Maria Eugenia. Se o encanto tivesse forma humana essa forma seria a da
dona Gena. Culta, muito culta, era escritora, pintora, poeta,
dramaturga, biógrafa. E foi prefeita de Ipanguassu. Tinha a alma pura da
criança que irrompeu um dia em Lavras, nas Minas Gerais, e seguiu sendo
até o último suspiro, em Natal, já beirando os 90 anos. Se dependesse
de mim ela daria nome a tudo de bom que surgisse na cidade que seu
coração adotou. Teria a Praça dona Gena, o Museu dona Gena, a
Universidade dona Gena, vários bairros dona Gena, I, II, III e IV, o
Hospital dona Gena, o Sobrado dona Gena e o Viveiro dona Gena. É que ela
era a joia oculta do Assu. Faz falta.
Renato. Quem nunca leu
Renato Caldas está muito longe de conhecer o Assu profundo, aquele dos
Lins e dos Caldas. E quem não conhece um verso sequer de Fulô do Mato é
um forasteiro no Assu nesmo que lá tenha vivido século e meio. O lirismo
de Renato, seu generosíssimo bom humor, sua forma peculiar de versejar
deram um colorido único à velha Atenas norteriograndense. Renato é um
ser mitológico, atemporal.
Desconfio que todo legítimo assuense traz
consigo por dádiva divina o DNA de tio Renato. Faz falta.
Oswaldo. Vinha de uma das mais antigas dinastias do Vale do Assu: os
Amorim. Oswaldo conhecia tudo do Vale. Sabia de cor seu passado e era o
grande profeta da cidade. Ele acreditava de todo o coração que o Assu
era tipo uma Terra Prometida, uma Canaã nordestina, de onde um dia
desceria o maná do leite e do mel. Defendia a agricultura familiar, o
cooperativismo, a agropecuária do Assu. Se fosse nome de um tipo de
carnaúba não faria feio. Partiu novo, mas deixou na terra as marcas de
um Matusalém - marcas eternas, duradouras, inamovíveis que a revolução
dos tempos jamais apagarão. Faz falta.
Os dois Nelsons. Um bem
mais velho, camarada, amigo. Sempre o via caminhar em seu velho casarão,
na esquina da Getulio Vargas, assoviando alguma velha canção, dessas de
apenas duas ou três notas e nada mais. Era alguém que a felicidade bem
podia ter escolhido para ser amigo de toda a vida. O outro Nelson era
médico, sempre boa praça, amigo de todas as situações, irreverente e
desses que quando falava com a gente nos olhava nos olhos. O primeiro,
um legítimo Montenegro não teve filhos, adotou o sobrinho da mulher, mas
sua casa tinha um viveiro com os mais variados cantos de pássaros. O
segundo, de sobrenome Santos, teve logo seis filhos. Faziam da casa um
viveiro humano, todos muito falantes, divertidos e eram a simpatia em
forma de gente. Fazem falta.
Walter. Parecia saído de livro de
anedotas. Tinha um senso humor precioso e em qualquer roda de conversa
pontificava como faz o papa no Vaticano. Leal, amigo, irreverente e
desses homens honrados que parecem surgir somente de cem em cem anos.
Foi prefeito de Assu. E dos mais operosos, trouxe a universidade à
cidade. Faz falta.
Os dois João Batista. Ambos Montenegros, mas
de galhos bem diferentes. O primeiro, gente muito boa, desses de cara
arejada e eterno semblante de menino. Foi prefeito de Assu e deu a
cidade a sua mais elegante primeira dama. Era conhecido como Dandan. E
nunca esqueceu da praça da Carnaubinha. O segundo era festeiro e parecia
viver de carnaval a carnaval e de São João a São João. Tinha sete
irmãos formados em boas faculdades, do Recife a Natal e de Natal a
Lavras. Costumava dizer que seu pai tivera oito filhos: sete doutores e
um homem. Ele. Viveu feliz em sua eterna alegria e mesmo sendo o caçula
foi o primeiro a partir. Fazem falta.
Zé Dias. Esse nome bem
poderia ser sinônimo para bom caráter e então quando alguém dissesse:
"Fulano tem um bom caráter!" Bastaria dizer de forma mais simples:
"Fulano é um Zé Dias!" Pessoa simples, afável, sereno. Zé Dias teve um
filho e duas filhas, mas tratava a todos como se fossem seus filhos: com
correção e generosidade. Está para o Assu assim como os pés de fícus
estão para a praça Getúlio Vargas. Faz falta.