Um grito mudo. Seriam assim os pedidos de socorro das vítimas da enchente no Vale do Assu, em 1964, não fosse o trabalho da rádio amadora do aposentado Nilo Fonseca. As cidades ilhadas recebiam os serviços da Telern anos depois. Sem acesso rápido por terra ou mar, a comunicação era ainda mais essencial. E toda ela partiu de uma casa pequenina de número 605, situada à Rua Maxaranguape, no Tirol. De lá, Aluízio Alves e sua comitiva despachava as providências do dia. O que o governador sequer desconfiava era que todos as chamadas efetuadas eram monitoradas pelo corpo militar da ditadura.
Naquele tempo, Nilo Fonseca brincava com o rádio amador montado em sua casa como hoje os jovens usam as salas de bate-papo na internet. Desde 1961, discava uma chamada geral a espera de uma semana vinda de alguma parte do Brasil ou estrangeiro. Filho de Assu, durante a enchente Nilo procurou notícias de sua cidade. A resposta (ou câmbio) veio do primo assuense Tarcísio Amorim. Junto, o pedido alarmante de socorro. "Pediram-me para entrar em contato com o governador", lembra. Nos 20 dias seguintes, Aluízio Alves batia a porta da casa de Nilo Fonseca para comunicar o despacho do dia.
"Acordava cedo todo dia para arrumar a casa e preparar o cafezinho para o pessoal. Aluízio chegava acompanhado do Chefe da Casa Civil, Agnelo Alves e outros secretários". A comunicação direta de Aluízio em Assu era com o coronel Leão, então secretário de agricultura do governo. "O coronel pediu urgência da Sudene no envio de mantimentos. Aluízio disse que iria tentar. Quando avisei da possibilidade do contato pelo rádio amador ele ficou admirado. E quando o superintendente da Sudene, general Albuquerque Lima respondeu a chamada. Aluízio quase cai pra trás sem acreditar", recorda Nilo.
Estupefato com o alcance e importância do rádio amador, Aluízio Alves interligou o prefixo da rádio à transmissão da Rádio Cabugi. Diariamente grande parte do estado tomava conhecimento das providências tomadas pelo governo estadual. Essa ferramenta poderosa de comunicação logo despertou a atenção do alto comando militar. "O general da guarnição de Natal (situado onde hoje está o Museu Câmara Cascudo) chamou-me para entregar as conversações diárias feitas por Aluízio. Todos os dias às 17h entregava a fita ao general. Era a ditadura".
Nilo Fonseca lembra indignado da ira do general ao saber do envolvimento do arcebispo dom Eugênio Araújo Sales na ajuda às vítimas. Dom Eugênio havia conseguido um comboio para transportar toneladas de mantimentos até Angicos e de lá até Assu, por caminhões. "O general disse: "Até esse padre está metido nisso". O general dizia que tudo tinha de passar por ele". E concluiu: "Foi um período gratificante. Pude ajudar de alguma forma o povo de minha cidade. Um ano depois fui um dos ilustres da Festa das Personalidade, promovida por Paulo Macedo todos os anos no Aeroclube".
(Transcrito do jornal Diário de Natal, caderno Cidades, 13 de abril de 2008).
Do blog: Nilo Fonseca referenciado no artigo acima, é filho do médico Ezequiel Fonseca, que foi intendente do município do Assu, na década de trinta e depois deputado Estadual, chegando a presidir a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte que também era o eventual vice-governador do estado por força do cargo de presidente do legislativo estadual.
Naquele tempo, Nilo Fonseca brincava com o rádio amador montado em sua casa como hoje os jovens usam as salas de bate-papo na internet. Desde 1961, discava uma chamada geral a espera de uma semana vinda de alguma parte do Brasil ou estrangeiro. Filho de Assu, durante a enchente Nilo procurou notícias de sua cidade. A resposta (ou câmbio) veio do primo assuense Tarcísio Amorim. Junto, o pedido alarmante de socorro. "Pediram-me para entrar em contato com o governador", lembra. Nos 20 dias seguintes, Aluízio Alves batia a porta da casa de Nilo Fonseca para comunicar o despacho do dia.
"Acordava cedo todo dia para arrumar a casa e preparar o cafezinho para o pessoal. Aluízio chegava acompanhado do Chefe da Casa Civil, Agnelo Alves e outros secretários". A comunicação direta de Aluízio em Assu era com o coronel Leão, então secretário de agricultura do governo. "O coronel pediu urgência da Sudene no envio de mantimentos. Aluízio disse que iria tentar. Quando avisei da possibilidade do contato pelo rádio amador ele ficou admirado. E quando o superintendente da Sudene, general Albuquerque Lima respondeu a chamada. Aluízio quase cai pra trás sem acreditar", recorda Nilo.
Estupefato com o alcance e importância do rádio amador, Aluízio Alves interligou o prefixo da rádio à transmissão da Rádio Cabugi. Diariamente grande parte do estado tomava conhecimento das providências tomadas pelo governo estadual. Essa ferramenta poderosa de comunicação logo despertou a atenção do alto comando militar. "O general da guarnição de Natal (situado onde hoje está o Museu Câmara Cascudo) chamou-me para entregar as conversações diárias feitas por Aluízio. Todos os dias às 17h entregava a fita ao general. Era a ditadura".
Nilo Fonseca lembra indignado da ira do general ao saber do envolvimento do arcebispo dom Eugênio Araújo Sales na ajuda às vítimas. Dom Eugênio havia conseguido um comboio para transportar toneladas de mantimentos até Angicos e de lá até Assu, por caminhões. "O general disse: "Até esse padre está metido nisso". O general dizia que tudo tinha de passar por ele". E concluiu: "Foi um período gratificante. Pude ajudar de alguma forma o povo de minha cidade. Um ano depois fui um dos ilustres da Festa das Personalidade, promovida por Paulo Macedo todos os anos no Aeroclube".
(Transcrito do jornal Diário de Natal, caderno Cidades, 13 de abril de 2008).
Do blog: Nilo Fonseca referenciado no artigo acima, é filho do médico Ezequiel Fonseca, que foi intendente do município do Assu, na década de trinta e depois deputado Estadual, chegando a presidir a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte que também era o eventual vice-governador do estado por força do cargo de presidente do legislativo estadual.
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