segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"ARTE DA TERRA"

20/07/2006
Celso da Silveira, poeta
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"Celso da Silveira merece também um lugar na imortalidade. Tem todos os méritos. Tem uma obra. Um trabalho digno de respeito. É um escritor, é um poeta, será o que quiser."

Dorian Jorge Freire


Nasceu em Assu, RN às 9 horas do dia 25 de outubro de 1929, sendo filho de João Celso da Silveira e Mariazinha Dantas da Silveira. Foi menino "levado", inquieto, peralta, traquinas, desassossegado. Típico menino de rua sem o sentido pejorativo de criança abandonada. Mas, criança carente de aventuras: jogo de bola de meia, queda de corpo, enpinar papagaio com linha cerol, encher balão Junino, na Matriz do padroeiro da cidade nos meses de junho, e de furar um buraquinho no papel de seda para que ele queimasse antes de ultrapassar a torre do "carneirinho" da igreja de São João Batista. E mais: sua grande farra era brigar com a meninada e em casa, ter estória para contar.

Uma vez, com seu amigo Bezerrinha (Antônio Bezerra de Gouveia - vizinho) sugeriu plantarem juntos um pé de farinha com açúcar preto, para terem o que lanchar sem tirar dinheiro escondido dos pais.

Cresceu, estudou no colégio das freiras, migrou para Fortaleza e foi fazer Admissão ao Ginásio no Colégio Castelo Branco da Arquidiocese. Fez-se ajudante de missa e bençãos de maio, a fim de usufruir de licença para comprar hóstias no Seminário de Prainha. No caminho vinha, aqui e ali, degustando as bolachinhas que iam ser o corpo e vida de Cristo depois de benzidas pelo celebrante.

Voltou ao Rio Grande do Norte, formou-se em Jornalismo, exerceu a função e por ela chegou ao ponto em que se encontra - professor de Comunicação aposentado, autor de 38 livretos, amigo e estimado por todos que o conheceram na convivência do bar ou do trabalho.

Este é o retrato como gosta de ser conhecido na cidade do Natal.

(in Celso da Silveira - Seleta de Causos - coleção Mossoroense, 2002)



Também daquela faixa algo heterogênea, do ponto de vista estético, embora todos praticantes do verso livre, com alguma incursão na temática regional, Celso da Silveira faz a sua estréia poética já na década de 1950, com 26 poemas do Menino Grande (1952). Daí em diante, colaborando nos jornais de Natal e com militância jornalística (primeiro assessor de Imprensa do governo Aluízio Alves), só voltaria a publicar livro de poesia em 1961, com imagem virtual, de parceria com Myriam Coeli.

Mais de 20 anos e passam até Celso da Silveira retomar a publicação de seus livros de poesia, Memorial do Grande Ponto (1983), Poesia Agora (1984), No reino da aresia (1987). Na metade da década de 90 publica mais três livros, Eu, pecador (1992), Versicanto (1992) e Trovas (19993). O poeta também incursiona por outros gêneros, do ensaio literário às narrativas, sendo que na prosa de ficção é elogiado como "excelente contador de estórias" e "insuperável contador de causos".

Presente em várias antologias poéticas, as mais recentes, Um dia a poesia (1996) e Poesia circular (1996), tendo passado pela direção da Tribuna do Norte, Jornal de Natal e rádio Cabugi, Celso da Silveira pertence à Academia de Trovas do Rio Grande do Norte, e se orgulha, segundo ele próprio, de dois títulos: o de Melhor Ator do Segundo Festival Nortista de Teatro Amador (Recife, 1956), e o de Asinus Minor, do Clube Mundial dos Jumentos - Primeira Cocheira Iguatutiva, concedido pelo padre cearense Antônio Vieira, autor do livro O jumento, nosso irmão.

(Assis Brasil - in A Poesia Norte-rio-grandense no Século XX)



Epitáfio



Aqui jaz o poeta

e não o canto

que dele foi deflagrado

como a flecha de um arco.

Em cada intercessão

do trajeto alcançado

inércia e movimento

ganham o mesmo compasso.

Paro e passo, paripassu

o canto e o silêncio

para sempre viajado.

(Poesia Agora - 1994)



Égua no pátio



A égua cardã flutuava

no plano plano do pátio.

As patas de luz tocavam

os extremos de outras patas

invertidas no chão molhado,

assim como refletisse

o animal no espelho.

- Como se fosse o animal

um objeto levitado.

(Poesia Agora - 1994)
Antipassadas



Agora que já é noite

no sobrado do meu avô

ouço passos de fantasmas

no assoalho do corredor.

Vêm lá da camarinha

subindo degraus da escada

ou são canções de ninar

ouvidas por entre fraldas?

Sussurros de quem se ama

sob lençóis no escuro,

vêm por quarto da cama

ou seguem ao fundo do muro?

Não há equívoco, por certo ...

vou surpreende-los no coito.

- Na cama tudo deserto.

ao muro não me afoito.

São fantasmas de ancestrais,

só fazem o bem, nada mais!

(Eu, pecador - 1992)
(Do site GeraldoRN)

Postado por Fernando Caldas

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