpo era um gigante arfando...
E às mãos o alfange longo, demorado,
Decapitei-me na minha dor sangrando
Como um grande vulcão esfacelado...
E eu era em tudo sufocado
Gritando o mundo, a minha dor gritando...

Van Gogh


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

UM SONETO DE JOÃO LINS CALDAS

Pesquisando o poeta potiguar João Lins Caldas, na Hemeroteca Digital/Bibloteca Nacional, Rio de Janeiro, emcontro numa das edições da revista Fon-Fon (imagem abaixo, do ano de 1924) um belo soneto daquele bardo assuense, intitulado 'Turris Eburnea', palavras que vem do Latim que quer dizer Torre de Marfim, na tradução. Vejamos o citado soneto:

A mulher encantada que procuras, 

Sombrio coração alucinado,

E' uma boca que não teve juras,

E' um destino que não tem passado...

 

Passará as manhas e as noites puras...

Toda sem ânsia, sem refrão de brado,

Não sabe o que é delícia nas torturas,

Seu quente rosto nunca foi olhado...

 

Essa mulher, essa mulher se existe,

Há de ser bela, como é bela e triste...

Eu navego um destino a procurá-la...

 

... E naufragando, gradativamente,

Hei de saber onde ela é bela e ardente,

Hei de saber onde lhe encontre a fala...

 

                             






sexta-feira, 11 de outubro de 2024

O Livro das Velhas Figuras

 Gustavo Sobral 

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte [IHGRN]
O jornalismo em artigos quase crônicas, em crônicas quase perfis, foi um pouco do que o historiador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986)  riscou nos jornais da cidade e o maior deste apanhado reuniu-se numa coluna que andou pelos jornais com o título de Actas Diurna no jornal A República em 1939, depois Diário de Natal, desaparece, volta a A República e tem fim em 1960, aponta o historiador Itamar de Souza nos fascículos “Câmara Cascudo: vida & Obra”, Diário de Natal, 1999.

Cascudo mesmo explica numa Acta Diurna de 1939: “dei-lhe batismo latino porque a intenção cultural é honrar o passado, nas suas lutas, alegrias, tragédias e curiosidades”. E foi neste exercício de jornalismo com fundo histórico e memorialístico que Cascudo desfilou uma enfileiradas de figuras da cidade de todos os tempos, compondo pequenos retratos que revelam não só a ação dos seus perfilados, mas os pequenos detalhes que constroem a figura, jeito de ser, as maneiras.

Daliana Cascudo, que dirige o Instituto que leva o nome do historiador, abrigado na casa em que ele morou em Natal, ali na avenida também Câmara Cascudo, subida da Ribeira para Cidade Alta, conta que ao listar tudo se deparou com uma diversidade de temas, inclusive Cascudo escrevendo sobre ecologia. 

Parte deste material, no que se refere às figuras históricas do Rio Grande do Norte, o Instituto Histórico resolveu formar em coletâneas e as coletâneas em volumes e saiu o projeto editorial de sucesso que correu por 10 edições: “O Livro das Velhas Figuras” (1974-2008).
 
Correr ao índice é encontrar títulos que se apresentam por si só como palavras-chave, facilitando à pesquisa futura: O Senador Guerra; Dona Izabel Gondim; Doutor Barata; O Galo da Torre de Santo Antonio e o seu doador; Américo Vespúcio no Açu; A Lagoa Manoel Felipe; O Barléus do nosso Instituto.

Outros temas históricos foram aparecendo, para além dos perfis biográfico, para satisfação dos pesquisadores e leitores e “O Livro das Velhas Figuras” se firmou nas palavras do jornalista Vicente Serejo, orelhas do volume 2, uma fusão de ritmos e construções de um Cascudo historiador das pequenas vidas e das pequenas coisas.

Este artigo é parte de uma série de artigos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), coordenada por Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro para o jornal Tribuna do Norte. A série trata de livros de autores do Rio Grande do Norte.

Fundado em 1902, o IHGRN completa 120 anos em 2022. É a mais antiga instituição cultural potiguar. Abriga a biblioteca, o arquivo e o museu mais longevos em atividade do Estado. Promove exposições, palestras e atividades voltadas à manutenção e divulgação da cultura, história e geografia norte-rio-grandense, e publica a sua revista desde 1903, sendo a mais antiga em circulação no Estado.

Por Redação Tribuna do Norte
30 de outubro de 2022

  A manhã era clara, refulgente. Uma manhã dourada. Tu passaste. Abriu mais uma flor em cada haste. Teve mais brilho o sol, fez-se mais quen...