sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Um amor de faz-de-conta
Leonardo Sodré*
Acho que tenho assistido muitos filmes antigos ultimamente. Os diretores dos anos 1950 eram pródigos em fazer bons filmes românticos e os finais sempre valorizavam o bem; recheados de felicidade, principalmente nas fitas produzidas nos Estados Unidos. Acho que na infância e adolescência aprendi o que era paixão no cinema. E, mesmo agora, continuo a entender as paixões por essa ótica. Pela visão do bem.
Não quero acreditar em relações tumultuadas apesar de já tê-las vivido algumas vezes pelo impulso da paixão. Ah! A danada da paixão que se apossa da lógica e de todos os paradigmas que você cria. Que lhe domina e o deixa a mercê do ridículo, como se você não fosse mais você e que o seu pensamento já não lhe pertencesse mais. Acho que Nelson Rodrigues combatia interiormente esse tipo de coisa quando escrevia sob o heterônimo de Susana Flag o folhetim “Nasci para Pecar”, na década de 1940.
O autor da peça “Vestido de Noiva” minimizava as paixões banalizando as agruras das paixões e das traições pelo relato violento, sempre com um final infeliz. Ia de encontro à felicidade escancarada dos filmes românticos que chegavam ao Brasil vindo da Europa e dos Estados Unidos e mesmo assim fazia um grande sucesso. Nelson Rodrigues terminou por profetizar muitas das relações de hoje em dia, marcadas pelo ciúme, traições que, ao invés de utilizarem o mote da confiança, se baseiam na desconfiança.
Antigamente as pessoas flertavam, namoravam, noivavam e depois casavam. Hoje a coisa mudou. Agora existem as ficadas, as amizades coloridas, as relações abertas e até um tal de “namorido” ou “namorida”, nome ridículo que sugere uma relação de namoro onde os casais sentem-se casados tipo “mais ou menos”. Enfim, chegamos ao ápice: O amor de faz-de-conta.
*Jornalista e escritor
Janeiro de 2011
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