sexta-feira, 25 de abril de 2008

BOINH0, O POETA DA RUA

Francisco Inácio Ferreira é o nome de registro de "Boinho" como é conhecido carinhosamente na cidade de Assu. Ele é funcionário público aposentado da prefeitura daquele município. Poeta popular de versificação fácil. Ele é preciso ser mais lembrado. Afinal de contas, poeta é poeta. Vive pelas ruas da  sua terra natal com a sua inseparável caneta, e papel no bolso, escrevendo versos amorosos, aproveitando os temas que a cidade inspira. Apesar de ser avançado nos anos, está entre os "novos" poetas do Assu. Tem vários livros publicados: "Estrada da Minha Vida", 2003, que a prefeitura dp Assu, publicou. E o poeta, na estrada da sua vida no seu próprio dizer, um dia melancólico, escreveu:

Hoje vivo torturado
Perdi tudo em minha vida
Perdi a jovem querida
Para falar do passado
Quando moço fui beijado
Vivo hoje nos escolhos
Sou tampa sem arrolhos
Velho gemendo com dor
Por causa de um grande amor
Molho com lágrimas meus olhos.

Postado por Fernando Caldas

terça-feira, 22 de abril de 2008

LEMBRANDO JOÃO FONSECA

"Pacó" (não sei o seu nome de registro) era uma figura boêmia da cidade de Assu onde exerceu a profissão de garçon nos clubes sociais da terra assuense. Trabalhando como servente num convênio que a prefeitura daquele município tinha com a Fundação SESP, ajudando fazer privadas pré-moldadas de cimento para serem doadas as pessoas carentes do Assu. Pois bem, João Fonseca, poeta e boêmio, era o Secretário de Administração daquela prefeitura, salvo engano, no governo de Walter de Sá Leitão (1972-75). Aí Pacó ao sair do trabalho, sujo em razão do materia que usava no trabalho, foi direto a prefeitura e, ao chegar na sala daquele secretário para que ele, Fonseca, autorizasse a tesouraria fazer o pagamento dos seus serviços prestados, que seria pago pela verba do FPM - Fundo de Participação dos Municípios, João Fonseca versejou de improvisou essa quadrinha:

Eu não lhe posso pagar
Pois você está imundo
Vá primeiro se banhar
Pra receber pelo 'fundo.'

sábado, 19 de abril de 2008

WALTER DE SÁ LEITÃO, DE NOVO

Walter de Sá Leitão era meu tio-afim por ser casado com Evangelina Tavares de Sá Leitão, irmã de minha mãe Gelza. Por sinal, Walter e Evangelina eram também meus padrinhos de batismo. Pois bem, certa vez, Walter ao chegar em sua casa, deparou-se com um amigo e compadre chamado José Joaquim de Oliveira, figura muito querida e conhecida na cidade de Assu,  sem camisa na sala de estar de sua morada. Ai Walter que além de espirituoso era também presepeiro (no bom sentido), foi logo tirando o sapato, a camisa, a calça, ficou só de cueca samba canção, insinuando tirá-la, para espanto daquele de Zé Pretinho que disse assim: "Mas, compadre Walter, o que está acontecendo?" - Walter de pronto, respondeu: "Seu negro filho da puta. É para você saber que o dono da casa sou eu?"

Walter era proprietário de uma fábrica de pré-moldados (hoje de propriedade de seu filho Carlos Alberto, conhecido na intimidade como Juca). Um certo peão daquela empresa, certo dia se dirigiu a Walter para um entendimento com a seguinte com a seguinte reclamação: "Seu Walter, eu trabalho o dia todo e o seu filho que não vem nem aqui, ganha muito mais do que eu! Não dá pro senhor aumentar o meu salário, não!" E Walter com aquela sua irreverência, não se fez de rogado": "Você deixe eu fazer com sua mãe o que eu faço com a dele?"

Na qualidade de prefeito do Assu (1972-75), uma certa esposa de um certo motorista daquela edilidade assuense, adentrou no gabinete do prefeito para adverti-lo: "Seu Walter, olhe. Fulano de tal está toda noite no Cabaré "Chão de Estrela", no carro da prefeitura!" Disse-lhe aquela mulher enciumada, denunciando o marido mulherengo. Ai Walter saiu-se com essa, que logo se espalhou pela cidade inteira: "Aquele filho da puta nunca que me chamou"!

Fernando Caldas

sexta-feira, 18 de abril de 2008

PENSAMENTOS

- Saio de mim e às vezes me procurando. Perdão se me acho e assim as vezes fora de mim.

- Cantai lindo pássaro. Cantai amorosamente a vossa alegria. Assim que se é pássaro.

- A vida incide aflitivamente. É a concessão irrefreável.

- Errar é comigo. Nunca acerto convosco.

- Oh vida! Os teus milagres nem sempre são doçuras, mas não me dês tanto! Não me dês tanto, tanto! Não me dês tanto, tanta amargura.

