domingo, 2 de janeiro de 2011

Chico Elion: um homem eternamente apaixonado pela vida

O olhar do poeta que enxergou o essencial num Ranchinho de Paia: a felicidade

Por Elizabeth Rose

Ele vem da terra conhecida como berço dos poetas e traz no canto a doce mensagem de um pássaro cantador, que entoa sua poesia e seus amores com a simplicidade de quem sabe fazer e não precisa se perder no labirinto do rebuscamento. Estamos falando de Chico Elion.
Nascido Francisco Elion Caldas Nobre, seu nome foi escolhido como uma combinação premonitória, pois Francisco Elion é um músico nobre que derrama em caldas seu sentimento de poetinha, como é carinhosamente chamado pelos amigos e admiradores de seu requintado trabalho. Do alto de sua longevidade, a receita é simples para o êxito pessoal e profissional: amar o próximo e cantar as boas coisas da vida.
Sobrinho de Renato Caldas, Chico Elion é um orgulho para o povo de Assu e para o Brasil (Elizabeth Rose/Fotec)


Sobrinho de Renato Caldas, Chico Elion é um orgulho para o povo de Assu e para o Brasil (Elizabeth Rose/Fotec)
Chico é autor de belas canções que já foram gravadas por ele mesmo e por diversos cantores. Sua filha mais famosa chama-se Ranchinho de Paia e foi lançada até na França mostrando que o talento de Chico Elion extrapola os limites geográficos e sua poesia comunica o amor, de forma vibrante, aos mais diferentes corações, em qualquer parte. Moinho d’Água, outra canção de Chico muito reverenciada, recebeu uma bonita versão na voz do cantor Fávio José.

Elion presidiu a Ordem dos Músicos do Brasil, em Natal e foi responsável por lançar vários artistas no bar que abriu para seu filho Emanuel Augusto, na casa de seu próprio pai. Lá no Beco da Música, como era chamado o bar que na época recebia a nata da cidade, acontecia eventos como a Noite de Ouro, onde toda segunda-feira eram feitas homenagens aos artistas consagrados. De Caetano Veloso a Sandra de Sá, regado a whisky e muita paçoca com queijo, o local era naquele tempo algo que falta até hoje em Natal: um espaço que congregue pessoas e sirva de espaço cultural pra receber turistas e fortalecer a cena musical da cidade revelando artistas e dando oportunidade de mostrar seu talento.

No Beco da Música havia em torno de 5 mil assinaturas de pessoas de fora da cidade que vinham a Natal e iam prestigiar a capacidade musical grandiosa de Chico Elion e de seus convidados. No bar, que funcionava na Av. Alexandrino de Alencar, despontaram cantores como Pedro Mendes, Cleide Braga, Babal, Paulo Tito, Silvinha e Ana Maria, que arrebatou o coração do compositor e se tornou sua musa até hoje. As paredes do local eram decoradas com autógrafos de cantores e assinaturas dos visitantes em geral. Na casa existiam os 10 mandamentos e a lei era manter a alegria e gostar de boa música. Lá, a única coisa censurada veementemente era a falta de respeito ao músico; em hipótese alguma a platéia podia vaiar alguém.


Chico e Aninha: cumplicidade em uma parceria que deu certo (Elizabeth Rose/Fotec)


Chico e Aninha: cumplicidade em uma parceria que deu certo (Elizabeth Rose/Fotec)

Essa era a proposta de Chico Elion para a cena musical natalense. Ele passeava pelo universo de gente como a cantora Elis Regina, mas nunca deixou de contribuir com o crescimento da nossa cultura; nunca desistiu de acreditar que Natal poderia se firmar no cenário brasileiro se os artistas tivessem mais união e contassem mais com o apoio do poder público. Um dos sonhos de Chico é criar uma Fundação Cultural que fomente nas crianças, desde cedo, o amor pela arte e pelo nosso estado. Para contribuir com isso, pretende disponibilizar todo seu acervo para ajudar na realização do sonho de ver o Rio Grande do Norte valorizar seus artistas ao ponto de terem as músicas executadas nas rádios e consumidas pelo público.
Elion é sem dúvida alguma um sujeito inteligente e galanteador; parafraseando Roberto Carlos, do tipo amante à moda antiga. Dono de um senso crítico apurado, sua língua que canta o romantismo de forma tão singela torna-se uma verdadeira metralhadora quando o assunto é a música de mau gosto feita e veiculada pela mídia nos dias atuais. Ele é taxativo e não esconde a falta de paciência com o que não tem qualidade. E ele está certo. Ele é conhecedor do ofício e maneja bem os instrumentos para realizá-lo. Graças a Deus, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente esse astro. Mas, foi por telefone que o poetinha me deu algumas informações que escrevo aqui e ao ouvir seu relato não consegui reprimir o pensamento de que não se faz mais a boa arte como antigamente. Nem a arte, nem as pessoas. Ainda bem que temos e podemos ouvir Chico Elion e suas histórias.
A voz grave e melodiosa permanece bela e afinada (Elizabeth Rose/Fotec)


A voz grave e melodiosa permanece bela e afinada (Elizabeth Rose/Fotec)

Eu recordo (e abro um parêntese para confessar) que gravei seu nome e senti a força de sua poesia ainda quando criança, num LP, que existia lá em casa, do cantor Giliard. A descrição daquela casinha tão feia que abrigava a felicidade ao som do vento, num ranchinho de paia à beira-mar, pintou em minha mente um quadro terno que até hoje permeia meus sonhos e me dei conta de que talvez esteja a esperar a materialização daquela imagem... De fato, parece que não há felicidade fora do ranchinho de Elion

2 comentários:

Unknown disse...

Boa Tarde,
acho que sua reportagem é muito nobre.

FERNANDO CALDAS disse...

Obrigado.

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