Zelito Coringa (*)
Ele nasce na serra do Bongá divisa da Paraíba com o Ceará, percorre grande parte do torrão paraibano, sendo conhecido por Piranhas-Açu. Porém, quando atravessa o Estado Potiguar, passa a ser chamado simplesmente de Rio Açu. Após a construção da "Barragem Armando Ribeiro Gonçalves" - Inaugurada oficialmente em 1984, tornou-se totalmente perene. Ouviu-se de olhos apitombados as promessas fabulosas do desenvolvimento que chegaria a esta região riquissima. Dado pelo corte da fita inaugural das autoridades e estudiosos proféticos da época. Sob o controle das sangrias haveria financiamentos: Eletrificação com baixos custos, implementos agrícolas, capacitação e direito a muita pabulagem nas pontas de calçadas do puxaquismo, e até amedrontamentos de baleias destruidoras de altares. Fui menino que pinotava de barreira à barreira no leito do rio Olho D'água, mergulhava feito piaba tonta, este um de seus afluentes. Naquela meninice não imaginava que as águas ficassem presas por comportas gigantes e acabasse a diversão dos pobres inocentes como eu. O vírus causador da sua morte lenta, pode ser batizado pelo povo de apoderamento do que é nosso, que migra de terra em terra, principalmente se o solo for rico em nutrientes e as leis ambientais forem dissimuladas. Configura-se nocivo aos que forem defensores desta causa. Num tempo não muito distante atribuiam-se toda a maldade aos justiceiros, bandoleiros e aos cidadãos conscientes. Agora parece tudo invisível aos olhos de muitas autoridades. Não há mais Manoel Torquato com seu sindicato do Garranho, Lampião com o seu bando de saquedores, nem fanatismo, tabus e pudores, nem a ilusão ou razão de nem um idealismo. Tudo é questão de sobrevivência e solidariedade aos que já quebraram seus potes de água ao beberem seus agrotóxicos. E quem daqui pra frente pagará a conta do consumo potável das irrigações gigantes? Será que é somente a população ao escovar os dentes na pia? De quem é o dever de cuidar das nossas fontes? O presidente, o governador, o prefeito, o vereador do povo, o deputado doido, o senador afoito, e os mais defensores do povo? E os meninotes do presente que lavam suas motos e carros no leito do rio, mijando o álcool do último porre? - Não digam que é inverdade, nem atirem a primeira pedra. Isso tudo quem disse foi um cabra metido a doido das bandas dos carnaubais, e eu na escutação da conversa esqueci de gravar seu nome. Façamos valer um novo gesto educativo, reafirmando que somos varzeanos da mesma nascente.
O autor é músico e poeta, natural da Cidade de Carnaubais-RN.
Postado por Gilberto Freire de Melo
domingo, 1 de agosto de 2010
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