Memória do Concretismo
Marcos Silva
Li o texto de Orlando Tejo, que reproduz alguns poemas concretistas (ou próximos do Concretismo) natalenses dos anos 60 do século passado.
Eu morava em Natal no ano em que a brochura mencionada foi publicada 966. Não possuo mais o exemplar (algum aluno pegou emprestado e não devolveu) mas lembro que havia diferenças de diagramação (*) em relação ao que saiu no Papo Furado: o poema Infinitivo, de Nei Leandro de Castro (**), formava uma diagonal da esquerda para a direita com a repetição da palavra amar, e não uma coluna vertical; o poema Quarta operação fundamental, de João Bosco de Almeida, começava com a palavra eu, na horizontal, dotada de espaçamento, seguida da palavra dividido, na vertical, abaixo e entre o E e o U, mais uma visualização que colocava o verso sou quociente de mim como um quociente de divisão e o verso e só como resultado da divisão; a Marinha concreta, de Anchieta Fernandes, também fazia uma espacialização das palavras que compõem os versos finais. Coloquei aspas na palavra verso porque é discutível, nesse gênero de poesia, o apelo a esse recurso poético - a espacialização sugere o anti-verso.
Poesia Concreta merece crítica, como qualquer outro ramo literário e qualquer fazer humano. Para tanto, todavia, precisamos conhecer exatamente o objeto criticado, evitando fantasmagorias, que nada esclarecem. Defendo a crítica como argumento explicativo e demonstrativo, que não se restringe ao gosto/não gosto, ao descarte ou ao preconceito.
Prefiro pensar que múltiplos gêneros de Poesia coexistem e até se iluminam reciprocamente. Para valorizarmos Zé Limeira, Othoniel Menezes e Zila Mamede, não precisamos jogar no lixo Nei Leandro nem Dailor Varela.
Li o texto de Orlando Tejo, que reproduz alguns poemas concretistas (ou próximos do Concretismo) natalenses dos anos 60 do século passado.
Eu morava em Natal no ano em que a brochura mencionada foi publicada 966. Não possuo mais o exemplar (algum aluno pegou emprestado e não devolveu) mas lembro que havia diferenças de diagramação (*) em relação ao que saiu no Papo Furado: o poema Infinitivo, de Nei Leandro de Castro (**), formava uma diagonal da esquerda para a direita com a repetição da palavra amar, e não uma coluna vertical; o poema Quarta operação fundamental, de João Bosco de Almeida, começava com a palavra eu, na horizontal, dotada de espaçamento, seguida da palavra dividido, na vertical, abaixo e entre o E e o U, mais uma visualização que colocava o verso sou quociente de mim como um quociente de divisão e o verso e só como resultado da divisão; a Marinha concreta, de Anchieta Fernandes, também fazia uma espacialização das palavras que compõem os versos finais. Coloquei aspas na palavra verso porque é discutível, nesse gênero de poesia, o apelo a esse recurso poético - a espacialização sugere o anti-verso.
Poesia Concreta merece crítica, como qualquer outro ramo literário e qualquer fazer humano. Para tanto, todavia, precisamos conhecer exatamente o objeto criticado, evitando fantasmagorias, que nada esclarecem. Defendo a crítica como argumento explicativo e demonstrativo, que não se restringe ao gosto/não gosto, ao descarte ou ao preconceito.
Prefiro pensar que múltiplos gêneros de Poesia coexistem e até se iluminam reciprocamente. Para valorizarmos Zé Limeira, Othoniel Menezes e Zila Mamede, não precisamos jogar no lixo Nei Leandro nem Dailor Varela.
M O T E :
Professoral pra cacete
passar pito em Orlando Tejo?
G L O S A :
De cima de um tamborete,
com a pose de chanceler
(tradutor de Baudelaire!),
professoral pra cacete!
Sacando o arcabuzete,
atrapalhou-se, o badejo;
nada fez, e foi pro brejo...
- A memória é de elefante,
muito infeliz o rompante:
passar pito em Orlando Tejo?
Laélio Ferreira
(*) Foi o autor da glosa quem enviou para o Poeta Jairo Lima o texto de Orlando Tejo. Publicada, a matéria, antes das aspas, tinha a anotação rotineira: Enviado por Laélio Ferreira. Como se viu, abaixo, a diagramação não foi obedecida, como estava no texto do genial paraibano mea culpa. (A tal poesia concreta (arre égua!) é complicada até para cópia no computador...) O diabo é que o Professor Doutor Marcos Silva, um uspeano convicto, além da memória fenomenal cáspite! - (v. acima), querendo me atingir nas entrelinhas, tem a mania de citar o nome do meu pai (Othoniel Menezes) nos muitos comentários que faz, aqui e em outros blogues (é um campeão nesse mister, anotando tudo o que produz, religiosamente, no seu muito bem fornido e lustroso Currículo Lattes), principalmente quando nessas minhas cantigas de maldizer maldigo as suas inefáveis traduções de Charles Baudelaire...
(**) Nei Leandro de Castro é meu amigo desde a adolescência e continua sendo, acho eu.
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