quinta-feira, 20 de novembro de 2008

CRÔNICA


NOITES DE NATAL
(Por Bosco Lopes)
As muitas cidades que me perdoem, mas Natal é fundamental. Não fosse pelo seu pôr do sol do Potengi, seria pelas pessoas que o contemplam, embriagadas de poesia e que passeiam a beleza pelas suas ruas seculares.
Nascestes Natal, entre o rio e o mar, com os teus alicerces ancorados nos arrecifes da Praia do Forte, estrela maior que guia a nau catarineta tripulada de poetas, que saem por tuas noites em busca de bares nunca antes navegados. Caminhas ecologicamente banhada pelo rio e protegida pelas dunas. Fostes a bem-amada dos aventureiros gauleses, holandeses e lusitanos, para tempos d´pois servires de pilar de uma ponte de guerra que ia desta parte ao outro mundo.
Natal, admiro a ternura fotográfica dos seus becos que não cantei num dístico. Mas que canto cotidianamente com a minha presença, pois num deles aconteceu, num acaso feliz, meu batismo de cachaça e poesia, apadrinhado por Berilo Wanderley e Celso da Silveira. Para citar apenas um, fico com o Bar do beco de Nazi, que com suas alquimias prepara a melhor "meladinha" deste mundo.
Nas tuas noites, vejo teu nome inscrito em gás neon: Maria Boa, educadora de várias gerações. Noites que verei violentando teu silêncio com violões, modinhas, amigos e tragos de aguardente. Noites inolvidáveis do Brizza de Mare, do Cisne, do Granada Bar, do Acácia, tão distantes das tardes de minha infância, onde no patamar da Igreja do Galo meu velocípede azul pedalava esperanças. Mas é nas tuas manhãs ensolaradas que vejo tuas mulheres bonitas na passarela pública das praças, parques, praias a se perderem de vista.
Mas se é inverno, evito tuas praias e me agasalho no abrigo dos copos dos teus bares e no calor dos corpos de tuas mulheres. Tenho tudo para ate agradecer. Natal, pois tudo me deste: poetas como Itajubá, Jorge Fernandes e Jaime Wanderley, cujos versos guardo de memória. Eu, também etilírico poeta, de pé no chão aprendi o ofício da poesia para te dizer: muito obrigado, Natal, pelas dádivas que de ti recebo há 33 anos.
(Texto publicado na imprensa de Natal, em 1984).

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