- Com esses olhos grossos de chuva eu quero chorar.


Escreveu João Lins Caldas 

terça-feira, 15 de abril de 2008

TERÇA FEIRA

"Quem seria aquele homem, bornal a tiracolo, pés metidos em botas inevitáveis, chapéu e gravata, espingarda, físico miúdo, parecido um bandeirante a procura de esmeraldas?

Quem seria aquele homem, amigo e contemporâneo de Olavo Bilac, Da Costa e Silva, Alberto de Oliveira, Tasso da Silveira, Mário Pederneiras da Silva, Alberto de Oliveira, Hermes Moreira, Murilo Araújo, Hermes Fontes, Osvaldo Aranha, Lima Campos e José Geraldo Vieira?

Quem seria aquele homem que amava os animais, convivia com eles, conversava com eles, como se fôsse o povorelo de Assis?

Quem seria aquele homem, quase réplica de São João Batista (padroeiro do seu povo) comendo gafanhoto e mel silvestre, também como ele, um caniço agitado ao vento?

Quem seria aquele homem que acreditava na encarnação e dizia e repetia que as palavras não se perderiam nunca, que um dia todas elas voltariam gravadas eletronicamente pelo absoluto?

Quem seria aquele homem, abandonado ao sonho, sonhando frutos e legumes na mesa de todos, sonhando pássaros cantando, calculando produção, vislumbrando exportação, numa terra bíblica para ele, onde o cordeiro e o lobo conviviriam um dia e que ele a chamou de Frutilândia?

Quem seria aquele homem, "ansioso por conhecer o outro lado", mistura de eremita e visionário, um pouco de demônio e muito de Deus, cujos versos já foram declamados na BBC de Londres?

Quem seria aquele homem que foi-se embora pra Frutilândia, mais bela do que Pasárgada, mais distante do que os asteróides de Saint-Exupery?

Quem seria aquele homem, cujos versos as escolas não conhecem e cujo nome não enfeita nem as praças, nem as avenidas, nem as portas dos botequins?

Se eu fosse prefeito do Açu, cada rua teria o nome de um poema de João Lins Caldas. Uma se chamaria Ïsabel"; outra, "Quando Laura Morrer", a praça do cemitério se chamaria "Sinfonia Negra"; o clube se chamaria "Dentro do Sonho"; a praça da matriz, "Deus Tributário"; o quartel, "Litanias de Um Doido"; o acesso à cidade "Chão de Enterro", o hotel se chamaria simplesmente "A Casa".

Se eu fosse prefeito do Açu, colocaria os poemas de João Lins Caldas nas estradas, nas pedras, nas porteiras, nas despedidas, nas saudações, e a quem não se confessasse convencido, eu repeteria o seu diálogo:

"Consola-te. Afinal não há mais nada".
Não há mais nada? E o coração da gente?"

Se eu fosse prefeito do Açu, eu pederia ao DNOCS para que o projeto de Irrigação se chamasse Frutilândia e que os técnicos antes de percorrer o vale, tivessem em suas mãos o sonho de João Lins Caldas:

Como essa manhã me acorda com os passarinhos
Que matinal de árvores e de pássaros
Pinga o orvalho das folhas como pérolas trêmulas, molhadas,
Cardeiros à distância e perto a cerca fulfa dos cercados.
No terreiro da casa, as galinhas ciscandos
Um pio de nambu é remoto à distância...
Ouço e vejo lá fora... há como que em mim um anseio de embriagado.
Vontade de correr, andar, ser como um pequeno cabrito a saltar pelo relvado...

O milho verde a subir, a cana grossa, o espigar das bonecas...
O louro-roxo do cabelo aqui e ali pelos ventos levado...
Parado... o ar aqui, agora, um ar parado...
Nem um grilo a trilar nem um mover de folhas...

Sáio... acendo o cigarro... as mãos trêmulas de gozo...
Isso que aqui plantei, que as minhas mãos cavaram...
cajueiros aos cem, azeitonas, mangueiras...
Ah! Se eu tivesse na vida como aqui sempre plantado.

E vejo, no crescer, pequena, a laranjeira
Tão verde no buraco fundo que lhe foi cavado
A minha laranjeira! A minha laranjeira!
Os frutos que dará encantando o cercado.

Meu rancho, ali, os potes na biqueira...
Pobreza assim riqueza só... um dia
Reposarei em mim essa pobre cabeça de cansado...
Lembrarei meus veros, direi versos para mim e para o céu estrelado...

A noiva que não tive... e recordo sem mágoa
Aquela que passou, culpa de mim que somente
Vão em cortejo ao olhar do meu pensamento, sombras vagas.
Arina! Um filho pela mão... lá atravessa seu filho...

E os filhos que não dei, as almas culpa de mim que não vingaram
Basta... volto-me ao sítio do meu silêncio proclamado
É a música de tudo em tudo que de mim, na sua essência...
O sol... o sol dessa manhã é agora todo o meu cuidado.

