domingo, 19 de outubro de 2008

WALFLAN DE QUEIROZ, O POETA MÍSTICO

O poeta Walflan de Queiroz pintado por Newton Navarro

Walflan Furtado de Queiroz (1930-1995) era natural de São Miguel, cidade localizada na região do alto oeste do Rio Grande do Norte. Filho de Letício Fernandes de Queiroz e Raimunda Furtado de Queiroz (por sinal, Letício ou doutor Letício como era mais conhecido, era farmacêutico em Natal, irmão de minha avó paterna Odete Fernandes de Queiroz Caldas que residia na cidade de Assu. Era ele, Walflan, meu primo em segundo grau).

Walflan formou-se pela famosa Faculdade de Direito do Recife mas nunca exerceu a profissão. Se tivesse exercido certamente teria advogado com brilhantismo e notável saber saber jurídico.. 

Tipo baixo, gestos nervosos, fumante compulsivo. Ele teve uma juventude boêmia. Intelectual, poeta dos melhores. Conheci aquela figura que engrandece as letras potiguares, nos idos de setenta, na calçada do Café São Luiz, em Natal declamando exaltado um poema de Rimbaud. Apresentei-me a ele que me tratou com certa distância. Logo entendi. A última vez que estive com ele foi na clínica Santa Maria (quando ele estava em tratamento psiquiátrico). Eis o seu poema intitulado 'Autobiografia', cornforme adiante:

Nasci sob o signo de São Bento José de Labre. 
Pedi esmola na porta de Notre Dame.
E fui encontrado morto numa rua de Madrid.
O primeiro hino foi meu, o primeiro canto
Que comoveu a alma de Francesca de Rimini. 
Fui monge, amei a virgem.
Fui marinheiro, estive no oriente.
Mais tarde, pertenci ao grupo dos poetas malditos 
E escrevi o meu último poema para uma menina espanhola.

Walflan publicou oito livros intitulados O Tempo da Salvação, 1960, O Livro de Tânia, 1963, O Testamento de Jó, 1967, A Colina de Deus, 1968, Nas Fontes da Salvação, 1970, Aos Pés do Senhor, 1972 e A Porta de Zeus, 1974. 

Walflan viveu grande parte da sua vida na solidão, porém apaixonadamente. Vejamos o poema abaixo trancrito: 

Três amores 
E uma solidão. 
Irene, Tânia 
E Herna  
Vi Abraão  
No monte moriá  
Três amores 
E uma solidão, 
Irene Azul 
Tânia amarga 
E Herna triste.

Há informações que Walflan "conhecia vários idiomas. Lia, escrevia e falava em latim. Era fluente em Francês e inglês". 

Ele era da Marinha Mercante e percorreu o mundo. O produtor cultural Eduardo Gosson depõe que Walflan nas suas andanças "apaixonou-se por uma bailarina cubana, gostou das noites da Martinica e quase casou-se com uma colegial de Buenos Aires". É lindo o seu poema Auto Retrato: 

Não tenho a beleza de Rimbaud,
nem o rosto torturado de Baudelaire.
Tenho sim, olhos negros, Como os olhos de Poe. 
Meus cabelos são soltos, em desalinho como os de algum Anjo ou demônio.
Minha pele, queimada eternamente pelo sol, tem sal do mar e a cor morena dos que são náufragos. 
Minhas mãos são pequenas, tristes embora como mãos de alguém que só as estendeu para o Adeus!

(Fernando Caldas)


4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns a Fernando Caldas, por essa iniciativa de divulgar os poetas e poetisas da nossa ASSU.

Unknown disse...

Conheci Walflan, que foi meu professor e amigo. Um gênio que a enfermidade ceifou! É muito triste!

FERNANDO CALDAS disse...

Olá, doutor José Augusto. Obrigado pelo comentário. Abraços. Fanfa.

FERNANDO CALDAS disse...

Obrigado, amigo.

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