sexta-feira, 5 de junho de 2009

ÍNTIMAS DE JOÃO LINS CALDAS

O grande bardo potiguar João Lins Caldas, era extremamente contrário ao casamento. Certa vez, recebera uma carta de seu único irmão chamado José Lins Caldas, que lhe pedira a sua opinião para se casar. E aquele vate solitário, solteiro convicto, respondeu conforme transcrito adiante:
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"(...) Mas que posso eu dizer quando mamãe aprova o teu ato, quando parentes o aprovam? Que vais bem encaminhado e... que fazes muito bem. Agora, se queres minha opinião a respeito do casamento... esse laço de moral que prende a humanidade - eu vou darte-a: Tolstoi, o gtrande Tolstoi da Russia, diz que, para o homem se casar, deve pensar vinte anos... Eu, porém, não posso deixar de, em parte, ser contrário a essa opinião. Quando o homem é, como tu, sem aspirações superiores às do sertanejo obscuro e trabalhador, o casamento deve ser o supremo ideal, o laço que o lace, a alma que o prenda... O primeiro caso, o juízo de Tolstoi, que aproveitem os loucos... Os iludidos das ilusões... Eu estou no caso. O casamento para mim mim seria a paralisação dos trabalhos com que sonho rendilhar o meu futuro distanciado e oculto... No teu caso, a mulher é o objeto principal, no meu é o segundo.

Casa... casa mas pensa... Mede os passos do passo que vais dar. Eu quase que não conheço a menina a quem amas, contudo a casa em que se acha é para mim uma recomendação suficiente. São regulares ou, mesmo boas, as informações que tenho tido a respeito da mulher que me queres dar por cunhada. Felecito-te por isto, me felicitando. Eu aceito-a como a uma irmã, de braços abertos. É preciso que mamãe veja nela uma filha e que essa nossa mãe ela veja uma mãe. Isto é necessário para que haja harmonia e na harmonia felicidade. Será assim? É só como serve. Essa mulher que aí tens a despejar-te carinhos e a renovar-me preces, vale a nossa preocupação mais constante. Ela continuará em tua companhia, não é assim? Ha de ser. Deve ser assim. Todo carinho para ela. Algum dia, quando eu, o louco de há muito tempo e o louco de muito sonho, realizar o velho ideal que o destino me emprestou no berço, hei de mostrar o muito que me vale essa mulher coberta de luto, carcomida de lágrimas. Beija-lhe as mãos todos os dias, todos os dias que te lembrares de mim. Por ora, vai cumprindo o teu dever. Reza o evangelho do teu amor, realiza o teu sonho no dia em que poderes e, sê feliz, se a minha bençam vale.
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(E Caldas desenganado de um amor desfeito, fracassado, escreveu ainda em Assu, estes versos datado de 24 (11 da noite) fevereiro de 1910, dizendo assim):
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Doente por não te ver, ver não te quero,
Dispenso-te a visita de saúde.
Dê-me Deus, que me vê, sempre a virtude
De, calado, sofrer meu desengano.

Infeliz que por ti meu sonho altero,
Tenho a crença feliz que não me ilude
De, perdido este amor profundo e rude,
Ser mais forte na vida e mais severo.

O amor que nos maltrata e às vezes mata
(É crença que agasalho, crença ingrata,
Crença que as asas levemente solta.)

Se, crescendo, não mata o que padece,
Morre no peito onde a desdita cresce
E o amor que morre para amar não volta.
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blogdofernandocaldas.blogspot.com

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