Olho o sol... a ânsia de talvez de pelo sol perder-me
E já não ser de tudo aquele mundo todo nas raíses...
As árvores que quero ver... as pequenas plantas que quero ver dos meus pequeninos berços elevadas.
E olho-as... as minhas crianças verdes, as minhas romanzeiras enramadas...

O cigarro se apaga, a fumaça não sobe...
Vamos entrar o rancho, agitar gravetos, fazer o fogo...
E brinquedo, o meu cão, que aqui por esse andar me tem sempre acompanhado...
Olhos aos olhos do cão... não, Brinquedo que nem sempre tem me acompanhado.

Agora eu entendi porque João lins Caldas disse certa vez: "O Açu é meu inferno".

Agora eu entendi porque em Bauru, ao ouvir em 1932, VIVAS a São Paulo, ele cortou a multidão como um relâmpago inesperado: "Alto lá! Viva o Brasil!"

Agora eu entendi os seus telegramas malcriados ao ditador Vargas e o seu voto permanente (mesmo que ele não fosse candidato) a Eduardo Gomes.

Agora eu entendi porque ele admirava tanto Carlos Lacerda e de repente em 1964, eliminou-o de sua convivência mental.

Agora eu entendi. Ele nasceu impregnado climaticamente de liberdade. Não foi por acaso que João Lins Caldas nasceu em 1888".

José Luiz Silva
(Do livro "Apesar de Tudo", 1986)


sábado, 5 de abril de 2008

O ESPETÁCULO DAS ÁGUAS!

No instante em que presenciamos o espetáculo das águas do Rio Piranhas (de barreira a barreira, no dizer popular), Barragem do Assu, Açude do Mendubim e do Pataxó sangrando, deparamos também com as imagens dramáticas dos retirantes e desabrigados daquela região ribeirinha da várzea do Assu, agora castigado pela enxurrada que também destroi vilas, plantações e cidades. Um ano, dois, três, dez de seca, vem um ano de enxurrada. É assim o Nordeste brasileiro. E me faz lembrar o poeta matuto Renato Caldas que um dia, na sua aflição, escreveu o longo poema intitulado "Inxurrada Mardita", dizendo assim:

Seu moço, inda me alembro...
Me alembro cuma ninguém:
- O tempo véio num léva
Aquilo qui se quiz bem,
Nem hai dinheiro qui págue
Um amô qui a gente tem.

Faz muito tempo, seu môço,
Nós morava no sertão...
E a sêca véia danasca
Veio qui nem um ladrão:
Furtando os verde das fôia,
Rôbando ás águas do chão.

E, a sêca, qui levô tudo,
Qui quage acaba o sertão!
Trôve alegria, seu môço
Pru meu pobre coração...
E o marvado do inverno
Levô sem tê precisão.

Mecê num sabe o qui foi,
Eu vou dizê a mecê:
- Um dia de tardinzinha,
Ante do escurecê,
Tava na porta do rancho,
Pensando nem sei em quê?

Quando aparece na estrada,
Lá pras bandas do grotão,
Um bando de arritirante...
Seu môço, era um bandão!
E no mei daquela gente
Vinha a minha perdição.

Uma cabôca fermósa...
Tão bonita... cuma o que?!
Os óio, os cabelo dela,
Eram pretos de duê
E o resto daquele anjo,
Num tem quem possa dizê.

Apois bem: só pruque ela
Veio sê minha alegria,
Deus de inveja, de ciúme,
Mandô chuvê todo dia...
Inrolô um mêz chuvendo!
Quage a terra amolecia

Ficô logo tudo verde!
Logo. os riacho correu.
A cabôca foi simbora
com tudo que era seu
E ainda levô cum ela,
Argum pedacinho meu.

Levô foi tudo, seu môço:
A alegria do Sertão,
As notas daquela viola,
O batê do coração
Desse cabôco sarado
Nascido lá no Grotão.

É, cuma quem tem, seu môço,
Uma vasante aprantada...
Adespois, vem uma enchente,
Leva tudo na inxurrada
- Apôis eu tinha nos peito,
Uma vasante aprantada.

Ah! inverno miserave,
Inverno véio ladrão!
Truvésse o verde das foia.
Truvésse as águas do chão...
Mas, carregô na inxurrada,
O meu ppbre coração.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

INDIO JANDUI

Sou Janduí, sou da taba,
Meu patrimônio, ele só,
Riqueza que não se acaba,
Tem a várzea e o piató

Peixe, banho de lagoa
Riqueza que se conta a mais,
Bem vastos carnaubais.
Filho da terra dileta
O bravo de Curuzu
Nosso, um destino poeta,
Grandeza que é mesmo Açu.

João Lins Caldas
17 de abril de 1967 (um dos seus últimos versos).

De:  Assu Antigo E QUEM SE LEMBRA DA FORMAÇÃO DO GRUPO DOS 11, DO ASSU Era 1963, tempo efervescebte no Brasil, o presidente João Goulart (Ja...