"Os eruditos que me perdoem. Sou mais aqueles folhetinhos impressos, compostos para ser cantados ou lidos em voz alta, fiés à fala do povo, sem preocupação com a retórica gramatical. É essa poesia popular declamada e cantada que rima com música. E a música não é irmã da poesia? Que, por sinal, tem sua origem no mundo grego, vem de musa, a inspiradora dos poetas. Os cancioneiros Colocci Braneuí, da ajuda, Vaticana, de Garcia Resende são coleções importantíssimas da poesia lírica trovadoresca.
O que é o canto senão, a exteriorização de um sentimento nascido do estado da alma! Essa, por exemplo, vem de longe. Quem canta seus males espanta. Pois é, sabe-se que homem primitivo soltava seus grunhidos para comemorar os feitos. No período Neolítico já solfejava cantando, acompanhados por instrumentos musicais.
Os egípiçios do Médio Império incluíam canções e poemas dedicados a assuntos da natureza, da vida e da morte para celebrar os mistérios de Osíris e a passagem dos mortos desta vida para o além.
Na Roma do século de Augusto, sob o patrocínio imperial, a literatura latina viveu um dos seus grandes momentos de esplendor. Era a fase das declamações públicas e dos desafios. Da mesma maneira que os antigos gregos faziam no Canto Amebeu.
Séculos e séculos de inspirações e cantos, levando-se em consideração as diversificadas formas instrumentais, como a cítara, o violão, depois a viola. E o cantador nordestino. É a reminiscência do aedo grego Orfeu, cantando ao som de sua lira; do minnesanger (cantor do amor) alemão, Walter de Vogelweide, na idade Média; da poética árabe, que atingiu prestígio com Tarefa e suas picantes sátiras; e vai por aí percorrendo mundo a fora.
Mas, foi no Nordeste do Brasil que o cordel europeu e a cantoria de viola encontraram ambiente propício ao seu desenvolvimento. Uma região de criatório de gado e cantares regionais. A esse respeito falou Miguel Torga: "É mais um povo que pelos séculos dos séculos terá de arrastar um destino próprio, a fazer milagres da pobreza do chão, das vogais da língua, do lirismo da alma".
O século XIX foi pródigo para com a poética popular nordestina, quando milhares de folhetos foram editados e vendidos, inclusive para o sul do Páis.
Os mais antigos eram escritos em quadra e chamava-se verso de quatro pés. Alguns estudiosos do cordel atribuem ao poeta paraibano Silvino de Parauá de Lima (1848-1913) a introdução da sextilha no folheto para melhorar expandir a idéia. O pioneirismo do romance em verso, uma beleza do Romano do Teixeira e Inácio da Catingueira, atribui-se a José Galdino da Silva (Zé Duda), numa versão de uma novela extraída das jornadas do Decameron chamada de "D. Genevra". O mais importante folhetista dessa época foi paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Alcançou prestígio e fama com uma produção de folhetos editados e reeditados, conseguindo grande número de leitores e admiradores, na chamada fase de ouro dos folhetos populares nas feiras nordestinas. Suas obras são verdadeiros clássicos da poética popular brasileira, entre as quais podemos citar: A Donzela Teodora, O Reino da Pedra Fina, Canção de Fogo, O Marco Brasileiro, Os Mártires de Veneza. Existe outro poeta popular tão importante quanto Leandro Gomes. Trata-se de Agostinho Nunes da Costa (1797-1858), respeitado glosador, e tido como precursor da poesia popular nordestina da famosa Escola do Teixeira (PB).
Enfim, precisamos compreender a grande contribuição da tradição popular nordestina a renomados compositores, com a valiosa produção, inserida no cancioneiro nacional, do nível de Chiquinha Gonzaga, Donga, Ismael Silva, Ari Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo, Mário Lago, Adoniram Barbosa, Pixinguinha, Vinícius de Morais, Dorival Caymmi, e outros mais, leitores do cancioneiro popular, da velha guarda consagrada, lembrados ainda hoje, fazendo muito sucesso no mundo da Música Popular Brasileira."
Severino Vicente
Pesquisador e Sócio do IHGRN
(Transcrito do Jornal de Hoje, de Natal, 3.7.2008)
O que é o canto senão, a exteriorização de um sentimento nascido do estado da alma! Essa, por exemplo, vem de longe. Quem canta seus males espanta. Pois é, sabe-se que homem primitivo soltava seus grunhidos para comemorar os feitos. No período Neolítico já solfejava cantando, acompanhados por instrumentos musicais.
Os egípiçios do Médio Império incluíam canções e poemas dedicados a assuntos da natureza, da vida e da morte para celebrar os mistérios de Osíris e a passagem dos mortos desta vida para o além.
Na Roma do século de Augusto, sob o patrocínio imperial, a literatura latina viveu um dos seus grandes momentos de esplendor. Era a fase das declamações públicas e dos desafios. Da mesma maneira que os antigos gregos faziam no Canto Amebeu.
Séculos e séculos de inspirações e cantos, levando-se em consideração as diversificadas formas instrumentais, como a cítara, o violão, depois a viola. E o cantador nordestino. É a reminiscência do aedo grego Orfeu, cantando ao som de sua lira; do minnesanger (cantor do amor) alemão, Walter de Vogelweide, na idade Média; da poética árabe, que atingiu prestígio com Tarefa e suas picantes sátiras; e vai por aí percorrendo mundo a fora.
Mas, foi no Nordeste do Brasil que o cordel europeu e a cantoria de viola encontraram ambiente propício ao seu desenvolvimento. Uma região de criatório de gado e cantares regionais. A esse respeito falou Miguel Torga: "É mais um povo que pelos séculos dos séculos terá de arrastar um destino próprio, a fazer milagres da pobreza do chão, das vogais da língua, do lirismo da alma".
O século XIX foi pródigo para com a poética popular nordestina, quando milhares de folhetos foram editados e vendidos, inclusive para o sul do Páis.
Os mais antigos eram escritos em quadra e chamava-se verso de quatro pés. Alguns estudiosos do cordel atribuem ao poeta paraibano Silvino de Parauá de Lima (1848-1913) a introdução da sextilha no folheto para melhorar expandir a idéia. O pioneirismo do romance em verso, uma beleza do Romano do Teixeira e Inácio da Catingueira, atribui-se a José Galdino da Silva (Zé Duda), numa versão de uma novela extraída das jornadas do Decameron chamada de "D. Genevra". O mais importante folhetista dessa época foi paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Alcançou prestígio e fama com uma produção de folhetos editados e reeditados, conseguindo grande número de leitores e admiradores, na chamada fase de ouro dos folhetos populares nas feiras nordestinas. Suas obras são verdadeiros clássicos da poética popular brasileira, entre as quais podemos citar: A Donzela Teodora, O Reino da Pedra Fina, Canção de Fogo, O Marco Brasileiro, Os Mártires de Veneza. Existe outro poeta popular tão importante quanto Leandro Gomes. Trata-se de Agostinho Nunes da Costa (1797-1858), respeitado glosador, e tido como precursor da poesia popular nordestina da famosa Escola do Teixeira (PB).
Enfim, precisamos compreender a grande contribuição da tradição popular nordestina a renomados compositores, com a valiosa produção, inserida no cancioneiro nacional, do nível de Chiquinha Gonzaga, Donga, Ismael Silva, Ari Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo, Mário Lago, Adoniram Barbosa, Pixinguinha, Vinícius de Morais, Dorival Caymmi, e outros mais, leitores do cancioneiro popular, da velha guarda consagrada, lembrados ainda hoje, fazendo muito sucesso no mundo da Música Popular Brasileira."
Severino Vicente
Pesquisador e Sócio do IHGRN
(Transcrito do Jornal de Hoje, de Natal, 3.7.2008)
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